domingo, maio 26, 2013

SOPHIE CALLE, LYDIA CABRERA, TERESA HORTA, CAMPBELL, SHELLEY LUBBEN, MAGTYMGULY, STANISLAW PONTE PRETA & BETTY WILLIAMS

 

UM POEMA PARA SOPHIE – Pelas ruas passos me seguiam. Aonde fosse, a perseguição. O clique e era a minha seguidora, eu sequer sabia do Oulipo. Era apenas uma transeunte, outra hora: a camareira do hotel em que eu havia me hospedado. Ao depará-la me fez um tanto de perguntas. Ao final convidou-se até a Torre Eiffel e bisbilhotou minhas lembranças. De lá a segui pela Suite Veneziana, me fez entre Os Adormecidos & Fantasmas, da Ausência e me perguntava insistentemente: Você me viu, Você me viu? Dividi sua cama e me falou sobre A Filha do Doutor, d’ O Eruv de Jerusalém, d’Destacamento, sobre Desaparecimentos e de Estórias verdadeiras, envolvendo-me em Jogos duplos, n’O Ritual de Aniversário, As roupas & o guarda-roupa, o Girar, O livro de endereços e o Striptease, No sex last night. Ao se ausentar ligava a qualquer hora do dia ou da noite: a poesia que vem das coisas banais, o que acontece com todo mundo. Ao retornar me contou do Cego, do Sigilo e me chamou: Veja o Mar. E eu vi a Dor Requintada, Cuide-se. Levei-a aos meus aposentos, revirou meus livros e revistas, roupas e recantos, queria saber tudo sobre mim. Foi então que soube que ela era sete anos mais velha que eu, Doure exquise. Exigiu-me que me tornasse detetive a persegui-la por onde quer que fosse, La filature. Lá estava eu pelas ruas de Paris perscrutando suas experiências pessoais, suas transcendências. Relatório pronto das investivações, levou-me para ver os últimos estertores de sua mãe, enquanto me falava das muitas viagens por diferentes países, muitos álbuns de fotografias, exposições e cento e sete mulheres que choravam pelo rompimento. Sentia-se perdida desde sempre, caminhadas infindáveis. Quando ela foi embora, Prenez soin de Vous e nem era eu: passei a ser sua vida e me fez vivê-la, Sophie Calle. Veja mais aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Não adianta falar do problema sem falar da solução. Quando tudo mais falhar, tire férias. Pensamento da ativista britânica Betty Williams (1943-2020), que narrou o que ocorreu no dia 10 de agosto de 1976: [...] eu posso ver aquilo como se fosse hoje, aconteceu hoje. E eu estava voltando da casa da minha mãe [...] e minha filha estava no carro comigo, Deborah, e estávamos subindo a estrada principal para virar para onde eu morava e ouvi tiros. E você sabe que está realmente doente ou que vive em uma sociedade muito doente quando consegue distinguir tiros. Eu conseguia distinguir tiros. Eu sabia a diferença entre um rifle Armalite que era usado por organizações terroristas e um rifle de auto-carregamento [SLR] usado pelo Exército Britânico. E eu ouvi os tiros de Armalite ressoarem primeiro e então ouvi o tiro de retorno do SLR. E eu me lembro de me inclinar e empurrar minha filha para baixo no carro porque eu achei que aqueles tiros estavam muito perto, [...] minha filha [...] tinha quatro anos e eu a empurrei no carro e enquanto nós viramos para baixo, aí ouvi um carro dando a volta na direção oposta e parei para deixar ele passar e ele subiu na calçada e [...] desculpe, isso é muito difícil para mim [...] o carro atingiu os filhos dos Maguire e a mãe deles e eu vi aquilo [...] desculpe, não posso mais falar sobre isso. [...]. Por sua luta pela paz na Irlanda do Norte, ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1976, ao lado de sua amiga Mairead Corrigan. A partir disso ela fundou a “The Global Children’s Studies Center” (“Centro de Estudos sobre as Crianças”), em 1992, além de participar e liderar muitas outras iniciativas em busca de proteger as crianças. Em 2004, Betty retornou para a Irlanda e, em 2006, juntamente com outras cinco laureadas com o Nobel da Paz, ela criou o “Nobel Women's Initiative” (“Iniciativa das Mulheres do Nobel”), para promover a paz, a justiça e a equidade para as mulheres.

 

ALGUÉM FALOU: Deus fez as nádegas para levar golpes. Frase da antropóloga e poeta cubana Lydia Cabrera (1899-1991), que no seu livro El monte (1954), expressou: [...] São Jerônimo afirmou que o número nove indica sofrimento e dor na Bíblia. No entanto, esta tradição não tem sua origem no livro sagrado, mas é inspirada em um costume grego e romano que celebrava nove dias de luto pelo falecido ou para apaziguar os deuses. Também depois de nove dias, mas no contexto da Santeria cubana, é realizada a cerimônia conhecida como Oro ilé Olofi, "missa cantada que é rezada na igreja pelo descanso eterno dos desapareceu olocha (filho de um santo) [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

AVENTURA DO HEROI – [...] O herói, vindo do mundo cotidiano se aventura numa região de prodígios sobrenaturais; ali encontra fabulosas forças e obtém uma vitória decisiva; o herói retorna de sua misteriosa aventura com o poder de trazer benefícios aos seus semelhantes. [...]. Para aqueles que não recusaram o chamado, o primeiro encontro da jornada do herói se dá com a figura protetora (que com frequência é um ancião ou anciã), que fornece ao aventureiro amuletos que o protejam contra as forças titânicas com que ele está prestes a deparar- se. [...]. Tendo as personificações do seu destino a ajudá-lo e a guiá-lo, o herói segue e sua aventura até chegar ao “guardião do limiar”, na porta que leva à área da força ampliada. Esses defensores guardam o mundo nas quatro direções – assim como em cima e embaixo –, marcando os limites da esfera ou horizonte da vida presente do herói. Além desses limites, estão as trevas, o desconhecido e o perigo, da mesma forma como, além do olhar paternal, há perigo para a criança, e além da proteção da sociedade, perigo para o membro da tribo. A pessoa comum está mais do que contente, tem até orgulho, em permanecer no interior dos limites. [...] As regiões do desconhecido (deserto, selva, fundo do mar, terra estranha, etc.) são campos livres para a projeção de conteúdos inconscientes. A libido incestuosa e o destruto patricida, por conseguinte, se refletem contra o indivíduo e sua sociedade sob formas que sugerem ameaças de violência ou fantasias de deleite perigoso. [...]. Trechos extraídos da obra O herói de mil faces (Pensamento, 2007), do escritor, professor, mitologista e conferencista estadunidense Joseph Campbell (1904-1987). Veja mais aqui e aqui.

 

A VERDADE POR TRÁS DA FANTASIA DA PORNOGRAFIA: A MAIOR ILUSÃO DA TERRA - [...] As pessoas culpam sua falta de sucesso nos problemas que enfrentam. Se eles pudessem perceber que esses problemas são suas oportunidades de provar a si mesmos. [...] Além de serem coagidas, enganadas e repetidamente expostas a doenças não curáveis que ameaçam a vida, muitas mulheres sofrem danos graves em partes internas do corpo. [...] Gostaria de dedicar este livro às centenas de mulheres e homens que morreram na indústria pornográfica de AIDS, suicídio, homicídio e mortes relacionadas às drogas. Suas vozes serão ouvidas agora. [...] A verdade é que não há fantasia na pornografia. É tudo uma ilusão. Uma olhada mais de perto nas cenas hardcore da vida de uma estrela pornô mostrará um ato que a indústria pornô não quer que você veja. A verdade é que nós, atrizes pornôs, queremos acabar com a vergonha e o trauma de nossas vidas nas bilheterias, mas não podemos fazer isso sozinhas. [...] Quando as estrelas pornô encerram o dia e voltam para casa com corpos machucados e ensanguentados, alguns de nós tentamos ter relacionamentos normais e saudáveis, mas nossos namorados cafetões ficam com ciúmes e abusam de nós fisicamente. Então, em vez disso, nos casamos com nossos diretores de pornografia ou voltamos à infância e nos livramos de sugar daddies de 60 anos. Eu preferia sugar daddies porque queria desesperadamente o amor e a atenção do meu pai. [...] A indústria pornográfica nunca deveria acontecer dessa maneira. Mas 1 em cada 4 estadunidenses fez isso acontecer. Enquanto mulheres e homens no pornô se destruíam com drogas, álcool e suicídio, nós sentamos de braços cruzados em nossos computadores com “pipoca” em uma mão e nosso mouse na outra, clicando avidamente em suas vidas. Que Deus perdoe nosso mal. [...] Garotas danificadas são exatamente o que a indústria pornô ataca e depende. Estima-se que 90% dos artistas pornôs são sobreviventes de abuso sexual e a idade média de uma atriz pornô é de 22,8 anos. [...]. Trechos extraídos da obra Truth Behind the Fantasy of Porn: The Greatest Illusion on Earth (CreateSpace, 2010), da atriz e escritora estadunidense Shelley Lubben (1968-2019).

 

LUZES DE LEONOR - [...] A teimar eu na liberdade e em privilegiar o pensamento e os versos, na tentativa de dominar e comandar o corpo que inutilmente me tentam por enganar nas suas exigências naturais, ao aceitar o grande sossego que a frieza e a razão sempre trazem consigo, em detrimento do meu coração que na inquietação se esmera. [...] Instintivamente acaricia o velo de cedro penumbroso, bosque arruivado a ensombrar-lhe o cimo das coxas; curva-se de novo e, admirada, vai tão longe quanto pode na abordagem tímida dos lábios de anil da molhada boca do seu ventre. A separá-los: penetrando, afagando-os, a sentir os dedos numa humidade lenta, um orvalho dolente, uma resina turva. Ali, onde há sucos e gosto sem ferida. Ali, onde há fenda, há céu, há mar. Mato de se perder na busca da vertigem no assombro da ousadia do ato; gosto e travo a rosa insatisfeita, odor de chuva, de cardo, de almíscar. Perfume de nardo a desatar-lhe os nervos, enquanto persegue o improvável mapa do delírio: mais acima a mina, e logo abaixo o poço. Modorra de papoila a florescer no alto, a intumescer ao tacto. Prazer diverso e gozo que a muda, e ela transgride, voa, cresce. E tanto no clítoris como na vulva, o bordado a cheio vai-se enredando, matizando, demorando nas caprichosas cores, nos desenhos, nas misteriosas linhas de agulha onde se enleia. Veia que o fogo entorna, toma e incendeia. Na procura do êxtase. E Leonor ondeia. Rola enovelada em cima do leito onde se distende, roda e cede a galgar o parapeito de si própria, deixando a razão apagada à cabeceira. Rodopia. Resvala. Mãos descendo e subindo, indo e vindo, na descoberta dos desvãos, do topo, dos secretos recantos de segredo, em todos os lugares e tempos que o orgasmo guarda. Entorna. Derrama. Grita e explode. Gemendo sob o pulso que lhe amordaça a fala pelo próprio avesso. Assim leve, assim solta, assim livre. Leonor corre, voa, nada, desvenda. E finalmente foge. Consigo mesma. [...]. Trechos extraídos da obra As Luzes de Leonor (D. Quixote, 2012), da escritora portuguesa Maria Teresa Horta, autora do poema: A brasa do teu corpo\ a queimar a palma \ acesa\ da mão do meu desejo.

 

PEGO COM FOGO - Meus queridos amigos, devido aos desafios deste mundo cruel, \ Meu coração está com fogo. \ Meu corpo está doendo como o corpo de Eyyup, \ Ninguém saberá, esta ferida está sem palavras. \ Dias e noites tudo que faço é gemer; \ Estou toda em lágrimas vagando por aí. \ Sempre que estiver no lago eu vou chorar: \ eu me afoguei, oh, bravos pirs, eu preciso da sua ajuda. \ Quem é pobre vagará por lugares pobres, \ Derramando lágrimas cheias de sangue. \ Aquele que ama encontrará seu amado, \ As flores vão desabrochar e ele vai se inspirar ao vê-la. \ Semeie suas sementes, você trará a colheita; \ Vindo a este mundo não gaste sua vida em vão. \ Você dará uma olhada neste mundo. \ É um mundo muito, muito antigo, uma vez visitado; as pessoas vêm e vão, não ficando muito tempo. \ Magtymguly, sua alma está pegando fogo, \ Seu coração está cheio de sangue; seus olhos estão cheios de lágrimas; \ Ele ficou tão miserável, implorando por ajuda em todos os lugares, \ mas ninguém está com pena; Eu tenho um destino tão ruim. Poema do poeta e filósofo turcomeno Magtymguly Pyragy (1724-1807). Veja mais aqui.

 


FEBEAPÁ, DE STANISLAW PONTE PRETA - Primeiro eu li o segundo volume, depois foi que li o primeiro Febeapá. Da mesma forma quando procurei fazer uma releitura dos mesmos: logo achei na primeira pilha de livros o Febeapá 2; tempos depois, no meio dum monturo de livros foi que reencontrei o volume inaugural desse maravilhoso festival do mestre da crônica e do humor Sérgio Porto (1923-1968) sob a identificação do magistral Stanislaw Ponte Preta. Depois li tudo dele que foi publicado: O homem do lado, Tia Zulmira e eu, Primo Altamirando e Elas, Rosamundo e os outros, Garoto Linha Dura, Na terra do crioulo doido, e de tão fascinado pela arte desse mestre, até influenciar demais da conta (porque imitar Sérgio Porto não é pra qualquer Zé-ruela), de inventar, na minha caolhice e amostramento, o Fecamepa (um que se diz filho bastardo do Febeapá mas que não resiste a menor menção de exame de DNA, afora fazer o mestre estremecer no cemitério de tanta indignação pela insolência!). Apois foi. Falar dele? Nem ouso. Prefiro expressar o que já dizia Mario da Silva Brito na orelhas do volume 2 do Febeapá: “O Brasil tem para com esse escritor uma enorme dívida de gratidão: a da alegria. Alegria que ele espalhou pelo país de extremo a extremo, alegria que se torna cada vez mais necessária,a te mesmo como fonte de esperança”.



FEBEAPÁ

[...] E assim vem correndo o Festival de Besteira que Assola o País, sem solução de continuidade, pelo menos até o momento em que enviávamos este livro à editora. A primeira parte tem pretensões de ser mais uma reportagem do que uma coletânea de crônicas. Ele tem, aliás, duas partes: a primeira, dedicada ao Febeapá, com este prólogo e mais alguns casos dignos dele, mas que foram anotados em forma de crônicas, e a segunda onde vai uma coleção de crônicas e casos do cotidiano, sem compromissos com a verdade nua e crua.
O relato é interrompido aqui, mas o Festival persiste. Ainda na semana passada, democratas do governo mandavam a policia baixar o cacete em quem fizesse passeatas contra a ditadura, e a Pretapress recebia um comunicado do Serviço de Trânsito explicando que os talões de multa para motoristas infratores passaria a ter três vias, para evitar o suborno do guarda. E este é bem um exemplo do que é o Festival: em todo lugar do mundo, quando o guarde é subornável, muda-se o guarda. Aqui, muda-se o talão. É a subversão a serviço da corrupção. Entenderam?

PAQUERA

Conheci o Batalha quando ele ainda era garoto. Aliás, todos os que foram meninos aqui no bairro conheceram o Batalha. Naquele tempo o bairro era calmo, os garotos unidos, havia espaço, era ótimo. O Batalha era um garoto legal, e só depois que foi crescendo é que foi ficando feio. Ao atingir a puberdade, o Batalha já era tão feio que – francamente – eu estava vendo a hora que ia acabar presidente da República.
Talvez tenha sido a feiura dele que o levou ao vicio de espiar mulher de longe. Namorava à distância, sem que a moça soubesse de nada, para não estragar o namoro. Uma de suas primeiras experiências amorosas ensinou-lhe esse truque. Laurinha, que era muito bonitinha e muito senhora de sua beleza, que a secura da rapaziada exaltava às pampas, era, por isso mesmo, perversa que só ela. O Batalha namorou-a durante dois anos e, quando ela soube, desfez. Foi até tragicômico: alguém foi dizer pra ela que o Batalha falava pra todo mundo que namorava ela. Laurinha não conversou: telefonou pro Batalha e, no que ele disse “alô”, ela lascou:
- Escuta aqui, seu nojento, se eu te pegar de novo me olhando com esse teu olhar de garoupa congelada, eu cuspo, tá bem? – e desligou o telefone e as esperanças do rapaz.
Talvez tenha sido desde aí que o Batalha aprendeu a apreciar mulher de longe. Depois de homem feito e feio – definitivamente feio – já o bairro estava todo edificado na base de altos edifícios. Batalha especializou-se em espiar mulher da janela.
Foi quando se deu a história triste que ele me contou como, de resto, me contou esta última, pois sabe que eu não vou sair pela aí esparramando, como fizeram quando ele era paquera oficial da Laurinha. Deu-se, eu dizia, que o Batalha ficou uns tempos de olho numa mocinha que morava no prédio em frente. Um dia ele pegou e contou pra mim que ela não só já notara o interesse dele como também aderira. Ficava do lado de lá, muitas vezes, debruçada na janela, de olhar na sua direção. Ele achou, inclusive, que a mãe dela não fazia gosto porque, em dado momento, chegava para a mocinha, segurava-a pelo braço e levava lá pra dentro, estragando tudo. A mocinha era muito dócil, e ia.
Eu nem devia ter contado esse episódio, pois é muito triste, mas serve para ilustrar muito bem o caipirismo do Batalha. Na verdade, a mocinha não era dócil. Era cega, isso sim. E o Batalha só descobriu muito tempo depois, quando teve oportunidade de vê0la de perto, na rua. Ficou sentidíssimo; afinal, a primeira que olhou fixo para ele só o fazia porque não o enxergava. É duro.
Mas não é à toa que ele se chama Batalha. Há coisa de uns meses, mudou-se para o Leme e andava entusiasmado com uma dona do edifício dos fundos para a sua rua. É que ela tomava banho de sol no terraço com um biquíni um bocado minibiquini.
Isso foi no começo. Com correr do tempo ele foi me contando mais coisas. Por exemplo: estava certo de que a moça percebera sua paquera, embora a paquera fosse de uma distancia considerável. Ela olhava na direção à sua janela e sorria:
- Ontem ela tomou banho de sol só com a parte de baixo do biquíni – me falou certa vez, com a voz embargada de emoção. E, num recente encontro, dei com o Batalha sobraçando enorme pacotão. Disse-me que a dona do leme estava se despindo totalmente para ele.
- De manhã, quando eu vou espiar, ela já tá lá, nuinha no terraço. E fica horas, na mesma posição. Peladinha – garantiu. E ratificou: - Peladinha.
- E esse pacotão aí? – perguntei.
- É uma luneta. Ela merece. Meu binóculo nunca foi grande coisa. Ela merece uma luneta. Gastei uma nota para comprar esta luneta, mas ela merece. Vou estrear amanhã, se fizer sol.
E lá se foi o Batalha e seu pacotão. Eu não o vi mais, até esta semana. Vinha cabisbaixo e meditabundo – adjetivos que sempre se juntam para definir o cara que entra numa fria.
- Como é, Batalha? E a dona do Leme?
- Nem me fale – suspirou.
- Já sei. Mudou-se.
- Pior. Ela tava me gozando... Você não se lembra que eu falei que ela ficava horas nuinha, na mesma posição?
Fiz que sim com um movimento de cabeça.
- Pois é... Comprei a luneta e só aí eu reparei. Ela sabia que eu olhava e fez aquilo...
- Mas fez o quê?
- Armou no telhado um manequim velho. Botava a peruca dela no manequim e deixava lá, para me enganar.
- Puxa vida.... tem certeza?
- Absoluta... eu vi pela luneta, na coxa tava escrito: “Made in USA”.

NÃO SOU UMA QUALQUER

Ela notou que ele estava meio bronqueado por causa das respostas monossilábicas que dava às suas perguntas. Conhecia-o muito bem. Quando ele ficava emburrado para falar é porque estava com minhoca na cuca.
- Que é que há, meu bem? Você tá meio chateado!
Ele não respondeu logo, meteu um suspensezinho legal, puxando uma tragada forte do cigarro. Depois caminhou até o armário da sala, tirou uma garrafa de uísque e deu aquele gole prolongado no mais belo e ultrapassado estilo Humphrey Bogart. Depois sentou-se na poltrona, cruzou as pernas e disse:
- É... andaram me buzinando aí umas coisas.
- A meu respeito? – e ela espalmou a mão sobre o cobiçado busto.
Novo silencio, e a distinta, muito preocupada, levantou-se de onde estava e foi se aninhar no colo dele. Fez vozinha de crinaça:
- Meu queridinho, contra pra ela, vá! Deve ser mais uma fofoca dessa gente, mas é melhor você contar logo pra ela, sabe? Assim a gente tira logo as dúvidas. Não gosto de ver o meu querido zangado não – e começou a enfiar os dedos esguios e bem tratados pelos cabelos dele.
O cara suspirou, todo despenteado, e foi soltando o que tinham contado pra ele. Tinha sido na noite de apresentação do Charles Aznavour, no Copacabana Palace, a mais recente badalação de grã-fino com renda para excepcionais. Agora a moda é esta: tudo o que é festa de grã-fino é para dar renda para excepcionais, pois ninguém é mais excepcional que um grã-fino.
Ela tinha ido à tal apresentação do cantor francês e fizera muito sucesso. A Lea Maria deu até uma nota no Caderno B, dizendo que ela estava um show. De fato (enquanto ele falava ela ia se recordando), o seu vestido op-art, com mini-saia, foi um sucesso. Era daquela saia que, quando a mulher senta, a saia some e aparece o que a saia tinha obrigação de fazer sumir. Um fenômeno da elevação dos costumes – como diz a veneranda Tia Zulmira.
- Me disseram que você flertou a noite toda – o cara falou.
Ela esticou-se, ainda sentada nas suas pernas. Outra vez a mão espalmada sobre o cobiçado busto:
- Eu????
Ele ratificou. Ela mesma. Tinham contado para ele que ela dançara de rtosto colado com um tal de Collatini.
- Cola aonde? – perguntou ela.
- Collatini.
Ela ficou indignada. De fato, os Collatini, de SãoPaulo, estavam na mesa dela, mas isto era uma infâmia. Imaginem logo quem? O Collatini, aquele velhote. De maneira nenhuma. De mais a mais, a Bequinha, mulher do Collatini, era sua amiga de infância. Essa gente é assim mesmo. Quando não tem nada para comentar sobre uma mulher... inventa. Dela eles não podiam dizer nada, tá bem? Absolutamente nada. Nunca deu margem para falatório nenhum. Pelo contrario: procurava se portar em público – aliás, procurava se portar em qualquer lugar, ora esta! – com a máxima dignidade, justamente por isso. Porque sabia que essa gente de sociedade é fogo; não pode ver uma mulher bonita fora da panelinha desses cretinos, que começa logo a tentar descobrir coisas, para fazer dos outros gente igual a eles. É isso mesmo: falam só para justificar a vida que levam, esses amorais. Mas com ela não.
- Comigo não – repetia indignada: – Eu não sou uma qualquer!
Ele, impressionado com a reação dela, puxou-a para o seu regaço. Deu-lhe mais um beijo e falou bainho que sabia disso, sabia que ela não era uma qualquer.
Pouco depois ela se levantava do colo dele, ia até o banheiro: ajeitou-se, pintou-se e de lá mesmo perguntou:
- Meu be-em! Que horas são?
- Quase 6! – respondeu o cara.
Ela veio espavorida lá de dentro, deu-lhe um beijinho rápido, apanhou uns embrulhinhos de compras que deixara sobre a mesa, quando chegara, e despediu-se:
- Tchau, querido! Deixa eu correr se não meu marido me mata!
Foi embora

[...]
Quando se desenhou a perspectiva de uma seca no interior cearense, as autoridades dirigiram uma circular aos prefeitos, solicitando informações sobre a situação local depois da passagem do equinócio. Um prefeito enviou a seguinte resposta, à circular: “Doutor Equinócio ainda não passou por aqui. Se chegar será recebido como amigo, com foguetes, passeata e festas”.
[...] Manchete no jornal Correio do Ceará: “Todo fumante morre de câncer a não ser que outra doença o mate primeiro”.



O FEBEAPÁ Nº 2

Aquele que se dedica, tal como Stanislaw, ao estudo da História do Brasil contemporâneo deve ter notado que aconteceram dois acontecimentos importantes (a redundância é uma homenagem do autor ao Febeapá). O primeiro acontecimento importante que aconteceu foi o Festival de Besteira que assolou – e continua assolando o país. O segundo foi o lançamento de um livro sobre esse evento, cuja venda surpreendeu os meios literários e até mesmo os livreiros mais tranquilos, pois liderou – durante grande parte do ano de 1967 – as vendagens de livros, alcançando um recorde notável: no período de 9 meses, vendeu 37 mil exemplares. Ora, em nove meses mesmo os casais mais prolíferos raramente conseguem mais de um rebento. [...] Assim, no primeiro livro dizia: “É difícil ao historiador apreciar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o país. Pouco depois da redentora, cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem otoridades, sentindo a oportunidade de aparecer, já que a redentora, entre outras coisas, incentivou a política do dedurismo (corruptela de dedo-durismo, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo, enfim, como corrupto ou subversivo – alguns apontavam dois dedos duros, para ambas as coisas), iniciaram essa feia prática, advindo daí cada besteira que eu vou te contar”. E contei mesmo! [...] Algumas frases lapidares que serviram para incrementar a besteira, como – por exemplo – “O que é bom para os E.U.A. é bom pro Brasil” (Juraci Magalhães) ou então “Aceito minha noiva como legitima esposa para cumprir meu dever com a pátria” (Padre Vidigal) são marcos da História Contemporânea do Brasil, e suscitaram outras tantas frases, assim como outras tantas atitudes, cujo relato o sociólogo Stanislaw apenas assinala, por ser um observador e não um novidadeiro.

O CEGO DE BOTAFOGO

Há conversas que surgem numa mesa de bar que dão perfeitamente para derrubar qualquer Freud num divã de psicanalista. É claro que não estou me referindo a conversa de bêbado, pois conversa de bêbado não tem dono. Refiro-me a essas conversa de bar, de tardinha, onde vão os bebedores de chope ou uísque fraquinho, todos sentados mais pelo prazer do convívio do que pelo vicio de bebericar. Talvez o trânsito seja culpado. Eu me refiro ao trânsito de bebedores por uma mesma mesa e não tráfego do asfalto, que este é tão complicado que eu – embora não sendo velho nem macaco – jamais meteria a mão nessa cumbuca.
Na mesa de um bar onde se reúnem bebedores vespertinos, vão sentando uns, levantando outros; às vezes a roda é grande, depois diminui, para aumentar meia hora depois. Acontece que essa gente que molha o bico ao cair da noite nunca tem pressa em seus assuntos, nunca mistura conversa: fala pouco, porque são bebedores e não bêbados. A única coisa que pode perturbar um pouquinho é mulher, quando entra ou quando passa em frente ao bar.
Naquele botequim de Botafogo, só porque havia umas mesas na calçada (tão raro agora... mesas na calçada), reunia-se um grupo de senhores das redondezas. Cavalheiros que retornavam do trabalho, de ônibus, desciam na esquina e – antes de recolher a anatomia ao recôndito do lar – sentavam e tomavam um troço. Geralmente um chopinho.
Nessas alturas estavam sentados uns três ou quatro em volta da mesa comum à turminha. Não se falava coisa nenhuma, na ocasião. Um deles até – para que vejam que não estou mentindo – lia o jornal, tranquilamente. Foi quando um deles olhou para a calçada do lado de lá e falou:
- Lá vai a mulher do cego!
- É mesmo – confirmou o que lia o jornal, baixando o dito e botando os olhos na direção da mulher do cego, que caminhava com um passo solene, bacana às pampas, carregando aquele corpo que Deus lhe dera num dia em que, positivamente, estava distribuindo com elogiável prodigalidade.
- Ela é boa que dói – disse um terceiro, chamando o garçom e pagando a despesa, na esperança de seguir pela mesma calçada e paquerar um pouco a mulher do cego.
Foi nesse momento que se sentou à mesa um cara conhecido da roda, mas que não a frequentava sempre. Pelo contrario; era novo na turma. Chegou, sentou e pediu um uísque com bastante soda. Depois explicou pros outros:
- Eu nunca bebo, antes do jantar.
Ninguém disse nada. Em mesa de bebedores vespertinos cada um toma o que quer. Apenas um dos que já estavam sentados perguntou para os outros:
- Vocês não tem pena do cego de Botafogo?
- Com a mulher que ele tem eu vou ter pena dele? – estranhou o que estava à sua direita, brincando com aquela bolacha de papelão que o garçom traz cada vez que serve um chope. Houve um silêncio  bastante normal no ambiente.
Mas o que era novo na turma mexeu-se inquieto na sua cadeira e deu um palpite:
- Não há mulher que valha uma cegueira!
Alguns balançaram a cabeça, concordando. Outros sorriram, mas a opinião não ficou sem comentário. Num canto, o que havia se sentado onde antes estava o que saíra atrás da mulher do cego ponderou:
- No caso dele, talvez até seja melhor ser cego.
- O pior cego é o que não quer ver – falou um simpatizante dos chamados ditos populares.
- Mas não é o caso do cego de Botafogo – lembrou o que antes estava lendo jornal e agora não estava mais.
Todos concordaram. Conheciam muito o cego de Botafogo, aquele não era o seu caso; ele não via porque não via mesmo e não por atitude, ou melhor, para não ter que tomar uma atitude.
- Por falar em tomar, me dá mais um aí – gritou para o garçom o que vira passar a mulher do cego e chamara a atenção dos outros.
_ Às vezes é melhor a gente ser casado com um bofe – argumentou um baixotinho, cuja esposa era dessas carcará deixar pra lá.
Protestos gerais: isso não! Isso não! E o que era novo na turma fez a pergunta de alienado:
- Espera aí, mas o cara é cego, tanto faz que a mulher dele seja boa ou não!
Houve um espanto em cada rosto que, em alguns, se transformou em riso sincero. E alguém quis saber:
- Mas quem te disse que o cego de Botafogo não vê?
- Ué... ele não é cego?
- Que cego, homem! Ele é oculista. Enxerga pra burro. Cego de Botafogo é o apelido dele, porque a mulher passa ele pra trás a toda hora e ele nunca reparou.
A conversa continuou menos animada e foi morrendo. Em pouco tempo foram todos saindo e só ficou o que era novo na turma, que pedira um novo uísque (com menos soda), abalado pela mancada que dera há pouco. E estava ali sentado, quando viu um casal passando do lado de lá, de braço dado. Os dois sorriam e a mulher era uma gracinha. Num instante começou a invejar aquele sujeito feliz, que ia de braço dado com uma mulher tão boa e, ao mesmo tempo, com um ar tão apaixonado. O casal sorria e lá ia, caminhando sem pressa. E o que era novo na turma invejava os dois porque não sabia.
Coitado, não sabia que ela era a mulher do cego e aquele que ia tão contente com ela era o Cego de Botafogo – seu marido.

A BICHA E A BOLSA

Outra vez o problema do homossexualismo tratado à luz do Febeapá: em Niteroi, Wilson Jardim, da Delegacia de Costumes e Diversões, proibia uma festa de travestis, que se realizaria no Hotel Balneário de Itaipu. O delegado, apesar de se chamar jardim, não queria fruta na redondeza. Houve uma bicha que telefonou para ele e perguntou: “Doutor, se eu for em cana por causa da festinha, o senhor me arranja uma cela de casal?”.

UM DEPUFEDE

Um verdadeiro show de provincianismo, no Parlamento, sob os auspícios de um deputado federal paranaense que até então era um desconhecido, fora do seu estado. Tudo por causa do filme “Quem tem medo de Virginia Woolf?”. Anteriormente a história de Edward Albee tinha entrado no Febeapá quando um tradutor cocoroca traduziu seu titulo para “Quem tem medo do lobo da Virginia?”. Em seguida foi esse deputado chamado Hermes Macedo – logo classificado pela Pretapress como depufede (corruptela de deputado federal chegado ao febepadianismo). Mal-informado, ou talvez imaginando que Virginia Woolf fosse uma versão feminina de Bronco, Zorro ou Django, entrou no cinema para ver a versão cinematográfica da famosa peça e saiu de lá uma fera, indo para a tribuna da Câmara Federal berrar que “a fita não educa, não distrai e até irrita o espectador”. Depois aproveitou para meter lá: “Mais lamentável é saber que a fita, para ser importada, custou preciosos dólares ao país”. Pobre depufede que jamais perceberá que foi por causa da demagogia e a incongruencia, entre outras coisas, que a pobre Virginia acabou daquele jeito.

OUTRO DEPUFEDE

O deputado Padre Bezerra de Melo não ia deixar maio passar sem dar a sua, e meteu lá, num dos seus sermões-discursos: “Comparo o Marechal Costa e Silva ao papa João XXIII, o mais popular da História, que abriu novas frentes na igreja e fechou o abismo que existia entre a autoridade e o povo de Deus marginalizado”. Enquanto ele falava, vários deputados se benziam, com medo de serem castigados pelo Altíssimo por conivência. Ah, padredzinho pecador!!! Ainda bem que maio acabou.

MANIA DE NAPOLEÃO

Na Câmara Federal os depufedes continuavam a pontificar. O alagoano Cleto Marques terminava um discurso funerário com estas palavras: “Deixando aqui o ramalhete de flores da nossa profunda saudade”. Já o capixaba Feu Rosa mostrava-se um grande estudioso de Napoleão, quando afirmava: “Dizia muito bem Napoleão Bonaparte, com aquela sabedoria napoleônica que lhe era peculiar, que com a espada podia-se fazer tudo, menos sentar-se sobre ela”. Ora vejam só as peculiaridades peculiares ao peculiar Napoleão – esse napoleônico.

EM ALAGOAS

Em a Gazeta de Alagoas, o Secretario de Segurança do Estado garantia: “Nós vamos fazer uma guerra sem quartel contra o banditismo em Alagoas. Quem souber onde os bandidos se encontram que vá buscá-los. Se não tiver coragem diga pra nós, que nós iremos prendê-los”. Não há dúvida nenhuma de que ali se iniciava um novo método de policiamento. A polícia não procurava mais banditos, não. O povo que procurasse e depois fosse lá avisar ao Secretário de Segurança.

DE BRUÇOS

Voltava a Câmara Municipal de Recife a se preocupar com bicharocas. Era a vez do edil Moacir Lacerda que – discursando sobre a decadência dos costumes, embora os costumes (pelo menos as saias) estejam cada vez mais altos – espinafra os cabeludos pernambucanos, declarando que “eles estão usando bobs à noite e dormindo de bruços para não desmantelar seus penteados”. Fez sérias acusações também à mini-saia que “mostra partes do corpo antes nunca vistas em público” e acabou fazendo acusações diretas ao cantor Wanderley Cardoso, que considerava responsável pelo uso dos bobs entre os cabeludos locais e essa novidade de deitarem de bruços. Um mal pesquisador, portanto, o Sr. Lacerda, pois deitar de bruços é uma constante nesse tipo de rapazes.

SINGELA HOMENAGEM

Com nove artigos – arroz, extrato de tomate, feijão preto, fubá, lombo salgado, manteiga, toucinho branco, banha e maisena – entrava em vigor uma nova lista de preços da Campanha de Defesa da Economia Popular. Apenas o papel higiênico, dos 30 artigos constantes da lista, teve seu preço majorado pela SUNAB. Tia Zulmira, que nessa ocasião andava sutil demais, comentava que o aumento do preço do papel higiênico não deixava de ser uma homenagem à atual conjuntura.

É O FIM

Mais trágico, e muito mais cretino, era o jornal O Poder, que se edita em Belo Horizonte sob os auspícios de uma missão religiosa: “Os fatos de discos-voadores nos vigiarem, sabotagens nas fábricas de armas nucleares por marcianos, casamentos de mulheres de bustos à mostra, e de homens, na Inglaterra, casando com homens, fora a confusão reinante – tudo indica que caminhamos para o princípio do TIM”.

LUTA ÍNTIMA
Manchete do Jornal da Cidade, de Gravatá (PE): “É necessária muita cautela para revidarmos uma autocrítica”. É verdade. [...] Mas, publicação por publicação, talvez seja mais interessante a de um jornal de Parnaíba (PI), que anunciava a presença na cidade de um oculista cego e aconselhava àquele “que deseje um exame de vista, poderá procurar o ouclista cego no Palace Hotel”.

FONTE:
PRETA, Stanislaw Ponte. Festival de besteira que assola o país. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966.
______. Febeapá 2: 2º Festival de Besteira que assola o país. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976. Veja mais do autor aqui, aqui e aqui.




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