quarta-feira, abril 04, 2018

EINSTEIN, HAZEL HENDERSON, SILLANPÄÄ, FRANCESCA WOODMAN, BROWNING, JARDS MACALÉ & CIDA MOREIRA

AS VOLTAS QUE ESSA VIDA DÁ – Imagem: Transitory ghosts and angels (2007), da fotógrafa estadunidense Francesca Woodman (1958-1981) - Nadilianinha foi à luta. Depois de assediada pelo padrasto, esporros da mãe ocupada na feira com a venda das verduras, sozinha e sem esperanças, foi no voo do namorado, promessas de paraíso. No caminho pra São Paulo fizeram farra, uma filha e um monte de dívidas. Ao chegarem lá, o namorado saiu pra procurar emprego e nunca mais voltou. Sozinha, grávida e entre desconhecidos, caiu na vida. Manicure, pedicure, ajudante de cabelereira, faxineira diarista, babá de crianças e animais, vendedora porta-a-porta de todo tipo de brebotes, rifas e quitutes, virava o dia pra cima e pra baixo, até o dia de não aguentar mais, deu à luz e ficou feliz com a filhinha nos braços. Ninguém para ajudar, improvisou uma tipoia na caixa dos peitos e saiu varrendo a rua, biscates e um trocado pra comer no final do dia. Ano após ano, pretendentes, afazeres e vaidade na ponta do nariz, dias e noites a fio, carregava a carga, amealhando algum trocado graúdo pra voltar com a cara lisa pra casa da mãe. O padrasto havia morrido, a genitora com uma mão na frente e outra atrás, atendeu o pedido. Com o retorno, reformou a casa e montou salão de beleza. Não era São Paulo, era a decepção de uma cidade interiorana nordestina. O dinheiro acabou, o salão quase às teias de aranha, precisava mudar. Ou arrumava um bom partido pra casar, ou caía na prostituição. Nenhum dos dois. Homem, pra ela, estava fora de questão. Recomeçou varrendo a rua e oferecendo serviços com todas as suas aptidões. Os olhares da cobiça masculina rondaram sua formosura, cada oferta de quase cair dura de tanta fortuna. Não foi na lábia dos enrolões, mandou ver, retomou a vida, correu atrás, fez de tudo virando noite na cozinha, varrendo chão, lavando banheiros, a cara com dignidade, nenhum amor-próprio, o desemprego, a carestia, a penúria. Partiu pro campo, um dia, dois, das cinco da manhã ao por-do-sol, não aguentou o corte da cana mais uma tarde, dores nas costas, impaciente, desesperada, a filha adolescia rebelde, a mãe caducando comia-lhe o juízo, prestes à loucura, para tudo. Chega. Olhou-se no espelho e se perguntou: Quem sou eu? As lágrimas lavaram as faces, já não era tão jovem quanto estimava, nem tão bela como pensara, cabelos grisalhos, rugas, cansada. As dores roubaram o seu sorriso. Refletida no espelho a cara da morte, nada mais. Sabia das escolhas: enlouquecer de vez ou mudar de vida. Há anos tanto fizera pra nenhum horizonte. Sentiu-se fracassada. Optou pela loucura. Lá vai ela doida levantando a saia como quem festeja os ventos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor, cantor e ator Jards Macalé: Amor, ordem e progresso, Ao vivo & Real grandeza; da cantora & atriz Cida Moreira: Summertimes, Abolerado blues & Álbum; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA[...] Estamos, portanto na encruzilhada dos caminhos. Ou tomaremos a estrada da paz, ou a estrada já freqüentada da força cega, indigna de nossa civilização. É esta nossa escolha e por ela seremos responsáveis! De um lado, liberdade dos indivíduos e segurança das comunidades nos esperam. Do outro, servidão dos indivíduos e aniquilamento das civilizações nos ameaçam. Nosso destino será aquele que escolhermos. [...]. Trecho da obra Como vejo o mundo (Nova Fronteira, 1981), do físico teórico alemão Albert Einstein (1879-1955). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

VER & VER - [...] Ao tentarem maximizar os lucros, as pessoas, as empresas e as instituições procuram ‘exteriorizar’ todos os custos sociais e ambientais [...] Sgnifica que elas excluem esses custos de seus balanços e os empurram para outros, transferindo-os para o sistema, para o meio ambiente e para as gerações futuras. [...]. Pensamento da economista futurista e iconoclasta inglesa, Hazel Henderson, extraído de Sabedoria incomum: conversas com pessoas notáveis (Cultrix, 1995), de Fritjof Capra. Veja mais aqui.

SANTA MISÉRIA - [...] Durante muito tempo, Jussi foi presa de ligeira perplexidade. A fazenda possuía salas vastas e limpas, havia mesmo aposentos nos quais nunca se entrava. Ele recebia suficientemente uma boa almentação. Mas, enquanto bebia café varias vezes por dia em Kinnila, aqui nunca lhe ofereciam, embora preparassem com frquencia. Com este regime, seu corpo anêmico fortificou-se muito rapidamente; ao contrario, sua inteligência ficava meio embotada, uma sonolência particular, expressão de saúde excessiva,prostrava todo o seu ser. Seus tendiam a arregalar-se com um ar embrutecido e frequentemente nada compreendia, quando se mandava ir aqui ou ali. Quando devia desincumbir-se de um encargo, lugares lhe eram estranhos e ninguém lhe ensinava, apenas lhe davam a ordem de ir. Não ousava pedir explicações, apenas acontecia-lhe ficar plantado no pátio até que a fazendeira se cansasse de esperar e saísse prontamente para ver “quanto tempo ele ia levar para procurar esta selha”. Jussi tê-la-ia levado de boa vontade numa corrida se soubesse e compreendesse a ordem da patroa. Foi a partir dessa época que ele foi marcado pela reputação de ser vagaroso e bronco, um pouco idiota. [...]. Trechos extraídos da obra Santa miséria (Delta, 1966), do escritor finlandês Frans Eemil Sillanpää (1888-1964), Prêmio Nobel de Literatura de 1939.

POEMAFoi, talvez, uma só, uma vez, apenas: / encontramo-nos ambos, no caminho, / tu eras o pardal solitário num telhado / eu, a pandoleja erma, com a mesma plumagem. / Tua tarefa era repetida entre os gravetos e o barro, / e trabalhavas com os dedos, jogando a argula, amassando-a, esmerando-a, / depois riste: “Estes verão qualquer dia, / Smitg construído e Gibson demolido. / Minha missão era cantar, canta e cantar; / chilrei, trinei, trilei, e gorjeei, / “Kate Brown aqui estará, dentro em breve, / e a existência de Grisi amargurada!” / Não apanhei mais, por um gorjeio, / do que tu, ao riscares no barro; / querias um pedaço de mármore / e eu precisava dum mestre de música. / Muito meditamos, à nossa manieira, / bicamos uma migalha de pão, como os hindus, / pois o ar, envolvendo as telhas, / vinha zombeteiro, até às nossas janelas. / Brincavas como um menino do Sul / de boné e blusa – e ainda com uns tracinhos de barba / que arranjaste, esfregando o teu bico e os dedos / onde o barro aderira. / E não demorei a divisar / pequenos pontos que, na cerca florida, / me espreitavam, / forçando-me a cerrar a cortina, / para, assim tranqüila, atar os cordões do espartilho. / Não houve malícia! Nem foi miinha a culpa / se nunca volveste teus olhos para o alto. / Enquanto eu emitia um “mi” agudo, / que corria a escala cromática. / A primavera era uma súplica aos pardais em par, / moços e moças se entretinham em adivinhações, / e o alimento, em nosso caminho, era escasso: / havia, apenas, junco e agrião. / Por quê não atiraste, espetada / numa bolinha de barro, uma flor? / por quê não revelei a força / da gratidão num olhar nem a exaltei num canto? / Eu parecia livre de receios como um lince, / (e todavia, a recordação ainda dói). / Quando os modelos chagaram, uma menina / viva, subiu, correndo, a escadaria. / Mas, acredito que te considerei bondoso: / “Aquele estranho companheiro – como pode saber / que ela paga, com tanta alegria, / a afinação do seu piano?” / Poderia falar assim, mas não o faças nunca, / “Imaginemos que juntamos as nossas mãos, e as nossas fortunas / eu trago do caminho o teu piano / e tuas canções longas ou curtas”. / Não, não; nem serias diligente, / nem eu mais célebre – alguma coisa mais: / ainda tens de matar Gibson, / e Grisi ainda vive na opulência. / Mas tu encontrarás o Príncipe à mesa, / eu sou rainha nos bailes à fantasia, / casei-me com um lorde rico e velho, / e tu és um cavalheiro armado, da Real Academia. / Ambas as vidas ainda imperfeitas, como vês, / mostram-se em tudo desartucaladas, / não suspiramos profundamente, / nem rimos livremente nem sofremos fome, / não banqueteamos nem afligimos em busca da felicidade. / Ninguém te considera inculto, / e todos me acreditam inteligente: / isso teria acontecido uma única vez, / e, perdendo o ensejo, nós o perdemos para sempre. Poema do poeta e dramaturgo inglês Robert Browning (1812-1889).

A ARTE DE FRANCESCA WOODMAN
A arte da fotógrafa estadunidense Francesca Woodman (1958-1981).


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Das manchetes ao inútil tudo é vendido e consumido, a literatura de Paulo Mendes Campos, a música de Art Farmer, Lee Morgan & Benny Golson, a fotografia de Ramses Marzouk, a pintura de Maurice de Vlaminck & Maria Áurea Santa Cruz aqui.