quarta-feira, setembro 27, 2017

RILKE, KRISHNAMURTI, ALBERTO DA CUNHA MELO, LADISLAU DOWBOR, BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS & ANSELM KIEFER

LÁ VAI TOMÉ ESCAPANDO DAS SUAS – Havia sido deflagrada em Alagoinhanduba uma campanha de doação de órgãos, quando uma distinta moça abordou Tomé que ia avexado do trabalho pra casa. Como se tratava de uma bela jovem, ele deu um freio nas quatro de quase afundar os pés no chão, parou, ajeitou-se todo, olhou-a dos pés à cabeça e ficou prestando atenção à abordagem da moça a respeito do assunto. Ouvia ele atentamente sem entender nada porque estava de butuca no decote suntuoso dela, conferindo a geografia assimétrica de beldade daquela que seria, pra ele, o tipo ideal de mulher pra casar, fazendo de conta que acompanhava as maiores explicações sobre qualidade de vida daqueles que recebiam órgãos transplantados, com ênfase no ato de cidadania e solidariedade humana doar seus órgãos ainda em vida para salvar os que precisavam arriados na cama ou quarando numa fila de espera por anos. Conversa bonita, pensou ele, mas vale a pena, vai que cola e eu lavo a jega. E quanto mais ela falava, mais ele apertava os olhos sobrecarregado de interrogações, até que franziu o cenho mesmo ao tomar ciência que ele só seria doador de órgãos e tecidos, se tivesse morte encefálica diagnosticada, ter boas condições hemodinâmicas, não apresentar sorologia positiva e ter a doação autorizada pela família. Ele afastou-se um pouco, tomou ar e interrompeu o falatório: - Moça, com licença da má palavra, mas pra mim a senhora está falando grego, pode explicar melhor? A simpática senhorita abriu-lhe um sorriso encantador e, pacientemente, explicou tudo novamente nos mínimos detalhes, acrescentando que ele poderia doar o coração e os pulmões, os rins, o fígado, o pâncreas e as valvas cardíacas, tendo de ser maior de idade o que era comprovado pela sua idade, estar em condições de doar o que ele era inequivocamente compatível, ter um receptor que fosse da família ou para estranhos com autorização judicial, excetuando-se nos casos de doação da medula óssea. Hem? Ele apertou os olhos de novo e inquiriu em tom meio sarcástico: - Ô dona moça, como posso ser doador se ainda estou vivo? Lá vai ela mais uma vez respirando fundo e explicando tintim por tintim, ao final, ele ainda sapecou: - Ué, quer dizer que depois de morto eu vou pro céu vazio de tudo é? Ah, minha filha, mas isso não vai poder de jeito nenhum, pois a patroa lá de casa não vai deixar tirar minhas coisas pra dar pros outros, vai nada, hum, ciumenta como a praga feito aquela, ela vai é armar o maior barraco! Pode contar com isso. A senhora não conhece a brabeza da patroa, não, e por falar nisso, se eu demorar mais um pouquinho ela vai me matar e a senhora nem vai poder aproveitar nada porque vou morrer de cacete brabo, de não sobrar nem o retrato, quanto mais meus órgãos inteiros. Dá licença, ou eu escapo de morrer aqui de susto, ou morro lascado em casa. Inté mais ver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o cantor e compositor inglês Peter Gabriel em Concerto, com Milton Nascimento & Gênesis; a violoncelista russa Tatjana Vassiljeva interpretando Tchaikovsky, Kodaly Sonata & HK Sinfonietta Cello Concerto; o compositor e doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Edson Zampronha apresentando Sonora, Invierno & Modelagem XII; e a cantora e compositora Karyme Hass interpretando Simplesmente, Sonho Azul, Céu e Mar, Agora quero amor, Estrada de flores & Saindo do inferno. Para conferir é só ligar o som e curtir.

A VERDADEIRA LIBERDADE – [...] Liberdade é algo completamente diferente. Ela nasce, não podemos buscá-la. Ela nasce quando não há medo, quando há amor no coração. [...] Cabe ao educador criar um novo ser humano, um ser humano diferente, sem medo, autoconfiante, que possa fundar uma própria sociedade – uma sociedade totalmente diversa da nossa que está baseada no medo, na inveja, na ambição, na corrupção. A verdadeira liberdade só pode vir à luz quando surgir a inteligência, ou seja, a compreensão do todo, do total processo da existência. [...]. Trechos extraídos da obra Sobre a liberdade (Cultrix, 1991), do filósofo, escritor e educador indiano Jiddu Krishnamurti (1895-1986). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

GLOBALIZAÇÃO: ENTENDENDO DO RISCADO - [...] Ao contrário que o termo globalização superficialmente conota, estamos perante processos de mudança altamente contraditórios e desiguais, variáveis na sua intensidade e até na sua direção [...] Uma das características salientes da globalização que designamos por hegemônica é o fato de os custos e as oportunidades que produz serem muitos desigualmente distribuídos no interior do sistema mundial, residindo aí a razão do aumento exponencial das desigualdades sociais entre os países ricos e países pobres e entre ricos e pobres do mesmo país nas últimas décadas [...]. Trechos extraídos da obra A globalização e as ciências sociais (Cortez, 2002), organizado pelo jurista e professor Boaventura de Sousa Santos. Veja mais aqui e aqui.

NOSSO FUTURO COMUM - [...] Somos condenados a inovar, e o tempo de que a humanidade dispõe, nessa época caracterizada por gigantescos recursos tecnológicos e poucos recursos de organização política civilizada, é limitado. Resumir o problema à dimensão frequentemente estreita que assume o embate entre esquerda e direita já não é suficiente. Trata-se, como bem o caracterizou Gro Brundtland, do nosso futuro comum. Trecho extraído da obra A reprodução social (Vozes, 1999), do economista e professor Ladislau Dowbor.

CARTA A UM JOVEM POETA – [...] A arte também é apenas uma maneira de viver. A gente pode preparar-se para ela sem o saber, vivendo de qualquer forma. Em tudo o que é verdadeiro, está-se mais perto dela do que nas falsas profissões meio-artistas. Estas, dando a ilusão de uma proximidade da arte, praticamente negam e atacam a existência de qualquer arte. Assim o faz, mais ou menos, todo o jornalismo, quase toda a crítica e três quartos daquilo que se chama e se quer chamar literatura. [...]. Trecho da obra Carta a um jovem poeta (Globo, 1986), do poeta alemão Rainer Maria Rilke (1875-1926). Veja mais aqui e aqui.

MEU AMOR & OS OUTROSToda vez que subo / nessas minhas / altitudes máximas / (além do nível do bar) / e mergulho de cabeça, / tripa e tudo / nessa minhas / profundidades (também) máximas / (além do nível do lar) / o rosto de Clau / está lá em cima / e lá embaixo /me deslumbrando, sozinho! / - Quem é Clau? / (pergunta um burríssimo / PHD em Estética) / e ninguém pode salvar / seus pobres alunos. Poema extraído da obra Somas dos sumos (José Olympio, 1983), do escritor, jornalista e sociólogo Alberto da Cunha Melo (1942-2007). Veja mais aqui.

BIBLIOTECA FENELON BARRETO
Acompanhando o diretor da Biblioteca Fenelon Barreto, João Paulo Araújo, na recepção do poeta e artista plástico Paulo Profeta, a bibliotecária do IF-PE, Mariana e o professor e pesquisador do IF-PE, Derlano.

Veja mais:
A música de Peter Gabriel aqui.
A arte musical de Tatjana Vassiljeva aqui.
A arte de Edson Zampronha aqui.
A arte musical de Karyme Hass aqui e aqui.
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A ARTE DE ANSELM KIEFER
A arte do pintor e escultor alemão Anselm Kiefer.