quarta-feira, novembro 06, 2019

SOPHIA BREYNER, ADORÉE VILLANY & CORREIO SENTIMENTAL


SOPHIA ETERNA POESIA - O que foi feito ou dito, aconteceu. O que não se perdeu, quase não mais. A vida passou, nenhum temor, explicação alguma e nenhuma data, morada, simulacro ou inutescência: o mundo é o lugar da imperfeição. De fato, o que ficou, nada mais que a lembrança de sua raiz dinamarquesa do Porto na quinta fabulosa, a memória das casas que desapareceram com a nau de Laura, as manhãs da Granja, o jardim perdido e dali a noite para as historietas infantis da menina do mar e a floresta, coisas do coração e de viver. Sou rio na praia abandonada como Endymion - como o rio que atravessou a sua vida no estio da paixão cega e nua. E nos cruzamos no frio da noite entre o silêncio e a solidão, nos estiramos na rua de abril e foi possível que cometesse a sua escrita na carne do meu peito que sangrou e sorrio enquanto exaltações se fizeram de amor e amante. A brisa trouxe o beijo da sua boca amena e eu entrei pela manhã que era sua e passamos Antinoo, um ao outro, exilados na inteireza e a sós. Eu possuí todas as praias em que você foi mar e abraçou a minha alma perdida para que eu vivesse no bailado dos seus sonhos que voltaram e tomaram os meus que serão sempre seus. Justa foi a forma do seu corpo ao meu nos dias de verão e longos desejos inquietos de tocar e não prender entre quatro paredes a libertação madura da carne que exultou de felicidade, ao mesmo tempo que sangrou na distância que dilatou músculos e dores persecutórias. Acontecia-lhe o poema escrito por ninguém, feito por si só e a falar de si e o que não se vê, aprendi da poesia do seu sorriso e na entrega do seu amor. Não posso ignorar a sua Cantata da Paz, o Nome das Coisas, as Cidades Acesas, o Tempo Dividido e a reza pelos pescadores em alto mar. A busca pela justiça foi tudo no tempo em que vivemos. Nunca mascarei a virtude nem comprei perdão, não me calo, nem tenho medo, muito menos germino na podridão, voo de mãos dadas com o perigo e a morte. Perfeito é não quebrar, porque os outros sempre chegam tarde, não sabem de si nem de nós, só deles. Na sua e na ausência de todos, também a minha loucura de florir a vida, de beber a lua cheia, a minha biografia no tempo e no chão da minha terra. Eu que sempre fui rio, um dia serei mar e areia aos seus pés, também jamais amarei quem não possa viver sempre, nem darei ao tempo a minha vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Há mulheres que trazem o mar nos olhos / Não pela cor / Mas pela vastidão da alma / E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos / Ficam para além do tempo / Como se a maré nunca as levasse / Da praia onde foram felizes. / Há mulheres que trazem o mar nos olhos / pela grandeza da imensidão da alma / pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens… / Há mulheres que são maré em noites de tardes… / e calma. Poema O mar dos meus olhos, da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004). Veja mais aqui, aqui & aqui.

TELEGRAMA SENTIMENTAL
Amor com amor se paga
Isto é modo de dizer
Por mais amor que me pague
Ficará sempre a dever
TELEGRAMA SENTIMENTAL – (Imagem: Quermesse, de Anita Malfati) – Quadra extraída da obra Quadras anônimas (Olimpia, 1997), de José Sant’Anna, registrada por Luís da Câmara Cascudo, no seu Dicionário do folclore brasileiro (Global, 2001), dando conta do correio-elegante que era um entretenimento que consistia em enviar mensagens escritas, em versos ou não, a alguém com quem se desejava estabelecer contato. Outra quadra como: O passado está gravado / neste correio tão puro / quero guardar para sempre / recordação pro futuro. Mais outra: Nesta quermesse tão bela / onde tudo é alegria / falta somente você / para a minha companhia. Cascudo assinala que era costume tradicional rapazes e moças trocarem mensagens por ocasião de quermesses, festas religiosas, até mesmo pelo sistema de alto-falantes, em cidades do interior. Em forma de quadrinhas, são em geral verdadeiras declarações de amor. Veja mais aqui.

A ARTE DE ADORÉE VILLANY
A arte da coreógrafa e bailarina francesa Adorée Villany, que iniciou sua carreira no teatro, quando apresentou a Dança dos Sete Véus e, posteriormente, incorporou o texto da peça Salomé, de Oscar Wilde, em sua performance. Seus trabalhos exploraram temas míticos, históricos e orientais, além de possuírem qualidades abstratas, afora temas de pinturas de artistas contemporâneos como Franz Stuck e Arnold Böcklin. Ela desenhou suas próprias roupas e descobriu seu corpo durante suas apresentações. Foi processada por obscenidade em Munique em 1911, sendo posteriormente absolvida; o júri constatou que seu desempenho estava no "maior interesse da arte". Sua pena foi uma multa em 200 francos pelo Tribunal Correctnel em Paris por exposição indecente. Publicou um livro sobre dança, Tanz-Reform und Pseudo-Moral, em 1912, que expressava seus princípios estéticos. Veja mais aqui.