A arte da atriz e bailarina Elyse Borne.
EU & ELA NA FESTA DO CÉU - Enquanto rodopiava pelos devaneios solfejando a canção dos seus idílios, ela sonhava comigo: um quase príncipe encantado na sua predileção que chegasse gentil e sedento com o fervor apaixonado de um Dom Quixote buscando nela a Dulcinéia desejada. Enquanto ela encantadoramente azul passeava sobre as nuvens oníricas dos meus desejos, eu coaxava sonhando com uma rã-pintada nua e maravilhosa na fonte das águas amorantes. Ela dava conta de mim nos seus sonhos de princesa. Eu ansiava a sua vida nas minhas alucinações de anuro desolado da beira do rio. Quanto mais cantarolava, mais transluzia infinitamente iridescente na vida. E eu cada vez mais apegado à imagem anfíbia de sua expressão mágica. Certo dia a princesa veio se bronzear no campo. Foi quando correu o boato de que haveria uma festa no céu. Essa eu não poderia jamais perder. Porém, para meu desapontamento, fui excluído pelos promotores do evento por ter a boca grande. Uma desfeita. Mas, cá pra nós, uma provocação para minhas astúcias. E fui: aproveitei a ocasião e me acomodei cuidadosamente dentro da calcinha da princesa e ali fiquei escondido. Ah, um verdadeiro porto seguro, a maloca mais aconchegante e segura que já tinha saboreado desde a maternal fase da concepção. Era o reino da vida e da paixão. Parecia até que ela gostava da minha presença ali. E, por isso, fiquei todo ancho, maior que o meu próprio tamanho. Lá para as tantas, eu fui surpreendido. É que a princesa deu por minha existência. Assustou-se, permitindo que eu caísse em queda livre. Nessa hora pude cantar aos gritos de socorro: “Béu, béu, béu! Se desta eu não escapar, nunca mais festa no céu!”. Tei bei. Lasquei-me! Estava eu ali desfeito em zis pedaços pelo chão. Ao ouvir minha cantiga a princesa azul lembrou dos conselhos de uma cigana despachada que lhe adivinhara as palpitações ocultas na alma, recomendando que desenhasse a efígie do amor dos seus sonhos para sacudi-lo na boca do primeiro sapo que encontrasse e que, ao encontrá-lo, deveria depositá-lo embaixo da sua cama, cuidando para que fosse a sua existência regada à base de ouro, dinheiro e metais. Com isso e só com isso seus desejos se realizariam. Foi aí que ela se encheu de ternura e compaixão, caindo de cócoras cantarolando a juntar pacientemente os meus pedaços. Ao juntá-los passou a cerzir cuidadosamente até me deixar inteiramente coaxando enamorado e todo remendado na beira dos seus sonhos. Ah, a emenda foi melhor que o soneto. É que ela passou a me embalar com canções de sua predileção a me tratar com carinhos até me deitar confortavelmente numa aveludada tipóia embaixo da cama e no escuro do seu quarto. Eu, aos pinotes, queria voltar pro meu habitat, enquanto ela me cercava por todas as direções, cuidando para eu não fugir. Numa dessas tentativas de fuga, fui agarrado e no pedestal de uma de suas mãos espalmadas, ela me fitou os olhos: leu-me a alma e o amor. Não sei, acho que se apaixonou por mim. E beijou-me. Crás! Desencantei. Não era o príncipe que ela esperava, mas nem deu tempo para que nomes ou feições valessem nessa hora. Passamos a nos confundir aos beijos um no outro. E rodopiamos juntos o idílio dos nossos sonhos. E desnudados cavalgamos os dias e as noites, lambendo um ao outro para nos purificar de amor e nos entregarmos no meio da chuva que explodiu dos nossos mais selvagens desejos no reino da paixão. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Sou
um homem. Mas o que isso significa? Como todos os outros entes também fui
separado da divindade infinita, mas não posso confrontar-me com nenhum animal,
com nenhuma planta ou pedra. Só uma entidade mítica pode ultrapassar o homem. Como
formar então sobre si mesmo uma opinião definitiva. Pensamento do
psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961). Veja
mais aqui.
ALGUÉM FALOU: A
memória é o calcanhar de Aquiles dos executivos que pretendem realizar várias
tarefas ao mesmo tempo. Eles se esquecem de que os seres humanos têm uma
capacidade muito limitada de armazenar poucas informações importantes para as
atividades diárias no trabalho. Pensamento da cientista cognitiva
estadunidense Mary Czerwinski.
ESPERE A PRIMAVERA, BANDINI – [...] Seu
nome era Arturo, mas ele o detestava e queria se chamar John. Seu sobrenome era
Bandini, mas queria que fosse Jones. A mãe e o pai eram italianos, mas ele
queria ser americano. O pai era pedreiro, mas ele queria ser um lançador dos
Chicago Cubs. Morava em Rockling, Colorado, população: 10 mil, mas ele queria
morar em Denver, a 50 quilômetros dali. Seu rosto era sardento, mas ele queria
que fosse limpo. Frequentava uma escola católica, mas queria ir para a escola
pública. Tinha uma namorada chamada Rosa, mas ela o detestava. Era coroinha,
mas era um demônio e detestava coroinhas. Queria ser um bom menino, mas tinha
medo de ser um bom menino porque receava que seus amigos o chamassem de bom
menino. Era Arturo e adorava o pai, mas vivia no temor do dia em que cresceria
e seria capaz de bater nele. Venerava o pai, mas achava que a mãe era fraca e
tola. [...] Tempo de inverno, tempo
de ficar de pé ao redor de aquecedores nos vestiários, simplesmente de pé ali
contanto mentiras. Ah, nada como a primavera! [...] Curvou a cabeça enquanto o padre murmurava o latim da absolvição. Foi
tudo. Foi sopa. Deixou o confessionário e ajoelhou-se na igreja, mãos apertadas
sobre o coração. Ele batia serenamente. Estava salvo. [...] Durante muito tempo ficou de joelhos,
deleitando-se na doçura da escapatória. Eram camaradas, ele e Deus, e Deus era
um bom sujeito. [...]. Trechos extraídos da obra Espere a primavera, Bandini (Brasiliense, 1990), do escritor
estadunidense John Fante (1909-1983).
MEIA QUADRA – Quando
eu disser ovo é peixe, você diga peixe é ovo. / Quando eu disser povo é gente,
você diga gente é povo. / Quando eu disser novo é velho, você diga velho é
novo. / Quando eu disser cão é bicho, você diga bicho é cão. / Quando eu disser
pão é bolo, você diga bolo é pão. / Quando eu disser peia é corda, você diga corda
é peia. / Quando eu disser meia quadra, você diga quadra e meia / Quando eu
disser quadra e meia, você diga meio quadrão. Poema criação de Joaquim Vitorino Ferreira (1907-1959).
Veja mais aqui.
DORO PUTO DA VIDA COM A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – Depois de ficar coarando por mais de 2hs por 3 dias encarreados nas filas do expediente da Caixa Econômica Federal (tem que ter paciência mesmo!), o Doro arretou-se e mandou ver: Odeio a Caixa!!!! Ele prometeu botar a boca no trombone com foto e tudo aqui procês. Aguardem. Enquanto isso, confira: Da Caixa pro caixote de... e também o ranking da ruindade entre o BB x Caixa: quem atende pior o cidadão brasileiro?