sexta-feira, dezembro 11, 2009

AGLAJA VETERANYI, HILDA HILST, MILLÔR, RANDOLPH BOURNE & LITERÓTICA: MOTO PERPÉTUO


MOTO PERPÉTUO - É na cadência de tua ginga possante de refratária deusa que vou sirene alerta a errar afoito na poesia que se derrama da sinuosidade das ondas de mar de tuas ancas revolutas, delírios da vida, porto de amar. Eu já não sei de nada e perco tudo no encalço do rabo-de-arraia que se alheia flores do campo, aroma perfeito que faz-de-conta no inferno da minha insônia, no meio do moinho desse carrossel que é suíngue da carne como oblação que arde relembrado desejo no Jardim do Éden da minha luxúria. Ah sesso que me corrompe obcecado e que vou pronto para compor a harmonia de nossa melódica dança obscena, quando se mostra eivada de pecados de terra e céu virando minha cabeça num espetáculo fantástico que se faz afrodisíaco na minha idéia para o meu permanente estado de graça na primeira lua em torno da tua cintura ondulada de toda perversão gostosa de teu balanço formoso. Ah culatra da serva de Afrodite que manda ver num passe de mágica o verdadeiro simulacro no golpe sutil do teu charme coroando o amor e as nossas delícias na mecânica da sedução demarcando o moto-perpétuo do prazer e sexo encarnado ao meu toque no menor movimento das coxas que cede terreno, desimpedida pro meu paroxismo prestes a derramar em profusão no terreno baldio da tua exacerbação. Ah, minha Paulina, crédula matrona, sou teu mortal admirador acrimonioso disfarçado do deus Anúbis no nosso sagrado intercurso convoluto na captura desenfreada da convecção que se aventura tocha ardente transpondo limites pelo trajeto do teu insubmisso bordejar remexendo o quadril que estremece de desejo no frêmito do prazer. Ah pódice de hetaira cheia de graça que triunfa por tantas demandas profusas na matéria-prima do esplendor de toda maravilha do corpo esbelto agitado em convulsão para que eu seja nuvem de chuva na tua terra desejada de alcatra indulgente cumulada dos excessos da corrente tempestuosa e perversa a me afogar na maior tentação de umbral onde o predador faz ajuste de contas para que a serpente hiberne voluntariosa na gostosura do teu esconderijo sacralizado. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.


DITOS & DESDITOS - O coração tem imbecilidades que a estupidez desconhece. Para você parecer culto é só ficar de olho no que o outro cara ignora. Capacidade de saber cada vez mais sobre cada vez menos, até saber tudo sobre nada. Fique tranquilo: sempre se pode provar o contrário. Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito. A verdade é que a maior parte das pessoas foge de tentações que nem se dão ao trabalho de tentá-las. Não devemos resisitir às tentações: elas podem não voltar. Certas coisas só são amargas se a gente as engole. Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos. Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado. A gente só morre uma vez. Mas é para sempre. Viver é desenhar sem borracha. Pensamento do escritor, dramaturgo, tradutor, desenhista, humorista e jornalista Millôr Fernandes (1923-2012). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: Amizades são coisas frágeis, e requerem muito mais cuidado que todas as outras coisas frágeis que existem. Nossa verdadeira obrigação é sempre encontrada indo em direção dos nossos mais dignos desejos. Pensamento do escritor estadunidense Randolph Bourne (1886-1918).

A CASA - Um estrangeiro nato perdeu os seus sapatos. Ele os tinha esquecido em sua casa e jogado a casa em um rio. Ou será que a própria casa tinha se jogado no rio? O estrangeiro nato foi de rio em rio. Certa vez ele encontrou um velho debaixo d’água com uma tabuleta pendurada no pescoço: AQUI CÉU. O estrangeiro perguntou: Como assim, céu? O velho encolheu os ombros e apontou para a tabuleta. A casa voltou a aparecer, mas em um lugar completamente diferente. E, provavelmente, era outra casa, pois ela não se recordava mais dos sapatos do estrangeiro. Mais tarde, a casa perdeu sua porta. Texto da escritora romena Aglaja Veteranyi (1962-2002). Veja mais aqui e aqui.

A POESIA & A POETA - A poesia é o desafio do não-dizer, a impossibilidade de dizer algo. A matemática tem semelhança com esse estado de ser. Em ambas há manifestação do divino, algo tão perfeito que transcende tudo. Quero brincar meus amigos de ver beleza nas coisas. Costuro o infinito sobre o peito. Você nunca conhece realmente as pessoas. O ser humano é mesmo o mais imprevisível dos animais. Há sonhos que devem permanecer nas gavetas, nos cofre, trancados até o nosso fim. E por isso passíveis de serem sonhados a vida inteira. Há sonhos que devem ser ressonhados, projetos que não podem ser esquecidos... Amamos tanto e a perda é cotidiana e infinita. Amar é coisa de morrer e de matar... mas tem som de sorriso. Ama-me, é tempo ainda. A poética da escritora e dramaturga Hilda Hilst (1930-2004). Veja mais aqui.


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