terça-feira, setembro 26, 2017

ÍTALO CALVINO, WILLIAM BLAKE, WORDSWORTH, SUZANA ALBORNOZ, SOLIDARIEDADE & LIBRAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A QUEM INTERESSAR POSSA – Aprendi a ver na escuridão, a luz restava dentro de mim como um minúsculo pavio aceso, mostrando o fim do túnel e emanando cores de todos os matizes que se fizeram reais além dos meus sentidos. Aprendi da luz todas as cores, e ao abrir os olhos entendi a importância do olhar: via a mim e todas as coisas, visíveis e invisíveis, a festa emanada do Sol. Aprendi a ouvir no silêncio, todos os tons e sons harmonicamente entrelaçados na vida: os passos rastejantes dos seres, o estalido dos ovos e das sementes, o nascimento dos frutos, as vozes mudas com seus dizeres, o canto dos pássaros, os ventos nos galhos pelo chão das poeiras, a corrente dos rios e as ondas do mar, a queda dos precipícios, o ápice das alturas, a música das esferas. Em mim tudo é vivo e comunga no infinitude. Aprendi a calar para saber tudo, foi quando compreendi que tudo me dizia respeito e se completava em mim para uma só unidade. Com isso, aprendi a espalmar as mãos mesmo diante das recusas ou desafetos, a abrir meus braços mesmo que houvesse hostilidade ou indiferença, a entender no outro o que em mim era insatisfação, porque também era minha e assim se fez para todos. Sou de mãos dadas com quem não sabe das ruas e seus movimentos, sou braços dados com quem não sabe a luz pra seguir, sou peito aberto a quem não sabe os caminhos aonde vão dar. Hoje ao meu ombro amparo a dor da infelicidade que pode ser do outro e agora também minha; a sua, quem sabe, sou solidário de antemão para que possamos encontrar uma forma de manifestar a satisfação de viver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com obras do compositor estadunidense George Gershwin (1898-1938): Concerto em fá maior na interpretação de Yuja Wang, Rapsody in blue na interpretação de Lola Astanova & All Star Orchestra, e Summertime com a All Virginia Orchestra; a cantora Gal Costa interpretando O amor, Força estranha, Açaí com Roupa Nova & o show Acústico MTV; o instrumentista, arranjador e compositor Marcos Nimrichter interpretando Libertango, Neptune, Deus fotte & Briguinha de músicos malucos no coreto & A taça; e a  atriz e cantora carioca radicada na Islândia, Jussanam, cantando Desafinado, O telefonema, Quer saber & Como nossos pais. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIASe as portas da percepção estivessem limpas, tudo se mostraria ao homem tal como é, infinito. Trecho do poema extraído da obra O matrimônio do céu e do inferno (Iluminuras, 1995), do poeta, tipógrafo e pintor inglês William Blake (1757-1827). Veja mais aqui, aqui e aqui

INCLUSÃO SOCIAL DO SURDO - [...] O reconhecimento da LIBRAS como primeira língua da comunidade de surdos está amparada pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. A Lei foi criada devido à luta pela conquista de direitos dos surdos em espaços de cidadania a exemplo de: escola, sociedade, igreja e outros que os levem a adquirir independência. A inclusão leva a reconhecer a importância da LIBRAS no âmbito escolar, profissional e da sociedade em geral. [...] A gestão educacional pontuada para resultados eficazes passa pelo ensino e vivencia cotidiana, deparando-se no contexto analisado com professores que buscam sempre dar o melhor para seus alunos com a consciência de melhorar a técnica de ensino de Libras numa abordagem de qualificação, ao aperfeiçoamento a fim de que realize sua função da melhor maneira com o intuito de melhores resultados do educando. [...] É preciso fortalecer as conquistas e buscar novos rumos através de experiências mais concretas para a otimização de atividades educacionais no ensino sempre será um desafio. Espera-se que no futuro o valor das pessoas surdas, seja ainda mais reconhecido além de que a atuação atualmente delimitada ao contexto dos surdos, ainda possa ser mais efetivada de forma global e irrestrita. Que não fique somente nas legislações, posto que os mesmos já perderam muito do seu tempo sendo segregados durante anos a fio em escolas especializadas, que só serviram de pano de fundo para a grande discriminação que assola o país, além de não acrescentar nada ao processo de desenvolvimento do surdo enquanto pessoa ou como cidadão. [...]. Trechos extraídos do artigo Inclusão social do surdo: reflexões sobre as contribuições da Lei 10.436/2002 á educação, aos profissionais e á sociedade atual (E-Gov, 2012), da advogada e doutoranda em Direito Civil pela UBA, Laine Reis Araújo. Veja mais aqui e aqui.

EDUCAÇÃO LIBERTADORA - [...] No Brasil, como em quase todo mundo, a escola regular vem sendo o único meio de acesso à habilitação e ao diploma. E, assim sendo, é um importante meio de ascensão social, como também, ou principalmente, um meio certo de controle da ascensão social, embora não seja o único meio possível de acesso á educação e à cultura. Neste seu desempenho monopolizador da educação oficialmente reconhecida, a escola se alia à burocracia, e a sua aliança se exerce, muitas vezes, como domínio e duração desta sobre aquela. Em troca, os órgãos de planejamento do sistema educacional se limitam ao sistema escolar. Escola e burocracia interdependentes, a educação inibe incalculáveis chances de experimentar, revitalizar-se, superar-se [...]. Trecho da obra Por uma educação libertadora (Vozes, 1976), da educadora, professora, ficcionista, ensaísta, pesquisadora e intelectual engajada nos problemas ligados à educação e à condição feminina no mundo contemporâneo, Suzana Albornoz Stein. Veja mais aqui e aqui.

O VISCONDE PARTIDO AO MEIO – [...] Assim, entre caridade e terror decorriam as nossas vidas. O Bom (como era chamada a metade esquerda de meu tio, em contraposição ao Mesquinho, que era a outra), era, então, tido como santo. Os aleijados, os pobres, as mulheres traídas, todos os que tinham um pesar, corriam até ele. Poderia ter se aproveitado e se tornado ele o visconde. Ao contrario, continuava como vagabundo, circulando meio enrolado em seu manto negro, apoiado na muleta, com a meia branca e azul cheia de remendos, fazendo o bem tanto a quem lhe podia quanto a quem o expulsava com seus modos. [...]. Trecho extraído da obra O visconde partido ao meio (Cia. Das Letras, 1999), do escritor italiano Ítalo Calvino (1923-1985). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

PRENÚNCIOS DA IMORTALIDADEI - Houve um tempo em que a relva, a fonte, o rio, a mata / E o horizonte se vestiam / De uma luz grata, / — Visto que assim me pareciam —, / E da opulência que nos sonhos é inata. / Hoje está sendo tal como foi outrora;—/ Seja o que for, eu, / Na luz ou breu, / Eu não verei jamais o que se foi embora. II - O arco-íris vai, vem, / E a rosa nos faz bem; / Alegre, a lua nota / o céu está completamente nu; à luz / De estrelas, a água brota / E é belo o que ela reproduz; / A aurora é sempre um nascimento; / E contudo, eu sei muito bem / Que a glória passou por nós em algum momento. III - Agora, enquanto as aves cantam de contento / E enquanto o cordeirinho salta / Ao som do que o exalta, / A mim apenas veio uma ideia de dor: / Enunciei-o e de repente ela passou, / E me encho de alento: / Trombeteiam cascatas frente ao precipício; / Minha dor não mais matará o clima opulento; / Ouço o Eco que vem das grutas e ouço o Vento / Que encerra em si o sono tal como um resquício, / E alegre é a terra; / Todo o mar / Vem a se ufanar / E a Fera se aferra / Ao sono na serra;— / Você, Criança, / Menino pastor, grite até onde, Ó Criança, o grito alcança! IV - E vocês, Criaturas, eu escuto afinal / O que dizem entre vocês / E vejo o céu que frui também vossa altivez; / Meu ser em vosso festival, / Coroado, o total / De vossa dádiva — ah!, eu sinto… Ó mal!, / Fosse eu soturno enquanto / A Terra se adornasse, / Manhã de Maio face / A qual a infância nasce / No Mundo, / No vale remoto e fecundo;/ Enquanto o sol nos acalora / E o Bebê sobe aos braços da Mãe: — ouço agora! / Com alegria eu ouço, eu ouço! / — Mas uma, uma Árvore existe, / Uma Planície que em minh’alma inda persiste, / Lembrando o que se foi e hoje e me deixa triste: / E o Amor-Perfeito / Diz: Que foi feito / Do vislumbre visionário? / Dos sonhos? Do esplendor vário? / V - Nosso nascer não passa de sono e de oblívio: / A Alma que nasce com nós, nosso Astro Vital, / Vive longe de onde vive o / Trajeto de seu fanal; / Não no esquecimento inteiro / Nem na nudez por inteiro, / Mas, arrastando nuvens de glória, viemos / De Deus — nele vivemos —: / É o Céu que a nós circunda e a nossa meninice! / As sombras da prisão começam a cobrir / O Menino que cresce; / Mas ele vê a luz, sabe aonde ela vai ir / E sabe que ela o acresce; / A Juventude, em sacerdócio à Natureza, / Viaja ao Leste numa empresa / Guiada pela / Visão mais bela; / E ao largo o Homem vê que sua vida acaba / E que na luz do hábito ela enfim desaba. VI - A Terra enche o colo com prazeres seus; / A Terra possui ânsias que ela mesma mantém, / E, possuindo um algo maternal também, / E honesta em seu intuito, / A Terra, ama-de-leite, empenha-se / P’ra que o filho adotivo, a Humanidade, abstenha-se / De todos seus apogeus / E do que nele for trajetória e for muito. VII - Aprecie a Criança e a plêiade de encantos, / Tesouro de seis anos menor que um pigmeu! / Contemple a paz com que ele enfim adormeceu, / Preocupado co’os beijos de sua mãe, tantos!, / E as tantas bênçãos que seu pai lhe concedeu! / Veja, a seus pés, alguma tabela infantil, / Algum fragmento de seu sonho de ser humano, / Moldado graças a uma arte ainda pueril; / Um casamento ou um festival, / Um lamento ou um funeral; / E a isto ele é servil, / E nisto ele forma seu canto: / Assim afinar-se-á enquanto / Dialoga sobre o amor, o sucesso ou o dano; / Não demorará tanto / Até que largue isto / E de novo, e imprevisto, / Com alegria o Ator mirim faça outro ardil; / Enchendo pouco a pouco sua própria “farsa” / De Personagens, ‘té que a Vida fique esparsa / E, colocando-o na barca, a Vida o ressarça; / Como se imitar fosse / Tudo o que ele fosse. VIII - Você, cujo semblante exterior desmente / Teu valor inerente; / Você, grande Filósofo, que mantém ainda / A herança; você, que é a Visão entre a cegueira, / Que, surdo e mudo, lê a profundeza infinda / Sempre assombrada pela mente altaneira, — / Ó Vidente!, Ó Profeta! / Que a verdade afeta / E a quem nós procuramos de qualquer maneira, / Por toda a vida, presos no escuro da cova; / Você, sobre quem flui a Fonte da Existência / Que escraviza ao mesmo tempo que renova, / Algo impossível de se ignorar a presença; / A quem a cova / É cama solitária sem sentido ou luz / Do que lá fora luz, / Um lugar onde se descansa e onde se pensa; / Você, Criança, ainda ilustre na amplitude / Da aérea liberdade de tua atitude, / P’ra quê, com dores tão solenes, provocar / Os anos a te darem o que eles vão te dar, / Assim tão cega e santa imersa na batalha? / Não tarda e teu espírito cai no retardo / De uma rotina que imporá a ti um fardo / Que pese e quase como a vida se equivalha! IX - Alegria!, que em nós / Inda palpita / E repercute a voz — / E nos evita! / Pensar no meu passado faz com que em mim nasça / Uma bênção perpétua: não aquela graça / Que glorifica aquele a quem ela agracia — / Prazer e liberdade, o credo que perpassa / A Infância inteira, na labuta ou calmaria, / Pleno do tatalar da fé que se atavia:— / Nem por estes elevo / Canções de louvor e enlevo; / Mas pelas questões obstinadas / De senso e coisas externadas / Distantes de nós, sublimadas; /  Vagos temores da Criatura / Que vaga em meio a mundos não realizados, / Altos instintos onde a efêmera Figura / Treme tal como tremem os Sentenciados: / Por tais afetos prévios / E recordações breves, o / Que vierem a ser, sejam, / Pois são fontes de luz e nos clarejam, / Pois são pontos de luz de nosso olhar; /  Guarde a estima por nós, guardando o seu poder / De que a turba dos anos se encurte no Ser / Da Calmaria imorredoura: o despertar / P’ra vida eterna: / O que a surdez e a insânia que às vezes governa, / O Pai, o Filho / E o que vê na alegria um odioso empecilho, / Não poderão matar nem retirar o brilho! / Assim, sendo o clima propício, / Por distantes que estejamos, / Sentimos sempre aquele mar sem fim ou início / Que nos trouxe aonde estamos, / E vemos sempre a Infância que brinca na areia, / E ouvimos sempre o som do mar que assenhoreia. X - Pois cantem, Aves, cantem canções de contento! / E que o Cordeiro salte, / Alegre, ao som que o exalte! / Nossas vozes serão uma só em pensamento, / Você que brinca ou flauteia / E que tem na sua veia / O agrado que Maio alardeia! / Pois muito embora a glória, que antes cintilara, / Tenha tornado-se distante e coisa rara, / E embora nada traga novamente a hora / Do esplendor no relvado, ou da flor que vigora; / Nós não vamos chorar; iremos / Achar forças no que tivemos / Um dia; no afeto primeiro /  Que ainda se mantém inteiro; / No pensamento que consola / E medra quando a dor desola; /  Na fé que enxerga além da morte / E na sabedoria do que nós vivemos. XI - E vocês, Bosques, Fontes, Picos, Matagais, / Não previram que o amor já não seria mais! / E entanto, o coração de meu coração sente / O poder de vocês; eu abandonei somente / Um prazer p’ra viver vosso ciclo usual. / Amo o rio que em seu canal se convulsiona, / Mais do que quando, assim como ele, eu fui frugal; / A luz da Aurora é pura e, como habitual, / Emociona; / As nuvens que rodeiam o pôr-do-sol ganham / O tom-de-cor daquele olhar que mantivera / Vigília sobre nossa tênue Primavera; / Outras raças têm sido, e outras glórias se apanham. / Graças ao coração, que fizemos morada, / Graças a todo o seu temor, carinho e encanto, / Sei que da flor mais simples pode ser gerada / Meditação profunda demais para o pranto. Poema extraído da obra Memórias de Infância (Poems -  Dell Publishing, 1960), do poeta romântico inglês William Wordsworth (1770-1850). Veja mais aqui e aqui.

UM POEMA EM CADA ÁRVORE
Realizou-se no último domingo, dia 24/09, no Passeio Público de Curitiba, o evento Um poema em cada árvore, promovido pelo grupo Escritibas Na Rua, com o objetivo de proporcionar um espaço de leitura poética para as pessoas que freqüentaram o parque, expondo o trabalho de escritores independentes pela passagem comemorativa do Dia da Árvore. Marquei presença com o meu poema Colhendo sonhos nos galhos da vida e Sonhar marés da poeta Luciah Lopez. Veja mais aqui.

Veja mais:
O pensamento do filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) aqui, aqui e aqui.
A música de George Gershwin aqui, aqui e aqui,
A literatura de Luis Fernando Veríssimo aqui, aqui e aqui.
A música de Gal Costa aqui e aqui.
A arte musical de Jussanam aqui e aqui.
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TODO DIA É DIA DE INCLUSÃO & LIBRAS