quarta-feira, novembro 01, 2023

ADANIA SHIBLI, RIKU ONDA, SARAH HALE, SOCORRO CUNHA & VANISE REZENDE

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do Live from Jazz St. Louis (2023) & Live at Cape Cod Jazz Festival (2017), da musicista, compositora, arranjadora e saxofonista Grace Kelly, considerada pela DownBeat – 2016, a Rising Star - Alto Saxophone, ao lançar o álbum Trying to Figure It Out (PAZZ, 2016).

 

A VIDA NA NÓDOA DA PARÁBOLA – O que tivera nada mais que a solidão diuturna, vez ou outra o assalto do inopinado. Nunca neguei um sorriso, mais que hospitaleiro, braços abertos – sobrevivente de enrascadas recorrentes. Não fora diferente outro dia: sempre apostei no melhor, mesmo que tudo desse errado depois. Daquela vez ela chegara tão ádvena quanto insólita. Quem aquela? Retirou seu turbante e pude ver-lhe os olhos vivos inquietos, o indicador entre os lábios carnudos a sussurrar-me misteriosamente Trudi Canavan: Palavras são mais afiadas que espadas. Elas apenas não destroem a mobília... Como? Manteve-se em silêncio ao meu lado ocultando-se dalguma situação. Flagrou-me o cenho cerrado e esclareceu tão sussurrantemente enigmática quanto antes: A verdadeira bondade consiste em lutar contra o mundo inteiro pelo bem dos outros... Cá comigo: desconfiei e quase matei a charada. Ah, não, não podia ser outra, tinha de ser Shen Te, a meretriz premiada pelos deuses como A alma boa de Setsuan do Brecht. Tinha de ser e peguei o fio, passei a checar e aquiesci com um cochicho: Sim? E, da mesma forma, ela começou a se expandir pelos cotovelos: o que seria o nervo de todas as coisas e maldades, para sobreviver alheia em um mundo achatado pelo pastiche e assistindo a passagem do Cometa do Diabo, investigando quem chocava o ovo da serpente, embora não soubesse ao certo qual e como, contudo, só com o estralar da casca e a tragédia já tomava conta - nunca serão mais os mesmos. Claro! Agora são os aloprados que possuem o talento potencializado para a crueldade aos safanões, com seu coração escuro e secreto às risadas esculhambando de vez tudo que nos resta de dignidade ou conquistas – por aí e por todo canto, Congresso Nacional, Assembléias Legislativas, Câmaras de Vereadores, Executivo pra cima e pra baixo dos Estados e Municípios, as muitas esferas do Judiciário... Que será de mim, de nós... Tomou fôlego e disse-me Roseanne Barr: Esperar que a vida te trate bem é tolice, assim como esperar que um touro não te atinja porque você é vegetariano... As mulheres são amaldiçoadas e os homens são a prova... E desconversava retomando o assunto, acompanhava as curvas do seu raciocinio e não seria nada fácil. Sabia que o tempo da natureza não batia com o relógio, a competição só favoreceu sempre quem ditou todas as regras escolhendo a seu modo qual meritocracia. E tome e pei, reticências mil! Era eu no clímax da Pirâmide de Freytag, para mim o arco da queda, o fim da picada: como se pulasse do trampolim de qualquer jeito para mergulhar de vez no cúmulo da incerteza. Como sempre me arrebentava no final, era assim tomando pé de que restava só morrer confortável duma hora para outra ou espalhando meus ossos ruas afora, engasgado com as razões das coisas hoje em dia para se estar vivo. Desculpe-me a falha, a vida inteira nunca fui nada, nem pude, escapava e não pedia nada ou tão pouco no apelo mudo. Ela baixou as vistas e me disse Annie Ernaux: Se não escrevo as coisas, elas não encontram seu termo. São apenas vividas... E dos seus olhos lacrimejantes as águas do rio me ensinavam a ser sempre humano num mundo tão endurecido. Deu-me uma rosa escarlate e com um sorriso aparentemente sem motivo, fez-se imoderada. Lembrou-me que a maior parte do tempo esquecia de ser outro que não eu mesmo. Houve o que não se contou nem contaria jamais diante da surpresa quase insultante: os meus sonhos todos malograram entre as cinzas do passado às esmolas da generosidade alheia nem tão celerada quanto interesseira - só quebrei a cara um zilhão de vezes com se fosse levado às vassouradas pelo opróbrio. Fiz do que sobrou dos outros como se fossem os meus sonhos e os restituí à vida. Ela, então, solfejou a Cantiga do Fim do Mundo... E não sobrei na curva, mais uma vez sobrevivi, acumulando aprendizado. Até mais ver.

 

ESTÂNCIAS À MEMÓRIA DE L.E.L

Imagem: Acervo ArtLAM.

E você se foi! \ a rosa nupcial \ Fresco em tua cabeça loura; \ Uma terra de cenas novas, selvagens e maravilhosas \ Antes que sua fantasia se espalhe \ Canção em teus lábios. \ -Pode não ser; \ - Mal acredito que você esteja morto! \ "Traga flores, flores claras!" \ -Mas quem para você \ Uma reunião de ofertas pode trazer? \ Que pintam a tua Musa, como Huma brilhante, \ Para sempre na asa? \ Ou pegue os tons que emocionaram a alma, \ Derramado da doce corda da tua Lira? \ Eles dizem que os botões quentes de esperança do seu coração \ Nunca havia sentido uma praga; \ Que no meio de multidões gays, em salões brilhantes, \ Teu passo sempre foi leve, \ Nas reuniões ao redor da lareira social \ Nenhum exibia um sorriso mais brilhante. \ E ainda assim, em teu mundo de música, \ As sombras escuras sempre dormem; \ Os seres formados pela tua imaginação, \ Parecia nascido apenas para chorar, \ - Por que as doces fontes da tua alma derramaram \ Uma maré de tristeza tão profunda? \ A sombra profética foi lançada \ Pela terra sombria de África; \ Que assim a tua fantasia esteja sempre ligada \ O veneno com a flor? \ E no meio dos mais belos caramanchões da felicidade \ Ainda criou o túmulo solitário? \ Em vão procuramos a fonte profunda do Pensamento, \ Seus mistérios ninguém pode contar; \ Só sabemos que os teus sonhos foram tristes, \ E assim aconteceu \ A coroa brilhante desse \ Amor te coroou para a Morte! \ -Destino sombrio - e ainda assim está bem: \ - Sim, tudo bem para você; tua força falhou \ Para suportar a corrente do Exílio, \ O grupo cansado, ansioso e com saudades de casa, \ Isso murcha o coração e o cérebro, \ - E Ele, que moldou o pulso fino da tua alma, \ Por misericórdia poupou a dor. \ E enquanto lamentamos uma Plêiade perdida \ Do céu elevado da Mente, \ Uma lira sem corda, cujos "acordes encantados" \ Tensões respiradas que nunca podem morrer, \ Dá-nos, ó Deus, a fé que vê \ A casa do Espírito nas alturas. \ Doce Menestrel do coração, adeus; \ Quantos sofrem por ti! \ O que os reis nunca poderão comandar é teu, \ Homenagem do amor do Free: \ A terra florida, o céu estrelado, \ A lágrima do enlutado, o suspiro do amante, \ Consagre a tua memória. \ E isso é fama! A gloriosa refeição \ É o teu além da decadência, \ Landon irá enfeitar a tradição do britânico \ Até que a terra passe; \ O que a riqueza da Índia era pobre para comprar \ Ganhou pela postura de uma Mulher!

Poema da escritora estadunidense Sarah Hale (1788-1879). Veja mais aqui.

 

PEQUENO DETALHE - [...] respire fundo. Pois bem, não há como voltar atrás agora, não depois de cruzar tantas fronteiras, militares, geográficas, físicas, psicológicas, mentais. [...] Assim que percebi que inevitavelmente falho sempre que tento navegar nas fronteiras, decidi ficar dentro dos limites da minha casa tanto quanto possível. E como esta casa tem muitas janelas, através das quais os vizinhos e os seus filhos podem facilmente ver-me, e apanhar-me a ultrapassar fronteiras mesmo quando estou na minha própria casa, pendurei as cortinas, embora às vezes me esqueça de as fechar. [...] E, novamente, um grupo de soldados captura uma menina, estupra-a e depois mata-a, vinte e cinco anos antes de eu nascer; este pequeno detalhe, que outros podem não pensar duas vezes, ficará comigo [...] O homem, e não o tanque, prevalecerá. [...] As fronteiras impostas entre as coisas aqui são muitas. É preciso prestar atenção a eles e navegar por eles, o que, em última análise, protege a todos de consequências perigosas. [...] há quem considere esta forma de ver, ou seja, focar atentamente nos mínimos detalhes, como o pó na secretária ou a merda de mosca num quadro, como a única forma de chegar à verdade e à prova definitiva da sua existência. [...] A solidão perdoa tanto as fronteiras invadidas [...]. Trechos extraídos da obra Minor Detail (New Directions Publishing, 2020), da escritora e ensaísta palestina Adania Shibli.

 

OS ASSASSINOS - [...] Há um velho ditado que diz que quando um idoso morre, uma biblioteca desaparece. [...] Acredito que existem dois tipos de pessoas neste mundo: aquelas que frequentam livrarias e aquelas que não o fazem. [...] Sinto-me seguro de que o mundo está cheio de livros que as pessoas leem constantemente. Não importa quanta informação esteja disponível, ou quão fácil seja obtê-la, quando tudo estiver dito e feito, os livros só podem ser lidos se você os ler, linha por linha, página por página. [...] O medo é um tempero que dá credibilidade. A quantidade certa espalhada em qualquer história a torna plausível. [...]. Trechos extraídos da obra The Aosawa Murders (Bitter Lemon, 2020), da premiada escritora japonesa Riku Onda.

 

A ENTREVISTA COM A ARTE DE SOCORRO CUNHA

Tenho participado de momentos marcantes para mim, com o desenvolvimento deste trabalho...

Entrevista com a escritora, pedagoga, contadora de histórias e compositora Socorro Cunha. Veja aqui.

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AFAGOS DA TERNURA

[...] Queremos cuidar da Mãe Terra que nos surpreende em cada estação, e aprender a lição das águas que se renovam na passagem dos rios e nas ondas do mar. Somos gratos à vida que muito nos tem presenteado... [...].

Trecho extraído da obra Afagos de Ternura (Autora, 2023), da escritora e blogueira graduada em Comunicação Social e Jornalismo, Vanise Rezende. Veja mais aqui.