ETERNA GRATIDÃO – Vitória não é pra todo dia,
derrotas acumuladas, quedas muitas, imprevisíveis e constantes. Um dia, no
começo, tudo é distante, nem se prevê direito no que vai dar, nunca se sabe.
Persistir, resistir, perseverar, até sem saber a razão ou motivo fútil. Só o de
fazer alguma coisa. E depois de noites em claro, dias com a paciência e a lucidez
por um fio, tudo beirando o enlouquecimento prévio, enfim, quando menos se
espera, o que tão longe se encontrava, perto demais está pra ser real. Eu que o
diga e reitero. Há um ano e meio atrás era quase nada, processo lento de
evolução: é preciso respeitar as leis da natureza, ir de degrau em degrau até
chegar ao topo – se é que há ápice ou fundura pro que quer que seja. Alguns
atalhos serviram para mais atraso. Alguma vez com pressa de ir adiante, mais
voltei pra infatigavelmente tudo recomeçar. E refiz, recomecei tantas e muitas
vezes. Havia horas que a caminhada mais parecia retrocesso. Algumas poucas
vezes, inesperadamente surpreso quando dava fé, além de onde estava. Ora risos,
ora choros. Evidente que planejei e tornei a planejar centenas senão milhares
de vezes, não sei, e retornei pra prancheta tantas foram de rabiscar,
redesenhar, redimensionar, re-ratificar quanto possível, sempre com o
impossível à espreita mangando de mim. Revia tudo como se fosse pela primeira
vez e retomava se necessário, quando não ia de qualquer jeito e foi. Entre idas
e vindas, restaram os que ficaram dos que se foram. Se muitos ou poucos, não
importa, vale sempre o simples aceno ou cumprimento, essa a primeira vitória. Porque
pra mim não é só subir ao pódio, pronto, erguer o troféu, salvas e vivas, festa
e fim de papo. Nada disso. Pra mim, o que vale mesmo é cada abraço por mais
virtual que seja, cada mínimo comentário, cada simples curtida, já é suficiente
para que eu tenha, todo dia, o mesmo vigor de começar como se nada antes
existisse. Sou teimoso e aprendi a lição: vencer é pra quem sabe perder e
aprender com os erros o melhor jeito, a melhor forma, maneira ou modo de
acertar. Se acertei mesmo, eu não sei, quem sabe, amanhã é outro dia e novas
metas, outros objetivos. Não é sozinho que tudo é construído, muitas
colaborações voluntárias e anônimas, gestos de carinho, atos de apoio e de
incentivo, tudo ameniza a dor da caminhada árdua e íngreme. Não foi sozinho que
cheguei aqui, muitos, até inconscientemente, aqui estiveram comigo pra força no
braço, persistência, determinação. Sou premiado e, apesar de estar só, não vou
sozinho, muitos senão todos comigo na estrada. E se me vejo agora vencedor, não
é por nada, é porque tenho no peito a gratidão de que se cheguei aqui por causa
de cada um de vocês, principalmente você que aqui esteve e está testemunhando
meus desatinos e insensatez. Por isso, a mim nada mais resta que agradecer um
por um: obrigado, obrigado, obrigado. E vamos aprumar a conversa! © Luiz
Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo
os álbuns da arte musical do compositor Jorge
Antunes.
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Heloneida Studart, Gino Severini, Lenine, Amácio Mazzaropi &Eadweard Muybridge aqui.
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A arte da
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DESTAQUE:CEM ANOS DE SOLIDÃO
[...] Desde a tarde do primeiro amor, Aureliano e
Amaranta Úrsula tinham continuado a aproveitar os escassos descuidos do esposo
, a se amar com ardores amordaçados em encontros ocasionais, e quase sempre
interrompidos por regressos imprevistos. Mas quando se viram sozinhos na casa
sucumbiram no lírio dos amores atrasados. Era uma paixão insensata, alucinada,
que fazia tremerem de pavor na cova os ossos de Fernanda e os mantinha num
estado de excitação perpétua. Os gemidos de Amaranta Úrsula, as suas canções
agônicas, estavam do mesmo jeito às duas da tarde na mesa da sala de estar e às
duas da madrugada na despensa. “O que mais me aborrece”, ria, “é o tempo enorme
que perdemos.” No aturdimento da paixão, viu as formigas devastando o jardim,
saciando a sua fome pré-histórica nas madeiras da casa, e viu a torrente de
lava viva se apoderando outra vez da varanda, só se preocupou em combatê-la
quando a encontrou no quarto. Aureliano abandonou os pergaminhos, não tornou a
sair de casa, e respondia de qualquer maneira às cartas sábio catalão. Perderam
o sentido da realidade, a noção tempo, o ritmo dos hábitos cotidianos. Tornaram
a fechar portas e janelas para não demorarem nos trâmites de desnudamento, e
andavam pela casa como Remedios, a bela, sempre quis estar, e se espojavam em
pêlo nos barreiros do quintal, e uma tarde por pouco não se afogaram quando se
amavam na caixa-d’água. Em pouco tempo fizeram mais que as formigas ruivas:
quebraram os móveis da sala, rasgaram com as suas loucuras a rede que resistira
aos tristes amores de acampamento do Coronel Aureliano Buendía e abriram os
colchões e os esvaziaram no chão, para se sufocar em tempestades de algodão. Embora
Aureliano fosse um amante tão feroz como o seu rival, era Amaranta Úrsula quem
comandava com o seu engenho disparatado e a sua voracidade lírica aquele paraíso
de desastres, como se tivesse concentrado no amor a indomável energia que atataravó
consagrara à fabricação de animaizinhos de caramelo. Além disso, enquanto ela
cantava de alegria e morria de rir das suas próprias invenções, Aureliano ia se
tornando mais absorto e calado, porque a sua paixão era ensimesmada e
calcinante. Entretanto, ambos chegaram a tais extremos de virtuosismo que
quando se esgotavam na exaltação tiravam melhor partido do cansaço. Entregaram-se
à idolatria dos corpos, ao descobrir que os tédios do amor tinham
possibilidades inexploradas, muito mais ricas que as do desejo. Enquanto ele
amaciava com claras de ovo os seios eréteis de Amaranta Úrsula, ou suavizava
com gordura de coco as suas coxas elásticas e o seu ventre de pêssego, ela
brincava de boneca com a portentosa criatura de Aureliano e pintava-lhe olhos
de palhaço com batom e bigodes de turco com lápis de sobrancelhas e armava-lhe
laços de organza e chapeuzinhos de papel prateado. Uma noite se lambuzaram dos
pés à cabeça com pêssegos em calda, lamberam-se como cães e se amaram como loucos
no chão da varanda, e foram acordados por uma torrente de formigas carnívoras
que se dispunham a devorá-los vivos. [...]
Trecho
da obra Cem anos de solidão (Record, 1985), do escritor, jornalista e
ativista político colombiano Prêmio Nobel de Literatura de 1982, Gabriel
García Marquez
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
DEDICATÓRIA:
A edição
de hoje é dedicada à professora doutora Daniela
Botti.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: arte do arquiteto e artista plástico Fernando Pasini.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.