A arte da cantor, atriz e bailarina espanhola Lola Flores (1923-1995), La Faraona.
DAS HORAS DA VIDA PRA FAZER ALGUMA COISA – UMA: ENTRE A
GRAÇA & O AGRADECIMENTO - Todo dia, o recomeço; e sou grato por poder
refazer tudo a tempo. De cada vez, pouco mais de três horas passadas e já não
sou mais o mesmo. Ciclo recorrente, metamorfoses, de volta ao planejamento. Tem
hora de extrema sensibilidade; outra, de abstinência. Como também há momentos
em que sou alheio a mim e a tudo; outros, de plausibilidade. Nem sempre assim.
Também aquele que Adelia Prado me
diz: De vez em quando Deus me tira a
poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo. Nessas horas sou apenas mais um entre
tantas coisas e outros nadas no Universo. DUAS:
DO QUE É MEU E NÃO – Nunca fui apegado lá a tantas coisas. Tirante uma ou
outra mania colecionista de que tudo pode ser reaproveitado, reciclado,
restaurado, e aos monturos empoeirados, vou sempre que possível buscar qualquer
serventia. E serve mesmo, não como quebra-galho ou gambiarra, reconstruir. Ouvi,
certa vez, Ray Bradbury dizer: Aprender a desapegar deveria ser ensinado
antes de aprender a ganhar. A vida deveria ser tocada, não estrangulada. Você
precisa relaxar, deixar acontecer, às vezes. Pois é, pratico o
desapego e quantos insultos não me são jogado na cara, hem? Prossigo incólume. TRÊS: ENTRE HUMANIMAIS POUCO SE DISTINGUE
ENTRE O META E O PROTOZOÁRIO – Tem gente de todo jeito que desperdiça o
raciocínio ou se faze de besta, na melhor das hipóteses. Na verdade catar um
ser pensante na essência da palavra, é difícil. Em última análise, quase não
consigo distinguir os protozoários dos metazoários agigantados: verdadeiros
parasitas, quando não predadores ou coisa pior. Valho-me de Brecht: Há momentos em que se tem de escolher entre
ser humano e ter bom gosto. Muito embora, em
se tratando de Brasil, a questão de bom gosto seja muito discutível, senão
escusa. Bom senso, nem se fala. Vou assim escapando das mazelas e jactâncias do
meu carente povo, como se tentasse ser um estúpido a menos. Até amanhã. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados.
DITOS & DESDITOS - O ser humano individual,
despojado de sua humanidade, não tem utilidade como base conceitual a partir da
qual se faz um retrato da sociedade humana. Nenhum humano
existe, exceto mergulhado na cultura de seu tempo e lugar. O
indivíduo falsamente abstraído tem tristemente enganoso o pensamento político
ocidental. Mas agora podemos começar de novo em um ponto
em que grandes correntes de pensamento convergem, do outro lado, na criação da
cultura. A análise cultural vê toda a tapeçaria como um
todo, a imagem e o processo de tecelagem, antes de atender às linhas
individuais. Pensamento da antropóloga britânica Mary Douglas (1921-2007). Veja mais
aqui, aqui & aqui.
ALGUÉM FALOU: A
matemática analítica é a arte de resolver qualquer tipo de questão matemática,
encontrando números desconhecidos, ou quantidades, através de outros já
conhecidos ou dados. Expressão da matemática italiana Maria Gaetana Agnesi (1718-1799). Veja
mais aqui.
A FILOSOFIA RADICAL - O
passado não pode voltar, nem se repetir. Não podemos voltar a algo assim. A
situação mudou, as sociedades mudaram. A maldade mata, mas a razão leva a
coisas mais terríveis, em nome da razão milhões foram assassinados. Não, não confio
mais na razão porque os totalitarismos nos ensinaram que os maus instintos
podem matar milhares, dezenas de milhares, mas só a razão pode matar milhões de
pessoas, porque a ideologia baseada no pensamento racional estabelece que matar
é certo. A maldade pode matar alguns, mas é a persuasão, o apelo à razão, que
pode levar a fazer as coisas muito mais terríveis. A questão é saber por que
uma maioria se transforma em uma maioria, que tipo de ideologia influencia as
pessoas a votarem uma coisa e não outra. Os ditadores conseguem apoio popular
com base em sua doutrina. O mundo é um lugar perigoso e sempre será. Devemos
aprender a viver com isso. Acredito em algo: existem pessoas boas, sempre
existiram e sempre existirão. E sei quem são as pessoas boas. Sempre há pessoas
boas, mesmo nos piores momentos. Pensamento da filósofa húngara Ágnes
Heller (1929-2019). Veja mais aqui.
MEMÓRIAS
- Quando morto estiver meu corpo, evitem os
inúteis disfarces, os disfarces com que os vivos procuram apagar no morto o
grande castigo da morte. Não quero caixão de verniz nem ramalhetes distintos,
superfinos candelabros e nem as discretas decorações. Quero a morte com mau
gosto! Dêem-me coroas de pano, flores de roxo pano, angustiosas flores de pano,
enormes coroas maciças como salva-vidas, com fitas negras pendentes. E
descubram bem a minha cara. Que vejam bem os amigos a incerteza, o pavor, o
pasmo. E cada um leve bem nítida a idéia da própria morte. Descubram bem minhas
mãos! Meus amigos, olhem as mãos! Onde andaram, o que fizeram, em que sexos
demoraram seus dedos sabidos? Meus amigos, olhem as mãos que mentiram a vossas
mãos! Foram esboçados nelas todos os gestos malditos: até os furtos fracassados
e os interrompidos assassinatos. Mãos que fugiram da suprema purificação dos
possíveis suicídios. Descubram e exibam todo meu corpo, as partes excomungadas,
as partes sujas sem perdão. Eu quero a morte nua e crua, terrífica e habitual. Quero
ser um tal defunto, um morto tão acabado, tão aflitivo e pungente, que possam
ver, os meus amigos, que morre-se do mesmo jeito como se vão os penetras
escorraçados, as prostitutas recusadas, os amantes despedidos, que saem
enxotados mas voltariam sem brio a qualquer gesto de chamada. Meus amigos,
tenham pena – senão do morto – aos menos dos dois sapatos do morto. Olhem bem
para eles. E para os vossos também! Texto do escritor e médico brasileiro Pedro
Nava (1903-1984). Veja mais aqui.
O MAR, PRA ONDE FOI? - O
mar, pra onde foi? – me despedindo, aqui estou / O meu mar azul, pra onde foi?
/ Com todos os seus barcos, velozes, singrando / Com suas livres brisas e
bandeiras. / Saudades daquela voz de ondas, a primeira que / Da minha infância
alegria despertou; / Do toque do sino a hora certa – do trovejar súbito – / Meu
mar azul, pra onde foi? / Na serra do pastor um som de flauta ouço – / Da
árvore o murmúrio ouço; - / De minha alma, emudecidos, os ecos – / Meu mar
azul, pra onde foi? / Oh! Por mais profunda que seja a tua Murta, / Por mais
suave e suave que teus ventos sejam, / Em mim, o coração enfermo de bater
cessou – / Meu mar azul, pra onde foi? Poema da poeta britânica Felicia Hemans (1793-1835). Veja mais aqui.
É COISA DO MEU SERTÃO
Patativa de Assaré
Eu sei que dizendo assim,
Eu não tou falando à toa,
Meu sertão tem coisa boa
E também tem coisa ruim;
Umas que fede a cupim
Ôtras que chera a melão,.
De tudo eu sei a feição
Pois conheço uma por uma.
Vou aqui dizê arguma
Das coisas do meu sertão.
Querendo fazê fartura,
Cheio de esperança e prano,
Já quage no fim do ano,
Se um caboco faz figura
Caando na terra dura
Com grande disposição
Prantando mio e feijão
Mode espera prazentêro
As chuvada de janêro,
É coisa do meu sertão.
Um corajoso vaquêro,
De côro todo trajado
Correndo intusiasmado
Nas mata do tabolêro
Atrás do boi mandinguêro
Que não respeita oração,
Derrubá o bicho no chão
Dentro da jurema preta,
Amarrá e botá careta,
É coisa do meu sertão.
Quando uma seca inclemente
Assola o nosso Nordeste
Dexando a mata e o agreste
Tudo triste e deferente,
Que viaja a pobre gente
Pra São Paulo e Maranhão,
Dexando o caro torrão
Onde contente vivia
Trabaiando todo dia
É coisa do meu sertão.
Em junhoo, o festivo mês,
V~e uma dança animada
Debaxo de uma latada
Pelo dia vinte e três
E a turma de camponês
Na foguêra de São João,
Um ao ôtro dando a mão
Numa fulia pacata
Assando mio e batata,
É coisa do meu sertão.
Que seja inverno ou istio,
Se tratando de adjunto,
Um dos animado assunto,
Se as caboca em desafio
Pilando o arroz e o mio
Na mais doce animação,
Joga tum-tum no pilão
De madêra jatobá;
Tum tum tum , tum tum tum pá,
É coisa do meu sertão.
O pobrezinho agregado
No seu vive de rocêro
Sem tê no borso dinhêro
Nem onde comprá fiado,
Se achando desarrumado,
Desprevenido sem pão,
Vende na fôia argodão
Por bem pequena quantia
Pra comê mais a famia,
É coisa do meu sertão.
A camponesa, coitada,
Sofrendo pra tê criança,
Se acabá sem esperança,
Sem tê ricuço de nada,
Saí toda amortaiada,
Numa rede ou num caxão
Pra dromi no frio chão
Proque fartou um dotô,
Esta passage de horrô
É coisa do meu sertão.
Vê os caboco gritá
Tudo alegre e sacodido,
Na fofoca do partido
Da campanha in leitorá
E quando o dia chega
Entrá na repartição,
E de caneta na mão
Argum garrancho fazê
E votá sem sabê lê
É coisa do meu sertão.
Dá prova de cabra macho
Com o coração maguado
Andando desesperado
Por rio, grota e riacho
Serra arriba e serra abaxo,
De bacamarte na mão
Mode atirá no ladrão
Que desmantelou a vida
De sua fia querida,
É coisa do meu sertão.
É
COISA DO MEU SERTÃO –
Poema recolhido do livro Cante lá que eu canto cá – Filosofia de um trovador
nordestino (Vozes, 1984) o poeta popular, compositor, cantor e improvisador
Antônio Gonçalves da Silva, mais famoso como Patativa do Assaré (1909-2002).
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