A arte
da pintora polonesa-dinamarquesa Anna Maria Elisabeth Lisinska
Jerichau-Baumann (1810-1881).
CHERIE, MA CHÉRIE - Noite fria na Paulista. Mãos
no bolso do casaco, eu caminhava com a barulhada do trânsito. Da surpresa ela
surgiu lindamente californiana com todas as luzes da cidade. – Cherry, mon
chéri -, sussurrou-me com francês afetado e sensual. E seu hálito ferveu meu
sangue. O sabor do seu batom inebriou-me a alma. O calor do seu corpo permitiu
que percebesse o meu sexo salientar-se no contato de suas vestes. Pegou-me vupt
pela mão e voamos, o vôo no rumo da venta. Numa recôndita guarida, instalou-me
confortavelmente na poltrona aveludada. – For you, my loving -, disse-me transpirando
sensualmente. Desvestiu-se do casaco e o seu decote parecia-me desvelar os
mistérios mais herméticos dos esotéricos.
Enfeitiçou-me com a magia de sua lindeza ao desfilar qual estudante púbere e
lúbrica, seminua, lambendo os lábios e se insinuando toda como uma fera
indomável no cio. Mais
me surpreendeu ao se expor pin-up linda com seus seios voluptosos presos no
bustiê e com toda sua gostosura aprisionada no calçãozinho minúsculo que
demonstrava sua altaneira exuberância no rebolado do quadril. Fez streeptease
exclusivo solfejando uma canção eroticamente pronunciada para arrepiar meus
nervos mais exaltados. Completamente
nua atrepou-se na cadeira e fez malabarismos com as pernas expondo sua
graciosidade escancarada para me atiçar guloso de toda sua expressão. Sentou-se na cama como que
desolada de tudo à espera de remissão e fez-se abandonada como a requerer de
mim clemência na sua desolução. Deitou-se me
fitando lasciva e revirou sozinha, suspirando, acariciando seu sexo e seios,
alisando seu próprio corpo e exalando todos os perfumes de sua mais esplêndida
sedução. Pôs as mãos à cabeça, descabelou-se. Ousei levantar-me para agarrá-la
e ela fez menção que eu ficasse ali quieto voyeurista, enquanto me incendiava
com sua libertina autocomiseração. E me provocou procurando apagar seu fogo
inutilmente. Aí, insisti alcançá-la quando ela, mão no meu peito, fez-me sentar
na poltrona e retirou meu casaco calmamente, desabotoou minha camisa jogando-a
de lado, desatacou meus sapatos, retirou-me as meias, desabotoou-me as calças e
arrastou com força para me flagrar completamente nu com meu sexo pronto feito
aríete em riste para trucidá-la fatalmente. Tomou meu cajado entre as mãos sob
as mais aconchegantes e demoradas carícias, a brincar para me embalar com seus
beijos, mimos e lambidas que revolviam minhas entranhas e me davam a
oportunidade do infinito a cada abocanhada mais ousada de me chupar inteiro e
estirado na sua língua alvoroçada. E me fez vagarosamente tomar conta de tudo e
sobrepujar seus limites na carne cosmopolita entregue com todos os seus
arranhacéus mais inacessíveis, para eu me enfiar desenvolto e me faça aviões
que decolam e aterrissam a todo instante usurpando o tráfego de sua louca
devassidão, como se eu fosse automóveis loucos indo e vindo na contramão de
todas as vias da paulicéia desvairada e no seu gozo enlouquecido me desse o mar
distante para singrar viril incontinente toda fundura de seu abissal orgasmo. Completamente lavada de prazer ela gozou comigo por toda
madrugada de São Paulo. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
DITOS & DESDITOS – A linguagem nunca
é inocente: as palavras têm uma memória segunda que se prolonga misteriosamente
no meio de significações novas. Pensamento do escritor, sociólogo, filósofo, semiólogo e
crítico literário francês, Roland Barthes (1915-1980). Veja mais aqui,
aqui & aqui.
ALGUÉM FALOU: O
futuro está lá... olhando para nós. Tentando entender a ficção em que teremos
nos tornado. O tempo se move em uma direção, a memória em outra. Como eu tenho
dito muitas vezes, o futuro já chegou. Só não está uniformemente distribuído.
Pensamento do escritor e roteirista américo-canadense William Gibson, conhecido de profeta noir do cyberpunk que
cunhou o termo ciberespaço em seu conto Burning Chrome, na sua trilogia Sprawl.
TENTE, INSISTA – Tenta.
Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor. As
palavras são manchas desnecessárias sobre o silêncio e o nada. As lágrimas do
mundo são inalteráveis. Para cada um que começa a chorar, em algum lugar outro
para. O mesmo vale para o riso. Sim, a partir do
momento em que se conhece o porquê, tudo se torna mais fácil, uma simples
questão de magia. O apelo
que ouvimos se dirige antes a toda a humanidade. Mas neste lugar, neste
momento, a humanidade somos nós, queiramos ou não. Aproveitemos enquanto é
tempo. Representar dignamente, uma única vez que seja, a espécie a que estamos
desgraçadamente atados pelo destino cruel. Não
falemos mal, então, dos nossos dias, não são melhores nem piores dos que os que
vieram antes. Não falemos bem, tampouco. Não falemos. A arte sempre foi isto - interrogação pura,
questão retórica sem a retórica - embora se diga que aparece pela realidade
social. Todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem. Pensamento
do escritor irlandês Samuel Beckett
(1906-1989). Veja mais aqui e aqui.
DEUS NASCEU NO EXÍLIO – [...] Podíamos
viver em paz, se não tivéssemos medo uns dos outros. O medo faz-nos falar
linguagens diferentes. E a vida torna-se numa guerra sem fim, a vida é a
guerra, cada vez mais, a cada dia que passa. E fabricam-se armas em vez de se
inventarem palavras de paz [...]. Trecho
extraído da obra Deus nasceu no Exílio
(Flamboyant, 1961), do escritor romeno Vintilă
Horia (1915-1992). Veja mais aqui.
POESIA - Choveram-me
lágrimas limpas, ininterruptas, / Na minha infância campestre, celeste, / Na
mocidade de alturas e loucuras, / Na minha idade adulta, idade de desdita; / Choveram-me
lágrimas limpas, ininterruptas… Poema do escritor polonês Adam Mickiewicz (1798-1855).









