quinta-feira, agosto 16, 2018

BUKOWSKI, LAFORGUE, MORIN, YUJA WANG, CAILLOIS, MARIA FLOR, MPB & ROBIMAGAIVER


CULPA NO CARTÓRIO - Imagem: arte postal Maria Flor. - O que foi que eu fiz? Você sabe! Não sei! Sabe! Já disse que não sei! Fora. Por quê? Fez uma, fará todas! Eu? Fora! Danou-se. Robimagaiver tanto fez, mas daquela não conseguiu escapar. Não adiantou confabular, provar por a mais b, pagar todos os patos, reconhecer todas as incertas e recorrentes, sacolejar dum lado pro outro, clamar por todos os santos e a piedade de Deus, implorar de joelhos, chorar todas as pitangas, botar a bunda de fora e espremer-se todo, nada, ela inexorável. Fora, já! Admitiu falhas, reconheceu deslizes, prometeu nunca mais como antes, agora um novo sujeito, arrependido e refeito, jurou pela alma dele, da mãe dele, dos filhos dele, dela mesma e de todo mundo, nada. Fora! Usou da persuasão, contudo, quanto mais argumentava, mais empiorava. Tentou, então, extorquir: Pensei em presentear um vestido novo. Fora! Tentou ganhar tempo, estalou os dedos e parecia mais articulando as sinapses neuronais que restavam ao movimento das mãos, como um metrônomo, para nada sair do controle. Fora! Pode perguntar a fulano, sicrano, beltrano, todos testemunharão, não fui eu! Chispa daqui, fora! Mas... Mas, nada, não adianta recorrer a quem quer que seja, nem recursar em quantas instâncias judiciais existirem, fora! Eita, essa mulher está virada mesmo! Fora! E agora, véio? Apelou: Mas não fui eu, juro! Fora! Agora deu! Não adiantou. Não haveria quem tirasse ele da forca: Nem Jesus descendo dos céus e dizendo que não foi você, não acredito, fora! Respirou fundo, tentou raciocinar, precisava da lábia agora mais do que nunca, porém nada do que dissesse removia a intransigência. Estava ferrado mesmo. Sentiu: já vai tarde, mané! Realmente não fora ele, fora outra pessoa, mas como ele é reincidente, ficou sendo ele mesmo, tanto pra ela, como pela pecha das más línguas. O apurado só se deu quase duas semanas depois quanto ele já estava arranchado na casa do compadre Zé-Corninho, usando e abusando nas intimidades do lençol com a comadre de então. Vixe que danada quente medonha, por isso que o Corninho não dá vencimento. E tome, bota e tira. Aí: Que é isso Roberto? Outro flagra. Ele avexado, saiu de lado, aos gritos: Não fui eu, ela que queria me agarrar! Mas você não toma mesmo jeito, né, rapaz? Não fui eu. Basta um cochilo, espaçozinho qualquer e você cai na esparrela de novo. Não fui eu, já disse. Vamos. Pra onde? Pra casa! Agora não quero mais ir não. Vai. Não vou. Vai. Não vou. Você vai, cabra safado! Vou não! Foi puxado pelas orelhas rua afora. Maior humilhação e mangações. Escapou fedendo. Pronto. O que foi mesmo que ele fez? Quem sabe! Se é Robimagaiver, tem culpa no cartório. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da belíssima pianista chinesa Yuja Wang: Concert piano F major Gershwin, Concert piano nº 2 C minor Rachmaninoff, Concert nº 1 Tchaikowsky & Rapsody in blue Gershwin & muito mais nos mais de 2 milhões & 500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] A cultura de massa integra e se integra ao mesmo tempo numa realidade policultural; faz-se conter controlar, censurar (pelo Estado, pela Igreja) e, simultaneamente, tende a corroer, a desagregar outras culturas. A esse título, ela não é absolutamente autônoma: ela pode embeber-se de cultura nacional, religiosa ou humanista e, por sua vez, ela embebe as culturas nacional, religiosa ou humanista. [...] Um verdadeiro cracking analítico transforma os produtos naturais em produtos culturais homogeneizados para o consumo maciço. Em outras palavras, certos temas folclóricos privilegiados são mais ou menos desintegrados a fim de serem mais ou menos integrados no novo grande sincretismo. [...] Uma cultura constitui uma espécie de sistema neurogevegetativo que irriga, segundo seus entrelaçamentos, a vida real do imaginário, e o imaginário da vida real. [...] A cultura de massa não faz outra coisa senão “mobiliar o lazer” (através dos espetáculos, das competições, da televisão, do rádio, da leitura de jornais e revistas); ela orienta a busca da saúde individual durante o lazer, e, ainda mais, ela acultura o lazer que se torna estilo de vida. [...] Trechos recolhidos da obra Cultura de massas no século XX: neurose (Forense Universitária, 1977), do antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin. Veja mais aqui.

A VIDA & A TEORIA DA FESTA – [...] À vida regular, ocupada pelos trabalhos cotidianos, tranquila, encerrada em um sistema de interditos, repleta de precauções, em que a máxima quieta no movere mantém a ordem do mundo, opõe-se a efervescência da festa. [...] Na vida ordinária, como visto, o sagrado quase exclusivamente se manifesta por interditos. Ele se define como o “reservado”, o “separado”. É colocado fora do uso comum, protegido por proibições destinadas a prevenir qualquer atentado à ordem do mundo, todo risco de destruí-lo e de nele introduzir algum agente perturbador, aparecendo, então, como em essência negativo. Este é um dos caracteres fundamentais que com maior frequência foi reconhecido na interdição ritual. [...] Mesmo a sanidade do corpo humano exige dele a evacuação regular de suas “sujeiras”, urina e excrementos, e, no caso da mulher, do sangue menstrual. A velhice contudo acaba por enfraquecê-lo e paralisá-lo. Do mesmo modo a natureza, a cada ano, passa por um ciclo de crescimento e de declínio. [...] A fecundidade nasce do exagero. À orgia sexual, a festa acrescenta a ingestão monstruosa de alimentos e bebidas. [...] Cada um deve se empanturrar até o limite do possível, se encher como um odre distendido. [...] Da mesma maneira, aos gestos regrados do trabalho, que garantem as subsistências, se opõe a agitação frenética da festividade que as dilapida. A festa não comporta somente desregramentos de consumo, da boca e do sexo, mas também desregramentos de expressão, do verbo ou do gesto. Gritos, ofensas, injúrias, trocas de ditos grosseiros, obscenos ou sacrílegos, entre um público e um cortejo que o atravessa [...] Os movimentos não ficam atrás: mímicas eróticas, gesticulações violentas, lutas simuladas ou reais. [...] Atos interditos e atos excessivos não se mostram suficientes para marcar a diferença entre o período do desencadeamento e o da regra. A eles são acrescidos atos ao revés, pelos quais as pessoas se esforçam por se conduzir de maneira exatamente contrária ao comportamento normal. A inversão de todas as relações parece a prova evidente do retorno do Caos, da época da lucidez e da confusão. [...] preciso então se perguntar qual fermentação de mesma grandeza libera os instintos do indivíduo reprimido pelas necessidades da existência organizada e, em concomitância, leva a uma efervescência coletiva de uma envergadura tão vasta. Parece assim que, desde a aparição dos Estados fortemente constituídos, e, ainda mais claramente, à medida que sua estrutura se afirma, a antiga alternância entre festança e labor, êxtase e domínio de si, que fazia renascer periodicamente a ordem do Caos, a riqueza da prodigalidade, a estabilidade do desencadeamento, foi substituída por uma alternância de uma outra ordem, mas que apresenta no mundo moderno, e apenas ela apresenta, volume e características correspondentes: aquela entre a paz e a guerra, aquela entre a prosperidade e a destruição dos resultados da prosperidade, aquela entre a tranquilidade regulamentada e a violência obrigatória. [...]. Trechos extraídos da obra O homem e o sagrado (70, 1988), do sociólogo, crítico literário e 1ensaísta francês Roger Caillois (1913-1978). Sobre a imagem fantástica ele expressa que [...] O reino das lendas é um universo estranho que o mundo acresce a ele próprio sem perguntar porquê e sem alargar o seu âmbito. O reino fantástico, pelo contrário, revela um escândalo, uma fenda, uma estranha ruptura, que seria intolerável no mundo real... temos que ter em mente que o fantástico não tem significado num mundo que é totalmente estranho. Num mundo de maravilhas, o extraordinário perde o seu poder [...], trecho extraído da obra Arte fantástica (Taschen, 2005), de Walter Schurian. Veja mais aqui.

AO SUL DE NENHUM LUGAR - [...] Falávamos sobre mulheres, espiávamos suas pernas ao saírem dos carros e as olhávamos pelas janelas à noite, na esperança de ver alguém fodendo, mas nunca víamos ninguém. Uma vez chegamos a pegar um casal na cama e o cara estava malhando a mulher e pensamos que agora veríamos algo, mas ela disse: – Não, não quero trepar essa noite! Então voltou-se de costas para ele, enquanto ele acendia um cigarro e nós partíamos em busca de outra janela. – Filho da puta, nenhuma mulher viraria as costas para mim! – Nem para mim. Que tipo de homem era aquele? [...] A minha era Rosalie. Rosalie tinha uma bunda grande e a balançava sem parar, cantando musiquinhas engraçadas e, enquanto caminhava tirando a roupa, falava sobre si mesma e ria. Era a única que realmente gostava do que fazia. Eu estava apaixonado por ela. Muitas vezes pensei em lhe escrever para dizer como ela era maravilhosa, mas, não sei por que, nunca escrevi. Certa tarde, estávamos esperando pelo táxi depois de um espetáculo, e lá estava a Mulher Tigre esperando por um também. Usava um vestido verde justo e nós ficamos ali parados, olhando para ela. [...] Pouco depois disso, comecei a perder o interesse naqueles domingos na Main Street. Suponho que a Follies e a Burbank ainda estejam lá. Claro, a Mulher Tigre e a stripper com asma e Rosalie, minha Rosalie, já se foram há muito tempo. Provavelmente mortas. A enorme e balançante bunda de Rosalie está provavelmente morta. E, quando estou na minha vizinhança, passo dirigindo em frente à casa em que vivia e vejo estranhos morando lá. Ainda assim, aqueles domingos eram bons, a maioria dos domingos eram bons, uma pequena luz na escuridão dos dias da depressão, quando nossos pais saíam pelas varandas, desempregados e impotentes, e olhavam-nos enquanto espancávamos uns aos outros pra valer e então voltavam para dentro e ficavam encarando as paredes, com medo de ligar o rádio por causa da conta de luz. [...] Trechos extraídos da obra Ao sul de nenhum lugar: histórias da vida subterrânea (L&PM, 2013), do escritor estadunidense nascido na Alemanha, Henry Charles Bukowski Jr (1920-1994). Veja mais aqui e aqui.

TRES POEMASJOGOS - Ah! a Lua, a Lua me assedia... / Acreditas que algo remedia? / Morto? Porque ela dorme assim seria, / Em clorofórmio cósmico, alvadia?/ Rosácea em tumular eflorescência / Da Basílica do Silêncio. / Persistes em tua atitude, / Eu me sufocando em solitude! / Sim, sim, tens o colo bem feito; / Mas se eu jamais ali me aleito?... / Mais uma tarde, e minhas berquinadas / Vão-se rir às bandeiras despregadas, / Dando ao meu platonismo um teor / De êxtase digno de pescador! / Salve Regina dos Lys! a que reina, / Quero te atravessar com as falenas! / Quero beijar a tua pátena triste, / (A travessa viúva da cabeça!) / De São João Batista! / Quero achar um lied! que te toca, / Faz que emigres para esta boca! / – Mas, nem mesmo mais rimas para a Lua... / Ah! que lamentável lacuna! / LAMENTO-PETIÇÃO DO FILHO FAUSTO - Se soubesses, mamãe Natura, / O quanto eu me adoro em teu tédio, / Me darias uma Bela pura, / Casta, que remédio! / Se soubesses, essa miuçalha, / Os sóis de Panurgo!, dirias, / Ora, deixe o nosso em migalhas, / Ao meio-dia. / Se soubesses, o quanto a Lista / De tuas matérias é meu forte. / Me farias contabilista, / Até a morte. / Se soubesses, as fantasias!/ Eu poderia ser o fermento, / Farias de mim o teu Sósia,/ Por um momento. SPLEEN - Tudo é tédio. Manhã. Olho pela janela. / No alto, risca-se o céu no giz da chuva fria. / Em baixo, a rua. Sob a cerração sombria / Vultos deslizam na água turva de barrela. / Olho sem ver (até meu cérebro regela) / Maquinalmente sobre o vidro que embacia / Meu dedo faz rabiscos de caligrafia. / Bah! Saiamos. Quem sabe, alguma coisa bela. / Nenhum livro. Perfis estúpidos. Ninguém. / Fiacres, lama, e ainda a chuva nos telhados… / Enfim a noite, o gás, volto com pés pesados… / Janto, bocejo, leio, nada me convém… / Bah! Dormir. – Meia noite. Uma. É sem remédio. / Só eu não durmo, só. E tudo é tédio. Poemas do poeta francês nascido no Uruguai Jules Laforgue (1860-1887). Veja mais aqui.

ALGUNS ASPECTOS DA MPB
O livro Alguns aspectos da MPB (E. Amaral da Silva, 2014), do escritor, letrista, produtor e pesquisador musical, Euclides Amaral, trata da música brasileira com um compasso brasileiro, a introdução poética e o choro de Paulo César Pinheiro, samba, choro, Hip Hop, Funk, introcitações, Jobim, MPB e cinema, Profissão poeta: Sérgio Natureza, os letristas e a herança provençal, Chico Buarque paratodos, a nova geração da MPB do século XXI, a contribuição estrangeira do século XVI ao XXI, entre outros assuntos.

AGENDA
O Festival Literário de Extrema (FLEX-MG), com o tema “Ser-Tão: Caminho sem fim”, acontece entre os dias 17 e 19 de agosto, com a realização da IV Mostra de Cinema, homenageando Guimarães Rosa e apresentando os escritores Antonio Torres, Fernanda Young, Carola Saavedra e Luiz Ruffato & muito mais na Agenda aqui.
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A arte postal Maria Flor.
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As trapalhadas de Robimagaiver aqui, aqui, aqui e aqui
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Arrelique & Ozi dos Palmares, Viagem ao Brasil de Jean de Léry, A era da incerteza de John Kenneth Galbraith, A poesia de José Maria Sales Pica-Pau, Violência da desigualdade, A criação artística e a dança, A mulher & o Bom Pastor aqui.