terça-feira, abril 02, 2019

ÉMILE ZOLA, JUNE SINGER, MARY VIEIRA, TEMPO DE RESISTÊNCIA & SALA DE AULA


SALA DE AULA - Hoje acordei com vontade de falar da minha experiência escolar. Logo me veio o tanto da alegria do primário: a infância embalada pela professora que era atriz e conduzia os conteúdos como se fizesse arte, era o centro de todas as minhas atenções. Era como se a sala de aula fosse um enorme palco teatral e todos protagonizassem as lições aprendidas. Como era feliz em aprender. Tanto é que o preparo me levou direto para o exame de admissão, aprovado com nota máxima. Dos quase cinquenta colegas, conta-se nos dedos os reencontros. Lá estava eu menino, na virada de ano, aluno do primeiro ginasial, com o ânimo e a dedicação dos anos anteriores. No segundo ano, ah, o encanto se quebrou: o afeto foi pro espaço, o respeito para a lata de lixo, uma relação impessoal imprimia a marcha dos anos em uma classe com quase centenas de colegas, professores ora esfíngicos, ora rígidos, não possuíam aquela candura inaugural na condução das aulas, resultado: perdia o nexo e desaprendia. Excetuando-se um ou outro mestre, a maioria ficava devendo com tanta coisa para decorar e ao pé da letra. Gostava da prova oral ou com questões abertas em que se podia fugir da resposta simples. A maioria era dono da verdade e queria tudo tintim por tintim. Tropecei na matemática, emperrei nas ciências, os assuntos não se amarravam, fazia leituras extras para poder entender aquilo tudo. Tive que amargar desapontamentos, apesar de já determinado como assíduo leitor, não por conta da perda de estímulo no ambiente escolar, porém pela curiosidade por desvendar os mistérios contidos nos livros da biblioteca de meu pai e pelos papos com os amigos que devoravam livros em casa. E se não fossem as atividades extracurriculares do educandário, com certeza, não haveria como conciliar as dicotomias, passando a entender o motivo da evasão escolar. Dos anos de turma, a maioria seguiu a carreira dos pais no comércio, agricultura ou outras carreiras. Enquanto isso, aos trancos e barrancos fui pro colegial, levava tudo na esportiva adolescente porque também não era lá essa coisa tão estimulante, a arte já tomava conta e o incentivo de alguns poucos excelentes professores, deu para me arrastar no científico. Como já gostava de ler Filosofia, saía juntando e costurava as matérias para poder entender as informações. Não era nada fácil, valia-me das conversas e discussões com os mestres fora da sala de aula – imagino a situação de quem não pudesse dispor essa oportunidade informal de trocar ideias. Não fosse isso, possivelmente preferiria fazer qualquer outra coisa na vida, menos estudar. Havia mesmo perdido o gosto. A sacada do Ziraldo me pegou em cheio: ler é gostoso; estudar é chato demais. Foi o que aconteceu com tantos outros da sala, faziam de tudo criativamente, alma de brasileiros, contudo guardaram a repulsa por estudo e leitura, preferindo as moças arrumarem logo seus príncipes encantados para cuidar da casa e das crianças, e os rapazes comprarem aquela de que é melhor ter dinheiro no bolso e ser rico, do que liso de anel no dedo. Isso era o que vigorava. Fui pra faculdade com a sensação de quem saía de uma camisa de força, escolhi o que mais gostava: Letras. A Literatura na ponta da língua, afinco para aprender Latim, empancado no Inglês: enquanto eu levava de Shakespeare, o professor me escanteava com pobres diálogos cotidianos de estadunidenses. No mais, na boa, deu pra sair de uma licenciatura curta para uma plena. Não foi menor o desencanto. Deveria fazer jornalismo para ser escritor, e fiz; desisti no meio do caminho pela completa falta de talento e porque persistia empolgado com o processo de redemocratização que se anunciava à época da ditadura. Fui fazer Direito numa classe com outros quinhentos estudantes. No segundo ano, a decepção com o curso já era flagrante e me arrastei, só concluindo anos depois de abandonado, não antes passar por Pedagogia, que não foi muito diferente: eu me sentia um ciborgue programado para responder o que queriam ouvir, apenas. Aprendia apenas que a Justiça não era lá tão justa, o direito ninguém sabia mesmo o que poderia ser, e aprender só se for marra. Não muito diferente quando décadas depois fui encarar a Psicologia: aprendia-se tudo, menos como tratar gente, muito menos qualquer brasileiro no Brasil. Estuda-se como se o país que vivemos fosse outro. A casa emburrecedora do Rubem Alves me pegou de cheio e concluí: a escola deseduca. E o pior: encaram educação como se fosse apenas escolarização. Não é à toa que se ouve, a torto e a direito, muita gente dizer por aí: Se eu descobrir quem inventou estudo, eu mando matar. Hoje advogo a heutagogia. Principalmente porque o que há de tanto equívoco faz com a educação seja, na verdade, deseducação. Podemos fazer diferente por iniciativa própria, depende de nós, apenas. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] A mensagem de Androginia é que a psique humana é constituída de muitas dualidades diferentes que precisam ser mantidas em equilíbrio para que o indivíduo seja íntegro, para que ele seja verdadeiramente humano. [...] É um estado em que: [...] o Um que contém o Dois, a saber o masculino (andro) e o feminino(gyne). A androginia é um arquétipo inerente na psique humana. [...] O arquétipo da androginia aparece em nós como senso inato da unidade cósmica primordial, ou seja, a unicidade ou inteireza da androginia antecede qualquer separação. A psique humana é testemunha dessa unidade primordial e é portanto, o meio através do qual podemos obter certa percepção da totalidade que inspira espanto e maravilha. [...] Inicialmente, não há existência alguma exceto o nada, o vazio indescritível, a inefabilidade do vácuo. Surge então unidade primordial, o Um no qual estão contidos todos os contrários, ainda não diferenciados. Como a gema e a clara dentro do ovo, estão entrelaçados, presos e inamovíveis. No momento estipulado, a unidade primordial é rompida e passa a existir Dois, como contrários. Somente quando os Dois se estabelecerem como entidades separadas é que podem se afastar para se unirem de outra maneira, criando e disseminando assim a multiplicidade. [...].
Trechos extraídos da obra Androginia: rumo a uma nova teoria da sexualidade (Cultrix, 1990), da psicóloga estadunidense June Singer (1920 - 2004), fundadora do Clube de Psicologia Analítica de Chicago, do Instituto Jung de Chicago e da Sociedade Inter-Regional de Analistas Junguianos, defendendo que a androginia é o mais antigo arquétipo, resultante do “arquétipo do Absoluto”, que excede a experiência humana por ter a sua essência na ancestralidade psíquica e divina da Humanidade.

A ARTE DE MARY VIEIRA
A arte da premiada escultora, professor e designer gráfica representante da arte cinética, Mary Vieira (1927-2001). Veja mais aquiaqui.

TEMPO DE RESISTÊNCIA
O documentário Tempo de Resistência: lembranças do período mais negro da História do Brasil (2003), dirigido por André Ristum, é baseado no livro homônimo de Leopoldo Paulino (Oswaldo Cruz, 2001), contando a luta guerrilheira contra a ditadura militar no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. O filme aborda o processo desde o golpe militar até a anistia e as Diretas. Veja mais aqui.
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A OBRA DE ÉMILE ZOLA
Se você me perguntar o que eu vim fazer neste mundo, eu lhe direi: eu vim para viver em voz alta.
A obra do escritor naturalista e libertário francês Émile Zola (1840-1902) aqui & aqui.
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