quarta-feira, fevereiro 15, 2012

PAPINI, HÉLÈNE CIXOUS, GAYLE FORMAN, WIERZCHOWSKI, GINOFAGIA & LITERÓTICA



A FOLIA DO PRAZER NA GINOFAGIA – Imagem: Love, by Carolyn Weltman - A manhã mal se fizera e na nossa carne fremia o reencontro. Às pressas trocamos um beijo e nos encaminhamos para o táxi até o hotel. Outro beijo estalou tão logo eu dissera o rumo do hotel pro motorista. A sua respiração era sôfrega. O seu corpo trêmulo fazia par com suas mãos inquietas sobre a minha coxa esquerda. Enquanto eu vasculhava as reservas e documentos na valise, seus dedos tateavam meu sexo que despertara ao seu contato. Esfregando a palma da mão sobre meu membro duro, logo o apertava fechando o punho, mordendo os lábios, olhando-me cúmplice. Na minha cabeça tudo se misturava às imagens do trânsito e às idéias no pensamento de suas travessuras sexuais. Com a chegada no hotel, tive que me recompor, colocando sempre a valise de forma a esconder minha excitação. Ela sempre ali, buliçosa, esfregante, achegada, no cio. No elevador, arrastamos as malas e indicamos o andar do nosso apartamento, quando ela logo se achegou arfante e apalpou meu sexo rijo. Não se contendo, ajoelhou-se e beijou meu pau mordiscando com seus lábios sedosos toda a extensão do meu caralho por cima da calça. Logo o elevador dera sinal do nosso andar e nos arrumamos para nos dirigir ao apartamento. Ela se mantinha inquieta, saltitante, inebriante. Eu, lavado em suor. Larguei os apetrechos no chão e corri pro banheiro. Lá, fiz a micção e me desvesti para o chuveiro num banho restaurador. Meu caralho insistia em não amolecer, dando conta que estava pronto para uma trepada boa. Findado o banho, me enrolei na toalha e abri a porta quando ela já se prostrara ávida para agarrar e abocanhar com força meu mastro duro sob a toalha. Logo ela levou as mãos até meu sexo para que sentisse na sua carne e para remover-lhe às vistas para dar uma engolida até o canto como quem está faminta de séculos. Levantou-se num triz e me largou um beijo enlouquecidamente sedento, se dirigindo pro banheiro. A minha cabeça rodava enquanto eu tragava o cigarro e amolegava o sexo enrijecido. Daí a pouco, tentando tomar pé da situação ainda inebriado priapo, ela sai com uma saínha justa e curtinha, com uma blusinha de alça decotada, deixando quase os seios à mostra. Era provocação demais. Encostou-se na pilastra e com a cara mais safada de putinha se dirigiu a mim como quem quer ser devidamente comida a qualquer custo. Ela tal secretária lúbrica, eu viciado príapo canibal. Aí ao se aproximar, novamente de cócoras tateou e sentiu minha pica fortalecida entre os lábios para ter uma dimensão de toda sua querência. Daí, num gesto brusco removeu a toalha e iniciou uma devotada oração rente ao pau em riste, dignificando-o e beijando-o, louvando-o e lambendo-o, sacralizando-o e chupando-o a ponto de roubar-me os sentidos e deixar-me enlouquecido de tesão. Ora lambia com calma manhosa, ora engulia chupando-o com violência até arrancar-me o gozo já pronto para encher-lhe a boca com todo meu sêmen. E mais sugava, mais lambia, mais chupava, permitindo que eu desfalecesse àquele ato tão delicioso. Não aguentando mais, puxei-lhe pelos cabelos e a estendi na cama. A saia minúscula menos escondia o que eu desejava. Logo encarei sua vagina fervendo. Fiz-lhe escancarar as pernas qual Jesus Redentor e ali saquei seu pinguelo duro e lindo. Ali estava o meu dicomer. Passei a língua no seu grelo e senti sua carne estremecer. Ali me arranchei e lambi até que ela largasse os primeiros gemidos: estava úmida, ensopada de desejos. Fiz-lhe carícias com os dedos entre os lábios vaginais, enquanto lhe chupava e lambendo todo seu monte de Vênus, o pátio da sua gostosura. Enfiei um dos dedos na sua loca, senti-lhe a uretra, o talho trespassado com cheiro do mormaço gostoso. Massageei seu períneo e percebi seus selos intactos, agora expostos ao meu sobejo. Escancarada. Era o meu fogo no seu rio, os seus sete mares, e eu pirata no seu mar, pilhando seus tesouros, me apoderando dos seus conteúdos, preando tudo, descomedido. E enquanto lhe chupava, alisava seus seios. Ela lânguida, mimada. E alisava sua carne macia e mais ela se inquietava. Segurei seus flancos e enfiei a língua trelosa na sua boceta gostosa para chupar-lhe a fruta boa, explorando sua caverna que me expunha todos os seus mistérios enquanto meu dedo acarinhava mansamente seu cuzinho que se inquietava ao meu toque. Sorvi seu mel escondido, tomei seu fel e aos poucos enfiava com jeito e calma o dedo no seu ânus, quando ela mais se contorcia, mais ronronava, mais se agitava enlouquecida, mais rangia os dentes gemendo de prazer, ali espalmada nua com todas as delícias da sua carne. Mais me apoderei dela, porque ela estava cheia de tudo. Tomei toda sua graça, toda sua doçura, ali enquanto a sua flor pulsava e seu corpo em agonia no nosso derriço libidinoso. Desvelado seu segredo mais intimo, toda sua graça mostrou-me a alma e eu pude sentir o seu mais incontido gozo. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui, aquiaqui.

 

DITOS & DESDITOS - O que eu sei é que somos trágicos. Os deuses escolheram assim. Somos todos uma brincadeira deles, marionetes que envelhecem rápido demais, uma experienciazinha carnal - de modo que não lhes interessa a parcimônia: criam uns num caldo de fúria e outros na doçura total. Pensamento da escritora e roteirista Letícia Wierzchowski, autora da obra A casa das sete mulheres (Record, 2005).

 

ALGUÉM FALOU: Você faz suas escolhas, e suas escolhas fazem você. Pensamento da escritora estadunidense Gayle Forman.

 

A DOR DA TORTURAFizeram de tudo comigo: cadeira do dragão, pau de arara, telefone, palmatória, choque elétrico na vagina, nos seios, nos braços, nas orelhas. No pau de arara, a gente ficava pendurado pelas pernas, feito um peru no pau, num forno. Na cadeira do dragão, jogavam água fria e depois davam choque. Havia também um tipo de corredor em que andávamos vestindo um capuz. Não sabíamos onde estávamos, e as paredes eram todas úmidas. A sensação era de que a gente estava dentro de um túnel, indo cada vez mais fundo, mas não sabia onde ia parar. A gente não sabia se era dia ou noite. Enquanto isso, eles gritavam para contar logo, ‘se não, não vai sair daqui’. Ao mesmo tempo, ouviam-se os gemidos das pessoas, que não sabíamos de onde vinham. Nessas horas, o lado moral pesa mais que o físico. Por conta das torturas nas orelhas, fiquei com problemas no ouvido. Aí, me levaram para o Hospital Militar, mas lá eu não sabia se ia ser atendida direito ou não. Para me torturar, disseram: ‘Ela vai ser operada’, sendo que eu não tinha do que ser operada. Era uma forma de me agredir. Havia também as ameaças de morte, xingamentos, como ‘sua puta, por que está metida nisso?’. O fato de estarmos sempre com a mesma roupa também era uma violência. Não tínhamos condições de trocar, então a gente ficava se sentindo mal, suja, o que é feito de propósito para ver se a gente entregava alguma coisa para poder ir embora. Como sequela, a gente passa anos sentindo aquela mesma sensação vivenciada. Quando fazia frio, eu sentia a sensação dos fios nos dedos ou a picada do choque no seio, na vagina… Depoimento da servidora pública Elza Lobo, quando da sua prisão em 10 de novembro de 1969, em São Paulo. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

O RETRATO PROFÉTICO[...] Nos primeiros dias, quando eu era ainda mais pobre do que sou agora, fiz todo o possível para conhecer jovens e pobres pintores desde cedo e induzi-los a fazer meu retrato, e na maioria das vezes consegui que me dessem, o tempo acabou. [...] Parece-me que dei um pouco de minha alma a cada um dos meus duplos de tecido e cor e que fiquei com uma alma empobrecida e entorpecida. Existem perfis sanguíneos quase esboçados ao meu redor, sob o vidro; pastéis em grandes molduras brancas; desenhos coloridos e grandes telas pintadas a óleo. E me vejo lá de novo, em todas as posições e em todas as medidas: um jovem estúpido, de perfil; O rosto elegíaco de um poeta em um fundo desbotado de pedras azuis; a carranca satânica de um polemista com rosto ansioso e olhos alterados dentro de um céu todo negro; barrigudo, bom homem, com bochechas um tanto vermelhas e bigodes louros; jovem pálido e cansado, descansando a cabeça romanticamente em uma das mãos; Máscara emaciada e fantasmagórica, sem pescoço nem busto, como uma aparição na boca de uma caverna. E eu sou sempre eu, e sempre diferente, e só eu: com bigodes e sem bigodes, com óculos e sem óculos, doente ou de boa saúde, feroz ou abatido. [...] Depois de uma hora e meia de sessão, ele cobriu a pintura e não queria que eu olhasse o que ele havia feito. Voltei na manhã seguinte e na manhã seguinte também. Com os mesmos gestos e o mesmo mistério, o trabalho continuou. Na quarta manhã, fiquei sentado por um período muito curto. "Eu preciso dos olhos", disse ele. Dê a impressão de que você tem um inimigo à sua frente que está prestes a derrotar com sarcasmo. Tentei obedecê-lo e, depois de um quarto de hora, ele anunciou: -Está feito. Venha ver. Pulei da cadeira e corri para o retrato. O tecido não era todo coberto de cor. No centro dava para ver, olhando um pouco longe, um rosto que certamente não era o meu. Duas mechas de cabelo avermelhado se destacavam em uma testa quase verde; uma mancha preta à esquerda deve ter representado um olho; o outro olho era feito de pequenas manchas verdes e roxas entre uma mancha branca maior e uma sombra preta embaixo. O nariz era bastante semelhante, mas a boca era feita de duas bolhas arqueadas de sangue e uma fileira de dentes enormes. Sob o queixo, um colarinho branco sujo e uma gravata marrom que eu nunca usei. O vestido se perdeu em uma confusão de preto fuliginoso. Ao redor da cabeça, grandes faixas fantásticas de verde, vermelho vinho e violeta aguado. -Que tal? disse Hartling, sorrindo com prazer. Você não acha que minha pintura é a mais original? É que não me preocupei em pintar seu rosto, mas em deter um momento de seu espírito por toda a eternidade. Pedi tempo para ver melhor. Finalmente, quando a olhei em todos os lugares e de todas as distâncias, fiquei convencido de que nunca tinha visto uma traição tão grotesca. Não havia nada de mim lá. [...]  “É preciso viver dentro dele, estar perto, vê-lo de novo”, concluiu. Este trabalho é tão original que nem sei como o poderia fazer. [...] O terror de tal novo encontro só era comparável ao da redescoberta do retrato profético. Desde aquele dia, tenho dito não a todos os pintores que pediram para me retratar. Trechos do conto do escritor italiano Giovanni Papini (1881-1956). Veja mais aqui.

 

VER, NÃO SABERQueria ter a força de uma janela: e então olharia "para fora" com olhos bem abertos e ainda pacientes, enquadrados na moldura de madeira, olhos de janela. Olhos nem fora nem dentro, mas exatamente na jornada. E diante de tais olhos se mostrariam coisas intactas, preservadas da violência do olhar de uma pessoa, cada uma. Eles iriam encontrar sua visibilidade. Ele usou a palavra Ver: Olho! Ver as primeiras coisas pela primeira vez (cada vez pela primeira vez) era sua esperança e sua dificuldade. É um trabalho, uma insistência e uma paixão. Sempre exigiu a extrema lentidão de uma vigilância e a extrema rapidez de iluminação: ela queria ver o dia e o momento em que o dia daria à luz a noite. Para ter uma visão melhor, ele olhou pelo buraco na lona da tenda. Focar não era mais segredos para ela. Só pelo buraco da fechadura você pode ver a sala como se você não estivesse lá. Você tem que inventar o ponto de vista mais puro: ver na sua própria ausência. Veja como Deus vê. Uma curiosidade sublime levou-a a se distanciar para respeitar melhor. Ele tentou desfazer todas as tentações de apropriação, de relacionamento. Invente o visual. Aquilo que não era o seu próprio olhar, nem o olhar de uma mulher. Ela queria o próximo sem ela. A coexistência de sujeitos livres. Ele tirou do cavalo um ponto de vista sobre um milharal. E a vaca olha com dois pontos de vista opostos ao mesmo tempo. Muitas vezes mudava de ponto de vista, era uma dança, uma forma de ir de dentro para fora, de um lado para o outro, do pessoal para o impessoal, do masculino para o feminino, olhando com todos os olhos na direção do mundo. Sem esquecer o ponto de vista de um farol. À força de tanto e tão bonito e de se emprestar sem suspeita à possibilidade de uma Chegada, de tanto exercer seu ser em submissão ao mundo, as coisas vieram pela primeira vez. Ela viu. Ele estava fazendo uma descoberta: ser. Nu Ele testemunhou muitas aparições. E quando eles surgiram no horizonte e fizeram sua presença conhecida, ela os viu. E a cada vez era o exercício do verbo to be: the chair is. Foi a primeira cadeira. Era uma vez uma menina. Com chapéu. A garota estava. Um chapéu estava meio torto na cabeça. Nunca houve tantos começos. Com os olhos de uma vaca ou com o ponto de vista de um farol, ela viu o primeiro grau das coisas. Depois do início, porém, seguiu-se um pouco de duração: ela conseguiu, como que a pedido, manter as coisas, por um momento, presentes. O instante foi curto e profundo, e foi deslumbrante. Durante o pedaço de presente suspenso nos cílios, deu tempo à visão: viu um esquilo, um tubo de borracha, um cabo elétrico enrolado em um ferro, um cego mascando chiclete, parado no ponto de ônibus. Algumas visões devastaram sua vida doméstica e a projetaram perdida na selva. Tudo foi triunfo e superação. Ela viu o um e o todo, o finito e o infinito. Ela foi o resultado de ter nascido duas vezes em pouco tempo, uma em um continente, nascimento retido por dois meses para renascer em outro continente, nascido duas vezes de uma jornada lenta e difícil, para finalmente chegar à língua brasileira. Então ele continuou falando em sua própria língua com um ligeiro atraso. O que deu a ele ter sempre aquela sorte e aquele estrangeiro: ele adotou o brasileiro, ele o descobriu novo a cada frase. Ele sempre parecia ter saltado de um trem no meio da noite em Recife. Era uma rua longa e desconhecida, a língua em que os apocalipses a aguardavam. Então, como uma eterna recém-chegada, ela foi surpreendida, cambaleou, desajeitada voluntariamente, causando confusão, colisões, quebrando ovos, colocando a língua para fora daquele mundo, graças a uma agilidade metonímica maravilhosa, os efeitos das elipses e asyndenton que sobrevoam seus textos. Uma urgência perpassa todas as desculpas e circunlóquios. Move-se em parataxes, por iminências. Tudo é tão esporádico; uma pessoa, uma vida, um país, recém-nascido e já levado para outro lugar, é escrito com pressa. Andando em deslizamentos de terra semânticos: escrevendo o que se dissipa. Isso vai se dissipar. No meio da noite: um ovo. O objeto apocalíptico pessoal era um ovo. É ainda mais difícil ver a revelação do ovo do que ver o que São João viu. O ovo não tem rodas inflamadas com asas de águia vermelha presas aos quatro lados. O pobre homem, o ovo, é mais forte que o poeta e mais forte que a galinha, mas a galinha não sabe disso. Eu queria ser uma galinha que não sabia. Mas ela, a mulher que queria ser aquela galinha, sabia apesar de si mesma que sabia e não sabia. Ela era uma mulher, mas não exatamente, ela era uma mulher com. Com o homem, com-contra-sem homem ou cavalo ou máquina de escrever. Mas a mãe estava, absolutamente, na grande solidão das mães verdadeiras: mãe. Madeira. Bruto. Grande. Primitivo. Ela era uma agente que lutava com o anjo para fazê-lo pronunciar seu nome, e na luta era o anjo também, o anjo da angústia e o anjo da calma. Paradoxal Com o lado de fora de uma janela aberta, ele sabia que ela não era a "autora" autorizada de seus livros. Seus livros eram tempestades que passavam por cima de sua pessoa, cruzavam-na, eram mais livres do que ela. Ela estava humildemente tentando copiar o livro que estava em cima dela; é aquela escrita: ele é mais forte do que eu, eu sou mais forte do que eu. Esse livro é o resultado da tensão entre ele e eu, entre acima e abaixo, dentro e fora, liberdade e medo. E essa primeira frase, sintaticamente, gramaticalmente, impossível. Aquele eu - aquele que foi solicitado e entregue. Assim que você pede liberdade, você a consegue. Uma súplica se cumpre por si mesma, o que não impede o medo. A esperança está cheia de desespero e o desespero de esperança. Não existe liberdade livre, existe medo, liberdade com medo, o medo como um sintoma de liberdade. Eu me coloco mais acima de mim mesmo, é uma aventura insustentável, eu me supero, é a grandeza humana mas é aterrorizante: você tem que optar por um pronome pessoal sujeito: "eu" e o outro ao mesmo tempo, um ele, ou um tu, porque onde sopra o vento mais forte tens a sensação de estar tão perto da loucura. Então, para não se afundar na surra de si mesma, ela inventa: a mão. Em paixão. Dê-me sua mão, grite. E ela aperta as mãos. É preciso ter reflexividade para caminhar no abismo. Você precisa de um Se . Deixe tocar. Que seja mantido. Esta mão da paixão é outra mão, a que escreve. Uma mulher cega tateia. O outro empunha um cajado profético. Não pergunte por que e como, porque ela não sabe. Conhecendo limites, limites. Parar. Ela escreve pesquisando. Cada vez que escrevia, ocorria uma separação de si mesma, ela não estava familiarizada consigo mesma, tanto que poderia até ser substituída por um homem. Uma barba pode crescer na noite da escrita. Escrever escreve sempre sem saber - não ignorando ou querendo ignorar, pelo contrário: querer descobrir com a ajuda da linguagem muito poderosa, o segredo. Mas é impossível. A escrita será sempre aquela mistura de palavras e segredos. Você nunca possuirá o segredo. Mas ela vive dele. Uma atividade misteriosa e poderosa produz as condições de refúgio para aquilo que busca. A língua de galinha é feita para ser o lugar do ovo. Pode ser usado, mas é tão forte que nem sabe que está sendo usado. Ele não sabe o que o ovo está com ele.Se ele soubesse que tinha um ovo, ele se salvaria, mas como uma galinha - ele se salvaria como uma mulher, ele se conheceria como uma galinha, ele ganharia uma mulher e secretamente perderia sua inocência e liberdade. Não saber, não saber bem, é o que acontece nas entrelinhas e o que mantém o segredo vivo. Se eles soubessem, não escreveríamos. Se você perguntar por que como (ela escreve), a resposta é: é um mandato. Ela obedece. Quanto aos insiders. Mas ela não poderia viver sem um cachorro. Em outras palavras, sem seu mistério de amor, um mistério escondido e fofinho. Sem sua filosofia sem palavras. Ela não poderia ter vivido sem seu próximo reino, o animal. Somente as pessoas iniciadas na animalidade serão capazes de rastrear seu pensamento amoroso. Ela queria amar como se vê: sem possuir, aproximando-se. Como a galinha ama sem conhecer o ovo. Abstrato, abstraído. Mas é mais fácil para a galinha amar distraidamente (o ovo) do que para a mãe amar bem o filho. Porque a mãe pensou "meu filho" no primeiro dia. Então é necessário dissolver o possessivo. Se a mãe for boa, ou seja, iniciada, ela olhará para o filho com um olhar indireto de respeito; um olhar vazio, o olhar de uma janela ou de uma vaca ruminando o mistério da maternidade. Lá fora, o menino come uma bolacha de chocolate. A mãe vê. Ele sente que sua mãe material vê: uma criança que não tem olhos além de seu sorvete. Nem todo mundo tem a capacidade de ser mãe estrangeira, tanto mais mãe quanto mais estrangeira. A mãe não pesa mais que leve. Dê banho na criança sem tocar - tomar. Luz de bênção. Silencioso diz: entendo. Ele não toca, ele usa o toque: como o amor é indireto. Eu coloco minha mão no tronco da árvore em que sua mão está apoiada. A árvore atua como um terceiro. Metonímia era sua magia delicada. É adotar e se deixar ser adotado. Sempre mantendo a opção possível: a escolha. Amar uma criança como se ama um cachorro encontrado e um cachorro como uma criança encontrada, receber o outro como uma graça, o outro como qualquer outro. Ele é um cachorro que não se parece com ele. Não me falas na minha língua, não és do meu sangue, mas falamos o mesmo silêncio e o teu mistério olha o meu mistério diretamente nos olhos com um olhar límpido. Uma vez a vimos transformada em um macaquinho. Uma imitação circulou nela e em suas possibilidades animais. Segundo ela, ele nasceu para galopar e pisar forte. Certa vez, ele quis se aproximar do homem mais solitário do mundo por ter trazido o amor de uma criança a Deus. Ela queria acompanhar Abraão ao Monte Moria, onde acontece o sacrifício do ovo e da galinha. Mas como pode uma pessoa fingir compartilhar a solidão absoluta de alguém que é tão extremamente humano que pode responder a Deus face a face? É impossível. Então a bunda está acabada. Ele trotou ao lado daquele homem que subia mais alto do que ele livremente e sem medo. Tudo lá em cima era absoluto. O céu: absoluto. A luz: absoluta. Vida: absoluta. Morte: desconhecida. Ele sempre sonhou em saltar do conhecido para o desconhecido. Então, do desconhecido para o conhecido. Certamente foi o que ele fez. O burro morreu de alegria. Ela morreu pela primeira vez acima de toda a humanidade. Então ele desceu a montanha para morrer novamente diante de testemunhas. Para finalizar? Nunca houve um fim. A janela do livro estava fechando. Um dos galos em seu zoológico clamava pelo dia. Ele sempre tinha tempo para pular na noite seguinte. Então veio:.. Poema da escritora francesa Hélène Cixous. Veja mais aquiaqui.

 


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