quinta-feira, março 07, 2013

CAPOEIRAS, LUCILLE CLIFTON, MARTIN LINGS, SOPHIE DE SÉGUR, JUDY BLUME &ANAXIMANDRO

 

CAPOEIRAS - Pela Serra do Quati ouvia o canto repetititvo: cáa-poera, Capoeirã! Oxe e tome bis com o refrão: Quando não é mata cortada, é roça tomada pelo mato. O rio é seu, una-se. Visse! E lá ia como se fosse saudado com as boas vindas ao Planalto da Borborema, a paragem agrestina: o céu de nuvens rasteiras, meu coração chega impava. Tinha passado pelo povoado de Zé do Sinhozinho e era véspera de 24 de dezembro, tudo pronto prum feriado duplo: a vida jorrava nas Capoeiras pelas árvores da praça do João Borrêgo da Matriz. Dali enchi a rua de pernas, além dos caminhos afora. Depois que passei pela feira do queijo, fui e findei na barragem do Gurjão. Tomei uma e outra, passei pela feira da galinha, logo voltei pelo açude de Cajarana. Subi, desci, até passar pela feira do gado e tome gente, outras tantas eu vi subindo pra estátua do frei. Uma coisa eu sabia: a Deus querer a coisa melhorava no ricaho do Mimoso. E se era de tarde depois de desmanchar a feira, fiado era só as pernas pro ar no riacho do Mocambo, trocando as pernas e os olhos, sem saber para onde mais que ia. Quando dei fé já amanhecia e lá estava eu pela terra do barro batido quando dei com o encontro do rio da Barra: seguia os dois juntinhos, pareciam já um só. Depois foi que me abestalhei pela paisagem dos quilombolas do Imbé, engoli vento no Pau-Ferro, virei a noite no riacho da Pracinha, tirei um cochilo na beira do Bom Destino e lá pras tantas já tinha era passado pelo Mel do Meio junto na boca da noitinha. Lá estava eu no meio do mundo: Quatis de um lado, Riachão do outro; quando finquei pé o Doce e Bonito adiante, queria era ficar por ali de uma vez por todas. Ô Capoeiras das boas, o rio é seu, una-se. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Cada um de nós deve enfrentar seus próprios medos, deve ficar cara a cara com eles. A maneira como lidamos com nossos medos determinará para onde iremos com o resto de nossas vidas. Experimentar a aventura ou ser limitado pelo medo dela. Meu único conselho é ficar atenta, ouvir com atenção e gritar por ajuda se precisar. Pensamento da escritora e educadora estadunidense Judy Blume.

 

ALGUÉM FALOU: O amor-próprio, sempre senhor dos homens, corrompe os fortes pelo orgulho e os fracos pela vaidade. A vaidade dos imbecis autoriza o orgulho dos homens de talento. O amor começa pelo amor; não se pode passar de uma forte amizade senão para um amor fraco. Pensamento da escritora russa Sophie de Ségur (1799-1874). Veja mais aqui.

 

MUHAMMAD –[...] As cinco orações rituais diárias eram realizadas regularmente em congregação e, quando chegava a hora de cada oração, as pessoas se reuniam no local onde a Mesquita estava sendo construída. Todos julgavam o tempo pela posição do sol no céu, ou pelos primeiros sinais de sua luz no horizonte leste ou pelo escurecimento de seu brilho no oeste após o pôr do sol; mas as opiniões podem diferir, e o Profeta sentiu a necessidade de um meio de convocar o povo para a oração quando chegasse a hora certa. A princípio ele pensou em designar um homem para tocar uma buzina como a dos judeus, mas depois ele decidiu por um badalo de madeira, ndqiis, como os cristãos orientais usavam naquela época, e dois pedaços de madeira foram feitos juntos para esse fim. . Mas eles nunca foram destinados a serem usados; pois uma noite um homem de Khazraj, 'Abd Allah ibn Zayd, que tinha estado no Segundo 'Aqabah, teve um sonho que no dia seguinte ele contou ao Profeta: "Passou por mim um homem vestindo duas vestes verdes e ele carregava em sua mão e ndqiis, então eu disse a ele: "Ó servo de Deus, você vai me vender aquele naqusi" "O que você fará com ele?" ele disse. "Vamos convocar o povo para orar com ele", eu respondeu. "Não devo te mostrar um caminho melhor?" ele disse. "Que caminho é esse?" Eu perguntei, e ele respondeu: "Que tu deverias dizer: Deus é o maior, Alldhu Akbar." O homem de verde repetiu esta ampliação quatro vezes, depois cada uma das seguintes duas vezes: Testifico que não há deus exceto Deus; testifico que Muhammad é o mensageiro de Deus; venha para a oração; venha para a salvação; Deus é o maior; não há nenhum deus além de Deus. O Profeta disse que esta era uma visão verdadeira e disse-lhe para ir até Bilal, que tinha uma voz excelente, e ensinar-lhe as palavras exatamente como as ouvira durante o sono. A casa mais alta nas proximidades da Mesquita pertencia a uma mulher do clã de Najjar, e Bilal chegava lá antes de cada amanhecer e sentava-se no telhado esperando o raiar do dia. Quando via a primeira luz tênue no leste, estendia os braços e dizia em súplica: "Ó Deus, eu Te louvo e peço Tua ajuda para os coraixitas, para que aceitem Tua religião." Então ele se levantava e pronunciava o chamado à oração. [...] Anos depois, ele contaria sobre um incidente ocorrido em um de seus acampamentos: "Estávamos com o Profeta quando um Companheiro trouxe um filhote que ele havia capturado, e um dos pássaros pais veio e se jogou nas mãos daquele que havia levado seus filhotes. Eu vi os rostos dos homens cheios de admiração, e o Profeta disse: 'Vocês se maravilham com este pássaro? jura por Deus, teu Senhor é mais misericordioso com você do que este pássaro com seu filhote, e disse ao homem para colocar o filhote de volta onde o havia encontrado. Ele também disse: "Deus tem cem misericórdias, e uma delas Ele enviou entre gênios e homens e gado e animais de rapina. Assim eles são gentis e misericordiosos uns com os outros, e assim a criatura selvagem se inclina em ternura para ela Deus reservou para Si mesmo noventa e nove misericórdias, para que com elas pudesse mostrar misericórdia a Seus servos no dia da Ressurreição. [...]. Trechos extraídos da obra Muhammad: His Life Based on the Earliest Sources (Anner, 2006), do escritor inglês Martin Lings (Abu Bakr Siraj Ad-Din ou Burnage – 1909-2005).

 

DOIS POEMASIRMÃS - você e eu somos irmãs.\ somos iguais.\ você e eu\ vindas do mesmo lugar.\ você e eu\passando óleo nas pernas\ retocando nossas raízes.\ você e eu\ com medo de ratos\ pisando nas baratas.\ você e eu\ descendo alegres correndo a rua purdy aquela vez\ e a mãe rindo e balançando a cabeça para\ você e eu. \ você e eu\ tivemos bebês\ fizemos trinta e cinco\ enegrecemos\ deixamos nossos cabelos voltarem\ amando nós mesmas\ amando nós mesmas\ somos irmãs. \ apenas onde você canta,\ eu sou poeta. VOCÊ NÃO VAI CELEBRAR COMIGO? - você não vai celebrar comigo\ isto que eu moldei como \ um tipo de vida? eu não tive nenhum modelo.\ nascida na babilônia\ não branca e mulher.\ o que eu imaginei ser além de mim mesma?\ eu forjei isso.\ aqui nesta ponte entre\ a luz da estrela e a argila,\ minha mão segurando firme\ minha outra mão; venha celebrar\ comigo, que todos os dias\ alguma coisa tenta me matar\ e falha. Poemas da escritora estadunidense Lucille Clifton (1936-2010). Veja mais aqui.

 



PERÍODO NATURALISTA – OS JÔNIOS: ANAXIMANDRO. Concidadão de Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto viveu provavelmente entre 610 e 547 a.C, e escreveu uma obra “Da natureza”, de que ficou um fragmento textual. O elemento originário de todas as coisas seria, segundo ele, o indeterminado, o apeíron, que é infinito e em movimento perpetuo. Por isso, Anaximandro imagina a terra como uma coluna cilíndrica. Para ele, o universo teria resultado das modificações ocorridas num principio originário ou arché. Esse principio seria o apeíron, que se pode traduzir por infinito e/ou ilimitado. Desde a antiguidade, discute-se se o apeíron pode ser interpretado como infinitude espacial, como indeterminação qualitativa, ou se envolve os dois aspectos. Certo é que, para Anaximandro, o apeíron estaria animado por um movimento eterno, que ocasionaria a separação dos pares de opostos. No único fragmento que restou de sua obra, Anaximandro afirma que, ao longo do tempo, os opostos pagam entre si as injustiças reciprocamente cometidas. Para alguns interpretes isso significaria a afirmação da lei do equilíbrio universal, garantida através do processo de compensação dos excessos. Aristóteles observa que em Anaximandro “Tudo ou é principio ou procede de um principio, mas do ilimitado não há principio; se houvesse, seria seu limite. E ainda: sendo principio, deve também ser não engrendrado e o indestrutível, porque o que foi gerado necessariamente tem fim e há um término para toda destruição”. Nietzschie observa que dele “De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao fundo, segundo a necessidade; pois tem de pagar penitencia e de ser julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do tempo (...) o verdadeiro critério para o julgamento de cada homem é ser ele propriamente um ser que absolutamente não deveria existir, mas se penitencia de sua existência pelo sofrimento multiforme e pela morte: o que se pode esperar de um tal ser? Não somos todos pecadores condenados à morte? Penitenciamo-nos de nosso nascimento, em primeiro lugar, pelo viver e, em segundo, lugar, pelo morrer. (...) o que vale vosso existir? E, se nada vale, para que estais ai? Por vossa culpa, observo eu, demorai-vos nessa existência. Com a morte tereis de expiá-la. Vede como murcha vossa terra; os mares se retraem e secam; a concha sobre a montanha vos mostra o quanto já secaram; o fogo, desde já, destrói vosso mundo, que, no fim, se esvairá em vapor e fumo. Mas sempre, de novo, voltará a edificar-se um tal mundo de inconstância: quem seria capaz de livrar-nos da maldição do vir-a-ser?”. Também Martin Heidegger dele observa: “De onde as coisas tem seu nascimento, para lá também devem afundar-se na perdição, segundo a necessidade; pois elas devem expiar e ser julgadas pela sua injustiça, segundo a ordem do tempo (...) Ora, aquilo de onde as coisas se engendram, para lá também devem desaparecer segundo a necessidade; pois elas se pagam uma às outras castigo e expiação pela sua criminalidade segundo o tempo fixado. (...) Mas que direito possuem os primórdios de apelar a nós que somos provavelmente os mais tardios frutos da filosofia? Seremos os filhos tardios de uma história que agora se inclina rapidamente para o seu fim, fim que consuma tudo na ordem cada vez mais desolada do uniforme? Ou esconde-se, por acaso, na distancia cronológico-historica da sentença, uma proximidade historial do que nela não foi dito, mas que se pronuncia em direção ao futuro. (...) A sentença do pensar só se deixa traduzir no dialogo do pensar com o que nele é pronunciado. O pensar, contudo, é poematizar, e não somente no sentido da poesia e do canto. O pensar do ser é a maneira originária de poematizar. Somente nele, antes de tudo, a linguagem se torna linguagem, isto é, atinge sua essência. O pensar diz o ditado da verdade do ser. O pensar é o dictare originário. O pensar é o poematizar originário que precede toda a poesia, mas também o elemento poético da arte, na medida em que esta se torna obra, no seio do âmbito da linguagem. Todo o poematizar, tanto neste sentido mais amplo como no sentido mais restrito do poético, é, no seu fundo, um pensar. A essência poemática do pensar guarda o imperar da verdade do ser. Pelo fato de ela ditar enquanto pensa, a tradução do que a mais antiga sentença do pensar quereria dizer parece necessariamente violenta.(...) Ora, a partir daquilo do qual a geração é para as coisas, também o desaparecer dentro disto se engendra segundo o necessário; pois eles se dão justiça e penitencia reciprocamente pela injustiça, segundo a ordem do tempo. As coisas se desenvolvem e novamente se decompõem. A linguagem pode expressar tudo que pensamos claramente. Depende assim de nos atentar para a ocasião oportuna que nos permite pensar claramente a questão que a sentença traz à linguagem”.
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FONTES:
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Atica, 2002.
PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luis. Historia da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
PESSANHA, José Américo Motta (Org). Os pré-socraticos. São Paulo: Abril, 1978.
SOUZA, José Cavalcante. Os pré-socrático. São Paulo: Abril, 1978.



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