DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE
AQUELA... INVENÇÃO DE ASA - Para quem a pedra
se Sísifo sou e muitos para tantas que rolaram ribanceira abaixo, trajetos interrompidos,
errâncias no desiderato. Para quem o chão, abrigo e punição, se Anteu sou na
imensidão do ermo, desvalido e só, nada mais. Para quem o ar se Ícaro sou entre
tempestades e asteroides, voos abissais e em queda livre. Para quem as cinzas se
Fênix sou entre ciclones, furacões, tornados e tufões, à deriva pelas
correntezas. Dos tantos redemoinhos, a primeira paragem me trouxe Helena Blavatsky: Os ramos da árvore são sacudidos pelo vento;
o tronco permanece imóvel. A mais importante de todas as obras é o exemplo da
própria vida. Do que sou, apenas invenção de asa.
DUAS ENTRE DITOS & DESDITOS - Juntar os a favor, conto nos dedos e olhe
lá. Um... dois? Ninguém. Os do contra, o mundo inteiro. Por ali, não; acolá,
muito menos. Por onde? Valha-me! E se era difícil, ficou muito pior. E em dose
dupla, arre! Valho-me mesmo da invenção de asa. Não dá pra ser de outro jeito,
nunca mais alvíssaras. Ouço Miguel Torga:
Recomeça... se puderes, sem angústia e
sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em
liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só
metade. Essa a lição: ou tudo, ou nada. Para quem não tem nenhum, resta
mesmo começar sempre do zero para ver se um dia uma combinação binária dá
certo. Voo.
TRÊS: A DANÇA DO ARCO-ÍRIS – Era eu ainda menino quando me contaram
sobre a lenda indígena da dança do arco-íris. Era quando o chão dava umas sacudidas
da gente não parar em pé, cada sopapo. Era assim: um dia fui caçar e ao tentar
acertar uma ave, errei a pontaria. Puxa! Nenhuma novidade nisso. Sim, a flecha
enfincou-se no chão e, ao puxá-la, vi que havia uma fenda: era um outro mundo. Eita!
Espantei-me e avexado tampei o buraco e fui embora. Fiquei em casa matutando.
Não contei para ninguém, tá doido? Dias depois, a curiosidade me levou de
volta. Fui lá. Criei coragem e desci pela fenda, às escondidas. Declive íngreme,
escorregava, me segurava como podia. Insisti. Um longo tempo descendo, maior
dificuldade. Até que escapuli e caí não sei onde. Era um lugar muito bonito.
Foi surpreendido pela recepção de uma linda índia: Aqui é o mundo das nuvens. E
é? Encantado e tímido, entabulamos conversa, cheios de interrogações. Esse sou
eu e você? Patati, patatá, conversamos muito e me esqueci de voltar. Todos os
dias, ela lá, aquilo é que era paraíso. E me ensinava coisas maravilhosas, até
deu-me de presente um cristal que toda vez que o Sol brilhava nele abria-se um
lindo arco-íris que a gente corria para escorregar e conhecer outros tantos
mundos maravilhosos. Minha nossa! Enquanto caminhávamos ela bailava entre
pássaros e árvores, a recitar poemas que me tocavam a alma, linda demais.
Depois de muitos encantadores passeios, perguntei-lhe o nome: Emmy Hennings. Hem? E me recitou A última alegria (Segundo poema de Die Letzte Freude): A chuva bate nas janelas. / Uma flor brilha em vermelho. / Ar frio
sopra contra mim. / Estou acordado ou morto? / Um mundo está longe, longe / Um
relógio bate quatro vezes lentamente. / E eu não sei por quanto tempo / em seus
braços eu caio. Aí eu acordei, era um sonho mais que real. E ela, a
escritora, bailarina e atriz alemã Emmy Hennings (1885-1948), integrante do Cabaré Voltaire com inestimável
contribuição para o Dadaísmo. Veja mais aqui.
ACUPE GRUPO DE DANÇA
O desejo de saber o que é o amor esbarra no que não pode ser dito com
palavras.
O Acupe Grupo de Dança foi criado em 2007
e coordenado pelo produtor cultural, bailarino e arte-educador Paulo Henrique
Ferreira, para fomento da criação artista em dança contemporânea no Estado de
Pernambuco, oferecendo cursos de formação. Nas comemorações de 10 anos, em
2009, o grupo encenou o espetáculo Banquete de amor e falta, com dramaturgia de
Flávia Gomes e reflexões nas perspectivas filosóficas e psicanalíticas acerca
das possibilidades de amar, a criação de movimentos e como essas dinâmicas se
modificam. Em 2019, o grupo comemorou 12 anos de trajetória com a temporada do
espetáculo Tijolos do esquecimento, criado a partir da obra Cidades invisíveis,
de Italo Calvino, com uma dramaturgia da poeta Flávia Gomes, propondo um
mergulho imaginário urbano e na memória afetiva da cidade. (Foto: Rogério
Alves). Veja mais aqui e aqui.