terça-feira, outubro 06, 2020

MARY WOLLSTONECRAFT, JUDITH BUTLER, ANNETE KELLERMAN, ENHEDUANA & MESTRE ZUZA

 


TRÍPTICO DGF – AQUELA DE... DAS CHAMAS ÀS CINZAS, O QUE FOI & NÃO MAIS - A chama e a vida, vela acesa à luz, pacífica: a comunhão cósmica ilumina os umbrais interiores, rumo à senda universal. Outros são reféns das labaredas, ou se rendem na reprodução de faíscas iminentes às inimizades, ou fósforos da devastação: queimam impunes gentes, bichos, coisas, e não há mais ética, espórtula! Não há mais respeito, servidão. Não há mais lei, contravenção, sangue na rótula! Não há mais vida, escravidão. Ouço Enheduana no meio do fogaréu assassino: Sua ira é uma inundação devastadora que ninguém pode suportar. Doutro lado, Horácio alerta: Quando a casa do vizinho está pegando fogo, a minha casa está em perigo. Valha-me! O meu vizinho atiça, propaga, só quer a ele, ninguém mais. Outro se insurge, contenda. Estou, deveras, alarmado, prefiro a paz. Em meu socorro, a solidária Judith Butler: É crucial que resistamos às forças da censura que prejudicam a possibilidade de viver em uma democracia igualmente comprometida com a liberdade e a igualdade. Sim, nunca será tarde demais, haverá sempre tempo para fazer o que se deve pela paz e pela vida! Vambora.

 


DUAS VEZES A FILHA DOS DEUSES, A SEREIA DO MAR - A solidão e o meu quarto é um forno, calor nas paredes. Para minha sobrevivência ela emerge pela fresta deusa nua, Vênus dos Mares do Sul. E injeta vida nas minhas veias porque estou mortificado e logo me conta da tragédia da Noiva de Lammemoor, com seu jeito canceriano de enfeitiçatriz no palco, Rainha do Mar atravessando o canal da Mancha a nado, uma tentativa malograda que me faz rir de seu destempero e retoma e ganhou a corrida do Nado em Paris através do Sena, derrotando homens, e venceu no Danúbio de Tuin até Viena, viva! E fala pelos cotovelos para que eu ria muito mais e não saiba do que há lá fora. Ora me falava do Dom da Juventude, ou das filhas de Netuno e dos Deuses, feliz Mulher Perfeitamente Formada, triste quando Filha de Jephtah, dançando nas águas de Sydney, chapinhando para me molhar também e a me contar que foi nadadora e mergulhadora premiada para defender os direitos das mulheres e criar os maiôres que a levariam à prisão acusada de indecência e atentado ao pudor. Rimos muitos, quantos desequilíbrios, lá se vão, sobe-desce, é preciso rir-se de tudo. Aos nossos prazeres, beijojes, beijagoras, gozoras e mais. E me falava de seus livros How To Swim (1918), e o Physical Beauty: How to Keep It (1919), e os infantis do Fairy Tales of the South Seas (1926) e My History, a autobiografia jamais publicada, só nos desenhos Les Culottées (Destemidas, 2016), de Pénélope Bagieu ou no documentário The original Mermaid (2002), ou mesmo no acervo do Powerhouse Museum e nas cinzas na Grande Barreira de Corais. Era ela nualua no escuro do meu quarto, Annete Kellerman divinamente bela no meu coração para me dizer que vale a pena viver.

 


UM, DOIS, TRÊS: O AMOR À VIDA SUPERA A MORTE - Imagem: arte da escultora estadunidense Anna Vaughn Hyatt Huntington (1876-1973). - Lá estava elagora Polímnia com sua túnica e véus transparentes, feita poesia na minha vida e carne, a me fazer dançar na geometria do universo, entre beijentregas. À sesta me ensinou a meditação para alcançar o Olimpo e noutra tarde a agricultura para que eu semeasse os campos. Quando era noite ela fugia e só voltava altas horas como Mary Wollstonecraft depois de duas tentativas suicidas e passionais, a me chamar de William para acasalarmos à poesia em paixão. Em mim ela filosofou, poetou e renasceu com a reinvindicação dos direitos da mulher. Escreveu-me cartas que não me deixava lê-las e que eu havia lhe trazido vida para afugentar a melancolia e arrependimentos, e me beijava com ternura e me afagava a face para se desnudar no The Polygon na nossa festa diária em que nada mais existisse além de nós, nossos quereres, nossos prazeres, nossa paixão. Na última noite, ao se despedir: Eu não desejo que as mulheres tenham poder sobre os homens; mas sobre si mesmas. Nenhum homem escolhe o mal por ser o mal; mas apenas por confundi-lo com felicidade. Deixe a mulher compartilhar dos direitos e ela emulará as virtudes do homem. E comungamos das mesmas ideias e defendemos os mesmos ideais, solidários e reais até nos diluirmos em nós mesmos e em todas as coisas. Até mais ver.

 

MESTRE ZUZA

A riqueza da gente é saber fazer a arte. Não tem coisa melhor do que você saber fazer alguma coisa e não precisar estar empregado pra sobreviver. Consegui trabalhar com artesanato a vida toda, muita gente não acredita que isso é possível.

A arte do artesão, ceramista, artista plástico, escultor, compositor e professor historiador Mestre Zuza – José Edvaldo Batista, que é pós-graduado em História pela UPE, sócio da Cooperata e instrutor no Sernar-PE. Veja mais aqui & aqui.