segunda-feira, outubro 22, 2018

DEMÓCRITO DE ABDERA, DOROTHEA TANNING, ROBERT FRIPP, CONEXÃO IV, TORTURA NUNCA MAIS & MARCELO MÁRIO DE MELO


A ROSA NO JARDIM DA PRAÇA – Naufrage em rose, da pintora, escultora e escritora estadunidense Dorothea Tanning (1910-2012). - O jardineiro tinha muitos nomes, muitos amores. Havia encontrado a verdade e não sabia o que fazer com ela. Amava as flores e folhas dos jardins, das praças, seu perfume e seu encanto. Cogitou por curiosidade o curso das coisas e seres, amava e deu de cara com as incompreensões. Examinava o trabalho das formigas, a luta dos homens e mulheres, o que cada um entendia de si e de como tudo surgia assim do inopinado. Autoexaminou-se e não sabia direito nada do que conseguia entender, experimentou a autoelucidação, compreendia até ver-se na praça, a rosa linda, as árvores, os encontros entre as pessoas, o cuidado com as ervas daninhas e os insetos, o movimento da vida, ia além das aparências. Dava-se conta da praça e a lua cheia poética era o reflexo do Sol com as estrelas que nem eram estrelas e brilhavam no firmamento com milhões de outros sistemas solares e seus sóis-estrelas nas profundezas cósmicas. Ele tudo via e era ali que sentia a rotação terrena e aprendia coisas que não se ensinavam, nem saberia dizer. Era ali que vivia a translação e tinha consciência do que jamais seria capaz de pronunciar na satisfação do entendimento. Pensava por si, o sorriso de gente, a fúria dos insatisfeitos, o caminho pra seguir, e julgava ser verdadeiro e, diante do espelho, muitas faces e mortes. Não possuía talentos, entrevado em todos os sentidos: um teimoso a esperar que algum dia algo desse certo e nunca deu, nada não, é a vida. Não temia e passava por baixo de escadas, juntava os cacos dos espelhos quebrados, e chamava o gato preto que cruzava o caminho, não se deixando levar pelas sugestões e inferências, é tudo tão normal e não presumia nem se abrigava na incompreensão. Não se dava por vencido, nunca; dormia esbagaçado de tristeza por não conseguir dar um passo adiante, as suas derrocadas, tudo que fizesse dava no vazio, sabia educação e conhecimento para todos, não era bem assim, nada era tão assim. Acordava refeito e a vida era só a esperança de sempre. Sempre assim: ao final do dia, enredado com todas as ciladas, xeque mate; acordava e o outro dia renascendo das cinzas e dores: os fracassos levam ao caminho de Deus, sabia. Por isso era rigoroso na autocritica, tolerante com as ideias alheias e retirava-se sem alarde. Ao presumir conhecer alguma coisa, soube da contínua transformação heraclitiana. Então, dormia e sonhava todos os sonhos, saindo da caverna com a dialética platônica: não havia só aqui, a morte é apenas uma sequência natural e isso às risadas milenares de Demócrito com os segredos da natureza, o profeta do Quark. Soube mais: todo começo é uma mudança e recomeço, um mínimo grão na poeira universal, cada ser único e irrepetível. E disse pra si: O outro sou eu; e se alguém perde, todos somos derrotados. Assim escolhia as palavras e o domínio da voz, e se sonhasse a Nova Atlântida, calava a voz, falava sem abrir a boca: a instrução pelo silêncio. Era assim que na praça, sozinho, mergulhava no patrimônio espiritual da humanidade, na fonte original da essência das coisas e tudo era um nele e dele construía para que o outro também fosse. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
Ao nascer, o Sol impulsionou com sua luz as ações e pensamentos de todos: homens que dia a dia pensam coisas novas, com impulso mútuo estimulam-se uns aos outros para as ações, como os que estão sobrecarregados com pesada carga. Por convenção há cor, por convenção há o doce, por convenção há o amargo, mas na realidade os átomos e o vazio. Coçando-se os homens têm prazer e sentem o mesmo que ao fazer amor. A todos quantos consideram prazeres os que vêm do estômago, ultrapassando a medida certa na comida, na bebida ou nos amores, os prazeres são curtos e momentâneos em que comem e bebem, mas as dores são numerosas. O desejo por essas mesmas coisas continua presente e, quando têm aquilo que desejam, rapidamente o prazer se vai, nada de útil resta, senão o curto gozo e, outra vez, precisam das mesmas coisas. É vergonhoso ocupar-se muito das coisas alheias e ignorar as próprias. Quem inveja, traz sofrimentos para si mesmo, como se fosse um inimigo. Conseguir bens não é sem utilidade, mas, através da injustiça, é o pior de tudo. O ódio dos parentes é muito mais penoso que o dos estranhos. É preciso reconhecer que a vida humana é frágil, pouco duradoura e misturada com muitos cuidados e dificuldades, para que haja preocupação por uma posse moderada e a labuta se meça pelas necessidades de cada um. Aqueles a quem dão prazer os sofrimentos do próximo não compreendem que as vicissitudes da sorte são comuns a todos e lhes falta uma alegria que seja sua.
Pensamento do filósofo grego Demócrito de Abdera (430-370 aC). Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE DOROTHEA TANNING
A arte da pintora, escultora e escritora estadunidense Dorothea Tanning (1910-2012). Veja mais aqui.

AGENDA
Conexão IV – Antologia & muito mais na Agenda aqui.
&
Dicionário Poético Militante (NEP/MMM, 2018), do poeta e jornalista Marcelo Mário de Melo
&
Vigília Tortura Nunca Mais – O Manifesto – Recife, 21 outubro 2018. Veja mais aqui e aqui.
&
Rainer Maria Rilke, Andreas Huyssen, Maria Ignez Mariz, Antônio Pereira, Pintando na Praça & Paulo Profeta, Chico Buarque, Maria João Pires, Marcus Viana & Maria Azova aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música do guitarrista inglês Robert Fripp: String Quintet Live in Japan, Exposure, Let The Power Fall & The Lige of Gentlemen & muito mais nos mais de 2 milhões & 700 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.