quinta-feira, novembro 22, 2018

MARGARET ATWOOD, TOMOKO MUKAIYAMA, DAVID WALKER & ROBERTA ABREU


SEGUIR ADIANTE – Quantos segredos no meu exílio noites a fio madrugada adentro e as lembranças povoam o menino travesso na beira do rio que me deu a vida e o aprendizado de empinar papagaios, galinha d’água na corrente, a terra batida ao solado dos pés, trelas e folgas aos quatro ventos. Quantas vezes não fui ao brinquedo para saber que outros nem tinham como brincar, e brincávamos todos aos pulos e arengas, apostas e desafios, o que parecia nunca mais acabar. Quantas vezes não me atrepei em muros e galhos seguros à cata das intimidades femininas com suas vestes sumárias a cobrir seus corpos seminus, areando panelas, lavando roupas, tomando banho, nada mais radiante que a exposição de coxas e seios, a findar em carreiras na hora do flagra. Quantas vezes a pedalar pelas ruas enfrentando surpresas juvenis por catombos ou empurrões de corpo, mãos esquentadas na calçada e arranhões arrancando samboques aos joelhos, a fuga dos latidos e a pressa de ir pra casa me livrar de reprimendas e castigos. Tantas não foram sob o céu nublado de nuvens carregadas inaugurando a temporada no inferno e o vento úmido anunciando a invernada que me faria doravante sobrevivente das horas mais periclitantes. Quantos segredos guardados na cidade que gemia aos golpes da tirania, com todos os arroubos da violência e na violação dos direitos, tiros e lâminas entre os dentes que rangem outros temores e a minha morada mais parecia um navio que ia a pique, quilha partida, para que eu e muitos procurassem salvação à deriva no mar aberto de todas as adversidades. A cidade antes minha cada vez mais estranha e eu estrangeiro ao desalento pelo sufoco de mercenários déspotas esquentados pelo álcool sobre os submissos antepassados e nenhum gesto esboçado, a tomar de mim e de todos o que era de todos a sumir na festança invisível. Era ali que aprendia indignação com as invectivas das víboras com seus pretextos obsequiosos de tramar travessia a pregar zis peças e minha gente embotada levando corda para farsantes truculentos e nada mais era que um deserto das miragens coloridas. Não me podia dar de ombros e reduzir-me ao silênci0, nem queria, nem me fazia alheio a tudo com olhos túmidos e tímidos salvando as nesgas de sonho entre mãos e abraços, e por quimeras que julgava a hora certa e passavam incólumes pro desapontamento, outras vezes vinham incendiando os ânimos para serem jamais. Tantos segredos esquecidos na memória e os anos se passaram acumulando o arrastado e aprendia às duras penas a lição que não devia. E aprendi de verdade o temperamento ameno pelas bênçãos de Deus e mil vezes abençoado na perseverança por duros labores, não podia me acomodar e nenhuma queixa nos lábios quando tudo saía errado e até algumas vezes dava certo quase nenhuma, assobiando de contentamento por ter que enfrentar sempre e a cada dia com bonomia entre mutirões na inexprimível satisfação de ter o peito aberto paratodos que sequer sabem dos segredos da alvorada e a se valerem da vida após o crepúsculo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] A Natureza exige variedade para homens. [...] As mulheres sabem disso instintivamente. Por que elas compravam tantas roupas diferentes, nos velhos tempos? Para enganar os homens levando-os a pensar que eram várias mulheres diferentes. Uma nova a cada dia. [...] pararei de reclamar, aceitarei meu destino. Eu me sacrificarei. Eu me arrependerei. Abdicarei. Renunciarei. [...] Quero continuar vivendo de qualquer forma que seja. Renuncio a meu corpo voluntariamente para submetê-lo ao uso de outros. Eles podem fazer o que quiserem comigo. Sou abjeta. Sinto, pela primeira vez, o verdadeiro poder deles. [...]
Trechos da obra O conto da Aia (Rocco, 2017), da premiadíssima escritora e crítica literária canadense Margaret Atwood. Veja mais aqui.

A ARTE DE DAVID WALKER
A arte do artista britânico David Walker.

AGENDA:
O novo CD da cantora e compositora Roberta Abreu & muito mais na Agenda aqui.
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A música é dela, Hermilo Borba Filho, Oswald de Andrade, Alfred Whitehead, Michel Foucault, Irmãos Grimm, Aglaura Catão, Eliane Elias, Terra Chapman & São Joaquim do Monte aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música da pianista, compositora, artista e diretora japonesa Tomoko Mukaiyama: Japanese Erótica, Sonatas de Sofia Gubaidulina, Inner Peace de Vanessa Lan & Op Oerol & muito mais nos mais de 2 milhões & 900 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui e aqui.