ESSAS MULHERES FANTÁSTICAS – UMA: JOVEM HEROÍNA ESPANHOLA – (Imagem: Manuela Malasaña retratada por José Luis Villar Rodríguez
de Castro) - A jovem costureira espanhola Manuela
Malasaña Oñoro (1791-1808), filha de um padeiro francês, vivia no
quarto andar do número 18, da rua Santo André, no então bairro de Maravilhas. Reza
a lenda que ela contava com dezessete anos de idade quando se juntou a outras
jovens para defender o Parque de Artilharia de Monteleón, ajudando na entrega
de pólvora e munições. Ao voltar para casa foi abordada por uma patrulha de
soldados franceses que tentaram abusar dela. Ela se defendendo com tesouras,
foi acusada de portar uma arma e foi mortalmente executada, sendo enterrada no
Hospital de la Buena Dicha. Por conta disso, tornou-se então uma das vítimas do
Levantamento de 2 de maio de 1808, que foi reprimido pelas tropas napoleônicas
destacadas para atuar em Madri, razão pela qual foi consagrada uma das heroínas
populares daquele confronto e da posterior Guerra de Independência Espanhola. O
seu retrato se encontra exposto na Sala de Heroínas do Museu do Exército da
Espanha e foi homenageada com o nome de uma rua e de uma região do bairro da
Universidade. A sua cidade natal, Móstoles, o seu nome contemplou uma rua e a
Linha 12 do metrô de Madri. O bairro de Maravilhas passou a se chamar Malasaña,
tornando-se mito com várias versões de lendas. DUAS: SONHO DE SONHADORA - Outra
história relevante é a que envolveu a abolicionista e ativista estadunidense Harriet
Tubman (Araminta Ross – 1822-1913), que durante a vida expressou: Eu cresci como uma erva daninha
negligenciada - ignorante da liberdade, sem experiência. Há duas coisas que
tenho direito a, morte ou liberdade. Todo grande sonho começa com um sonhador.
(Veja mais detalhes aqui). TRÊS: A VOZ É UM INSTRUMENTO – Outra que muito me
impressionou foi a cantora, compositora e atriz francesa Camille Dalmais, exatamente no dia que ouvi o
primeiro de seus álbuns Le Sac des Filles (Virgins Records, 2002). Depois
o álbum Le Fil (2005), Live
au Trianon (2006), o Music
Hole (2006) que conta com a
participação dos brasileiros dos Barbatuques, o Ilo Veyou (2011) e Ilo
Lympia (2013). Tão impressionado que estava mais fiquei ao ouvi-la se
expressar: Comecei cantando
melodias, mas um dia pensei: Posso fazer muito mais com a minha voz, posso
relacioná-la com algo bem primário. E comecei a usá-la como um instrumento...
Por isso mesmo ela integra às mulheres fantásticas de hoje & vamos aprumar
a conversa!
DITOS & DESDITOS - O que me mantém é essa
busca por apenas ser capaz de estar presente e ser eu mesmo. Não para as
pessoas, mas para mim... De acordo com a mídia, as mulheres trans estavam
sujeitas a linhas de dor e perfuração. Em vez de proclamar que eu não era um
dispositivo de enredo para ser ridicularizado, passei meus anos mais jovens
internalizando e lutando contra esses estereótipos... O 'bonito privilégio' pode lhe dar acesso a espaços,
assim como seu corpo capaz lhe dá acesso. Mas torna os padrões de beleza impossíveis para muitas
outras garotas trans que estão lutando contra isso agora. Pensamento da
escritora, jornalista e ativista estadunidense Janet
Mock.
ALGUÉM FALOU: Hoje está fadado a morrer -
porque ontem morreu e amanhã nascerá. É um erro dividir as pessoas em vivos e
mortos: há pessoas que estão vivas-mortas e pessoas que estão vivas-vivas. Os
vivos-vivos estão constantemente em erro, em busca, em perguntas, em tormento.
Pensamento do escritor russo Ievguêni Zamiátin (1884-1937), autor do
romance Nós, que conta a história de um futuro distópico e que influenciou
Aldous Huxley, George Orwell e Ayn Rand.
ENSINANDO UMA PEDRA A FALAR - [...] Você não precisa se sentar do lado de fora
no escuro. Se, no entanto, você quiser olhar para as estrelas, descobrirá que a
escuridão é necessária. Mas as estrelas não exigem nem exigem isso. [...].
Trecho extraído da obra Ensinando uma
Pedra a Falar: Expedições e Encontros (), da escritora estadunidense Annie
Dillard, autora da frase: Uma das
poucas coisas que sei sobre escrever é esta: gaste tudo, atire, jogue, perca
tudo, imediatamente, toda vez ... dê, dê tudo, dê agora.
DOIS POEMAS - VÓS QUE OCUPAIS A NOSSA TERRA - E preciso não perder\ de vista as
crianças que brincam:\ a cobra preta passeia fardada\ à porta das
nossas casas.\ Derrubam as árvores fruta-pão\ para que passemos
fome\ e vigiam as estradas\ receando a fuga do cacau.\ A
tragédia já a conhecemos:\ a cubata incendiada,\ o telhado de
andala flamejando\ e o cheiro do fumo misturando-se\ ao cheiro do
andu\ e ao cheiro da morte. \ Nos nós conhecemos e sabemos,\
tomamos chá do gabão,\ arrancamos a casca do cajueiro.\ E vós,
apenas desbotadas\ máscaras do homem,\ apenas esvaziados
fantasmas do homem?\ Vós que ocupais a nossa terra? XVI – ALTO COMO
O SILÊNCIO - Paira sobre mim a presença \ de uma mão partida\ e
sempre uma ave parte:\ nunca sei para onde. Poemas da poeta são-tomense Manuela Margarido (1925-2005). Veja
mais aqui.
TEJUCUPAPO – [...] e ao romper do seguinte dia
ancorou no porto de Tejucupapo, e deitou sua gente em terra com muita pressa,
para ir a dar de sobressalto [...] os
holandeses passando pelo lugar aonde os nossos trinta mancebos estavam de
emboscada, lhe deram uma carga a mão-forte e lhe mataram vinte e tres homens,
quis o inimigo vingar a morte de seus soldados. [...] Um batalhão investiu com o reduto com tanta coragenm, que lhe abriu um
portilho por onde podia entrar (como iam entrando) porém acudiram as mulheres e
com dardos, e lanças lhe impediram a entrada e todas de mão comum [...] deram os nossos trinta mancebos uma surriada
ao inim,go por um lado, o qual suspeitando, que aos cercados lhe vinha chegando
socorro, desistiu da empresa, e apesar de sua soberba se retirou infantamente
[...]. Trecho do depoimento de Manuel Calado, pseudônimo do frei Manoel de
Salvador, no livro Valeroso Lucideno (1648), que foi censurado pela igreja e
incluido no Index Librorum Probibitorum, porque mostrava as atuvidades dos
religiosos católicos, principalmente portugueses, nas frentes de combate, na
confissão dos feridos e procurando elevar o moral das tropas, conforme
recolhido da obra Tejucupapo: história, teatro, cinema (Bagaço, 2004),
organizado por Cláudio Bezerra, reunindo textos A história – registro da
Insurreição de Marcílio Brandão, O teatro de Rafael Coelho, o Cinema de
Marcílio Brandão e A produção de Tejucupapo – um filme sobre mulheres
guerreiras de Amaro Filho. Todo o material do livro foi elaborado a partir do
depoimento quase lírico sobre a coragem e a determinação de uma mulher
tejucupapense do século XX, Luzia da Silva. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA: RAÍZES DO BRASIL
O historiador, critico literário e jornalista paulista Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), é autor de uma obra representativa digna de constantes apreciações, estudos e pesquisas, dentre elas “Raízes do Brasil”, uma obra inovadora publicada em 1936, depois de uma estadia na Alemanha e que traz uma perspectiva sociológica e psicológica com um objetivo político, onde o autor tenta, através do passado buscar a identidade brasileira e o seu futuro. A obra é composta por sete capítulos, tais como: fronteiras da Europa, trabalho & aventura, herança rural, o semeador e o ladrilhador, o homem cordial, novos tempos e nossa revolução. No primeiro capítulo “Fronteiras da Europa”, o autor mostra que os países Ibéricos eram os que faziam fronteiras entre a Europa com o mundo através do mar, e por isso eles são menos "europeizados" do que os demais países. Eles ficam um pouco à margem do resto da Europa mesmo nas navegações que foram pioneiros. Para os países Ibéricos cada homem tinha que depender de si próprio, eles não possuíam uma hierarquia feudal tão enraizada, por isso a mentalidade da nascente burguesia mercantil se desenvolveu lá primeiro. Somando a isso, havia toda uma frouxidão organizacional que estarão muito presentes na história de Portugal e conseqüentemente do Brasil. Para Sérgio Buarque, a aparente anarquia Ibérica era muito mais correta, muito mais justa que a hierarquia feudal, pois, não continha muitos privilégios. A nobreza portuguesa era muito flexível, o que o autor chamará de mentalidade moderna. Havia uma igualdade entre os homens. O pioneirismo de Portugal nas navegações se deve a um incentivo próprio, já que esse país tinha uma mentalidade mais aberta. Autor chega a defender a mentalidade burguesa e os países Ibéricos. Os Ibéricos não gostavam do trabalho físico, queriam ser senhores, mas sem ter que fazer o trabalho manual. Por fim o autor nos fala que o Brasil tem muitas características ibéricas e sua construção cultural vem daí.
No segundo capítulo “Trabalho e Aventura”, o autor trata que os portugueses foram os primeiros a se bancarem no mar e eram os que estavam mais aptos para a missão no Novo Mundo. Fala da existência de dois tipos de homens: um com olhar mais amplo, o aventureiro, e outro com olhar mais restrito, o trabalhador. No entanto esses dois homens se confundem dentro da mesma pessoa. Com isso ele quebra um pouco a idéia de que a Inglaterra é sinônimo de trabalho. O gosto pela aventura foi o que possibilitou a colonização no Novo Mundo. Nenhum outro povo como o português foi capaz de se adaptar tão bem na América. A economia escravista colonial era a forma pela qual a Europa conseguiu suprir o que faltava na sua economia. O indígena não conseguiu se "adaptar" à escravidão, tornando o escravo africano imprescindível para o sistema colonial. O português vinha para a colônia buscar riqueza sem muito trabalho, além disso, eles preferiam à vida aventureira ao trabalho agrícola. Nesse contexto a mão-de-obra escrava aparece como elemento fundamental na nossa economia. Como o fator terra era abundante na colônia, não havia preocupação em cuidar do solo, o que acarretou na sua deterioração. Os portugueses se aproveitaram de muitas técnicas indígenas de produção, que acabaram ganhando certa proteção que os distanciou um pouco da escravidão. Para Sérgio Buarque, os portugueses já eram mestiços antes dos Descobrimentos. Além disso, já conheciam a escravidão africana no seu país. Com isso o autor faz parecer que o preconceito com negros era bem maior que com os índios no Brasil colonial. O Brasil não conhece outro tipo de trabalho que não seja o escravo. O trabalho mecânico era desprezado no Brasil, e por isso não houve a construção de um verdadeiro artesanato, só se fazia o que valia a pena, o que era lucrativo. Os brasileiros não eram solidários entre si. A moral da senzala era a preguiça. A violência que ela continha era negadora de virtudes sociais. Nesta parte o autor critica os colonos holandeses que não procuraram se fixar no Brasil. Além disso, tais colonos trazem para o Brasil um aspecto que não se adequa aqui, que é a formação do seu caráter urbano, quase liberal. Sérgio Buarque ainda afirma, que a própria língua portuguesa era mais fácil para os índios e os negros, o que ajudou muito na colonização. Outro elemento que facilitou a comunicação colonial foi a Igreja Católica que tinha uma forma de se comunicar muito mais simpática que as igrejas protestantes. Conclui o capítulo mostrando que o resultado de tudo isso foi a mestiçagem, que possibilitou a construção de uma nova pátria.
No terceiro capítulo “Herança Cultural”, o autor traz sua análise sobre a estrutura da sociedade colonial que é rural. Isso pode ser visto quando analisamos quem detinha o poder na época colonial: os senhores rurais. Dentro desse contexto, a abolição da escravatura aparece como um grande marco na história brasileira. O autor conta que entre 1851/1855, observa-se um notável desenvolvimento urbano, graças à construção das estradas de ferro, e que tal desenvolvimento esteve muito ligado à supressão do tráfico negreiro. Muitos senhores rurais eram contra a supressão do abastecimento de cativos africanos, o que resultará numa continuidade do tráfico, mesmo depois de abolido legalmente. O medo do fim do tráfico faz com que aumente o número de escravos exportados para o Brasil até 1850. O autor fala que houve um aproveitamento do capital oriundo do tráfico para abrir outro Banco do Brasil. Fala também um pouco das especulações encima do tráfico e da abertura do Banco. Para ele, havia uma incompatibilidade entre as visões do mundo tradicional e moderna, o que resultou em muitos conflitos. Exemplo disso foi o malogro comercial sofrido por Mauá. O Brasil não tinha a menor estrutura seja econômica como política e social para desenvolver a industria e o comércio. Os senhores de engenho eram sinônimos de solidez dentro da sociedade colonial. O engenho era um organismo completo, uma micro sociedade. O patriarca era quem dominava o resto da sociedade. Como a sociedade rural colonial era um grupo fechado, onde um homem dominava, as leis não entravam; os senhores tinham domínios irrestritos sobre seus "súditos". Depois houve uma substituição das honras rurais para as honras da cidade. Os colonos brancos continuavam achando que o trabalho físico não dignificava o homem, mas sim o trabalho intelectual. Com a Revolução Industrial, o trabalhador tem que virar máquina. O sentimento de nobreza e a aversão ao trabalho físico, saem da Casa Grande e invadem as cidades; o que mostra o quanto foi difícil, durante a Independência, ultrapassar os limites políticos gerados pela colonização portuguesa. Para o autor a vida da cidade se desenvolveu de forma anormal e prematura.
No quarto capítulo “Semeador e o Ladrilhador”, o autor traz a visão de que as cidades eram instrumentos de dominação. A Coroa espanhola, diferentemente da portuguesa, criou cidades nas suas colônias e o autor mostra como eram construídas tais cidades. Para Portugal suas colônias eram grandes feitorais. Enquanto a colonização portuguesa se concentrou predominantemente na costa litorânea, a colonização espanhola preferiu adentrar para as terras do interior e para os planaltos. O interior do Brasil não interessava para a metrópole. As bandeiras normalmente acabavam se transformando em roças, salvo esporadicamente como foi no caso da descoberta de ouro. Com tal descoberta, a metrópole tentou evitar a migração para o interior da colônia. O advento das minas foi o que fez com que Portugal colocasse um pouco mais de ordem na colônia. O autor continua falando sobre a colonização portuguesa sempre a comparando com a espanhola. Mesmo sendo mais liberais que os espanhóis, Portugal mantinha firme o pacto colonial, proibindo a produção de muitas manufaturas na colônia. Também fala do desleixo português na construção das cidades. Os portugueses eram corajosos só que mais prudentes. Portugal tinha uma maior flexibilidade social, e havia um desejo da sua burguesia em se tornar parte da nobreza. Não havia tradição em Portugal nem orgulho de classe, todos queriam ser nobres. Nasce a "Nova Nobreza", que era muito mais preocupada com as aparências do que com a antiga tradição. Fala um pouco da história política de Portugal vinculada à vontade que a maior parte da população tinha em se tornar nobre, e tal desejo pode ser facilmente constatado no Brasil, mostrando que o papel da Igreja aqui era o de "simples braço de poder secular, em um departamento da administração leiga". Nas notas do capítulo, o autor irá trabalhar com a questão da vida intelectual tanto na América espanhola como na portuguesa, mostrando que na primeira ela era mais desenvolvida. Tratará da língua geral de São Paulo, que durante muitos séculos foi a língua dos índios, devido a forte presença da índia como matriarca da família. Fala da aversão às virtudes econômicas, principalmente do comércio. E por fim da natureza e da arte coloniais.
Vem então o capítulo seguinte onde o autor aborda a questão do “Homem Cordial” que, para ele, o Estado não é uma continuidade da família. Dá o exemplo de tal confusão com a história de Sófocles sobre Antígona e seu irmão Creonte, onde havia um confronto entre Estado e família. Houve muita dificuldade na transição para o trabalho industrial no Brasil, onde muitos valores rurais e coloniais persistiram. Para o autor as relações familiares (da família patriarcal, rural e colonial), são ruins para a formação de homens responsáveis. Até hoje vê-se uma dificuldade entre os homens detentores de posições públicas conseguirem distinguir entre o público e o privado. Diz ele: "Falta ordenamento impessoal que caracteriza a vida no Estado burocrático". A contribuição brasileira para a civilização será então, o "homem cordial". Cordialidade esta que não é sinônimo de civilidade de polidez, mas que vem de cordes, coração, ou seja, a impossibilidade que o brasileiro tem em se desvincular dos laços familiares a partir do momento que esse se torna um cidadão, gerando o "homem cordial". Esse homem cordial é aquele generoso, de bom trato, que para confiar em alguém precisa conhecê-lo primeiro. A intimidade que tal homem tem com os demais chega a ser desrespeitosa, o que possibilita chamar qualquer um pelo primeiro nome, usar o sufixo "inho" para as mais diversas situações e até mesmo, colocar santos de castigo. O rigor é totalmente afrouxado, onde não há distinção entre o público e o privado: todos são amigos em todos os lugares. O Brasil é uma sociedade onde o Estado é apropriado pela família, os homens públicos são formados no círculo doméstico, onde laços sentimentais e familiares são transportados para o ambiente do Estado, é o homem que tem o coração como intermédio de suas relações, ao mesmo tempo em que tem muito medo de ficar sozinho.
Logo após vem o capítulo “Novos Tempos” onde é visto na sociedade brasileira atual, um apego muito forte ao recinto doméstico, uma relutância em aceitar a superindividualidade. Poucos profissionais se limitam a ser apenas homens de sua profissão. Há um grande desejo em alcançar prestígio e dinheiro sem esforço. O bacharelado era muito almejado por representar prestígio na sociedade colonial urbana. Não havia uma real preocupação com a intelectualidade com o sabre, havia um amor pela idéias fixas e genéricas o que justificará a entrada do Positivismo e sua grande permanência no Brasil. Nesta parte o autor faz críticas aos positivistas. Para o autor a democracia foi no Brasil "sempre um mal-entendido". Os grandes movimentos sociais e políticos vinham de cima para baixo, o povo ficou indiferente a tudo. O romantismo acabou se tornando um mundo fora do mundo, incapaz de ver a realidade, o que ajudou na construção de uma realidade falsa, livresca. Muitos traços da intelectualidade brasileira ainda revelam uma mentalidade senhorial e conservadora. Fala da importância da alfabetização para o Brasil.
Por fim, vem “Nossa Revolução” onde ele aborda as revoluções da América, deduzindo que não se parecem com revoluções. A revolução brasileira é um processo demorado que vem durando três séculos e a Abolição é um importante marco. As cidades ganharam autonomia em relação ao mundo rural. O café traz mudanças na tradição, como a legitimação da cidade. Observa ele que: "A terra de lavoura deixa então de ser o seu pequeno mundo para se tornar unicamente seu meio de vida, sua fonte de renda e riqueza". O café substitui a cana, mas não deixa espaço para a economia de subsistência. As cidades ganham novo sentido com o café, que acabam solapando a zona rural. O Brasil é um país pacífico, brando e se julgam os brasileiros serem bons à obediência dos regulamentos, dos preceitos abstratos. É necessário, diz ele, que se faça uma espécie de revolução para dar fim aos resquícios da história colonial e começar a traçar uma história nova no Brasil, diferente e particular. Sérgio Buarque critica o Brasil que acredita em fórmulas. Fala quais são os principais elementos constituintes de uma democracia. Com a cordialidade, o brasileiro dificilmente chegará nessa "revolução", que seria a salvação para a sociedade brasileira atual.
Segundo Antonio Cândido a obra “(...) completa o seu pensamento a respeito das condições de uma vida democrática no Brasil, dando ao livro uma atualidade que, em 1936, o distinguia dos outros estudos sobre a sociedade tradicional e o aproximava de autores que respondiam em parte ao nosso desejo de ver claro na realidade presente, como Virginio Santa Rosa. Para ele, a “nossa revolução” é a fase mais dinâmica, iniciada no terceiro quartel do séc. XIX, do processo de dissolução da velha sociedade agrária, cuja base foi suprimida de uma vez por todas pela Abolição”. E segundo Darcy Ribeiro: “Sérgio Buarque de Holanda publica Raízes do Brasil, ensaio agudo e fecundo de interpretação das bases de nossa vida social e política. Durante anos foi objeto de equivoco da direita que nele lia o elogio de uma suporta cordialidade, como traço marcante do caráter nacional e dos livreiros que o colocavam na estante de botânica. Weberiano ao revés, Sérgio atribui ao espírito aventureiro e debochado do nosso patronato, que nunca aspirou à ascese puritana, tanto nossos êxitos como povo quanto nosso fracasso na produção dos combustíveis do capitalismo”.
BIBLIOGRAFIA:
CANDIDO, Antonio. O significado de “Raízes do Brasil”. In: Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
RIBEIRO, Darcy. Aos trancos e barrancos: como o Brasil deu no que deu. Rio de Janeiro: Guanabara, 1985.
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