sábado, dezembro 27, 2014

TRUDI GUDA, ROSA LIKSOM, EVELYN LAU, LINDA DARNELL & ADAM ALTER

 


A SOLIDÃO DE LINDA... - Aquela menina libriana de Dallas era a caçula entre quatro irmãos e eram felizes apesar dos pais não serem casado. Cresceu tímida e bastante reservada no meio da agitação doméstica. Era a preferida da mãe que sonhava com seu futuro ignorando a criação dos demais: Mamãe realmente me empurrou, me vendo em uma competição após a outra. Aquela doce e atenciosa menina ainda na infância tornou-se modelo atuando em teatro e cinema, e viveu na pele de Márcia Bromley no Hotel for Women, foi Jane Norton no Day-Time Wife, de Carolyn Sayres no Star Dust, Zina Webb, a The Outsider no Brigham Young, e Lolita Quintero no The Mark of Zorro. Seguia o incentivo da mãe para estrelar em filmes de aventura até se tornar papel principal nas telas e foi Caroline Tridd Hanna no Chad Hanna, Carmen Espinosa no Blood and Sand, Louise Murray no Rise and Shine e Virginia Clemm no The Loves of Edgar Allan Poe. Foi aclamada pela crítica e estava lá como Nancy Johnson no City Without Men, Virgin Mary no The Song of Bernadette, Sylvia Smith & Stevens no It Happened Tomorrow e Dawn Starlight no Buffalo Bill. A vida dividida entre palcos e passarelas, isolando-se dos colegas na adolescência e partiu para um teste em Hollywood, no qual foi rejeitada por ser muito jovem. Preferia o teatro, mas foi no cinema, aos quinze anos que ela estrelou como Olga Kuzminichna Urbenin no Summer Storm, Trudy Wilson no Sweet and Low-Down, Netta Longdon no Hangover Square, Anne Livingstone no The Great John L., Stella no Fallen Angel e Tuptim no Anna and the King of Siam. Foi ainda mais aclamada pela imprensa como nova estrela e se passava como se tivesse já 17 ou 19 anos de idade, quando ainda debutava protagonizando longas de sucesso e foi Edith Rogers no Centennial Summer, Chihuahua no My Darling Clementine, Amber St. Clair no Forever Amber, Algeria Wedge no The Walls of Jericho e Daphne De Carter no Unfaithfully Yours. Ela dizia: Estou aprendendo o que é trabalho realmente árduo. sobre o momento agradável e fácil que as estrelas do cinema devem estar passando em Hollywood, mas os últimos dois meses me ensinaram outra história... E foi Lora Mae Hollingsway no A Letter to Three Wives, Mrs. Aggie Hobson no Slattery's Hurricane, Cecil Carter no Everybody Does It e Edie Johnson no No Way Out. E brilhou nas comédias dramáticas, a ponto de ser apelidada da “estrela mais adorável e emocionante de Hollywood". Charmosa e com sua personalidade juvenil elucubrava: No início, tudo parecia um conto de fadas se tornando realidade. Entrei numa terra fabulosa onde, da noite para o dia, fui uma estrela de cinema. Nas fotos você é construído por todos... Você acredita no que as pessoas ao seu redor dizem... E foi Elena Kenniston no Two Flags West, Denise Turner no The 13th Letter, Dee Shane no The Guy Who Came Back e Evelyn Walsh Warren no The Lady Pays Off. Vieram os musicais e papéis que detestava, diretores aterrorizantes e foi punida acumulando desapontamentos, rejeições e ressentimentos, trabalhando para a Cruz Vermelha e vendendo títulos de guerra. Estava farta dos elogios à sua beleza. Mas seguiu firme e foi Lt. Elizabeth Smythe no Saturday Island, Julie Bannon no Night Without Sleep, Edwina Mansfield no Blackbeard the Pirate e Clare Shepperd, alias Clare Sinclair no Second Chance. E mais foi Lola Baldi no Angels of Darkness, Vida Dove no This Is My Love, Renata Adorni no It Happens in Roma, Amy Clarke no Dakota Incident e Ellen Stryker no Zero Hour! E ressurgiu como pin-up com as pernas de fora em filmes tidos por imorais à época e o sucesso deu-lhe o triunfo: Sou a garota mais sortuda de Hollywood... Mas logo vieram os revezes: Aos trinta e dois anos, consigo ver marcas reveladoras no espelho, mas a devastação do tempo já não me aterroriza. Disseram-me que quando a beleza superficial desaparece, a mulher real surge... Era o alcoolismo e o ganho de peso. Atrasou filmagens porque o seu descobridor havia morrido, adoece e fica de quarentena. Viajou para Itália e, com seu casamento, colocou a carreira num hiato. Depois foi para a televisão e voltou aos palcos entre amores fugazes e flertes, a separação dos pais, as grosserias escandalosas da mãe, extorsões a atormentavam, ameaças de fãs e ela já não era a mesma com endurecimento temperamental, estado de saúde piorando: Eu morava em um esgoto. Agora moro em um pântano. Eu subi no mundo... Queria ser enfermeira e atuando numa creche para mulheres operárias. Manteve-se destemida e banida dos estúdios com a filha adotiva, os casos amorosos, o divórcio malogrado, as terapias e a depressão, o quase suicídio, o tribunal e as fraudes, a ruína e o casamento por interesse financeiro, as insatisfações e os trabalhos de caridade, a adoção de um bebê e a incompatibilidade de gênios, a bebida e sucumbia visivelmente. E ressuscitou como Sadie no Black Spurs depois de um cigarro e o incêndio que a devorou, cinzas enterradas na Pensilvânia. Um tributo à atriz estadunidense Linda Darnell (Monetta Eloyse Darnell - 1923- 1965). Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Para onde foram os sentimentos quando desapareceram? Será que eles deixaram um traço químico em algum lugar de nossas mentes, de modo que, se pudéssemos olhar para dentro de nós mesmos, veríamos, através dos padrões dos neurônios, algumas das coisas importantes que nos aconteceram em nossas vidas? Pensamento da escritora canadense Evelyn Lau. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Cada um de nós é um produto contínuo do mundo dentro de nós, do mundo entre nós e do mundo ao nosso redor – e da sua capacidade oculta de moldar todos os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos... Pensamento do professor e psicólogo estadunidense Adam Alter, autor da obra Drunk Tank Pink: e outras forças inesperadas que moldam a forma como pensamos, sentimos e nos comportamos (Penguin Press, 2013).

 

COMPARTIMENTO NÚMERO 6 – [...] Você não consegue ver além do bico, não importa o quanto tente. Mas lembre-se, mesmo nos momentos mais sombrios, de que sempre há vida por trás do céu morto. [...] Tudo está em movimento – neve, água, ar, árvores, nuvens, vento, cidades, aldeias, pessoas, pensamentos. [...] Naquela época eu ainda não entendia que só vale a pena matar quem tem medo da morte. Caso contrário, matar é um favor a um amigo. [...]. Trechos extraídos da obra Hytti nro 6 (Graywolf Press, 2011), da premiada escritora, fotógrafa e artista plástica finlandesa, Rosa Liksom, que na sua obra Perhe (HS Kulttuur, 2000), expressa que: [...] Achei que um homem normal não poderia viver com uma esposa assim, que de qualquer maneira está sendo vigiada por um motorista de linha. Afinal, a esposa deveria ser gordurosa e feia, como um marido estrangeiro que faz um rack de teto ruim. Essas esposas ficam bem em casa e limpas. [...].

 

DEVE HAVER SILÊNCIO TAMBÉM - Deve haver silêncio também. \ O velho sozinho \ tecendo provérbios esquecidos\ no crepúsculo\ Sobre os silenciosos não há mal\ Sempre haverá aqueles\ que cuida dos feridos\ O velho em seu jardim de ervas\ sozinho com sua sombra\ familiarizado com a morte\ seu livro de silêncio\ reflete a luta\ de lobos e ovelhas\ tamanho real. Poema da antropóloga e poeta surinamesa Trudi Guda (Gertrude Marie Guda).


 OUTRAS SACADAS & HUMOR


FREUD E O SISTEMA PENAL
– Vamos aprumar a conversa! Nesse tempo de falência das instituições penais, como também de extrema violência, roubalheira e indelicadeza, quase não sabemos mais quem é o amigo e quem o algoz. Abordando sobre transgressão e punição no seu livro Totem e tabu, Freud traz a seguinte reflexão: “[...] Existe, entre os povos primitivos, o temor de que a violação de um tabu seja seguida de uma punição, em geral alguma doença grave ou a morte. A punição ameaça cair sobre quem quer que tenha sido responsável pela violação do tabu. [...] Somente quando a violação de um tabu não é automaticamente vingada na pessoa do transgressor é que surge entre os selvagens um sentimento coletivo de que todos eles estão ameaçados pelo ultraje; e em seguida, apressam-se em efetuar eles próprios a punição omitida. Não há dificuldade em explicar o mecanismo desta solidariedade. O que está em questão é o medo do exemplo infeccioso, da tentação a imitar, ou seja, do caráter contagioso do tabu. Se uma só pessoa consegue gratificar o desejo reprimido, o mesmo desejo está fadado a ser despertado em todos os outros membros da comunidade. A fim de sofrear a tentação o transgressor invejado tem de ser despojado dos frutos de seu empreendimento e o castigo, não raramente, proporcionará àqueles que o executam uma oportunidade de cometer o mesmo ultraje, sob a aparência de um ato de expiação. Na verdade, este é um dos fundamentos do sistema penal humano e baseia-se, sem dúvida corretamente, na pressuposição de que os impulsos proibidos encontram-se presentes tanto no criminoso como na comunidade que se vinga. Nisto, a psicanálise apenas confirma o costumeiro pronunciamento dos piedosos: todos nós não passamos de miseráveis pecadores”. (Sigmund Freud, Totem e tabu). Veja mais aqui.


A LENDA DE BORGES – Inserido no seu livro Elogio da sombra/perfis, o escritor argentino Jorge Luis Borges traz o conto Lenda, narrando um encontro inusitado: “Abel e Caim encontraram-se depois da morte de Abel. Caminhavam pelo deserto e reconheceram-se de longe, porque os dois eram muito altos. Os irmãos sentarem-se na terra, acenderam um fogo e comeram. Guardavam silêncio, à maneira da pessoa cansada quando declina o dia. No céu assomava alguma estrela, que ainda não havia recebido seu nome. À luz das chamas, Caim percebeu na fronte de Abel a marca da pedra e deixou cair o pão que levava à boca e pediu que lhe fosse perdoado seu crime. Abel respondeu: - Tu me mataste ou eu te matei? Já não me lembro; aqui estamos juntos como antes. – Agora sei que em verdade me perdoaste – disse Caim – porque esquecer é perdoar. Eu procurarei também esquecer. Abel falou devagar: - Assim é. Enquanto durar o remorso, dura a culpa”. (JorgeLuis Borges, Lenda, in: Elogio da sombra/perfis). Veja mais aqui.


O PAI, A MÃE E OS FILHOS – A importância da família no desenvolvimento da criança é inegável, exigindo uma preparação adequada dos pais para tal tarefa. O psiquiatra Içami Tiba faz uma análise de como se comportam pais e mães na atenção com a criança: “[...] Numa refeição em casa, se o filho não quer comer “que não coma”, pensa o pai. A mãe logo se dispõe a encher o estômago dele de qualquer jeito: “Quer que eu prepare aquele sanduíche que você adora?”. Quando o filho apanha de um colega, o pai se irrita e briga com ele, quando não chega a agredi-lo, para que aprenda a se defender na rua. A mãe também fica furiosa e quer dar uns tapas... mas em quem agrediu seu filho. Pais perdem os filhos em shoppings, praias, festas juninas. Mães não desgrudam os olhos de seus pimpolhos. Enfim, na família, o pai tem dois filhos, enquanto que a mãe tem três: o filho temporão é o marido!” (Içami Tiba, Quem ama, educa!). Veja mais aqui.


DA COMPULSÃO DO CONSUMO: ONIOMANIA & SHOPAHOLIC – Já nesse tempo de desenfreada compulsão de devorar as vitrines do consumo, à luz da Neuroeconomia, Eduardo Gianetti traz o seguinte esclarecimento: “No embate de forças subjacente às nossas escolhas, o sistema límbico e o córtex frontal são os principais vetores: os impulsos e desejos oriundos do primeiro gozam da prerrogativa de iniciar os lances da peleja, mas têm de abrir caminho e negociar a passagem pelo crivo modulador do segundo; só assim serão capazes de empolgar o sistema motor e acionar os músculos relevantes [...] Na prática, o córtex funciona como uma espécie de filtro ou gerente-contador, adepto do cálculo de custos e da prudência. É ele o vigia severo que, quando o primata límbico diz num repente – “Eu quero”!, responde – “Não!”; ou ao menos, dependendo do caso e da pessoa, é claro, balança a cabeça e propõe – “Calma lá, agora não!”. (Eduardo Giannetti, Ilusão da alma: biografia de uma ideia fixa). Veja mais aqui e aqui.

DUAS DICAS EM UMA: SAÚDE EM PRIMEIRO LUGAR


ALQUIMIA DA SAÚDE – A primeira dica é de James Elder que defende a alquimia dos quatro elementos nos cuidados com o corpo: “Fogo – Metabolismo e digestão: equilibrar o metabolismo para conseguir harmonia. Trabalhar bastante física e mentalmente para tornar o fogo elétrico do sistema nervoso mais sadio pelo uso. Ar – Respiração: deixar as janelas abertas sempre que possível. Inalar profundamente e exalar plenamente. Exercício intensivo é essencial para respiração e circulação eficientes. Terra – Dieta e exercício: procurar manter o peso correto. Fazer exercícios para fortalecer os órgãos, desenvolver os músculos e manter o tônus. Manter dieta equilibrada. Água – Líquidos: beber bastante líquido, principalmente água. Oito copos de água por dia é o ideal”. (James Elder, Alquimia da saúde).

SAÚDE UMBIGOCENTRISTA – Já o escritor e jornalista Xico Sá traz uma dieta mais acessível e eficiente da apolínea moda atualíssima para umbigocentristas glamourosas: “1. Francês por francês, sai Proust e entra toda a linha Lancôme. 2. Em vez de queimar pestanas e orgulhar-se de românticas olheiras, o milagre elíptico do Botox. 3. No lugar da cinemateca, sessões de bronzeamento artificial. 4. Os cortes epistemológicos serão substituídos pelo efeito de uma boa lipoaspiração. 5. Frequentar exposições de arte somente em pavilhões gigantes, como o da Bienal, que permitam queimar pneuzinhos ao longo da contemplação. 6. Em vez de amor platônicos, trepadas homéricas, como na receita do poeta da saudável marginalia. 7. Homem ou se pega pelo estômago, como na prenda culinária mais antiga, ou  pelos dotes da academia de ginástica. Desconfie sempre da sexualidade de um macho que se deixa prender pelo intelecto. Trata-se , para dizer o mínimo, de um tremendo pervertido. Ou você acha que Simone de Beauvoir vale mais do que uma cachorra do funk? 8. De humano demasiadamente humano, aceitarei apenas aquela pequena cota de celulite da qual uma gazela, mesmo de passarela, não consegue se livrar. 9. As almas se entendem, os corpos não. 10. Nada de ficar aí parada, absorta e nebulosa, olhando as interrogações de fumaça do velho e cancerígeno king-size existencial. Em vez da engorda no pasto inútil da metafísica, faça pelo menos meia hora de ginástica passiva”. (Xico Sá, Decálogo para queimar gorduras e neurônios). Vamos aprumar a conversa e tataritaritatá! Veja mais aqui e aqui.


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