sábado, abril 08, 2023

NNEDI OKORAFOR, CARLO ROVELLI, ANNIE VIVANTI, CHAMFORT & CAPOEIRAS

 

 Ao som do concerto Syllableaves para Theremin e Orquestra, pelo Gävle Symfoniorkester, dirigido por Fredrik Burstedt no Konzerthaus Gävle (Suécia, 2010) e Fantasias para Theremin e Quarteto de Cordas (2015), ambos da musicista alemã Carolina Eyck. Imagem: Mandala lírica (Acervo ArtLAM).

 

MANDALA LÍRICA – Outoninverno, o calor do nublado no meio de dias curtos e tanto a fazer. No meu sobrenome sabia: o frio vai durar toda vida e ainda não era o meu prazo. Era como se estivesse em YZ Ceti b contemplando a órbita de uma estrela anã vermelha. Umas passadas a mais e, do outro lado do muro, zuniam as balas do sectarismo messiânico com todos os seus próceres et caterva dedado por Lukács. Logo me distanciei e na boca de um túnel negro algo estranho e logo percebi que não era o gênio maligno de Descartes - quem dera a dúvida hiperbólica, ou que fosse pelo menos a dúvida cética, ora, e a metafísica nas raízes à mostra no chão, a física ao tronco e as ciências escapulindo pelos galhos! Mas não, não era. E como aprendi que um mais um são três, o poeta sorriu atrás do muro para dizer: Mácula acumula e como micula. Ora, eu também, meu! E sorrio. Tudo que vem logo vai. Nem deu tempo findar a frase e da boca do túnel surgiu Rufus – ah, não pode ser! E o pior: devidamente acompanhado duma dupla maligna breganeja e escatológica - Little Boy & Fat Man. Um trio nada agradável, eu previa. Queria lá fazer cócegas na cauda dum dragão, oxe! Tá doido, é? Bafejaram em uníssono: Bem, isso é tudo! Não, não era. Neguei o quanto pude! Contudo, a besta furiosa com seus comparsas queria mesmo era me torrar. Sou lá Daghlian ou Stolin, meu? Cai fora! Cuspi alerta: a minha chave de fenda é meu corpo fechado, espero. E, para me lascar, não era mesmo. Tentei escapar e uma das serpentes de Tirésias se aninhou ao redor dos meus pés. Ela fitou-me e senti logo que havia sido condenado pelo Basilisco de Roko, Singleton. Agora deu! Só me faltava essa! O quarteto logo me acuou na tentativa de me aprisionar no cérebro de Matriosca do Bradbury e já adivinhava: hoje cessará e logo será ontem, não sei amanhã. Procurei canto para me socar, mão aos olhos aprontando pra carreira e tudo estreitava. Qual é? Onde estou eu, afinal? Senti-me póstumo e pra não arrear de vez puxei conversa com os algozes, parecia mais que eu falava era grego. Não adiantou, mesuras inúteis. Encostado na parede, pressentia dali sangue na canela até o pescoço. Estava rendido, deveras. Matutei no cúmulo da fuga: uma carta na manga. Respirei fundo, pneuma no sangue: fui pro tudo ou nada e à forra, perdido por um ou por mil, tanto faz. Não me acovardei, centupliquei-me - afinal a lição: o que não me liquida me fortalece. Saquei e foi tiro e queda: as marteladas de Nietzsche! Dessa me safei, foi por pouco. Mais uma. Será que terei outra chance? Ah, deixa pra lá. O que vale é que cá estou no meio do caminho entre o micro e o macro, assobiando os acordes do meu theremin imaginário. Até mais ver.


Imagem: A vida e os sonhos renascem muitos... (Acervo ArtLAM).

 

DITOS & DESDITOSO dia mais perdido de todos é aquele em que não se riu. O amor, tal como existe na sociedade, não passa da troca de duas fantasias e do contato de duas epidermes. O amor é como as epidemias: quanto mais o tememos, mais expostos a ele estamos. Amar é uma necessidade do coração; fazer amor é uma ocupação do espírito. As paixões fazem o homem viver, a sua sabedoria apenas o faz durar. A palavra mais acertada que já foi dita sobre celibato e matrimônio é esta: qualquer partido que escolhas tu te arrependerás. Quem não tem caráter não é homem, é coisa... Pensamento do dramaturgo e escritor francês Nicolas de Chamfort (Sébastien-Roch Nicolas – 1840-1794).

 

ALGUÉM FALOU: Eu quero investigar o que me assusta e me preocupa. Você fez o que você fez, você não fez o que você não fez, e agora você está pronto para julgamento. As pessoas podem ser todas as espécies de implacáveis e podem ser todos maravilhosos. Confie em si mesmo para que os erros que você fizer sejam os que foram feitos e não algo que você fez porque você estava com medo de fazer o que queria fazer. Possua seus erros, então você pode possuir seus sucessos. A alegria no que faço está em fazer isso. E então há a parte em que as pessoas vão ver o que eu ofereci e gostei ou elas vão ver o que eu ofereci e desejo que elas não puderam fazer... Pensamento da cineasta, roteirista e escritora estadunidense Jennifer Lynch.

 

A TRISTEZA DURA PARA SEMPRE...

São vastas extensões de trigo sob céus tempestuosos e não tive dificuldades para expressar a tristeza e a extrema solidão... Tanto na vida como na pintura, posso muito bem ficar sem Deus; mas não posso, sem sofrer, ficar sem algo que é maior do que eu, que significa a minha vida inteira: a força de criar... Há leis de proporção, de luz, de sombra e de perspectiva, que é preciso conhecer para desenhar um motivo; se essa ciência nos falta, arriscamos travar eternamente uma luta estéril e não conseguimos nunca criar.

Pensamento do pintor do pós-impressionismo holandês, Vincent van Gogh (1853-1890). (Imagem acervo ArtLAM: A mulher contempla a cadeira de van Gogh). Veja mais aqui e aqui.

 

QUEM TEME A MORTE - [...] Criaturas defeituosas e imperfeitas! Isso é o que nós dois somos, oga! Isso é o que TODOS nós somos! [...] Ser algo anormal significava servir ao normal. E se você recusasse, eles te odiavam... e muitas vezes os normais te odiavam mesmo quando você os servia [...] Eu era jovem, mas odiava como um homem de meia-idade no final de seu auge. [...] Nunca saberemos exatamente por que somos, o que somos e assim por diante. Tudo o que você pode fazer é seguir seu caminho até o deserto, e então continuar porque é assim que deve ser.[...]. Trechos da obra Who Fears Death (DAW, 2014), da premiada escritora e educadora nigeriana-americana Nnedi Okorafor (Nnedimma Nkemdili Okorafor ou também conhecida como Nnedi Okorafor-Mbachu).

 

ORDEM DO TEMPO - [...] As crianças crescem e descobrem que o mundo não é como parecia dentro das quatro paredes de suas casas. A humanidade como um todo faz o mesmo. [...] A diferença entre passado e futuro... causa e efeito... memória e esperança... arrependimento e intenção... nas leis elementares que descrevem os mecanismos do mundo, não existe tal diferença. [...] O mundo é feito de eventos, não de coisas. [...]. Trechos extraídos da obra The Order of Time (Riverhead, 2018), do físico e cosmologista italiano Carlo Rovelli.

 

QUEM SABE...

A longa noite me negou refrigério, / Alfin a aurora nasceu. / No leste, o céu é tingido de ouro, / E toda estrela está morta. / Quem sabe se é verdade que existe um Deus lá em cima! / Um Deus que ama e conforta! / - Penso em você que não me ama mais, / E para minha falecida mãe...

Poema extraído da obra Lírica (BiblioLife, 2009), da poeta italiana Annie Vivanti (1866-1942). (Imagem: Acervo ArtLAM). Veja mais aqui.

 

UNA-SE, O RIO É SEU...

Pela Serra do Quati ouvia o canto repetititvo: cáa-poera, Capoeirã! Oxe e tome bis com o refrão: Quando não é mata cortada, é roça tomada pelo mato. O rio é seu, una-se... (Tributo ao Município de Capoeiras – Pernambuco. Imagem: Valuna: Capoeiras – Acervo ArtLAM).

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