terça-feira, dezembro 22, 2009

BECKETT, LYGIA FAGUNDES TELLES, CÉSAR VALLEJO, ALAN TURING & LITERÓTICA: UIVO DA LOBA


O UIVO DA LOBA Imagem: War of fellings, by Leonid Afremov - Numa manhã nublada ela chegara furtiva e graciosamente cadenciada no seu andar elegante, vestida com seu blusão negro sobre o decote pronunciado numa blusinha de alça a mostrar-lhe os seios proeminentes, o umbigo divisado pela calça jeans ligada aos contornos dos seus quadris, coxas e pernas realçadas pela bota preta de salto alto, tudo impactando com o penteado ruivo de loba-vermelha nos seus olhos de mar dos muitos naufrágios, lábios salientes na boca arrebitada e sedutora do seu rosto lindo e apaixonante. Meu coração barulhava mais que a Harley Davidson acelerada na Avenida Paulista e tudo me metia num redemoinho que me arrastava por sutiãs, calcinhas, lingeries e aromas da mais pura feminilidade. Sempre gostei dessa sensação de ver-me invadido e dominado pela sanha da fêmea a me deixar absorto pelos confins do prazer. Não fora menor a sensação de ver-me rente ao seu jeito de loba fatal, pousando a mesa no restaurante do hotel, do meu lado, a ponto de me soltar numa viagem sideral com o perfume delicioso de fera insana. Lado a lado, confrontamos os rostos com um beijo de recepção quando ela olhou-me firme e seguramente do que queria ao lamber os lábios como quem denunciava o meu esquartejamento. A minha potência canibal mais se aguçava com o alarme de que eu seria devorado naquela manhã. Não poderia haver melhor sensação porque ela não escondia a sua ferocidade esguia no jeito nômade de quem estava pronta para me estraçalhar com a vitalidade faminta de suas garras prontas para o bote. Eu tremia radiante fisgado por seu olhar esfaimado de quem se valia das tentações que povoam as florestas de todos os hemisférios noturnos. E mais saboreava a expectativa de ver-me embrenhado pelos labirintos de sua carne fugitiva. Desgrudamos instantaneamente o olhar enquanto ela se servia de uma xícara de café, pousando uma das mãos sobre minha coxa, alisando devagar. O seu alisado formigava-me todo. Restituía a vontade de aprisioná-la entre meus braços perseguindo a viagem dos corpos à plenitude do gozo. Logo seu contato tátil alcançou meu membro que não resistia rijo naquela provocação inflamável. E mais incendiava meu corpo alisando carinhosamente todo o contorno da minha glande agoniada. Seus dedos pareciam magnetizar tudo em mim. Servimo-nos do rápido café da manhã e ela obrigou-me a levantar seguindo para o meu apartamento. Sabedora do estado em que eu me encontrava, tudo fez para que eu não fosse visto daquele jeito, postando-se sempre à minha frente, escondendo-me por trás do seu corpo. Aguardamos o elevador e quando este chegou, seguimos para o meu apartamento. Nono andar. E enquanto subíamos, ela se acocorava arreando o zíper da minha veste e alcançando meu caralho duro doido de tesão. Ela começou lambendo-o e depois chupando em longas abocanhadas de suas mandíbulas fortes. Delícia a felação ali enquanto o elevador passava de andar em andar até o nono andar. Verdadeira viagem. Quando chegamos, a porta abriu e ela foi olhar se havia alguém. Ninguém. - Onde é? -, perguntou-me. - Ali -, respondi. E seguimos com uma das mãos dela agarrada no meu pau. Abri a porta e atravessamos para o interior do negrume insinuante do apartamento, onde, à meia luz, tudo era de uma magia inenarrável. Nem bem fechei o trinco, ela retornou à felação de antes. Era providente demais o prazer dela roubando minhas forças e fortificando minha pica com sua língua sedosa, sua boca faminta, sua boca mágicas artimanhas. Ao me deixar a ponto de bala, pronto para explodir de gozo, ela afastou-se, recuando para arrear a calça até os joelhos e se pôr de bruços na cama com a bundinha mais linda do universo exposta para minha ceia total. - Vem! -, disse-me com sua voz agateada. E fui sem dó nem piedade. Entrei de sola e a cada estocada explodia seus uivos lancinantes como uma sirene rasgando o silêncio e a loucura de nossa aventura sexual. Aventura que prosseguia com o deslizar do meu pênis no interior da caverna úmida que se escancarava cada vez mais para desafiar seu esconderijo e mais usurpar os limites da invasão. Aventura que me fazia poderoso acima das deidades de todos os panteões, dono absoluto de todas as vontades de usurpar e perseguir enlouquecidamente toda a sua íntima compleição. Aventura que explodia o meu gozo até esborrar demasiado alagando toda a boceta gostosa da loba. Ela gritava, gemia, pedia mais e gozava nervosamente. A respiração entrecortada e os gemidos de satisfação tomavam conta de nossos corpos que agora se acumulavam um sobre o outro. Era gostoso demais sentir-lhe a pele morena da obra de arte do seu corpo nu entregue ao meu poderio. Nada melhor que sentir-se arreado sobre as costas daquela a quem me devoraria e fora atraiçoadamente rebentada por mim. Beijei-lhe demoradamente as faces enquanto sentia seu rostinho lindo de olhos fechados curtindo toda minha ejaculação. De repente ela desvira me jogando de lado, arregaça as vestes, se arruma aprontando para saída imediata, nem me deixando aplacar-lhe a fuga. Ao sair, lançou-me um sorriso rasgado e um olhar com a expressão: um beijo, Loba. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.


DITOS & DESDITOS - Eu acredito que às vezes são as pessoas que ninguém espera nada que fazem as coisas que ninguém consegue imaginar. Ciência é uma equação diferencial. Religião é a condição de contorno. Eu não fico muito impressionado com argumentos teológicos, independentemente daquilo que eles estão sendo usado para apoiar. Esses argumentos frequentemente se revelaram insatisfatórios no passado. Eu acredito que às vezes são as pessoas que ninguém espera nada que fazem as coisas que ninguém consegue imaginar. Pensamento do matemático, criptoanalista e cientista da computação britânico Alan Turing (1912-1954), que ficou famoso por ter liderado os esforços para a quebra do Enigma, o código utilizado para as comunicações militares alemãs durante a Segunda Guerra Mundial. Foi também pioneiro na inteligência artificial e ciência da computação. Ele suicidou-se  dois anos após ser processado por indecência.

ALGUÉM FALOU: Respirar é um hábito. A vida é um hábito, ou melhor, uma sucessão de hábitos, uma vez que um indivíduo é uma sucessão de indivíduos. As lágrimas do mundo são inalteráveis. Para cada um que começa a chorar, em algum lugar outro para. O mesmo vale para o riso. Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor. Tente de novo. Falhe de novo. Falhe melhor. Todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem. Dance primeiro. Pense depois. É a ordem natural. Eu não sei de nada, eu sei que meus olhos estão abertos, pois as lágrimas não vão parar de cair. Sim, na minha vida, se você pode chamar assim, existem três coisas que já fiz de melhor: a incapacidade de falar, dificuldade para ficar quieto e solidão. As palavras são só o que temos. Pensamento do dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett (1906-1989). Veja mais aqui.

DAS COISAS DA VIDA - A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas da vida. Não há gente completamente boa nem gente completamente má, está tudo misturado e a separação é impossível. O mal está no próprio gênero humano, ninguém presta. Às vezes a gente melhora. Mas passa. Não peça coerência ao mistério nem peça lógica ao absurdo. Quando na realidade o amor é uma coisa tão simples... Veja-o como uma flor que nasce e morre em seguida por que tem que morrer. Nada de querer guardar a flor dentro de um livro, não existe nada mais triste no mundo do que fingir que há vida onde a vida acabou. Já que é preciso aceitar a vida, que seja então corajosamente. Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas. Quero ficar só. Gosto muito das pessoas, mas às vezes tenho essa necessidade voraz de me libertar de todos. Expressão da escritora Lygia Fagundes Telles. Veja mais aqui.

DA POESIA - Há solidão em casa sem barulho, sem notícias, sem verde, sem infância. A mecânica é um meio ou disciplina para a realização da vida, mas não a própria vida. Deveria nos levar para a própria vida. Aviação no ar, na água e no espírito. Suas leis são diferentes nos três casos. O espírito se eleva quanto mais pesa e se afunda. Quanto mais pesado o espírito, mais alto e mais longe ele voa. As artes (pintura, poesia, etc.) não são apenas essas. Comer, beber, andar também são artes; todo ato é uma arte. Saber mais é ser mais livre. Poetica do dramaturgo, escritor e jornalista peruano César Vallejo (1892-1938). Veja mais aqui.



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