quinta-feira, julho 02, 2009

HESSE, QUINTANA, JULIA LEMOS, MARX, FLORENCE NIGHTINGALE, DALI, BIDÚ SAYÃO, MAQUIAVEL, BIBLIOTERAPIA & VIOLÊNCIA NA ESCOLA

A arte do escultor e artista plástico israelense Yaacov Agam.

O QUE SE FAZ PELO JÁ FEITO – (Imagem: do escultor e artista plástico israelense Yaacov Agam) – UMA: DOS QUE SÃO & OS QUE NÃO SÃO – Existe gente para tudo! Seja para compartilhar e contribuir, seja para atrapalhar e destruir. Deu-me Maquiavel o tom de certos tipos: Há três espécies de cérebros: uns entendem por si próprios; os outros discernem o que os primeiros entendem; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem pelos outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os terceiros totalmente inúteis. Evidentemente que de lá dos tempos dele até agora, muitos outros tipos de cérebros, mais brilhantes ou peçonhentos resolveram dar as caras pra gente, mudança dos tempos. Aliás, dessas transformações ele mesmo previu: Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança. E outras tantas se processarão daqui pra frente, não se sabendo para o melhor ou pior, quem sabe. DUAS: DOS ALTOS & BAIXOS NÃO SE SABE O QUE PREVALECE, AFINAL - Pois sim, transformação é a lei da vida; tudo se altera com o correr dos tempos, desde mudança de pele aos pensamentos mais esdrúxulos e até aqueles tidos por definitivos. Há sempre uma onda majoritária, o tal zeitgeist, e todo mundo vai na leva, depois, com o tempo, é que se vê se boa ou não. Tenho sempre o pé atrás, Marx que vaticinou: O caminho do inferno está pavimentado de boas intenções. Depois é que a gente vê o tamanho do equívoco. E agora? O que fazer? Quintana que o diga: A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas. Agora sim, tenho que aprender a perguntar. TRÊS: NÃO HÁ RESPOSTA, TUDO ACONTECE! - Valho-me agora de indagar disso, daquilo, daquiloutro e o mais surpreendente é que as respostas pulam aos borbotões. Não mais uma resposta, muitas. Então, tudo que a gente fez e faz é que faz o labirinto de nossas vidas. Por isso vou de Florence Nightingale: Eu atribuo o meu sucesso a isto: eu nunca desisto ou dou alguma desculpa. Sigo sempre em frente, o que passou, passou; e o que virá, vou pronto ou não. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.


DITOS & DESDITOS - Você tem que criar a confusão sistematicamente, isso liberta a criatividade. Tudo o que é contraditório cria vida. O palhaço não sou eu, mas sim esta sociedade monstruosamente cínica e tão ingenuamente inconsciente que joga ao jogo da seriedade para melhor esconder a loucura. Pensamento do pintor e artista surrealista catalão Salvador Dali (1904-1989). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: Eu não tinha voz alguma quando comecei. Os professores me disseram que eu era muito nova ainda, que minha família ia gastar dinheiro à toa. Mas eu insisti, chorei muito, garanti que não me importava com bailes, namorados, festas. E comecei a cantar. Expressão da célebre cantora lírica soprano brasileira Bidú Sayão (1902-1999). Veja mais aqui.

DEMIAN – [...] O acaso não existe. Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade o conduzem a isso. [...]. Trecho extraído da obra Demian (Civilização Brasileira, 1975 ), do escritor alemão Hermann Hesse (1877–1962). Veja mais aqui.

TRÊS POEMAS - VIRÁ ESTE AMOR: Virá este amor / assim como depois da noite / vem o dia / e a água / encontra o seu caminho / pelas vertentes. DESEJO: Alguém me beijará / esta noite. / Beijos pelo corpo / que adentrarão a alma. / Arquejo / o cavalo salta o arco / à hora final da madrugada. / Eu sou o orvalho / a umidade me lava / e me desperta úmida / na manhã ensolarada.  MARCAS: Quero-me bela / quando amanheço: / brilho na face, / brinco de turmalina. / Mas como livrar-me / dos saltos imprevisíveis? / Sim, / as marcas redesenham meu corpo / e outra beleza / em mim vem surgindo: / a que vem da luz / que sobre mim se acende / ao sair para viver o mundo. Extraídos da obra A casa estrelada (CEPE, 1997), da poeta e atriz Julia Lemos.


BIBLIOTERAPIA – A função terapêutica da leitura admite a possibilidade de a literatura proporcionar a pacificação das emoções. Remontando a Aristóteles, observa-se que o filósofo analisa a liberação da emoção resultante da tragédia – a catarse. O ato de excitamento das emoções de piedade e medo proporcionaria alívio prazeroso. A leitura do texto literário, portanto, opera no leitor e no ouvinte o efeito de placidez, e a literatura possui a virtude de ser sedativa e curativa. [...] A biblioterapia constitui-se em uma atividade interdisciplinar, podendo ser desenvolvida em parceria com a Biblioteconomia, a Literatura, a Educação, a Medicina, a Psicologia e a Enfermagem. Tal interdisciplinaridade confere-lhe um lugar de destaque no cenário dos estudos culturais. É um lugar estratégico que permite buscar aliados em vários campos e um exercício aberto a críticas, contribuições e parceiras. A terapia ocorre pelo próprio texto, sujeito a interpretações diferentes por pessoas diferentes. Tanto é o texto que "cura", que já foi sugerido, inclusive, o uso do termo literapia, unindo literatura e terapia, com ênfase no literário e no ficcional. Permanece, entretanto, o uso do termo tradicional, biblioterapia. Vale destacar que não é a designação o mais importante na atividade de terapia da leitura, mas, o resultado obtido. Trechos extraídos do artigo A leitura como função terapêutica: biblioterapia (Revista Biblioteconomia, 2001), da professora da UFSC, Clarice Fortkamp Caldin, que em uma entrevista concedida à Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina (2018), à jornalista Carla Sousa, expressou que a Biblioterapia: [...] Passa primeiro pelo gosto de ler. Se o bibliotecário não gosta de ler ele não vai fazer essa atividade. Quando eu entrei para o curso de Biblioteconomia achava que ser bibliotecário era a coisa mais maravilhosa do mundo, porque poderia ler muita coisa, porque ia ler todos aqueles livros que ia catalogar e classificar. Mas teve uma coisa que me chocou muito. Uma professora disse: ‘vocês nem precisam ler o livro, basta ler a ficha catalográfica, ou a orelha do livro e dali fazem tudo’. E vejo que, muita gente, que ainda trabalha em biblioteca acha que é assim. Mas, é importante que leia mais que isso, o livro às vezes trata de mais de um assunto e ele tem de decidir qual é o mais relevante, pois o livro só pode ficar em um lugar da estante. Se o bibliotecário gosta de ler e, especialmente, gosta de literatura, isso já é um primeiro passo. Depois disso, é uma luta e nada vem de graça. Tem que tentar influenciar o diretor da instituição para que ele entenda o valor da literatura. Conseguindo isso, já é metade da luta ganha. E é preciso conquistar aliados, parceiros, porque sozinho ele não vai conseguir o trabalho neste universo temático. Ele precisa saber que vai enfrentar desafios. E, também tem que se apropriar da teoria para ficar mais claro o que vem a ser a Biblioterapia. Existem os artigos online, mas é necessário muita cautela e direção nessa pesquisa porque tem muito trabalho copiado. Às vezes, fico me perguntando se fazem isso por má fé ou má formação. Infelizmente, a maioria que escreve sobre Biblioterapia é aluno de Biblioteconomia, mas não usa corretamente a norma de citação, isso é recorrente. Hoje tem muita coisa escrita, mas não quer dizer que todas são boas. [...]. Pelo visto, a biblioterapia é a prescrição de materiais de leitura com função terapêutica, utilizada como um importante instrumento no restabelecimento psíquico de indivíduos com transtornos emocionais. Ela admite a possibilidade de terapia por meio da leitura, contemplando não apenas a leitura de histórias, mas também os comentários adicionais a ela, e propõe práticas de leitura que proporcionem a interpretação do texto. É também definida como o processo entre a personalidade, a realidade e os problemas do leitor, com a identificação com um personagem ou uma história. Essa identificação causa uma relação entre a literatura e o leitor, que incorpora traços dessas histórias para o seu mundo, permitindo ao leitor, conhecer suas emoções, conhecer emoções parecidas e ajudá-lo a superar seus problemas pessoais.


A VIOLÊNCIA NA ESCOLA - A violência é um fenômeno que tem ocorrido nos mais diferentes níveis sociais, profissionais, ambientais e culturais, entre outros, atingindo desde as camadas mais pobres da população, como as mais abastadas. Em razão disso, a violência tem se configurado por meio de uma multiplicidade de formas, ocorrendo no interior dos lares, no trânsito, no trabalho e em todas as relações humanas, notadamente na escola. A violência escolar tem assumido uma dimensão que vai desde os ataques ameaçadores e físicos, até o tráfico e consumo de drogas, bem como o envolvimento de estudantes das mais diferentes faixas etárias no crime organizado. Em razão disso que o presente artigo é destinado para abordagem da violência e seus reflexos na organização educacional, considerando ter a educação assumido papel fundamental na vida de qualquer pessoa, quando passou a ser desenvolvida para a promoção da dignidade humana e preparação para vida e para o trabalho.
A VIOLÊNCIA - A etimologia da palavra violência tem sua raiz, conforme Cavalcanti (2010), no prefixo latino vis significando força e traduzindo as idéias de vigor, potência, impulso e excesso. Para o autor mencionado, a palavra vem do latim violentia e do verbo violare com o significado de violento, bravio, profanação, transgressão. Tais idéias traduzem o sentido de violência, na expressão de Cavalcanti (2010, p. 29), como “[...] um ato de brutalidade, invasão, ofensa, proibição, sevícia, agressão física, psíquica, moral ou patrimonial contra alguém, e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela ofensa e intimidação pelo medo e terror”. Com essa idéia, a violência seria o próprio abuso da força. Neste sentido, no entendimento de Michaud (1989, p. 11): [...] há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de uma maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou mais pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais. Assim, o significado de violência, para Zimerman (2001), deve considerar o processo de uma agressividade sadia para o de destruição, em razão da ocorrência de transição identificada de um estado mental de vigor para o de uma violência. A conceituação de violência dada por Chauí (1998, p. 80) traduz o entendimento de “[...] conversão de diferença e assimetria numa relação hierárquica de desigualdade, com fins de exploração, dominação e de opressão”. É, segundo ela, a desigualdade de relação entre superior e inferior, uma ação que trata o ser humano não como sujeito, mas como uma coisa. Para Carvalho (2002, p. 137), a violência é “[...] uma agressão, de ordem física ou moral, voluntária, desferida contra um indivíduo ou contra um grupo, podendo ser legítima ou ilegítima”. Já para Sodré (1996, p. 207), o conceito de violência deve considerar a agressividade que é: [...] uma força resultante da disposição espontânea do ser vivo, como uma espécie de "pulsão motora" para o controle necessário do meio ambiente ou para as ações competitivas recorrentes na existência cotidiana e, neste sentido, enraíza-se tão profundamente quanto a propensão amorosa ou sexual na composição psicobiológica do ser humano. Porém, observa Silva Filho (2003, p. 32) que “O conceito de violência se instaura e ganha significado a partir da humanidade”, considerando que o homem rompe para transformar o mundo e a sua existência, implicando a capacidade de avaliar, escolher e atuar. Por isso, a violência se distingue de agressividade, extrapolando a noção de dano físico e incluindo o complexo caráter das interações sociais, assumindo, assim, uma multiplicidade de formas e intensidades, sejam de caráter moral, social, físico, psíquico, cultural, político, entre outros. Nessa direção Benevides (1983, p. 103) assinala que a agressão tanto é a ação como o efeito de agredir, atacar, ofender uma coisa ou pessoa, ou seja, um bem juridicamente protegido: [...] agredir significa atacar alguém na sua pessoa física ou moral ou em um dos seus bens juridicamente protegidos, que implica em hostilidade destrutiva, ou seja, a forma conflitiva investida por violência. [...] psicopatologicamente, a violência e a agressão não podem ser considerados patognomônicos de nenhum estado psicopatológico particular. Psicodinamicamente, a agressão deve ser considerada à luz da conjuntura sóciocultural. [...] a fisiopatologia da agressão e violência é um vasto campo por onde deverão desfilar infindáveis hipóteses e pesquisas. Além disso, as circunstâncias existenciais a que se submete o indivíduo durante sua trajetória de vida tendem a inviabilizar uma sistematização mecanicista acerca deste tipo de comportamento motivado. Já para Morais (1981, p. 25), a violência é entendida como “[...] tudo que possa agredir a integridade pessoal ora incluir desde o latrocínio até o trabalho de um operário em uma linha de montagem, passando pela especulação imobiliária e outros absurdos permitidos ou não pela lei”. Sob o ponto de vista pragmático, arremata, então, Cavalcanti (2010, p. 25) que a violência “[...] consiste em ações de indivíduos, grupos, classes, nações que ocasionam a morte de outros seres humanos ou que afetam sua integridade física, moral, mental ou espiritual”. No entendimento de Machado (2010) a violência é recorrente e sistemática na história da civilização: “[...] quando se visualiza todo sacrifício humano num sisifismo perene, provando, inclusive, a completa falta de compreensão, tolerância e solidariedade do próprio homem que se posiciona pela dominação e pela acumulação”. Nesta condução, Cavalcanti (2010, p. 30) assinala que a violência se apresenta “[...] em suas mais variadas formas de manifestação afeta a saúde porque representa um risco maior para a realização do processo vital humano: ameaça a vida, produz enfermidade, danos psicológicos e pode provocar a morte”. Por isso, a autora assinala que ela ocorre em inúmeros contextos, tanto na esfera pública quanto no âmbito privado. Percebe-se, mediante o exposto, que a violência possui sentidos diversos e diferenciados, que vão desde os atos de agressão física, desrespeito, hostilidade, discriminação, preconceito, insulto, abuso, lesão, assassinato, humilhação, indiferença ante o sofrimento alheio, pressões psicológicas nas interações opressivas, decisão política que produz conseqüências sociais nefastas, desvalorização sistemática dos filhos por seus pais ou das mulheres por seus maridos, negligência com os idosos e deficientes, orientação econômica que se abate sobre setores da população como um desastre da natureza e a própria natureza, quando transborda seus limites normais e provoca catástrofes. Por essa razão, de um modo geral, a violência se define como ações, atos e comportamentos que atingem os outros com danos, humilhações ou desrespeito, caracterizado pelo o uso injusto e abusivo de poder, representando tanto uma agressão física, como negligência, omissão, desvalorização, como transgressões e violações culpáveis ou dolosas.
AS CAUSAS DA VIOLÊNCIA - As causas que levam à violência são muitas e diversas que se manifestam de forma complexas que, para Cavalcanti (2010, p. 29): [...] é percebida de forma heterogênea e multifacetada, a partir da própria estrutura simbólica vigente na sociedade. [...] a percepção contemporânea da violência foi ampliada não apenas do ponto de vista de sua intensidade, mas igualmente na perspectiva de sua própria extensão conceitual. Com isso, pode-se identificar as causas da violência numa série de fatores que, conforme Pedrosa (2005), podem estar na pobreza, na miséria, na desigualdade, na distribuição de renda, entre outros. Para Machado (2010, p. 1), as bases da violência: [...] estão mesmo na insatisfação, na incompreensão e na falta de solidariedade. [...] no desenvolvimento da humanidade a insatisfação e a ganância, a incompreensão e a intolerância, o sectarismo e a imposição, a dominação e a servidão, e toda essa cultura fez eclodir a violência, a partir da demonstração da necessidade de dominação do homem. É o que deduz Cavalcanti (2010, p. 25) ao mencionar que a violência: [...] a violência seria própria da essência humana (do estado da natureza). [...] os homens são governados por um desejo gerador de conflitos e rivalidades que apresenta uma estrutura mimética: algo é desejável para alguém exatamente na medida em que também é desejado pelos outros, advindo daí um conflito. Esta atitude instintiva apenas pode ser contida quando a organização social substitui a violência de todos contra todos pela violão de todos contra um. Tal substituição é proporcionado pelo sacrifício, mecanismo que tem um papel social fundamental na medida em que funciona como instrumento de absorção da violência particular e de prevenção da violência futura. [...] a violência é uma possibilidade sempre presente, pois sua emergência depende, na verdade, dos próprios mecanismos de interação social [...] a constatação de que a organização social humana encontra-se marcada pelo fenômeno da violência. Os fatores contribuintes da violência, segundo Vasconcelos (2010), são inegavelmente a pobreza, a ausência do Estado no espaço de regulação do poder, a concentração de renda, entre outros, tornando com isso a violência um fenômeno com diversas causas. Salienta Machado (2010) que entre os fatores de promoção da violência, estão a impessoalidade das relações nas grandes metrópoles; na desestruturação familiar em razão das condições mínimas de afeto e convivência, sendo esta última causa e efeito; o subemprego que é um fato relevante porque afeta a auto-estima e provoca a busca por reconhecimento e sucesso a qualquer custo ou oportunidade; o tráfico de drogas ilícitas; a disseminação das armas de fogo; a desigualdade social,  a discriminação; a exclusão social; entre outros fatores. No dizer de Machado (2010) as desigualdades sociais aumentaram a pobreza e a miséria, tornando-se enormes por causa da concentração de renda que favorece apenas alguns setores. Com isso, nasce a crise social e econômica que aumenta a carência de oportunidades de trabalho, de saúde, de habitação, de ensino e de vida. Essa desigualdade é constatada por estudiosos como produtora da violência que é determinada por valores sociais, culturais, econômicos, políticos e morais de uma sociedade. E arremata que tais fatores resultam na violência e na criminalidade que se expressam desde os ataques morais, lesões corporais e éticas, abuso, seqüestros, roubos, impunidade, processualística ultrapassada, conivência e outros práticas violentas em geral. Neste sentido, identifica-se uma tipologia variada de violência que, segundo Maldonado (1997), pode ser estrutural, sistêmica e doméstica. A violência estrutural, no entendimento de Maldonado (1997, p. 9), é aquela “[...] referenciada ao estado e condições de extrema injustiça e adversidade sobre a parcela mais pobre da população”, esta identificada como de risco e expressada pela miséria e pobreza, pela falta de condições mínimas de dignidade humana, desigualdade pela má distribuição de renda, falta de assistência em educação e saúde, exploração nas relações de trabalho, crianças abandonadas, entre outros, como um efeito trágico da violação dos direitos humanos. A violência sistêmica, segundo Maldonado (1997), é aquela que se expressa por meio do autoritarismo do Estado, por meio da violência policial, da ação de grupos de extermínio e dos maus tratos e tortura aos encarcerados, violando os direitos humanos. Verifica-se, mediante isso, que existem além desses tipos outros tantos que são identificados por Santos (1995, p. 16), sugerindo que a violência é “[...] heterogênea, ou seja, varia de acordo com os grupos e espaços sociais, assumindo, pois, um caráter polissêmico e complexo”. Em vista disso, assinala Carreira (2012, p. 5) que “A violência é traduzida, hoje, como um fenômeno preocupante, pois é  presença marcante nas diversas sociedades de todo o mundo nas mais variadas culturas”, isso pelas formas variadas, sutis e camufladas perversamente das manifestações violentas nas relações sociais. Assim sendo, a violência está expressa de varias formas, como sendo nas guerras, na fome, na miséria, no desemprego, nas precárias condições de moradia, saúde e transporte, na injustiça, na impunidade, na destruição do meio ambiente, na corrupção, no racismo, na homofobia, na discriminação das mulheres, na tortura, nas chacinas, entre outras tantas formas de manifestação.
A VIOLÊNCIA NO BRASIL - A violência no Brasil, segundo Machado (2010), vem desde o primitivo enfrentamento tribal indígena e, principalmente em maiores proporções, desde o primeiro dia da invasão portuguesa para o processo de colonização em 1500, quando se deu o genocídio indígena e a escravidão que se prolongam disfarçados até o momento presente. Neste tocante, assinala Cavalcanti (2010, p. 30) As populações indígenas, vitimas iniciais desse processo, foram escravizadas ou exterminadas pelas guerras empreendidas pelo conquistador português. O segundo alvo da violência colonizadora foi a população negra. Como se sabe, entre os séculos XV e meados do século XIX, aproximadamente 30 milhões de negros foram violentamente retirados de seu continente de origem, traficados, mortos e transformados em escravos. Depois disso, conforme Cavalcanti (2010, p. 30), “No século XX a historia mundial foi marcada pela violência praticada por duas grandes guerras que vitimaram milhões de pessoas”. Nesse período, no entendimento de Adorno (1991, p. 66) que a violência endêmica alcançou níveis assustadores ampliada pelo envolvimento de policiais civis e militares na criminalidade, pelo fato da delinqüência e os crimes violentos terem aumentado, como também porque “[...] as políticas econômicas neoliberais aprofundaram as desigualdades de um sistema de relações sociais já bastante assimétricas e condenaram milhões de pessoas a viverem na pobreza e na exclusão social”. E isso mesmo com a promulgação da Constituição Federal de 1988 consolidou direitos e garantias ao cidadão. No presente se constata na realidade brasileira, segundo Cavalcanti (2010, p. 30) que: No inicio do século XXI, em que se tinha a expectativa de que a sociedade estaria tão evoluída a ponto de conviver em harmonia e paz, a mídia continua a denunciar o aumento sem precedentes de várias formas de violência, seja pela pratica de crimes, como assassinatos, seqüestros, roubos, estupros, ocorridos nos mais variados rincões brasileiros. [...] a face menos visível continua escondida e pouco reconhecida. São dados sobre o aumento do desemprego, da prostituição infantil, da diferença salarial entre homens e mulheres, entre pessoas brancas e negras, da pratica da violência domestica, etc. Esconde-se naquilo que se chama senso comum. Com isso, entende Cavalcanti (2010, p. 34), que a sociedade brasileira é marcadamente excludente: [...] Ela impede, sistematicamente, que uma grande parcela de seus cidadãos tenha acesso aos bens essenciais a sua nutrição, preservação da saúde, defesa da vida, entre outros. [...] Por isso é que os excluídos são ao mesmo tempo vitimas e autores dessa violência.  [...] o crescimento da violência criminal encontra-se associado à própria desorganização das instituições responsáveis pela manutenção da ordem publica, bem como à violência praticada pelas instituições, como nos casos de violência policial. Nesse cenário, Cavalcanti (2010, p. 33) detecta no Brasil: [...] diversas formas de violência, como a violência urbana, a violência praticada pela discriminação contra as minorias (negros, índios, mulheres, crianças e idosos), a violência social em virtude dos altos índices de desigualdade social e pobreza, a violência doméstica, entre outras. O crescimento da violência no Brasil não é composto de uma única explicação. Certamente se encontra associado à lógica da pobreza e da desigualdade socioeconômica. [...] não há como negar a relevância da desigualdade socioeconômica na explicação do crescimento da violência. [...] exige analise dos vários aspectos da denominada exclusão social. A violência com ocorrência no recinto escolar no Brasil, por exemplo, é fruto de processo histórico marcado pela opressão e pela desigualdade social, entre outos fatores contribuintes.
A VIOLÊNCIA NA ESCOLA - Na escola, segundo Cunha (2009), a violência é multifatorial e está relacionada com o comportamento, tendo um impacto considerável no sistema educacional brasileiro, tornando-se um dos principais problemas de saúde pública no país. A violência escolar, segundo Vasconcelos (2010) possui diversas formas diferentes de manifestações, seja por roubo, depredações, agressões, vandalismo, ameaças, tráfico de drogas, entre outras, envolvendo professores e alunos por meio de situações conflituosas e violentas. É o que contextualiza Carreira (2012, p. 6) ao assinalar que “[...] tem sido palco de manifestações agressivas, variando desde depredações até agressões verbais e físicas”, por meio de ações nefastas como vandalismos, incivilidades, ferimentos, violência sexual, agressões verbais, roubos, bullying, crimes, entre outros, formando um manancial de relações conflituosas. Isso sem contar, conforme Abramovay (2009), com casos de homofobia, racismo, obstáculos nas relações entre professores e alunos, formas diversas de violências físicas e simbólicas. As causas da violência na escola, segundo Marra (2004), são indefinidamente variadas, considerando desde as causas sociais identificadas na ausência de políticas públicas inclusivas que permitem a exclusão social, inibem o acesso a uma educação de qualidade e trabalho digno, até as causas psicológicas que incidem na sobrevivência, aceitação e autoafirmação, a exemplo da formação do poder paralelo do narcotráfico. No ambiente escolar, Abramovay (2009) identificou três tipos de violências, quais sejam: a dura, a simbólica e a microviolência ou incivilidade. A violência dura, segundo Abramovay (2009), é aquele que se refere aos atos enquadrados como crimes ou contravenções penais, tais como ameaças, lesão corporal, furto, roubo e tráfico de drogas, entre outras. A violência simbólica, para Abramovay (2009), é aquela que se caracteriza pela forma de dominação e poder estruturada na sociedade permitindo que as pessoas não percebam a violência. Observa Silva Filho (2003) que a violência simbólica que ocorre dentro do universo educacional converge para a violência tipificada na ocorrência policial, tais como pichações, ameaças, agressões, estupros, homicidios, explosões, depredações, tráfico e consumo de drogas, compondo o as normas, os valores, a visão de mundo e processos sociais. Isso se deve ao fato do afastamento do Estado da arena social, quando as escolas passam a ser destituidas de seu carater agregador para seguirem à propria sorte nas ações administrativas e políticas. Já a microviolência ou incivilidade, na visão de Abramovay (2009), é aquela violência não contradiz os regimentos e regras dos estabelecimentos, nem a legislação, identificadas nas grosserias e desordens. Nesse contexto, entende Camacho (2012, p. 8) que esse tipo de violência “[...] decorre da falta de controle sobre as condutas e da ausência da civilidade, incorpora a idéia de fundo de que é a civilização que canaliza e estabelece a contenção dos instintos”, isso porque a escola é considerada responsável pela hominização e civilização dos alunos, exercendo completo controle sobre suas emoções, condutas e impulsos agressivos. Entende Vasconcelos (2010, p. 190) que “A violência nem sempre está nos jovens pela influência do tráfico existente nos bairros onde residem. Eles podem recursar as nomeações recebidas, vindas sob a forma de nomes, olhares, atitudes para com eles”, uma vez que o descaso, injúria, discriminação e preconceito por serem moradores da favela é o que recusam, encontrando saída na violência para destruir o outro. Além do mais, observa Camacho (2012) que as medidas de repressão da violência adotadas pelas escolas são, muitas vezes, dribladas pelos alunos, por isso, intensamente perigosa porque não é controlada por ninguém, não possui regras ou freios e porque passa a ocorrer constantemente no cotidiano escolar. No contexto da violência da escola, um fator importante a ser considerado é a família e as relações familiares dos estudantes, bem como a relação destes com a escola. A família, segundo Ribeiro (2007), exerce papel fundamental no comportamento, vivência e socialização dos alunos, devendo ter a percepção na percepção do mundo envolvente e nas relações interpessoais, sendo, portanto, observada no contexto da comunidade que a integra. No seio familiar, identifica Cunha (2009), que estão as bases e causas da violência escolar, considerando a interação entre pais e filhos, na identificação de comportamentos que vão desde a autoridade, responsividade e afetividade dentro das práticas parentais. Esses comportamentos vão determinar o vinculo relacional entre os filhos e os colegas e professores no recinto escolar. Nesse contexto, seleciona Cunhar (2009) que encontram-se os pais autoritários, como sendo aqueles que controlam coercitivamente os filhos e concedem pouca autonomia a eles. Também os permissivos que são aqueles que são pouco exigentes, responsivos e envolvidos com os sentimentos dos filhos. Os negligentes que são aqueles que possuem baixo nivel de responsividade e exigência, indiferentes às necessidades do filho. E, por fim, o autoritativo que são aqueles pais que possuem altos níveis de exigências, responsividade e envolvimento por meio de controle adequado. Nesse sentido, entende o autor acima mencionado que o ambiente familiar reflete na relação escolar, uma vez que uma familia desequilibrada encaminha esse desequilíbrio para a escola. Daí ser importante o papel da familia na educação dos filhos. Há que se considerar, ainda, a observação de Cunha (2009, p. 38) de que “Embora a maior parte dos comportamentos anti-sociais protagonizados por adolescentes ocorram em contextos extrafamiliares, como na escola ou na comunidade, existem fortes evidencias de que este comportamento tem suas raizes no ambiente familiar”. Tal fato se embasa na expressão de que contribuem para a violência, segundo Ribeiro (2007), fatores sociais tais como o desemprego, a pobreza e a classe social, as relações interpessoais no seio do agregado familiar, entre outros, que afetam indubitavelmente algumas comunidades e famílias, além de sustentar a violência. É nesse contexto que se encontra a escola, quando, depois da promulgação da Constituição Federal de 1988, passou a ser a organização não só responsável pelos conteúdos acadêmicos, mas pela promoção da dignidade humana e do exercício da cidadania, bem como pela preparação para a vida e para o trabalho de todo cidadão brasileiro, conforme expresso no art. 205 da Carta Magna, regulamentado pela Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Apesar das previsões legais, a escola se encontra submersa numa série de fatores, entre eles, o da desigualdade social, pobreza, má distribuição de renda, malversação do erário público, entre outros, que coibem o cumprimento do seu papel e, por consequência, imobilizada por tal, torna-se impotente no combate à violência. A escola se encontra, segundo Ribeiro (2007) num contexto sociocultural carenciado e que recebe discentes pertencentes majoritariamente a uma classe social baixa, apresenta um ethos de baixa qualidade, se se levar em conta as percentagens elevadas de vitimação, agressão e até de insegurança, bem como exercita suas funções onde o Estado não marca sua presença institucional. Dentro desse conglomerado de fatores, ainda vem, conforme mencionado anteriormente, a situação das famílias que incidem diretamente sobre a convivência, comportamento e relação dos estudantes. Por isso, entende Ribeiro (2007), os pais devem procurar não só fomentar a comunicação com os filhos, através da partilha de momentos de lazer mas também pôr em prática um estilo autoritário-democrático pois práticas educativas demasiadas rígidas ou permissivas, perturbam o desenvolvimento psicossocial da criança, podendo até desenvolver comportamentos agressivos. Nesse cenário, defende Silva Filho (2003) que se faz necessária a adoção de políticas públicas direcionadas para a dinamização e o aparelhamento do ambiente escolar, bem como de outras políticas que devem ser ratificadas, notadamente aquelas alusivas às conquistas dos direitos sociais apoiadas no principio da dignidade humana e no exercicio da cidadania. Por fim, Guadalupe (2007), Abromavay (2009) e Magalhães (2006) defendem a necessidade de adoção de uma política articulada e integrada envolvendo os principais atores, visando possibilitar o desenvolvimento das aprendizagens indispensáveis aos alunos da escola básica, tanto no plano da autorrealização de cada criança ou jovem quanto no plano social para o exercício consciente de uma cidadania ativa, isso porque a escola hoje não tem mais apenas o papel de ensinar conteúdos acadêmicos, mas também de ensinar comportamentos e cidadania, colaborando na formação do caráter dos estudantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS - O presente artigo abordou a questão da violência e os seus reflexos no ambiente escolar, considerando o papel da educação, a ausência do Estado, as relações familiares e as causas e efeitos que o desequilíbrio existente entre estes, possam corroborar um ambiente hostil que possibilite a violência na organização educacional. Preocupou-se inicialmente em fundamentar teoricamente a violência, suas causas, consequências, configurações e formas, para identificar a violência no Brasil, notadamente no ambiente escolar. Tendo por objetivo descrever e analisar a situação da escola diante do fator violência, observaram-se as previsões constitucionais e as regulamentações dadas pela LDB, no propósito de que a educação por ser um dever do Estado e da família, deve, por consequência, ser realizada de uma forma articulada de ações entre a escola, as autoridades e a familia. Além do mais, a educação que passou a ter o papel de promover a dignidade humana e o exercicio da cidadania, preparando o cidadão para a vida e para o trabalho, necessita, por sua vez, dessa ação articulada entre a escola, o Estado e a familia para que a escola possa cumprir o seu papel. Essa articulação, evidentemente, depende de políticas públicas direcionadas para tal, procurando estabelecer a promoção contínua do bem-estar social, da dignidade humana e do exercicio da cidadania. Por conclusão, observou-se que a violência possui um carater multiforme, complexo e global, tornando-se um fenômeno que acomete toda a sociedade nos seus mais diferentes níveis sociais. Constatou-se com esse estudo que a violência incide diretamente no desenvolvimento e nos resultados da ação educativa, tendo causado inúmeros problemas tanto para professores, como para alunos, familiares e comunidades. Essa violência que atinge diretamente professores, alunos, pais e comunidades, tem seu reflexo na sociedade em geral, contribuindo para o desequilíbrio social. As causas da violência e as suas consequencias podem ser prevenidas por meio de políticas públicas e ações de valorização do ser humano, principalmente a organização escolar que agora envolve não só seus profissionais e alunos, como toda comunidade que assiste.
REFERÊNCIAS
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