quarta-feira, maio 20, 2009

OUSPENSKY, A MULHER & OLIVEIRA DE PANELAS, ADETUTU, BACH, VIKTOR LYAPKALO, VALDENE DUARTE FONSECA & LITERÓTICA.

A arte do pintor russo Viktor Lyapkalo.

LITERÓTICA: SHAKESPEAREANA - Toda sexta-feira, meio dia em ponto, ela aponta nos lábios um sorriso de sol acendendo a vida todinha só pra mim. E na boca carmim escancarada, folia de festa, obra rara na língua de fora quão louca desvela os teores mais fundos de todos os sabores do mundo e da vida. E só para mim. Meio dia em ponto, toda sexta-feira, a sua boca gulosa me engole e me guia pra toda alegria da satisfação. E se torna o hangar dos meus vôos, porto dos meus navios, pia batismal onde lavo todos os meus pecados e sortilégios, túnel onde a sorte irisa meus sonhos e indagora revolveu minhas crenças inundando de assombro toda alegoria e o dia anoitece, a tarde madruga e a noite amanhece felando em mim. Dentro da sua boca, toda sexta-feira, meio dia em ponto eu me enrijeço adulto e me extasio menino travesso que não cansa brinquedo um segundo sequer. Tudo só para mim. E meio dia em ponto, a língua estirada em agonia me faz mais real em todas fantasias, shakespeareanamente a saber que existem mais gozos nas estrelas do céu da sua boca do que possam prever as minhas mais obscenas ejaculações. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


DITOS & DESDITOSQuero demonstrar ao mundo, na arquitetura da minha música, a arquitetura de uma nova e bela comunidade social. O segredo da minha harmonia? Só eu o conheço. Cada instrumento em contraponto, e tantas partes contrapontísticas quantos instrumentos existirem. A autodisciplina iluminada das várias partes – cada qual impodo voluntariamente a si mesma os limites de sua liberdade individual para o bem-estar da comunidade. Tal é a minha mensagem. Nem a autocracia de uma única e teimosa melodia, de um lado, nem a anarquia de ruidos desenfreados, de outro. Não – um delicado equilibrio entre ambos – uma liberdade esclarecida. A ciência da minha arte. A arte da minha ciência. A harmonia das estrelas no céu, o anseio de fraternidade no coração do homem. Tal é o segredo da minha música. Pensamento do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750). Veja mais aqui & aqui.

PECADO – [...] O problema todo é que dizemos coisas em demasia. Se nos limitássemos apenas às palavras realmente indispensáveis, só isso poderia ser chamado guardar silêncio. E é assim com tudo: com a comida, os prazeres, o sono; para cada coisa o que é necessário tem um limite. Além disso, começa o “pecado” [...] o pecado é o que detem um homem , o que ajuda a enganar-se a si mesmo e, a imaginar que está trabalhando, quando está simplesmente dormindo. O pecado é o que adormece o homem quando ele já decidiu despertar. [...]. Trechos extraídos da obra Fragmentos de um ensinamento desconhecido: em busca do milagroso (Pensamento, 1998) do filósofo e psicólogo russo Piotr Demianovitch Ouspensky (1878-1947). Veja mais aqui e aqui.

ADETUTU – PRÓLOGO NO NAVIO NEGREIRO - Fechou os olhos tentando dormir. Não conseguia. O balanço do navio negreiro a enjoava, o corpo doía, o corte no pé latejava. Adetutu não tinha forças para nada, a não ser chorar. Onde estrariam seus pequenos Taió e Caiandê? Talvez nunca mais os visse, nunca mais os abraçasse nem lhes desse o leite que agora escorria dos seios inchados e dolorosos. Adetutu sentiu nos lábios ressequidos o sal de sua lágrimas; soluçava. No escuro do porão apertado e fétido do navio negreiro, que se arrastava pelo oceano na noite sem estrelas, a mulher deitada ao lado fez um esforço para vencer o peso das correntes que as uniam e apertou o braço de Adetutu num gesto de conforto. E de dor compartilhada pelo destino comum dos que haviam sido caçados para ser escravos em terras estrangeiras. [...] Trecho extraído da obra Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo (Companhia das Letras, 2007), de Reginaldo Prandi. Veja mais aqui.

SEGREDO DE EROS - Suave me dispo e me sento nua / lá fora o vento acaricia a lua / deito tranquila em teus braços longos / sinto teu leve beijo acalentar meu sono. / Balançam-me os seios volumosos, alvos / roço de leve com meu pé descalço / a arquitetura rija do teu peito másculo. / Satânica fundo-me em desejo fálico / que me agita o ser e me enrosca em laço. / Sou tua mulher, tua fada musa / inspiro teus dias, me envolvo em tuas noites. / Eros é mais em mim, mulher madura em tempo / por isto é que agora pões em mim mais tento. / Ponho-me a cavalo em teu joelho forte / e levemente trêmulo me acolhes. / O mundo real tolda-se... somos alheios / encosto em ti as pontas dos meus seios. / Eros então segredo aos meus ouvidos: / “O mundo é teu e que o alimentes / com a agudeza úmida do teu sexo túrgido / com a ardência fêmea do teu beijo cúpido”. Poema da poeta e ensaísta Valdene Duarte Fonseca.


A MULHER

Na mulher toda têmpera se envolve
Seu ciúme é cuidado impertinente
Seu desejo é fornalha incandescente
Quando pode, é perigo, o que devolve,
Quando está duvidosa só resolve
Pelo fio da ânsia propulsora,
Quando assume o papel de genitora
Aurifica seu corpo fecundante,
Pra tornar-se a maior representante
Dessa lei biológica criadora

No namoro é centelha de ilusão
No noivado é a fonte de esperança
Sendo esposa é profunda a aliança
E faz unir coração com coração,
Como mãe é suprema adoração!
Sendo sogra é as vezes tempestade

Quando amiga, é amiga de verdade,
Sendo amante é volúpia no segredo,
Porém sendo inimiga causa medo
Ao mais forte machão da humanidade.

OLIVEIRA DE PANELA – o compositor e poeta repentista, Oliveira de Panela, é autor de vários livros e discos expondo sua respeitável e prestigiada arte reconhecida internacionalmente. Entre os seus livros estão "O comandante do Planeta Médio", em 1997; "Poesia Liberdade", em 1979; "Poemas Iluminados", em 1983; " Poemas Alternativos", em1984, este em parceria com Zé de Sousa; "Na cadência do Martelo", em 1993; "Dois Poetas do Povo e da Viola", 1996, parceria com Otacílio Batista, Gravou 11 discos e mais de 6 cds. Ele é membro integrante da ONG e do Projeto Malagueta, que trabalha pela divulgação do acervo histórico, turístico e cultural da Paraíba, promovendo sua a musica regional, tendo parceria com órgãos como o SESC da Paraíba, o Governo do Estado, e a Secretaria de Educação e Cultura, entre outros. Para conhecer o trabalho de Oliveira de Panela acesse o sítio dele: http://www.oliveiradepanelas.com/
  
A arte do pintor russo Viktor Lyapkalo.




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