terça-feira, janeiro 08, 2019

LELOUP, DALI, EM NOME DE DEUS & CARTA DE JANEIRO


CARTA DE JANEIRO – Aonde quer que eu vá, vou só. Esquinas, becos, trilhas, o inopinado. A cada dia um Cabo das Tormentas, naufrágios, derivas, gangorras, tobogãs, devires. Ah, santa sorte, o que virá não se sabe, que seja, na base do carteado: servindo-se de paus, copas, espadas, ouros; se deu, deu; se não deu, não deu, vale-se dos naipes, a cartomancia: a Roda da Fortuna, o Louco, o Enforcado, a Morte, o Diabo. Aha! O erro do carteio pra quem não sabe jogar, só se vive. Assim, percorrer o território por toda jornada: a sabedoria é próxima da loucura, ou vice-versa. Foi, não foi, a precisão de ir. Andarilho livre no incansável perambular. Onde vai dar? É só dançar como uma criança até tornar-se viajante maduro, se puder. As surpresas que pregam suas peças, o engano dos bufões: primeiro de abril. O farol, os monstros, os temporais. Encolher os ombros quando nada mais resta da escuridão adâmica, lembrar-se de não esquecer nada. Recorrer ao amor? Além de cego, muitas vezes é surdo, senão incompreensível. Amigos? Todos pularam fora quando não se esconderam: nem sempre a amizade é mútua, quando não covarde. Qual destinatário entre os arcanos vicariantes, epístolas sem correspondência, apelos sem recepção, prólogo sem trama, ninguém a quem possa interessar: rabiscos nas paredes, troncos, folhas, o tempo apagará. Manuscritos bilhetes que se esvairão inúteis, perdidos no fundo das gavetas. Palavras inauditas, gestos aos interditos paralisados no ar. Pra quem vai só, a companhia dos ventos, da escuridão, das estradas sem fim: a expectativa estrangeira de nenhuma chegada, não há porto para ancorar, nem fim da linha, eternamente seguir, recomeçar. A cada dia uma nova estrada, voo por aí. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS
[...] Partimos em um movimento ascendente: a libido, a paixão, a compaixão. É a mesma energia que ascende e nos atravessa. Observem que os problemas sexuais, algumas vezes, são modos de misturar as formas de amor. [...] Em grego, há diferentes palavras para falar destas etapas do amor. A primeira etapa é Pornéia, o amor voraz e devorador, o amor do bebê por sua mamãe, o amor de consumo. Amo o outro, portanto como-o. [...] Traduzimos a palavra Pathé por paixão e ela está na origem da palavra Patologia. [...] algumas formas de amor são formas de patologia, são formas de possessão, de Manía. [...] Éros, que expressa não somente um amor de solicitação e necessidade, mas também de desejo. [...] Storghé pode ser traduzida como ternura e Harmonia que é uma palavra muito bonita para se falar de amor. É uma maneira de harmonizar o seu ser com o ser do outro. [...] Philia – o amor aos seres humanos. [...] Énnoia quer dizer o dom, a doação e, às vezes, o devotamento. É uma qualidade de amor que manifesta uma grande generosidade do coração. É a libido, a energia vital que se manifesta ao nível do coração. Kháris significa gratidão. [...] Agápe. Podemos traduzi-la como a graça e a gratuidade. [...] A palavra amor tem sentidos diferentes. Não é preciso opô-los uns aos outros. [...] Há em nós uma abertura para todas as outras cores. Mesmo se, para algumas cores, só nos reste sonhar. Há porem sonhos premonitórios e um dia nós amaremos. Não apenas como animais bem vivos, não somente como amantes apaixonados, mas também como deuses apaziguados. [...].
Trechos de A escada dos níveis de amor, extraído da obra O corpo e seus símbolos (Vozes, 1999), do PhD em Psicologia Transpessoal, doutor em Teologia e professor de Filosofia, Jean-Yves Leloup. Veja mais aqui e aqui.

ESCULTURAS DE SALVADOR DALI
 [...] Acreditam vocês que seja devido ao acaso que a força dos grandes místicos apresenta-se muitas vezes conjugada à defecação e ao peido? É que o ânus, exaltado por Quevedo no seu Elogio ao buraco do cu, é sobretudo um símbolo que purifica nossos atos de canibalismo. Tudo o que pertence ao humano, transcendido pela espiritualidade da morte, torna-se místico [...].
Trecho extraído da obra As confissões inconfessáveis de Salvador Dali (José Olympio, 1976), do pintor e artista surrealista catalão Salvador Dali (1904-1989) que assim se expressava sobre si próprio: “Todas as manhãs, ao me levantar, experimento um prazer supremo: ser Salvador Dali. Eu me pergunto maravilhado: que coisas prodigiosas ele fará hoje, este Salvador Dalí”. Veja mais aqui, aqui e aqui.

EM NOME DE DEUS
O drama Em nome de Deus (Captive, 2012), dirigido por Brillante Mendoza, conta a história ocorrida em 2001, no sul das Filipinas, em que um grupo de separatistas islâmicos armados toma cerca de 100 pessoas como reféns, arrastando-as por vários locais por cerca de um ano. O destaque fica por conta da atriz francesa Isabelle Huppert que interpreta a missionária cristã Thérèse Bourgoine, voluntária francesa em missão humanitária e na luta pela sobrevivência. Veja mais aqui.
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