ESCOLHA DAS MÃOS: O QUE VALE É VIVER! – Imagem:
arte do pintor, desenhista e fotógrafo estadunidense Philiph Dvorak. - Já passei por
debaixo da ponte de muitas broncas e, vez ou outra, depois de pelejar tanto,
umazinha lá, no bambo, lograr êxito ao acertar na caçapa. Não é nada demais,
uma vez lá que seja, acertar na mosca: tum! Também sou filho de Deus, né? Porquanto,
nunca reclamei da sorte, assim mesmo sempre me achei privilegiado pelo que fiz
e não tenho. Nunca usei das mãos pra brigar na marra, ou arrancar pra possuir, no
máximo a ler as linhas da palma, porque sempre soube uma para alcançar o que se
quer e, outra, para zis coisas, afora as duas, em concha, punho cerrado,
expostas. Se uma abre caminho; a outra, arma o bote ou semeia e colhe. E as duas,
pedido ou entrega, sejam destros ou canhotos, tudo do nada pode brotar
inventando o que não há, reinventado a si e ao redor. Tanto faz ficar ou
seguir, ir ou parar, a ocasião faz a hora de dormir ou acordar, senão sigo na
minha: devagar e sempre. Ao livre arbítrio, quantas escolhas a todo átimo por cara
ou coroa, quem não no lá ou loa, ímpar ou par, e acertar o negócio da China ou
gorar a morte da bezerra, sujeito ao escalpelo ou covarde isento de gafes
escondido pelas beiradas, seguindo retardatários pra se esboroar ao
sacrossanto, ou rasgar o glossário do interdito pra saborear o limiar do pecado.
Sempre soube quem foi pra voltar, quem vem pra desistir: enlaces e
desencontros, erros e acertos, adesões e repulsões, guisado ou frito, subir ou
descer, em pé ou deitado, tanto pelo insosso certo previsto, como pelo sedutor
desconhecido misterioso, nunca se sabe. Qual é, entre todas e nenhuma, ou uma
ou outra, e se passei batido e nem vi a bússola entre as agruras do céu e as
delícias do inferno, sorri soprando o relado da pele no reboco dos muros com
suas sombras a desfazer de sonhos por ocas desilusões ou vazias vicissitudes. Assim
são as escolhas e sou quem não sabe delas as consequências, nem preciso, vivo o
momento no sabor do imprevisível. A vida não tem ver de novo, vale a precisão
do inesquecível, a memória acendendo a libido, cada vez única, de outra não se
repete, revive sem saber aonde vai dar. Não há melhor que isso, nada de
repeteco, coisas de parar, retroceder e consertar o que passou, nada disso,
aconteceu e foi, já era. Só fica a vivência, o experienciado inupto, singular, da
gente saber o que voga, se isso ou aquilo, distinguir depois da curva ou
atrás do monte, ninguém sabe, nem adianta ficar matutando se tivesse ido pro
outro lado ou se tivesse tempo de pular fora antes do acontecido. Nada disso. E
tudo isso, ora. Tem até quem não sabe que escolheu e fala dos outros, como se
incólume da desgraceira. As coisas vão pelo tino, assim como pra quem gosta de
guerra, sou pela paz e voo de beija-flor que não sobrevive ao olhar, recolhendo
a música das pedras e o ensurdecedor silêncio mortuário que vem das ruas da
ancestralidade milenar. Deu ou não deu, não há pra chorar, só recomeçar,
refazer-se, revelar-se. Se me perdi dos passos, não é nada, voluntário vou com
o coração na mão, pulsando a fazer o que posso, de novo e resiliente, porque pra
quem errou demais da conta é só aprender a lição, apagar o passado e sorrir esquecido
de ontem se quiser ser feliz, senão nunca mais, pra nunca ser tarde de seguir
de mãos dadas, depois do celebrado e mútuo aperto de mãos nos abraços de vida. O
que vale é viver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais
aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música
da
cantora, compositora e instrumentista Joyce:
Visions of dawn, Revendo amigos, Aquarius & Ao vivo & muito mais nos
mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de
Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
Veja mais aqui, aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] se
a unidade doméstica é um dos lugares em, que a dominação masculina se manifesta
de maneira mais indiscutível (e não só através do recurso à violência física),
o princípio de perpetuação das relações de força materiais e simbólicas que aí
se exercem se coloca essencialmente fora desta unidade, em instancias como a
Igreja, a Escola ou o Estado e em suas ações propriamente políticas, declaradas
ou escondidas, oficiais ou oficiosas (basta, para nos convencermos disto,
observar, na realidade imediata, as reações e as resistências ao projeto de
contrato de união social). [...]. Trecho extraído da obra A dominação masculina (Bertrand Brasil,
2002), do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), que em outra
publicação, A escola conservadora: as
desigualdades frente a escola e à cultura (Vozes, 2003), assinala que:
[...] Além de permitir à elite se
justificar de ser o que é, a ideologia do dom, chave do sistema escolar e do
sistema social, contribui para encerrar os membros das classes desfavorecidas
no destino que a sociedade lhes assinala, levando-os a perceberem como inaptidões
naturais o que não é senão efeito de uma condição inferior, e persuadindo-os de
que eles devem o seu destino social (cada vez mais ligado ao seu destino
escolar) à sua natureza individual e à sua falta de dom. [...]. Veja mais
aqui.
TEMPO ATUAL – [...] O
apocalipse continua sua marcha. Nosso atual “mal-estar na cultura” caminha
nesse sentido, ao que tudo indica, e é assim que, com frequência, o
experimentamos. Mas uma coisa é designar a máquina totalitária, outra coisa é
lhe atribuir tão rapidamente uma vitória definitiva e sem partilha.
Assujeitou-se o mundo, assim, totalmente como o sonharam - o projetam, o
programam e querem no-lo impor - nossos atuais “conselheiros pérfidos”?
Postulá-lo é, justamente, dar crédito ao que sua máquina quer nos fazer crer. É
ver somente a noite escura ou a ofuscante luz dos projetores. É agir como
vencidos: é estarmos convencidos de que a máquina cumpre seu trabalho sem resto
nem resistência. É não ver mais nada [“C’est
ne voir que du tout”, é ver “apenas o todo/o tudo”, ao contrário do “apesar
de tudo”.]. É, portanto, não ver o espaço - seja ele intersticial,
intermitente, nômade, situado no improvável - das aberturas, dos possíveis, dos
lampejos, dos apesar de tudo [...]. Trecho extraído da obra Sobrevivência
dos vagalumes (EdUFMG, 2011), do filósofo, historiador, crítico de arte e
professor francês Georges Didi-Huberman, que em outra obra A imagem
sobrevivente: história da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg (Contraponto, 2013), expressa que: [...] Eis o que seria necessário fazer face ao
esplendor e ao caos do mundo: enquadrar – isolar, para melhor o observar como
que por dentro – cada fenômeno fecundo. E, para isso, seria importante também
pegar no lápis, na pena e no pincel para preencher cadernos e folhas de
desenho, que constituiriam ainda testemunhos dessa precisão poética que Goethe
demonstra perante a diversidade do mundo sensível [...]. Veja mais aqui.
NOS CAMINHOS DE SWAN - [...] fazer
penetrar a imagem de Odette num mundo de sonhos ao qual até então ela não
tivera acesso e no qual ela impregnou-se de nobreza. E, ao passo que a visão
puramente carnal que tivera daquela mulher enfraquecia seu amor, essas dúvidas
foram dissipadas e esse amor assegurado quando teve por base os dados de uma
estética exata; sem contar que o beijo e a posse, que lhe pareciam naturais e medíocres
se concedidos por uma carne arruinada, vindo coroar a adoração de uma peça de
museu, afiguravam-se-lhe sobrenaturais e deliciosos [...]. Trecho da obra Nos caminhos de Swan (Abril, 1979), do escritor francês Marcel Proust (1871 - 1922). Veja mais aqui e aqui.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS ESQUERDOS HUMANOS – O
cabôco pode ter todo defeito do mundo: / Ser assoprador de velas antes do
parabéns / Aborteiro do amor / Cacundeiro de político / Pode ser
desmancha-samba / Dizedor de palavrão. / Pode ter vício, desvio: / Ser tomador
de cachaça / Putanheiro, maconheiro / Vivaldino, fanfarrão. / Ter tido uma
desventura: Ser corno dum mulherão. / E também ser diferente: um domador de
serpente / Mais pra lá do que pra cá, peneirinha, chibateiro. / Apoucado de
tamanho: / Metade de Nelson Ned / Ou mesmo um caga-baixinho. / Mulher pode ser:
/ Megera, concordante, oferecida / Moita-crespa ao deus-dará / Ser
tabaco-militar, das que só pega soldado. / O cabôco ser machista, moralista, de
direita… / Não interessa: / Têm todo o esquerdo do mundo / De ser tratado
dentro do vão dos direitos. / Pois o lado direito de quem olha / É o lado
perfeito e benfazejo / Do esquerdo e sensível coração. Extraído da obra Berro Novo (Bagaço, 2009), do poeta,
compositor e intérprete Jessier Quirino. Veja mais aqui.
VIVA FANZINE
Foi
lançado no último dia 16/06, no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, em
Niterói, o Fanzine Coletivo Alfarrábios
VIII D'Além MAR!, com participação
especial de Victor H. Rosa & mais: Adriana Mayrinck, Andreia Evangelista, Cláudia
Lí, Jammy Said, João Ayres, Jordão Pablo de Pão, José Antonio C e Silva, José
Glauco Ribeiro Tostes, Marco Valença, María Angélica Carter Morales, Mônica
Firma Maciel, Spírito Santo, Tchello d'Barros, Thina Curtis & muito mais! Produção:
Armazém de Quinquilharias e Utopias Brasil. PS: Alfarrábios não tem dono, não
tem liderança, não visa lucro. As edições são a preço de custo e o valor de
venda se destina a reposição do investimento, propiciando a auto
sustentabilidade.
&
A arte do escultor português Teixeira Lopes (1866-1942) aqui.
&
Em cada esquina a vida passa, Era secular de Charles Taylor, A educação
estética de Friedrich Schiller, o cinema
de Lúcia Murat & Luciana
Rigueira, a arte de Benjamin Cassiano
& Sarau Poesia Revista aqui.
APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São
Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.