sexta-feira, outubro 05, 2018

THIAGO DE MELLO, VIOLETA PARRA, POUND, RACHEL DE QUEIROZ, FECAMEPA & PLANEJAMENTO BRASIL


CRÔNICA PROS QUE LEMBRAM E OS QUE IGNORAM - Imagem: Prisionero inocente (1964), da compositora, cantora, artista plástica e ceramista chilena Violeta Parra (1917-1967) - Pros que se lembram do que fomos tantas décadas, quantas idas e vindas, abraço amigo, há quanto tempo. Ainda menino eu já sabia que o Sol nasce para todos e que alguns acham que não pode ser assim desse jeito, como se apenas uns poucos fossem filhos de Deus e a maioria esmagadora fosse o rejeito que devesse ser eternamente condenada para o bem dos escolhidos. Há quanto tempo, tantos aprendizados. Se eu não tivesse o que saber com a dor, jamais renasceria das lições, sirvo-me da luz para valer na vida. O que seria a fortaleza aos escombros, se não tivesse de reconstruir a cada dia tudo a se desmoronar: sou das cinzas a maior feitura. Quantas convicções teimadas e posicionamentos irredutíveis não levaram ao arrependimento, só o tempo para sacar a besteira e quase não há como redimir, nunca é tarde, para ali ou para lá, tanto faz, embaixo há sempre segredos irremovíveis, acima é para estar. Ainda dá tempo, nunca é tarde. Meio dia ou meia noite, ainda é parte, ou foi ou será um dia inteiro. Valho-me da saudação pros bons que se foram e pros que teimam juntos na mesma causa, esses não precisam pedir licença, entrem para seguir sempre a Canção do Tamoio: a vida é luta renhida, viver é lutar. Nunca olvidar, pelo menos um aceno para embalar os cricris e desavisados que vão na onda – os bons sempre vão, os chatos que ficam enchendo o saco. Para esses que são como cantiga de grilo, pisada no calo, chute no testítulos ou dor de dente que castiga com fúria, feitos de ódio dos intolerantes que nasceram com a bunda pra lua e nem se dão conta do privilégio, a tripudiar sempre mais sobre os demais e a cuidar apenas do que é seu entre quatro paredes das confidências impublicáveis, eles não sabem o que fazem, nada demais, e isso não é de hoje. Nunca entendi direito o berro fogo de monturo daqueles que se acham donos da razão, exaltados sectários com proposta de segregação e desrespeito étnico e de gênero, exclusão, pena de morte e autoritarismo, nossa! Ainda hoje atrozes nem consideram o que há milênios prepondera no inventário da humanidade, tão batido na escola das séries iniciais, a história que se repete por conta dos desmemoriados ou maluvidos que insistem no antigo jeito desumano que nunca deu certo para ninguém, só para os que acoloiados que se agarram com unhas e dentes em nome de uma santa guerra tão terrível. Para eles apenas sorrio com compaixão por serem tão rudes e viverem em suas próprias trevas. Da minha parte, eu continuo amando a vida, alma leve, peito aberto, asseguro que tenho aprendido a domar os animais selvagens que arengam dentro de mim, fazendo com que eu desmorone de noite e amanheça como se nada tivesse acontecido, refeito, íntegro com autodomínio, esquecendo o que devia relevar e nenhum remorso atormentando para morrer em paz. Que a compreensão reine nos corações, assim seja. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da compositora, cantora, artista plástica e ceramista chilena Violeta Parra (1917-1967): Decimas y centésimas, Composiciones para guitarra, Ultimas canciones & com Mercedes Sosa & muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui e aqui.

DITOS & DESDITOS – [...] Os homens não alcançam compreender os livros enquanto não chegam a ter certa dose de experiência da vida. Ou, de qualquer modo, homem algum consegue compreender um livro profundo enquanto não tenha visto ou vivido pelo menos parte de seu conteúdo. O preconceito contra os livros surgiu da obtusidade de homens que se limitaram a “meramente” ler. [...]. Extraído da obra ABC da Literatura (Cultrix, 1977), do poeta, músico e crítico literário estadunidense Ezra Pound (1885-1972). Veja mais aqui e aqui.

PLANEJAMENTO BRASIL - O planejamento de longo prazo é um processo exaustivo e contínuo que apresenta dificuldades em se consolidar no Brasil. Construir estratégias para o longo prazo é resultado de reflexão sobre as dificuldades do passado, os desafios do presente e as possibilidades de futuro. Mais do que um processo de busca de respostas, é um exercício constante de encontrar perguntas corretas. A sociedade brasileira não deve se acuar defronte às incertezas do futuro, do contrário, pode encontrar nelas os principais objetos de transformação na direção aos futuros possíveis e desejáveis [...] interação entre as variáveis analisadas é a porta de entrada para um novo período de incertezas e transformações para o Brasil, bem como de reflexões, oportunidades e escolhas no processo de desenvolvimento do país. Daí reside a necessidade de reflexão e antecipação no presente das possibilidades de estratégias para o futuro. [...]. Trechos extraídos da obra O futuro do Estado no Brasil e seus impactos na sociedade: questões para o desenvolvimento até 2035 (IPEA, 2017), dos pesquisadores Raphael Camargo Lima e Maurício Pinheiro Fleury Curado. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

VOTAR - Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama governo democrático, ou govêrno do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato. No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: governo do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVERNO. Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo de tempo. Escolhem-se pelo voto aqueles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia. Escolhemos igualmente pelo voto aqueles que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aqueles que irão estipular a quantidade desses impostos. Vejam como é grave a escolha desses “cobradores”. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gota de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bolso. E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhem-se não só aqueles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem aqueles que vão “fabricar” o dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos. Pois se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país entregue a uma quadrilha de falsários. Eles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais zero. Não preciso explicar muito este capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa fome o que é ter moedeiros falsos no poder. Escolhem-se nas eleições aqueles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático. E, circunstância mais grave e digna de todo o interesse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de todas as forças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias. E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fez um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio – lembrem-se de que não vão proporcionar a esses sujeitos um simples emprego bem remunerado. Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para eles comandarem – e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhe dá o povo. Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fossem. Entregamos a esses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra – e a flor da nossa mocidade, a eles presa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador. Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva. Porque, afinal, a mulher quando é ruim, dá-se uma surra, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o governo, quando é ruim, ele é que nos dá a surra, ele é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da boca dos nossos filhos e nos faz apodrecer na cadeia. E quando a gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e fogo. E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar este ou aquele candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto. Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem medo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem medo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada à força, e escute apenas a sua consciência. “Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno”. Crônica publicada em O Cruzeiro (1947), da escritora, jornalista, dramaturga e tradutora Rachel de Queiroz (1910-2003). Veja mais aqui.

FULGOR DE SONHODe tudo o que já me deu, / agradeço à vida o sonho / da rosa que não ganhei. / Minha mão não alcançou / a estrela que desejei. / Seu fulgor o sonho inventa, / invisível no meu peito. / O navio embandeirado / que espero desde criança / está custando a chegar. / Não faz mal, canta o meu sonho, / as águas que ele navega / sabem a sal de esperança. / Nada perdi... como posso / perder o que nunca tive? / Vivo a vida do meu sonho, / meu sonho de sonho vive. Poema extraído do livro Campo de milagres (Bertrand Brasil, 1998), do premiadíssimo poeta amazonense Thiago de Mello. Veja mais aqui.

A ARTE DE VIOLETA PARRA
A arte da compositora, cantora, artista plástica e ceramista chilena Violeta Parra (1917-1967). Veja mais aqui e aqui.

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