segunda-feira, agosto 20, 2018

CORA CORALINA, BACHELARD, TCHÉKOV, MATTÉI, MIRA SCHENDEL, NINA HAGEN, BITOS & LOBIZONZO


OS BITOS, SIBITOS & OUTROS REBITOS- Imagem: Arte da artista plástica suíça radicada no Brasil, Mira Schendel (1919-1988) - Desdaventura párvula do Lobizonzo, a bruguelada cresceu, mas nem tanto. Tirante Gordim, assumido doravante Elvisprei imberbe com a frescurência das costeletas desenhadas com lápis de sombra, um tufo de bombril no topete, a voz impostada – único jeito de falar grosso, mesmo – e o proeminente bucho quebrado no cardan glúteo, e o Jequim que virou DuCoice adolescido na safadeza de bater punheta e bombo numa tábua de passar roupa, mineirando uai, sô pra lá e pra cá, deram quase pra varapau, enquanto o Maluquim, então estulto Leorel de leseira potencializada na cheirada de chibiu e benzeção de pós e outras ervas, e o Bichim agora Bito, oxe, só descaramento, pantim e pacutia, ficaram batorés incruados. Tipo ponto de exclamação, lógico, o mais amostrado, Elvisprei todo esnobe queria impressionar as meninas prum fã clube exclusivo, espalhado com gaguejos versejados na melosa dor-de-corno e um cabo de vassoura amarrado num radinho de pilha na cintura: ele cantava, tocava e solava tudo pela boca – e a vassoura? Era só munganga. Como elas demoraram pra sacar a cantada dele, Elvisprei convocou a patota: Vamos fundar uma banda! Aê, meu! Era a grande chance deles no topo das paradas, avalie. Apadrinhados pelo saudosíssimo Mané Preto, cada qual inventou seus apetrechos instrumentais como podiam. Elvisprei, claro, o liderartista da trupe; os outros só de soslaio, arrepara só. E o nome? Os Bitus! Hem? Cada nome mais estrambólico que o outro, nada de pegar. Na hora do anúncio: Os bitus sibitos & outros rebitos! No final virou só: Os sibitos. Elvisprei quase teve um troço: Não é isso não, é Os Camaleões Fuderosos! E gritava, e nada de ninguém levar a sério: E agora, com vocês, Os si-bi-tos!!! E nisso ficaram. Toca porra! Cadê o microfone? É na caixa dos peitos, te vira! Elvisprei esgoelou-se todo com afetação, edulcorado pela mania de cantor de chuveiro, e a vaia foi comendo no centro. Leorel só no nhenhenhém: Tocaí, doido! Ducoice deu uma patada numa lata e a batucar zinco, fuás e tranqueiras no meio de uma descosida geral, de arriar a lenha na pauleira, acompanhado da esfregada do serrote nos frascos do Bito, para liberarem a munição dos dislates no meio do maior paroxismo. Pronto. Isso bastou para castigarem atrás nas onomatopeias, chacoalhando as deformações desafinadas, com um arsenal de arranjos feitos por arrotos, peidos e cafungadas – legítimo aprendizado com o mestre Mané Preto -, um zoadeiro da moléstia do povo sapecar: É a bixiga lixa mesmo! Haja mangação. Foi aí que Elvisprei deu uma bundada – seu golpe fatal - no amostramento do Bito, assumiu o posto no front e lascou lamúria de roedeira. Nisso grita DuCoice: Isso é lubrificação de gaia, ora! Tome! E enfiou um cotoco de pau na pudidícia do frosquete de Elvisprei, dele soltar um urro astronômico de tão histérico e esganiçado, da coisa ficar mais feia de tanto pandemônio. Que droga é nove, hem? É o pencó do sétimo livro, meu! A coisa ficou no mínimo insuportável. Em apuros por atrapalhar o trânsito e causar a revolta dos apressados que desceram do cata-corno, ficaram entre os apupos duns lunáticos encolerizados que queriam ver o circo dizimado de vez. Pega! Lincha! Capa! O anódino foi um empurra-empurra entre dois biritados que disputavam no grito a acusação mútua de corno, findando no maior quebra-pau! Agora deu. Coisa espalhafatosa de contar com a participação da polícia, dos desavisados e curiosos, fuxiqueiros e língua-de-osso, até a brechada dum disco voador homenageado pelo prefeito, que ofereceu um prêmio vantajoso a quem capturasse o intruso. Do rebuliço só restou o canto mais limpo pra desolação do Elvisprei sentado no chão e contando ideia, já maquinava outra pra cima dos comparsas. Ninguém ia mais na dele, só de esguelha e piscada de olho pra dar corda na mangação: Vamos pensar na turnê, qual o próximo show? Ele só bufando de raiva, na maior torada de aço. E tome atochada! Hehehehehehe! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Para mim não existe antes nem depois. Não me preocupo mais com o problema “onde estar”. Sou feliz no lugar onde sou mais útil e onde mais me querem. Onde estiver, luto pela liberdade. Meu mundo, hoje, é o território do Deus universal, sem fronteiras, nem passaportes, sem demônios. Acredito na sinceridade dos iludidos, nos que discutem com tanta paixão e empenho a teoria dogmática e na juventude pobre que se manifesta contra a guerra e a miséria. Penso que cada indivíduo é único e que todas as pessoas têm talentos diferentes para compreender e aceitar a arte.
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora e atriz alemã Nina Hagen: Live in Rio, Band Live Rockpalast, Concert Live at Cité de La Musique Paris & Die Leipzig Big Band Live & muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Acreditamos ser fiéis a uma imagem favorita, quando, na verdade, estamos sendo fiéis a um sentimento humano primitivo, a uma realidade orgânica primordial, a um temperamento onírico fundamental. [...] Trecho extraído da obra A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria (Martins Fontes, 1997), do filósofo, crítico literário e epistemólogo francês Gaston Bachelard (1884-1962). Veja mais aqui.

O MAL-ESTAR DA MODERNIDADE - [...] A crise da cultura, enfim, vê o relativismo ganhar todo o terreno da educação e da criação para colocar sobre o mesmo plano todas as produções do homem. [...] Quando a crise afeta, não os simples valores, como se diz por vezes, ainda que estes famosos «valores» reenviem às suas “avaliações” e estas “avaliações” a “avaliadores” que, eles mesmos, pretendem fundar-se sobre “valores” para tudo avaliar no seu tamanho, o que fecha o círculo sobre si mesmo, quando a crise afeta assim os princípios sobre os quais a existência deve fundar-se, então é o fim dela mesma, enquanto doadora de sentido, que desaparece. Ela apenas deixa flutuar no ar, incertos e perturbados, estes valores desprovidos de carne, à imagem do sorriso sem gato de Chester em Alice no país das maravilhas. [...] Não nos espantaremos que um tal mundo seja propício às diversas manifestações do relativismo que igualiza todas as formas da cultura suprimindo a hierarquia das obras e que reduz a existência do homem à estimação subjetiva, senão autista, de todas as convicções e de todas as práticas [...]. Trecho da obra La crise de sens (Cécile Defaut, 2006), do filósofo francês Jean-François Mattéi (1941-2014). Veja mais aqui e aqui.

A FALA DE TREPLEV - (Desfolha um a flor) Bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer. (Ri) Evidentemente! Estás a ver, a minha mãe não gosta de mim! É natural. Ela o que deseja é que a deixem viver a vida, amar, usar blusas de cores vivas, e eu sempre aqui, com o s meus vinte e cinco anos a lembrarem-lhe constantemente que já não é nenhuma jovem. Quando eu não ando por perto, ela só tem trinta e dois anos. Mas se estou ao pé dela, tem mais dez, e é por isso que me odeia. Mais, ela sabe que eu me recuso a aceitar o teatro. Ela ama o teatro. Ela vê-se a si própria ao serviço da humanidade e da causa sagrada da Arte. Ora, na minha opinião, o teatro é uma perfeita rotina imbuída de puro convencionalismo. Quando a cortina sobe, deixa à nossa vista um espaço delimitado por três paredes, iluminado por uma luz artificial, e vemos todos esses artistas sublimes, sacerdotes e sacerdotisas de uma arte sagrada, a imitarem como é que se come, como é que se bebe, se namora, passeia e veste o casaco. Com cenas vulgaríssimas e com frases ocas, põem-se a cozinhar uma moral de uso doméstico, bem ajeitadinha, pequenina, fácil de entender. Afinal servem-nos sempre o mesmo prato de mil e uma maneiras, e eu, por mim, fujo a sete pés, como o Maupassant, espavorido com a vulgaridade da Torre Eiffel, que lhe atrofiava os miolos. [...] Mas são precisas novas formas. Temos de as conseguir. Se não arranjarmos formas novas, então o melhor é não termos nada. (Vê as horas) Gosto muito da minha mãe, muitíssimo, mas fuma, vive às claras com aquele escritor e anda sempre com o nome estampado nos jornais - satura- me, tudo isso. Às vezes, quando muito naturalmente me sinto tão egoísta como qualquer outro ser humano, lamento que a minha mãe seja uma atriz famosa, e antes queria que ela fosse apenas uma mulher vulgar, o que me faria muito mais feliz. Imagina a situação mais absurda e aflitiva do que esta: ela recebia em casa todas as celebridades, atores, escritores - e eu ali, no meio dessa gente, uma nulidade - eles, a tolerarem-me apenas por eu ser filho dela. Afinal quem sou eu? Sou o quê? Larguei a Universidade, no terceiro ano, “devido a circunstâncias”, para falar em linguagem de artigo de fundo, «que não dependem da nossa vontade»; talento, não tenho, e dinheiro, tão pouco; pelo que está no meu passaporte, sou um pequeno burguês de Kiev. Como sabes, o meu pai, um ator conhecido, provinha da pequena burguesia de Kiev. E aí tens. Quando todos aqueles atores e escritores, que lhe enchiam a sala, me concediam algum vislumbre de benévola atenção, o que eu sentia era que estavam simplesmente a avaliar qual o grau da minha insignificância - imaginava o que estariam a pensar -, e invadia-me uma humilhação profunda. [...]. Trecho da peça teatral A gaivota (Presença, 1963), do dramaturgo e escritor russo Anton Tchékov (1860-1904). Veja mais aqui.

DOIS POEMAS - MULHER DA VIDA - Mulher da Vida, / Minha irmã. / De todos os tempos. / De todos os povos. / De todas as latitudes. / Ela vem do fundo imemorial das idades / e carrega a carga pesada / dos mais torpes sinônimos, / apelidos e ápodos: / Mulher da zona, / Mulher da rua, / Mulher perdida, / Mulher à toa. / Mulher da vida, / Minha irmã. ASSIM EU VEJO A VIDA - A vida tem duas faces: / Positiva e negativa / O passado foi duro / mas deixou o seu legado / Saber viver é a grande sabedoria / Que eu possa dignificar / Minha condição de mulher, / Aceitar suas limitações / E me fazer pedra de segurança / dos valores que vão desmoronando. / Nasci em tempos rudes / Aceitei contradições / lutas e pedras / como lições de vida / e delas me sirvo / Aprendi a viver. Poemas da poeta Cora Coralina (1889-1985). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A ARTE DE MIRA SCHENDEL
Arte da artista plástica suíça radicada no Brasil, Mira Schendel (1919-1988). Veja mais aqui.

AGENDA
Ateliê Escola – Dia 22/08, 19hs, Instituto de Belas Artes Vale do Una & muito mais na Agenda aqui.
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A trupe do Lobisomem Zonzo aqui.
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