terça-feira, fevereiro 06, 2018

DRUMMOND, PIRANDELLO, NELSON CHAVES, ALMEIDA PRADO, PAVIANI, ANA RUCNER, NELSON LEIRNER, CARMELA GROSS, TINA MODOTTI & VITAL CORRÊA DE ARAÚJO

PRA QUEM QUER O FIM, A COISA SÓ TERMINA QUANDO ACABA –  Imagens: arte da artista plástica, desenhista & vídeo artista Carmela Gross. UMA – Um passarinho gorjeia toda manhã na quinta do meu telhado. Conversa comigo. Os seus chilreios me dizem: A vida é outra coisa. E seu canto faz disso refrão e estribilho. Entendo bem o que diz, e respondo que sei, eu sei bem disso, meu caro amigo passarinho, só não sei, ao certo, o que é que é, mas sei. O que é faz parte de outra coisa, a minha busca, dia a dia, mente e coração. Só sei, meu nobre amigo passarinho, que você não sendo como eu, não tem culpa, dívidas, passado, muito menos medo da morte. E eu? Eu sigo. Ele voa, vai sem saber pra onde. Voo com ele, na imaginação. Aprendo coisas que nem sei dizer, aprendo, sinto o inexplicável. E voo ao meu modo, todo dia, de manhanzinha. Até acordar e esquecer. Reaprendo amanhã de novo, quando amanhecer. DUAS – Ah, o ministro lá desse desgoverno, parece ser o da pasta da Inducação – só sendo mesmo! -, não se sabe ao certo por que cargas d’águas, tem mantido aos cochichos e só entre os seus, ardilosamente a trama de adotar o sistema Escambau do Doro e, com isso, resolver, de uma vez por todas, o problema entre alunos e professores. Só? Parece que só, definitivamente. Na verdade, o propósito real não passa de jogada para esvaziar a campanha e o discurso do presidenciável fuleiro emergente que tem, conforme algumas pesquisas escusas catadas embaixo de sete capas nos quintos dos infernos, mesmo aos peidos e pinotes, levantando o índice das preferências do eleitorado. Pois é, dizem que aparece nas estatísticas como possível eleito entre simpatizantes e indecisos, quem quiser que acredite nisso. Contudo, o que é verdade de mesmo, é que o projeto passa pela cabeça do megalômano ministro, como se fosse o seu projeto pessoal para uma reforma avassaladora na escolaridade, na ortografia, na Lei de Diretrizes e Bases, no Plano Nacional e Internacional no estopô calango e na febre do rato, tudo por tabela e em cadeia. Para ele uma revisão revolucionária para acabar de vez com os problemas educacionais do Brasil e do mundo. Como consequência, acredita o ministro enterrar de vez não só a candidatura desproposital do Doro, como a de todos os demais candidatos no pleito presidencial, mantendo, assim, a sua máxima de que quem quiser estudar que pague. Pra isso é como se fosse um toque de mágica em todos os problemas brasileiros: Pronto, resolvido. O Doro é que não anda nada feliz com isso e diz: além de analfabeto, esse ministro é ladrão de ideia, que coisa mais descarada desse sujeitinho tolo, hem? Ponto final. TRÊS – Falando nisso, quem acredita na justiça brasileira, hem? Uma pesquisa realizada pelo DataPovo – na verdade, com meia dúzia de metidos a besta -, trouxe a constatação de que nenhum, nenhunzinho brasileiro que esteja em sã consciência, acredita na justiça brasileiro. Excetua a pesquisa, os pirados, os bêbados de cair, as criancinhas de colo, os envultados e os que estão mamando nas tetas da Mãe Pátria direta ou indiretamente – que são muitos, senão quase todos. O Doro mesmo manifestou-se: Só há injustiça! Quando consultaram o Robimagaiver: Ah, meu, se você quiser perder tempo e só entrar na justiça que você morre e, só depois disso, é que resolve por bem ou por mal, você já tá morto mesmo, tanto faz como tanto fez. O Bitiroaldo meio lá e meio cá, depois de coçar o quengo, fazer careta e olhar prum lado e pro outro: Só tem justiça pra pobre, rico que é bom... nem sei direito, aqui é tudo de pernas pro ar, eu que me benzo e Deus que livre de justiça. Rolivânio ia passando todo avexado e desentendido: O que é isso? Ao seu lado o Penisvaldo deu a desculpa: Não sei do quê você está falando. Outros e outras que passavam, ao serem perguntados, respondiam: Não sei de nada. Ah, vai te catar! Não tenho tempo pras besteiras. Vá arrumar uma lavagem de roupa, porra! Você não tem o que fazer? Ah, vai pra porra! Nessa hora vinha Vera toda reboladeira e reboculosa, sacou do espelhinho – Vai filmar é? Peraí, deixa eu me ajeitar, tenho que me embonecar toda para sair bem na fita -, e sempre indignada, deu a dela: Justiça mesmo é perder de vista, a gente não sabe mais quem é a desfavor, se advogado, juiz ou promotor; tudo farinha do mesmo saco e só pra foder a gente de qualquer jeito, beleza? E pra Zé-Corninho: Não fale nisso perto de mim que já adoeço; já perdi tanto que nem tenho mais onde cair morto. Aí o Doutor Zé Gulu que vinha todo desligado e metido com suas ideias, de sopetão destampou: Num país sem-vergonha como o Brasil, como falar de justiça, hem? Aqui tudo se confunde: crime com virtude, ética com gatunagem, direito com ilicitude, aqui é o reino dos contrários e haja paradoxo, se acha pouco, injustiça é o que manda e a justiça vai só na onda pendendo para quem tem, como diz Mateus, 13:13: E o que tem mais se lhe dará, e o que não tem até o que tem lhe será tomado! Eita, gota! MAIS OUTRA, SAIDEIRA – Dermevaldito era o protóripo do politicamente correto: abstêmio, antitabagista, fisiculturista e metrossexual. Esbanjava saúde na academia, nas caminhadas, musculoso na moda, asseado, perfumado, um colosso pros suspiros da mulherada. Vivia a dar conselho do melhor viver com dietas, exercícios, regramento na conduta, pensamento positivo e oração de gratidão no templo religioso todo santo dia. Um exemplo a se seguir, como diziam todos. E era gente boa mesmo, não tinha inimigos, cortês com todo mundo, atencioso, prestativo, fosse de lá pra cá ou de cá pra lá, era o mesmo, sempre. Até que anteontem, durante uma corrida de bicicleta, o nosso amigo se sentiu mal, coitado, e não deu nem tempo descer pra descansar. Deu-lhe um piripaque, caiu de cara no chão, esparramou-se todo desengonçado e na queda bateu as botas e babau, em pleno passeio. Que coisa! Coração falhou na horagá, diagnosticaram. E que era hipocondríaco, diziam. Por isso sentenciam: pra morrer basta estar vivo. E vamos aprumar a conversa. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com as Cartas Celestes 1 e 8 do pianista e compositor de música erudita Almeida Prado (1943-2010); Libertango, Storm & Sitarki da violoncelista croata Ana Rucner; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAO homem moderno parece indiferente à ecologia e, em consequência já está pagando um pesado tributo e tem, diante de si, três alternativas: modificar seu estilo de vida, tornar-se menos pragmático, menos ambicioso, mais solidário; esperar o desastre ecológico e sofrer as terríveis consequências da falta de alimentos, de água e de oxigênio; preparar-se para o aumento da agressividade e das divergências politicas entre as nações, capazes de desenvolver a catástrofe nuclear. Pensamento do cientista e médico nutrólogo Nelson Chaves (1906-1982). Veja mais aqui.

A ARTE & O ARTISTA - [...] Assim atua o artista, porque ele vê no mundo um tecido de relações estando as coisas [...] perpassadas por um fio de referência mútuas, por isso todo comportamento é um comportamento no mundo. Nele as coisas, os gestos, os atos, adquirem sentido [...] É esta apreensão no mundo que a arte mostra atravpes do sentimento de situação do homem e através de suas emoções [...]. Trecho extraído da obra A racionalidade estética (EDIPUCRS, 1991) do filósofo, poeta, professor e crítico de arte Jayme Paviani.

A COR DE CADA UMNa República do Espicha-Encolhe cogitava-se de organizar partidos políticos por meio de cores. Uns optaram pelo partido rosa, outros pelo azul, houve quem preferisse o amarelo, mas o vermelho não podia ser. Também era permitido escolher o roxo, o preto com bolinhas e finalmente o branco. – Este é o melhor – proclamaram uns tantos. – Sendo resumo de todas as cores, é cor sem cor, e a gente fica mais à vontade. Alguns hesitavam. Se houvesse o duas-cores, hem? Furta-cor também não seria mau. Idem, o arco-íris. Havia arrependidos de uma cor, que procuravam passar para outra. E os que negociavam: só adotariam uma cor se recebesse antes 100 metros de tecido da mesma cor, que não desbotasse nunca. – Justamente o ideal é a cor que desbota – sentenciou aquele ali. – Quando o governo vai chegando ao fim, a fazenda empalidece, e pode-se pintá-la na cor do sol nascente. Este sábio foi eleito por unanimidade Presidente do Partido de Qualquer Cor. Extraída da obra Contos plausíveis (Record, 2006), do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Veja mais aqui.

ANA DE AMSTERDAMNo Recife holandês, Ana / nua dançou para Nassau / que atravessou / a Rua da Balsa e aportou / no corpo da rainha dos tanoeiros. / Nassau vinha embuçado / das sombras da noite. / E fatigado das tarefas maurícias / ia repousar seus óleos guerreiros / no torso nu de Ana, a Francesa. / Maurício deixava seus pagos ilhados / e cavalgava como demônio sobre a távola / entre bucaneiros e mercenários do porto. / Ana era a mais bela prostituta / do Cais do Porto do Recife. / E fazia o sangue se rebelar / e acordar o sol nos olhos / dos homens soturnos. / Ela veio de longe. / Das brumas do Velho Mundo. / Dos bordeis de Marselha / Barcelona e Amstrerdam / seduzida pela América / terra jovem como seu corpo / que era pertença / de marinheiros / troféu dos mascates / e bálsamo para o Príncipe / Maurício de Nassau. / Atraído pelos aromas de Ana / Nassau cerrava / o Palácio das Torres / e navegava os umbrais do instinto / no faro do cio / dentro da noite misteriosa. / Além do mangue / Ana, a Rainha / dos Tanoeiros, esperava / o príncipe noturno / que aportava / na claridade do seu corpo. Extraído da obra Gesta Pernambucana (Fundarpe, 1990), do escritor, jornalista, advogado, professor, conferencista e tradutor Vital Corrêa de Araújo. Veja mais aqui.

ASSIM É... SE LHE PARECE
Arte do pintor, desenhista, cenógrafo e professor Nelson Leirner. Essa obra remete logo à peça teatral Assim é: se lhe parece (Tordesilhas, 2011), do dramaturgo, poeta, romancista siciliano e Prêmio Nobel de Literatura de 1934, Luigi Pirandello (1867 – 1936), que conta a história dos habitantes de uma pequena cidade, que ardem de curiosidade para desvendar o mistério que ronda os recém-chegados moradores: o senhor Ponza, sua esposa e sua sogra, a senhora Frola. Os três só andam de preto, não recebem visitas, e ninguém ainda viu de perto a senhora Ponza. Com enredo simples, mesmo assim, encerra uma questão complexa: a ilusão da verdade absoluta. Foi representada pela primeira vez em 1917, enquanto a Itália passava pela insegurança da Primeira Guerra Mundial, a obra coloca em cheque os conceitos de “verdade” e “objetividade”, expondo a história da senhora Frola, uma velha que se muda para o mesmo prédio de uma família da alta burguesia italiana, os Agazzi, e se recusa a recebê-los. Gesto que é encarado com indignação pelo senhor Agazzi, ocupante de um cargo elevado na prefeitura da pequena província. A revolta logo se torna perplexidade e curiosidade, com o surgimento do senhor Ponza, genro da velha e colega de repartição do senhor Agazzi. Ponza se desculpa pela sogra e pede que todos tenham paciência, pois ela enlouqueceu com a morte da filha e agora está sob seus cuidados. Pouco tempo depois, é a senhora Frola quem conta, de forma coerente e sã, ser o genro quem de fato se abalou mentalmente e, portanto, acredita que a esposa está morta. Entre idas e vindas de ambos, a confusão de todos aumenta cada vez mais, beirando o desespero. Para piorar, o cunhado de Agazzi, Laudisi, insiste em tentar convencê-los de que a verdade não existe. Veja mais aqui.

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A ARTE DE TINA MODOTTI
A arte da fotógrafa, atriz, modelo e ativista política revolucionária italiana Tina Modotti (1896-1942).