quinta-feira, maio 31, 2018

WHITMAN, AGAMBEN, PASTERNAK, MARLOWE, MÉRET OPPENHEIM, PAULINHO DA COSTA & MELISSA ETHERIDGE


ÚLTIMA CARTA DE MAIO – Imagem: arte da fotógrafa e artista plástica suíça Méret Oppenheim (1913-1985). - A última canção quase nem terminei, fez-se menos tons lúgubres que desentoadas entonações. Sou o que sobra da memória e a casa aos ventos, tenho cá minhas fraquezas e enfermidades. A noite inteira a minha cabeça às escuras e os ossos expostos na desrazão do crânio. Não há como sobreviver a si mesmo: o testamento de nada às mãos, asas desabridas prum voo sonhado da última viagem sagrada na infância e o precipício da queda ao partir. O último poema eu quase perdi, versos obtusos que se desfizeram por completa inaptidão. Não os tenho mais e que me tolerem se não quero que me vejam âncora perdida diante dos louvores com guirlanda de elogios que me fazem gigante que não vale polegada, sei, são apenas adornos e o atoleiro afronta quem fica ou se ausenta, nem tudo é como a gente quer e pensa. A última carta quase nem escrevi, amontoados de frases à fórceps, tão esdrúxulas quanto eu mesmo aos corações contidos em que sobrevém o recato. Que venham os que pararam e não parem os que seguiram, ainda que tudo isso seja apenas uma semente qualquer de erva molhada, para que eu reveja os mortos feitos nas minhas cinzas jogadas ao rio que nasci. A mim me resta apenas a módica poesia, ela injeta sangue nas veias, uma palavra após outra quando o pó da noite que nada vale dão meus dentes pra sorrir no ritual das emoções, mesmo que as dores não tenham sarado o talho da promessa pra cumprir e o esquecimento. Eu parti pra viver e não mais me engasgar com picuinhas disso ou daquilo, aos plenos voos o que é o presente senão agora. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do percussionista Paulinho da Costa: Agora, Tudo bem com Joe Pass & Bahia Funk com Lee Ritenour; da cantora e compositora estadunidense Melissa Etheridge: Best songs, Unplugged & The diferente; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAOs detentores do poder ficam tão ansiosos por estabelecer o mito da sua infiabilidade que se esforçam ao máximo para ignorar a verdade. Pensamento do escritor russo Boris Pasternak (1890-1960), que também se expressou sobre a ciência: Os progressos da ciência obedecem à lei da repulsão: para dar um passo em frente, é preciso começar por derrubar o domínio do erro e das falsas teorias. E sobre a arte: A arte serve a beleza, e a beleza é a felicidade de possuir uma forma, e a forma é a chave orgânica da existência; tudo o que vive deve possuir uma forma para poder existir, e, portanto, a arte, mesmo a trágica, conta a felicidade da existência. Veja mais aqui.

LIVROS NAS ESTÂNCIAS - [...] Podemos imaginar que também para os livros existe uma “Biblioteca dos destinos” semelhante, em cujas infinitas prateleiras estão conservadas as variáveis possíveis de cada obra, os livros que poderíamos ter escrito se, a um certo ponto, algo não tivesse decidido em favor do livro que acabou sendo escrito e publicado. O livro real ocupa aqui o ápice de uma pirâmide, em que os inúmeros livros possíveis se precipitam de andar em andar até o Tártaro, que contém o livro impossível, que nunca poderíamos ter escrito. Não é uma experiência fácil, para o autor, entrar em semelhante Biblioteca, porque a seriedade de um pensamento se mede sobretudo na relação com o passado [...]. O ato de criação não é, na realidade, segundo a instigante concepção corrente, um processo que caminha da potência para o ato para nele se esgotar, mas contém no seu centro um ato de descriação, no qual o que foi e o que não foi acabam restituídos à sua unidade originária na mente de Deus, e o que podia não ser e foi se dissipa no que podia ser e não foi. Este ato de descriação é, propriamente, a vida da obra, o que permite a sua leitura, sua tradução e sua crítica, e o que, em tais coisas, se trata cada vez mais de repetir. Exatamente por isso, contudo, o ato de descriação, a despeito de toda perspicácia irônica, foge sempre, em alguma medida, do seu autor, e só desta maneira lhe consente continuar escrevendo. A tentativa de apreender integralmente este núcleo des-criatório em toda criação, para encerrar definitivamente a sua potência, só pode levar o autor à cessação da escritura ou ao suicídio (Rimbaud e Michelstaeder), e a obra, à sua canonização. É muito arriscada, para quem escreve, a relação com o passado, ou seja, com o abismo do qual lhe provém a possibilidade que ele mesmo é. (Se o autor, no caso do presente livro, ainda está escrevendo, e em que medida, na esteira e na urgência das possibilidades que este lhe havia aberto, é algo que outro, melhor do que ele, partindo dos livros sucessivos, poderá julgar.) A vida do autor coincide, nesta perspectiva, com a vida da obra, e julgar as próprias obras passadas é o impossível que só a obra ulterior inevitavelmente cumpre e procrastina. Trechos extraídos da obra Estâncias; a palavra e o fantasma na cultura ocidental (EdUFMG, 2007), do filósofo italiano Giorgio Agamben. Veja mais aqui.

VENDER A ALMA AO DIABO - [...] Quando acordou, Fausto procurou Helena em sua cama, mas a cama estava vazia. Teria sonhado? Mas as lembranças lhe pareciam tão reais! Se fosse um sonho, será que ele esqueceria dos detalhes, do cheiro, da cor dos olhos e dos cabelos dela? Isso o angustiava muito e ele lembrava que seu tempo havia chegado ao fim. Pensava que não havia perdão para ele, talvez houvesse perdão para a serpente que ofereceu a maçã para Eva no Paraíso, mas não para Fausto. Desejou que nunca tivesse aprendido a ler ou que não tivesse sido tão ambicioso. Desejou que tivesse tido uma vida mais humilde, porém mais livre. Fausto queria chorar, mas os demônios tinham lhe roubado as lágrimas e apenas um pouco de sangue corria em sua face. Ele queria pensar em Deus, mas depois de tantos pecados não se sentia digno, não achava justo procurar por Deus e também temia a vingança de Lúcifer. Quando faltava uma hora para a meia-noite, para o final de seus poderes, Fausto desejou que o tempo parasse, que uma hora durasse um dia e que um dia durasse uma semana e uma semana um mês. Para que tivesse tempo de recomeçar e de se arrepender. Talvez procurar seus amigos, mas as estrelas continuavam a se mover no céu e os ponteiros continuavam girando nos relógios. Quando faltava meia hora para o fim, Fausto desejou que a teoria de Pitágoras estivesse certa e que quando ele morresse sua alma migrasse para algum animal e que assim não fosse atormentado nem pelo céu, nem pelo inferno. Quando o relógio badalou meia-noite, Fausto quis ser uma gota de água que caísse no oceano e nele se fundisse. Assim ficaria protegido e seguro. Mas o que aconteceu foi que Satã entrou em seu escritório e abriu as portas do inferno, de onde serpentes gigantescas vieram ao seu encontro, enrolando-se em suas pernas e pescoço, sufocando sua respiração e o arrastando para a fogueira das torturas infernais. Trechos extraídos da obra Trágica história do doutor Fausto (Ridel, 2007), do dramaturgo, poeta e tradutor inglês Christopher Marlowe (1564-1593). Veja mais aqui e aqui.

TRÊS POEMAS - A UM ESTRANHO: Estranho que passa! você não sabe com quanta saudade eu lhe olho, / Você deve ser aquele a quem procuro, ou aquela a quem procuro, (isso me vem, como em um sonho,) / Vivi com certeza uma vida alegre com você em algum lugar, / Tudo é relembrado neste relance, fluído, afeiçoado, casto, maduro, / Você cresceu comigo, foi um menino comigo, ou uma menina comigo, / Eu comi com você e dormi com você – seu corpo se tornou não apenas seu, nem deixou o meu corpo somente meu, / Você me deu o prazer de seus olhos, rosto, carne, enquanto passamos – você tomou de minha barba, peito, mãos, em retorno, / Eu não devo falar com você – devo pensar em você quando sentar-me sozinho, ou acordar sozinho à noite, / Eu devo esperar – não duvido que lhe reencontrarei, / Eu devo garantir que não irei lhe perder. A VOCÊ: Estranho! se, ao passar, você me encontrar / e desejar falar comigo, por que não falar comigo? / E por que eu não falaria com você? ÀS VEZES COM ALGUÉM QUE AMO: Às vezes com alguém que amo, me encho de fúria, pelo medo de extravasar amor sem retorno; / Mas agora penso não haver amor sem retorno – o pagamento é certo, de um jeito ou de outro; / (Eu amei certa pessoa ardentemente, e meu amor não teve retorno; / No entanto, disso escrevi estas canções.). Poemas do poeta, ensaísta e jornalista estadunidense Walt Whitman (1819-1892). Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE MÉRET OPPENHEIM
A arte da fotógrafa e artista plástica suíça Méret Oppenheim (1913-1985).


Wilson Monteiro Cantarolando muito forró & muito mais na Agenda aqui.
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Cine Mosquito & Jiddu Saldanha
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A arte do cartunista e desenhista Mike Deodato Jr.