FREYARAVI &
A SALVAÇÃO DO CATIVEIRO – Imagem: arte da
poeta, artista visual & blogueira Luciah
Lopez. - Errava caeté por terras distantes, atraído pelo clima e abundância
de frutas e caças, ao deus dará. Já me acostumava com aquelas paragens até
então pacatas e apaziguadoras, quando senti presságios no ar. Deu-me a
impressão de que me observavam às escondidas, perseguido pelo matagal. Fique à
espreita e logo percebi a presença hostil pelas cercanias. Não demorou muito,
surgiram de esconderijos inesperados, muitos índios a me atacar. Lutei com eles
o que pude e logo chegaram outros com seus soberbos cavalos e investindo contra
mim. Fiz-me afoito, sozinho, a responder seus golpes, eram muitos e cada vez
mais, não conseguia suplantá-los e tentei fugir sem obter êxito, pois me
feriram e, na queda, logo me cercaram e me capturaram com suas flechas pro cativeiro,
amarrado e conduzido para a ocara, em meio de gritos de vitória dos guerreiros.
Fui exposto como prêmio e logo fizeram fogueiras e passaram a cantar e danças,
saboreando caças moqueadas, regadas a uma bebida que parecia um vinho de mel. Por
conta dos ferimentos, desfaleci; e ao recobrar os sentidos, aprisionado e
ferido, recebia cuidados de uma bela índia. Logo me afeiçoei a ela por sua
forma carinhosa de me tratar. Ouvia sua voz me falar, mesmo sem entender
direito, mas que me dizia ter ela nascido dos rios caingangues. Linda e cheia
de encantos, durante o dia cuidava de mim. Logo ouvi alguém chamá-la: Yaravi! Esse
o nome dela e, pelo visto, reprovavam o tratamento a mim dispensado. Ela sumiu
com os demais, ao final da tarde retornou e me segredou cuidadosamente, pelo
que pude entender, que durante a noite voltaria. Logo anoiteceu e enquanto a
tribo toda festejava a minha captura, um vulto de mulher surgiu na escuridão. Não
pude identificar nem fazer menção de qualquer gesto, vez que ferido ainda me condoía.
Ela fez sinal de silêncio, tocou-me e nada mais vi. Só dei por mim muito tempo
depois dentro de um quarto em ruinas, acompanhado de uma deusa que me curava
com um ritual carregado de orações. Quando os primeiros raios de Sol surgiam,
ela desaparecia como por encanto. E já manhã ensolarada, chegava Yaravi com
mantimentos para me alimentar. Depois de me assistir na primeira refeição do
dia, ela se despedia prometendo retornar mais tarde. E só na escuridão da
noite, a deusa reaparecia para os seus rituais, sumindo na madrugada. Várias luas
se passaram e todos os dias eu ouvia lá longe os festejos da tribo. A deusa
reapareceu de repente e me fez levantar: Vamos, teremos guerra e preciso de
você. Durante os folguedos tribais, a fumaça das fogueiras atraiu bandeirantes
que tencionavam invadir a tribo para escravizá-los. Travou-se combate, as flechas
e lanças de nada serviam diante das armas de fogo dos invasores. Foi aí que tomei
partido pelos aborígenes e providenciei estratégias de defesa ao ataque
inopinado. Luta renhida se fizera, porém, felizmente, nossa coragem e bravura forçaram
os inimigos a abandonar a luta, fugindo aos bandos. Quando deram pela minha
presença no combate, logo me renderam. Na manhã seguinte, Yaravi teve a coragem
de pedir a seu pai que me concedesse a liberdade, alegando minha participação
na luta contra os forasteiros. Os guerreiros se reuniram em assembleia,
deliberaram sob os mais calorosos protestos e aquiescências, concedendo-me, por
fim, a satisfação do seu pedido, sob a condição de que eu acompanhasse a tribo.
E assim fui salvo. Por meus feitos a partir de então, fui adquirindo notável influência,
acabando por me tornar conselheiro entre eles. Em noite festiva agradeci a
Yaravi por ter-me salvo, porém meu gesto de gratidão estava transformado em
amor. Ela olhou-me diante da confissão feita, trêmula e, meia sem jeito, abraçou-me
afetiva e demoradamente. Pude, então, tomar ciência de que aquela índia era a
mesma pessoa da deusa que me aparecia durante a noite. Quis saber dela,
respondeu-me: Freyaravi. E fizemos nosso pacto de amor e nunca mais desgrudei
dela. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá Todo dia é Dia da Mulher com especial com a cantora, compositora e instrumentista Joyce: Feminina, Revendo amigos & Ao vivo; da pianista Eliane Rodrigues: Momentos musicais, Étude op 25 Chopin & Pour le piano
Debussy; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Toda
educação, sistemática ou não, expressa uma visão de mundo que reflete a
realidade socioeconômica e política em que está inserida. Pensamento
extraído da tese de doutoramento em Filosofia, sobre a temática Valor e educação (PUC, 1983), do
professor José Misael Ferreira do Vale.
EDUCAÇÃO – [...] o
homem necessita produzir continuamente sua própria existência. Para tanto, em
lugar de se adaptar à natureza, ele tem que adaptar a natureza a si, isto é,
transformá-la. E isto é feito pelo trabalho. Portanto, o que diferencia o homem
dos outros animais é o trabalho. Trecho extraído da obra Pedagogia histórico-critica:
primeiras aproximações (Cortez & Autores Associados, 1991), do filósofo e pedagogo Dermeval Saviani. Veja mais
aqui.
REPRESSÃO SEXUAL - [...] A
repressão da sexualidade natural da criança, e em particular da sexualidade
genital, torna-as apreensiva, tímida, obediente, cheia de medo da autoridade. “Simpática”
e “bem comportada”, no sentido autoritário; paralisa as suas tendências
rebeldes já que a revolta desperta a ansiedade; engendra, ao inibir a
curiosidade sexual da criança e as suas relações sexuais, um abaixamento
generalizado das suas faculdades mentais e do seu sentido crítico. Em resumo, o
objetivo da repressão sexual consiste em fabricar um individuo que poderá
adaptar-se à sociedade autoritária e que a ela se submeterá apesar de todo o
sofrimento e humilhação que é vítima. [...]. Trecho da obra Psicologia de massa do fascismo
(Escorpião, 1974), do médico, psicanalista e cientista natural Wilhelm Reich
(1897-1957). Veja mais aqui.
A FAMÍLIA E A FUNÇÃO SOCIAL DA REPRESSÃO SEXUAL – A unidade da célula familiar apoia-se na
obediência das crianças a seus pais. Já vimos que as crianças, ao aprenderem a
obedecer aos pais, aprendem a obedecer de um modo geral. Os resultados obtidos
pela educação familiar são transferidos para todas as situações onde o adulto
se encontra diante de um superior hierárquico. Ora, a repressão sexual faz
parte da educação familiar. Os pais castigam os filhos que se masturbam e
vigiam a hora a que sua filha volta para casa. Para se adaptarem ao meio
familiar, os hovens têm portanto que recalcar a sua sexualidade (inversamente,
a afirmação destas necessidades sexuais é revestida de um significado de
revolta contra os pais. Quando uma jovem volta para casa às seis horas da manhã
desafia os pais). É castigando os filhos que os pais lhes ensinam a obedecer e
obtem deles a renuncia ao prazer sexual. [...] Isto implica que a ansiedade associada à expressão de desejos sexuais
está ligada à angustia suscitada por todas as tendências rebeldes, já que a
sexualidade e as veleidades da rebeldia são indistintamente reprimidas pelos
educadores. [...] A criança acaba por
ter medo desses sexuais e dessas tendências à revolta, e impede-os de se
manifestarem. [...]. Trecho de A
repressão sexual (Martins Fontes, 1972), de Michel Cartier.
OS OLHOS ALONGADOS DE ANITA – [...] Os
olhos alongados de Anita não se fechavam como os das outras mulheres, mas como
os olhos dos tigres, pumas e leopardos, com as duas pálpebras juntando-se
preguiçosa e lentamente; e estas pareciam levemente unidas próximo do nariz,
tornando-se mais estreitas, com um relance lascivo e obliquo pendendo dos
olhos, como o olhar de relance de uma mulher que não quer ver o que estão
fazendo em seu corpo. Tudo isso dava a ela um ar de quem estava fazendo amor
[...] Anita estava se vestindo em meio a
uma profusão de flores; e, para deleite dos admiradores sentados à sua volta,
estava pintando o sexo com batom, sem permitir que eles fizessem qualquer
movimento em sua direção. [...] ela
apenas ergueu a cabeça e sorriu para ele. Estava com um pé apoiado sobre uma
mesinha, o requintado vestido brasileiro estava levantado e, com as mãos cheias
de joias, retomou a pintura do sexo, rindo da excitação dos homens à sua volta.
O sexo dela era como uma gigantesca flor de estufa, maior do que qualquer um
que o Barão já houvesse visto, e o pelo em volta era abundante, encaracolado,
negro acetinado. Eram aqueles lábios que ela pintava como se fossem uma boca,
muito requintadamente, de modo que ficaram como uma camélia vermelho-sangue
aberta à força, mostrando o botão interior, o cerne mais pálido e de pétalas
mais delicadas da flor. [...] Depois
é que se seguia a performance pela qual Anita era famosa em toda a América do
Sul, quando os recônditos camarotes do teatro, no escuro, com as cortinas
semicerradas, enchiam-se de homens da sociedade de todo o mundo. As mulheres
não eram levadas àquele espetáculo de variedades de alta classe. Ela havia se
vestido de novo com o traje de saia rodada que usara no palco durante as
canções brasileiras, mas não estava de xale. O vestido não tinha alças, e os seios
fartos e abundantes, comprimidos pelo corpete justíssimo, avolumavam-se para
cima, oferecendo-se quase que por inteiro ao olhar. Nesse traje, enquanto o
resto do show continuava, ela fazia a ronda dos camarotes. Lá, mediante
solicitação, ajoelhava-se diante de um homem, desabotoava as calças dele,
pegava o pênis com as mãos cheias de jóias e, com um toque de bom gosto, uma
destreza, uma sutileza que poucas mulheres já desenvolveram, chupava-o até satisfazê-lo.
As duas mãos eram ativas como a boca. A delícia daquilo quase privava os homens
dos sentidos. A elasticidade das mãos; a variedade de ritmos; a mudança entre
um aperto de mão em todo o pênis e o mais leve toque na ponta, entre a pegada
firme de todas as partes e o mais leve roçar dos pêlos em volta – tudo isso por
uma mulher excepcionalmente linda e voluptuosa, enquanto a atenção do público
estava voltada para o palco. Ver o pênis entrar na boca magnífica, entre os
dentes brilhantes, enquanto os seios arfavam, dava aos homens um prazer pelo
qual pagavam generosamente. A presença dela no palco preparava-os para a aparição
nos camarotes. Ela provocava-os com a boca, os olhos, os seios. E, para
satisfazê-los, junto com a música, as luzes e a cantoria, havia uma forma de
entretenimento excepcionalmente picante em um camarote escuro e com as cortinas
semicerradas acima da platéia. [...]. Trechos extraídos da obra Delta de
Vênus (Artenova, 1978), da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977).
Veja mais aqui.
BEIJO DE MULHER – Beijo
de mulher medrosa / dado escondido, às escuras, / é a melhor das aventuras /
que a alma do homem goza. / Convém que o beijo se tome / depois de renhida luta,
/ que é como se fosse fruta / comida por quem tem fome. / O beijo é concedido /
com liberdade e franqueza / é como uma sobremesa / depois de um jantar sortido.
/ Mas o beijo que enamora / e provoca mais desejo / é quando a dona do beijo /
soluça, suspira e chora. / Porém o melhor sabor / é quando a mulher nos nega: /
porque então a gente pega / e beija seja onde for... Quadras do poeta
paraibano Luís Dantas Quesado (Luiz
Siqueira Dantas – 1850-1930), considerado o maior glosador do Brasil de todos
os tempos.
PRÊMIO HERMILO BORBA FILHO DE LITERATURA
A
Biblioteca Fenelon Barreto informa aos interessados que estão abertas até o
próximo dia 09 de março de 2018, as inscrições nas categorias de conto, poema
ou romance, do Prêmio Hermilo Borba Filho de Literatura. Maiores informações
aqui.
Veja mais:
Errâncias de quem ama, promessas da paixão, A origem
das estrelas & os Bororos Orientais, a música de o Richard Strauss & Leonie Rysanek, o teatro de Oscar Wilde, a
escultura de Sonia Ebling de Kermoal, a arte de Dorothy Lafriner Bucket & Todo dia é dia da mulher aqui.
Origem da Vida & Programa
Tataritaritatá aqui.
A Pesquisa, Michel Randan, Arthur
Koestler, Alan Watts, A
ignorância, a Natureza Humana & Metodologia Científica aqui.
Carl Gustav Jung, Pierre Weil &
Tagore aqui.
Jorge de Sena, Habermas, Trova &
Trovadorismo aqui.
Nietzsche, Oniomania & Shopaholic,
Noam Chomsky, Madame de Staël, Flimar & Djavan aqui.
O Apocalipse da Atualidade, Heidegger,
Carl Rogers, Konrad Lorenz & Ubiratan D’Ambrósio aqui.
José Saramago, Rogel Samuel &
Programa Tataritaritatá aqui.
Gato escaldado pra se enturmar é um pé na
frente e outro atrás aqui.
Dos temores da infância aos arroubos
juvenis aqui.
O verbo no coração do silêncio aqui.
O trauma da moça aqui.
É pra ela, Carlos Gomes & Silviane Bellato,
Neila Tavares, Heloneida Studart, Maria Esther Maciel, Monica Bellucci, Piet
Mondrian, Edwin Landseer & A lenda Mundurucu Quando mandavam as mulheres aqui.
Direito de Família, Psicologia Escolar,
Pedofilia, Liderança & Psicose Puerperal aqui.
O pensamento de Darcy Ribeiro aqui.
Direito Autoral, Psicologia Social,
Trabalho & Doenças Ocupacionais aqui.
Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido &
da Autonomia aqui.
As trelas do Doro: vai tomar no quiba,
porra aqui.
Contribuições da Filosofia Greco-Romana
para a Psicologia & I FLIC de Cambuquira aqui.
História da mulher: da antiguidade ao
século XXI aqui.
ARTE DE LUCIAH LOPEZ
As pedras (resignadas)
criam limo
e nas asas das andorinhas, o vento faz cafuné!
A tampa do mundo se abre, e,
eu vejo o céu___________ o mesmo céu
que embalou "il sommo poeta"
A tampa do mundo se abre, e,
eu vejo o céu___________ o mesmo céu
que embalou "il sommo poeta"
A Terra, exilada dos meus
pés tenta dormir
resfolegando ...
resfolegando ...
E a Grande Mãe, pisca seu
olho esquerdo
contraindo o canto dos lábios
num meio riso (cúmplice?!) deixando no ar
só a ideia e o começo da história.
É mesmo supra-sumo!!
contraindo o canto dos lábios
num meio riso (cúmplice?!) deixando no ar
só a ideia e o começo da história.
É mesmo supra-sumo!!