sexta-feira, maio 06, 2011

XENOFONTE, ADÍLIA LOPES, GERALDO DE BARROS, FRANCISCO DANTAS, LUIS MENDONÇA, LITERÓTICA & SHOW TATARITARITATÁ


A SÍNDICA DOS SEIOS ONÍRICOS - Imagem: Luis Mendonça - Geruza enviuvara, ficando triste aquele rostinho lindo de Fernanda Abreu. Fora trágica para quem soubera sempre amante, duvidando, se fora, possivelmente amada no mesmo tanto. Dava para imaginar a sua dor naqueles seios com cheiro de mar no decote pronunciado que sempre exibia. Parece uma dor sem fim, seis anos de ininterrupta e enclausurada viuvez. Não dava nem as caras pro mundo, só recebendo, quando muito, familiares com advogado para resolver-lhe questões do falecido. Dava, também, para notar seu encabulamento ao tratar de apólices de seguro, pensão e bens inventariados a partilhar. Por certo, não era do seu feitio essas coisas de justiça, porque sempre fora das lides domésticas, quando muito acompanhava o marido nas compras, reduzindo-se, apenas, a cuidar da casa, estudar, embelezar-se e fortuitamente participar de alguma comemoração com casais amigos. Não tivera filhos nos dois anos de vigência do matrimônio. Resultara viúva e só. Uma misantropia flagrante, o que, misteriosamente, ainda mais realçava na sua beleza. E a cada dia mais exuberante ficava no apetite dos meus olhos. Ah, se me fosse dado o privilégio de provar de sua reclusa. Não, ela não dava espaço. Leseira minha de sonhar acordado. Raramente via-lhe sair para algum lugar. Até que certa noite, uma reunião ruidosa e cheia de querelantes, destituiu-se o síndico e abriram um pleito eleitoral para a escolha de um outro representante para tomar conta do nosso prédio. Geruza nem se dera conta do que sucedia, chegara ali para saber apenas das providências tomadas quanto a algo do seu apartamento, quando de sopetão seu nome entrou na roda. Vi-lhe ruborizada, intrigando-se com o assédio para que se colocasse seu nome em votação. Aí, eu que sempre me fizera alheio a tudo em reunião de condomínio, pois que até então só ouvira baixaria, pendenga mesquinha, interesses escusos, agora, encontrava um motivo para melhor participar daquela chateação, avalizando o nome dela naquela votação. Eu fora o primeiro a votar e percebi-lhe os olhos aboticados em minha direção e, depois disso, não desgrudou mais. A unanimidade fez-lhe síndica sem mais delongas. Tudo ventava a seu favor: dedicada aos afazeres domésticos, tempo integral no ambiente, disponibilidade para se ocupar com alguma coisa além do cotidiano. Satisfeito com tudo, eu exultava com a solidariedade de todos enquanto ela não conseguia ver-me menos imantada, atraída com intriga no olhar. A noite para mim seguia em polvorosa sem que ela ao menos insinuasse um mínimo sorriso, como que ainda não entendendo tudo aquilo acontecer à sua revelia. Era cada vez mais lindo aquele jeito desprotegido de ver o mundo se transformando na sua frente sem poder sequer sugerir nada. Estava realmente surpresa com aquilo. Foi aí que me aproximei em seu auxílio, tentando-lhe explicar e, ao mesmo tempo, oferecendo meu irrestrito apoio. Ela, assustada, nada entendia. A votação correra tranqüila e fim de papo. Dei-lhe meus parabéns afetuosos, seguido de todos os cumprimentos dispensados pelos presentes. Eu que falei por ela, aceitando a empreitada e já marcando a retomada dos trabalhos normais para o dia seguinte. Nisso ela nem balbuciara nada e me olhava com um ar ainda mais de esquisitice, interrogativa com o meu procedimento. Um a um dos presentes se despedindo, restando, ao final, apenas nós dois. Ela muda fisgada em mim, eu dissimulado acenando para a despedida de todos que se evadiam para seu regaço. Chamei o porteiro, entreguei os livros de ocorrências e anunciei que daquele momento em diante, Geruza era a síndica, esperando que ele passasse a colaborar de forma com maior afinco a partir de então, ao que ele positivamente acenou com a cabeça. Retornei ao seu encontro e desejei-lhe uma boa noite e até amanhã. Percebi que ela seguiu rumo ao elevador ainda tocada pelos acontecimentos. Ao cabo de dias não pude disfarçar a constatação do condomínio mais limpo, mais florido, mais cheio de vida, parece que ela resolvera dar o seu toque em tudo ali. Certa ocasião eu avexava para jantar fora e ao deixar algumas recomendações ao porteiro, vi Gerusa descer magnificamente linda, num vestido bege, decotado, discretamente maqueada, fantasticamente linda, de me abestalhar e não conseguir desgrudar-lhe o olhar, ao que, notando, dirigiu-me um cumprimento de boa noite afetado de mexer com as minhas entranhas e deixar-me abobadado. Meu deus, meus olhos vira a manifestação perfeita do milagre vital. Esqueci da fome, perdi a hora de jantar, acompanhei-lhe abrir a porta, sentar-se comodamente, acionar o motor e sutilmente sair em seu veículo. Acompanhei o seu trajeto até perdê-la de vista. - Dona Geruza botou para abafar, num foi? -, era o porteiro roubando a minha imaginação. - Pelo amor de deus! -, respondi com a maior cara de babaca. Ora, se ela já se encontrava no centro da minha cobiça, agora conseguia enlouquecer-me de vez. E enquanto pensava nela, não conseguia sair dali para lugar algum. Dei-me a vaguear pelo canteiro, pelo estacionamento, abestalhado e consumido pela sua beleza. Não sei por quanto tempo fiquei assim, sei que só me dei conta quando ela estacionava de volta o seu veículo. Disfarcei e, meio atabalhoado, rumei direção para o elevador. E ao aguardá-lo eis que ela se aproxima com seu perfume – ah, senti-lhe a fragrância viçosa de sua vagina acendendo meus sentidos - e, ao que parece, ela notando a minha embriaguês com todo o seu espetáculo. - Tudo bem? -, disse-me ela altiva e desleixadamente. - Tudo bem. Nossa, não conseguia dizer mais nada, estava embasbacado e boquiaberto com o seu reluzente decote abissal. A porta do elevador abriu-se, despejou fora dois vizinhos e esperei que ela entrasse para que a seguisse. Assim fez, adentrou-se, recostando-se no canto do elevador, desprotegida, pronta para a minha fúria de ataque. Apertei o indicador do sexto, o andar dela, e esqueci de acionar o meu andar. Nem bem quando o elevador deu partida, deu-se a escuridão. Ficamos presos, assustados, acompanhando o zoadeiro que se ouvia vindo do lado de fora. - Que foi isso? -, perguntou-me. - Sei lá. Não consigo entender nada. Senti-lhe um nervosismo e uma leve aproximação nervosa. Não sabia se me esforçava por sair dali ou se mantinha uma posição de ali ficar em sua companhia, esperando melhor momento. - Vamos aguardar –, disse-lhe tentando acalmá-la já que não se continha em si. Nada dizia, sentia-lhe a respiração, o nervosismo, o perfume, tudo embaralhando minha cabeça que nessa hora não conseguia conciliar as idéias. Senti sua mão no meu braço, tímida e trêmula. Foi aí que minha incoerência buscou-lhe a presença, alcançando a sua cintura perfeita. - O fornecimento de energia normaliza já, viu? -, repeti-lhe mais uma vez, tentando tranqüilizá-la. Enquanto eu tentava oferecer-lhe segurança tateava suas formas curvilíneas, o seu corpo palpitando, os seus seios arfantes, sua alma trêmula, eu frente a frente, a mesma altura, o mesmo tope, aproximando-me mansamente, nenhuma resistência. Busquei-lhe o pescoço com uma das mãos e ao encontrá-lo, trouxe seu rosto na direção do meu e beijei-lhe os lábios carnudos, acordando uma fera furiosa que me agarrou com sofreguidão. Fui intensamente invadindo sua viuvez, remexendo-lhe as intimidades, até que alcancei sua saia, puxando-a para cima até chegar-lhe na calcinha e notar-lhe fuviando úmida e desejosa. Removi-lhe para o lado alcançando-lhe o corte íntimo e enfiando-lhe o dedo devagar até sentir-lhe abrindo-se mais, escancarando para a melhor ser penetrada, levantando uma de suas pernas até ao lado da minha cintura, matando minha sede com o arriar do zíper, até alcançar-lhe as mais profundas águas saborosas. Acompanhei o seu gemido louco, investi irresponsavelmente por sua intimidade gostosa, enfiei-lhe toda minha loucura apressadamente até alcançarmos o ápice do orgasmo. Aaaaaaaaah! Depois de um longo tempo desligado do mundo e de todos, notamos o silêncio que circundava, ouvindo-se apenas a nossa respiração. Foi aí que tentamos aos poucos nos recompormos satisfeitos, quando o fornecimento de energia fora restaurado, dando para ver-lhe o modo saciado de carente secular com que me fitava. Ouvimos o porteiro instando por nós, ficamos escondidos. E em pouco tempo, tudo normalizado, e nos despedíamos daquela louca e adorável situação. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Da janela espio estrelas pisando na ponta dos pés para não acordar o céu. Estou cansado da minha sombra. Pensamento do pintor, fotógrafo, gravurista e artista gráfico e industrial Geraldo de Barros (1923-1998).

 

ALGUÉM FALOU: É coisa mais ilustre e mais louvável deixar após si muitos benefícios, do que deixar muitos troféus. Pensamento do historiador e discípulo socrático, Xenofonte (430-355aC), autor da obra Anábase (Sementes De Mudança, 2008), contando a jornada de um grupo de soldados gregos que, em 401 a.C, marcharam desde a costa até o interior do império persa, governado pelo rei Artaxerxes II. Ela é composta por sete livros, contando a saga do Exército dos Del Mil e a marcha desde o campo de batalha de Cunaxa até ao mar, correspondendo ao termo grego Catábase, ainda reunindo os livros da Parábase, que narram a marcha ao longo da costa desde Trapezunte até o Helesponto. Veja mais aqui e aqui.

 

SOB O PESO DAS SOMBRAS - [...] Se a escrita serve de remédio para os nervos, conforme palavra dos entendidos, se é expelida pelos nossos gemidos interiores, e salva a gente dos naufrágios, decerto a minha página de ontem deve ter se nutrido da frustração que me acompanha [...] um fantasma persistente que tem me prejudicado, que procura se encarnar fora de horas. [...]. Trechos extraídos da obra Sob o peso das sombras (Planeta, 2004), do escritor e professor Francisco Dantas, contando a história de um burocrata provinciano apaixonado por literatura e que é humilhado durante toda sua vida pelo superior, decidindo escrever sua história carregada de amargura e lucidez.

 

UM POEMA - A MINHA MUSA antes de ser / a minha Musa avisou-me / cantaste sem saber / que cantar custa uma língua / agora vou-te cortar a língua / para aprenderes a cantar / a minha Musa é cruel / mas eu não conheço outra. Poema da poeta, cronista e tradutora portuguesa Adília Lopes – Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira.

 

TATARITARITATÁ NO PALCO ABERTO – No próximo dia 19 de maio, às 20hs, no Espaço Cultural Linda Mascarenhas, em Maceió, acontecerá o show poético-musical Tataritaritatá de Luiz Alberto Machado.

O SHOW - Show autoral poético-musical de Luiz Alberto Machado e banda, será realizado com 17 músicas de diversos gêneros como xotes, baiões, martelo agalopado, sertanejo de raiz, toada, balada, rock, pop, frevos, poemas e causos. Na ocasião ocorrerá a gravação do cd e do dvd ao vivo do espetáculo.

O AUTOR – Luiz Alberto Machado é escritor, compositor musical e radialista, editor do Guia de Poesia do Projeto SobreSites no Rio de Janeiro, membro da Cooperativa dos Músicos de Alagoas - Comusa e escreve regularmente para jornais, revistas e alternativos além de blogs, sites e portais da internet. Já publicou 6 livros de poesias, 7 infantis, 2 de crônicas além de ter vários textos publicados em veículos impressos e virtuais do Brasil e do exterior. Parte do seu trabalho está reunido na sua home www.luizalbertomachado.com.br

O PROJETO – O Projeto Palco Aberto é um conjunto de ações e produtos para a valorização da cultura e, em especial, da música produzida em Alagoas. Possui a visão de ser um centro de referência de capacitação e captação para a cultura alagoana. Tem a missão de promover atividades que permitam capacitar a cadeia produtiva e o mercado alagoano, criando um ambiente favorável para o desenvolvimento da produção artística e, cada vez mais, ampliar a visibilidade dessa produção. O projeto já realizou 4 Edições da Música Alagoana realizadas, com 01 DVD e 03 CDs publicados, mais de 100 shows realizados com 41 artistas que já participaram c/ shows individuais e autorais.

SERVIÇO: Show Tataritaritatá no Palco Aberto de Luiz Alberto Machado e banda. Dia 19 de maio, às 20 hs, no Espaço Cultural Linda Mascarenhas (Av. Fernandes Lima, ao lado do CEPA), Maceió – AL. Informações: 82.8845.4611 ou acessando www.luizalbertomachado.com.br   Veja os clipes do show no YouTube.


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