O DEDO MINDINHO DO PÉ DIREITO – Imagem: arte da escultora e
artista britânica Liz West - Estavam
Mamão e Afredo se estranhando como de costume. Eram comuns desavenças entre
ambos, coisa que a turma do deixa-disso já nem se incomodava, só quando iam às
vias de fato. Aí não, quando se enganchavam num caqueado truculento, cara dum,
focinho de outro, tapas pra que te quero, a escaramuça era logo apartada. Enquanto
os desaforos persistiam, tudo bem; mas quando ia pro corpo a corpo, a coisa
enfeiava tendo em vista provocar mais vítimas além dos dois querelantes. Mesmo
sendo do mesmo tope, um arrotava superioridade sobre o outro, dos mais
infamantes apelidos, aos mais desmoralizantes deboches, aos insultos mútuos: - Aquilo
ali é uma ticaca de nada! É? E tu? Sai pra lá, tiquinho! Cala boca aí,
punhetinha, senão quebro teus dentes, pixote! Vem, porqueira, que eu arranco
tuas pregas, cheira-peido! Esse fi-duma-poldra pensa que tem tamanho, isso foi
feito nas coxas, pinguelo de gente. E tu, pirralho? Isso é mirocho dum
desgraçado das costas ocas, que não serve nem pra gente foder o cu de tão
fedorento que é! A-há! E tu, pivete? Só dorme de cu esperando consolo duma
brachola no rego, pigmeu de merda! Ah, fui que fiquei entalado num cotoco, foi,
seu fubica? Pior querer ser polícia, babar o ovo de todo mundo e se passar de
araque, fiapo de gente! Olhe que dou uma mãozada nas suas gaias de você nunca
mais acertar juízo na vida, seu pinguelo encruado! Vai pra lá, espirro de pica!
Eu ainda lasco esse tamborete de zona! Ah, se pego! E isso era de manhã pra
tarde, entrando na noite, virando a madrugada, direto feito cantiga de grilo. Assim
foi um dia quando um dos dois sapecou uma pérola como essas: - Isso é lá gente
que se apresente! Num passa dum dedo mindinho do pé direito! Como? Alguém
alheio aos ultrajes malucos, questionou: - Mindinho do pé direito? Sim, porque
do esquerdo nem se fala! Pois ele é uma pisada mesmo no calo dali! Tresloucados
como eram, o que diziam servia apenas pro risível, nada mais. Na arenga não
diziam coisa com coisa, sujo falando do malavado: - Sai pra lá, enguiçado! Vai
cheirar peido, pintor de rodapé! Quer briga, quer, bostinha-azeda? Vai te
lascar, barrica fidaputa! Êpa! Que é que é isso, gente! É esse tolote de gente
querendo me enfezar aqui que tô quieto, só pra me azucrinar! Oxe, um burrico
desse querendo ser sabido, sai-te, tampinha! E sapecavam elogios injuriosos um
ao outro por horas, dias, semanas, meses, anos. Nunca soube de uma trégua entre
eles, sempre com uma dedada no frosquete, uma cotovelada no pau da venta, uma
munhecada nos dentes, esse o tratamento amistoso entre os pariceiros, avalie na
hora do bafafá. Mas o dedo mindinho do pé direito, foi demais. Como é mesmo?
Respondeu um deles: - É porque é o mais insignificante dos dedos, igualzinho a
ele que num vale um cocô de louro! Rapazes, vamos acabar com essa ingresia que
já passou dos limites. Logo eram obrigado aos cumprimentos, apertos de mãos,
abraços e deixa disso. Não dez segundos e lá estavam eles às voltas com
desacordos: - Cara dum, cu de outro, quem abrir da vela é gafanhoto! Nessa hora
o parrudo Zé Peiúdo entrou em cena, afastou os dois e mandou ver: Quando Deus
andou no mundo, deixou grilo e gafanhoto, e deixou homem pequeno pra cheirar o
cu dos outros. Quem é que encara, hem? Qual dos dois vai encarar? Ficou só mas
mas, dali a pouco ninguém nem deu o sumiço dos dois, devem estar se esfregando
nas quizílias por aí. E vamos aprumar a conversa! © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
NASRUDIN DE SHAH
[...] Nasrudin às vezes levava pessoas para viajar
em seu barco. Um dia, um pedagogo exigente contratou-o para transportá-lo ao
outro lado de um rio muito largo. Assim que se lançaram á água, o sábio
perguntou-se se faria mal tempo. “Não me pergunte nada sobre isto”, disse
Nasrudin. “Você nunca estudou gramática?” “Não”, disse o Mulla. “Neste caso,
metade de sua vida foi desperdiçada”. O Mulla não disse nada. Logo desabou uma
terrível tempestade. O pequeno e desorientado barco de Mulla começou a encher
de água. Ele se inclinou para o companheiro. “Alguma vez você aprendeu a
nadar?” “Não”, disse o pedante. “Nesse caso, caro mestre, toda sua vida foi
perdida, pois estamos afundando. [...].
Trechos
da obra As façanhas do incomparável Mulá Nasrudin (Roça Nova, 2016),
do escritor e mestre Sufi indiano Indries
Shah (1924-1996), contando histórias humorísticas das aventuras do sábio do
folclore oriental, que vão do humor à iniciação ao pensamento profundo.
Veja
mais sobre:
Cruzetas,
os mandacarus de fogo, Concepção dialética da história de Antonio Gramsci, Sob
o céu dos trópicos de Olavo Dantas, O escritor e seus fantasmas de Ernesto Sábato, a pintura de Eliseo Visconti, a fotografia de Rita-Barreto, a arte de Benício & a música de Rosana Sabença aqui.
E mais:
A vida é
um filme, No colo do pai de Hanif Kureishi, Viagem nas primeiras horas de Wole Soyinka, A crise na América Latina de
Emir Sader, Técnica teatral de Erwin Piscator, a arte de Václav Hollar, a pintura de Carl Kricheldor & Isaac Lazarus Israels, a música de João Bosco, o
cinema de Stelvio Massi & Joan
Collins aqui.
Curto e grosso: O balanço da copa, O anti-édipo de Deleuze & Guattari, poemas de
Arthur Rimbaud, Infância, imagem & literatura aqui.
Frínico & o povo chora, Direito Ambiental, Educação
Sexual, Psicopatologia, Psicose, perversão & neurose aqui.
Nem te conto & Big Shit Bôbras, O lobo da estepe de Hermann Hesse,
Repenso o mundo de Wislawa Szymborska, Elegias & sátiras de Xenófanes de Colofão, a música de Gluck & Sylvia
McNair, o cinema de Phil Karlson & Marilyn Monroe, a pintura de Richard Geiger & Philippe de Rougemont, a arte de Osvaldo Jalil & Bia Sion aqui.
E se
nada acontecesse, nada valeria, Agá de Hermilo Borba Filho, Fábulas de Leonardo da Vinci, a música de Tomoko Mukaiyama, As glândulas endócrinas de M.
W. Kapp, Compassos Cia de Danças, a arte de Eric Gill & Perron,
A pintura de Bruno Di
Maio & Madalena Tavares aqui.
É
domingo nas mãos, Cinema de Ascenso
Ferreira, A obra de arte & a reprodução de Walter Benjamim, Cinema Brasileiro, O que
será de Chico Buarque, a pintura
de Giuseppe Cacciapuoti & Umberto
Brunelleschi aqui.
Aprendendo
no compasso da vida, A psicologia social de Arthur Ramos, Sharon
& minha sogra de Suad Amiry, a música de Nação Zumbi, o pensamento de Roger Bacon, Hans Richter & Transhumance, a arte
de Georges Ribemont-Dessaignes & Jiddu Saldanha aqui.
O dia
amanhece e é maravilhoso viver, A literatura
brasileira de Afrânio Coutinho, O teatro de Françoise
Sagan & Catherine Deneuve, o pensamento de Aristóteles, a música de Maggie Cole & a Sinfonia Pornográfica de Charles
Baptiste, a pintura de Orly Faya, a arte de Hannah
Höch & Arte Yoga aqui.
A
filharada de Zé Corninho, Travessia
marítima de Thomas Mann, O
casamento de Anne Morrow Lindbergh, a música
de Charlotte
Moorman, O homem & a natureza de Alan Watts, o cinema de Rainer Werner Fassbinder & Hanna Schygulla, Emmanuelle Seigner,
a arte de Hansen Bahia & Attila Richard Lukacs aqui.
&
CONSCIÊNCIA
DAS ESCOLHAS DE ORAGE
[...] Você está conscientemente ciente das escolhas que faz e das decisões
que toma? Você acorda de manhã e se propõe a levantar-se. Pergunte a si mesmo
se quer se levantar. E seja honesto quanto a isto. Você toma banho – é realmente
por que gosta ou, se pudesse, você se esquivaria? Você toma café – é exatamente
o desjejum de que você gosta, em espécie e quantidade? É o seu desjejum que
você faz ou simplesmente o desjejum definido pela sociedade? Você quer na
verdade comer ou não? Você vai pro seu escritório... você decide sobre os
deveres domésticos e sociais do dia – eles são suas preferências naturais? Por
sua livre escolha você estaria onde está? Fazendo o que faz? Pressupondo que,
no presente, você aceita a situação geral, você está fazendo aquilo de que gosta
em detalhes? Você fala disto, daquilo ou das pessoas como lhe agrada?Você
realmente gosta ou apenas finge gostar destas coisas e pessoas? (Lembre-se de
que não é uma questão de agir sobre seus gostos ou aversões, mas apenas de
descobrir quais eles são realmente. Passe o dia oferecendo-se a cada momento
uma oportunidade nova para se questionar – eu realmente gosto disto ou não? A
noite chega, com as goras de lazer, o que você na realidade gostaria de fazer?
O que de fato o diverte, teatro ou cinema, bate-papo, leitura, música, jogos e
exatamente quais? Fazer aquilo de que gosta não pode continuar se repetindo
muitas vezes mais tarde. Na verdade. Você pode deixar que isto aconteça por si
mesmo. O que é importante é saber do que você gosta. [...].
Trecho do exercício Você sabe do que gosta, você gosta do que
faz?, extraído da obra Psychological
exercises and essays (Janus, 1965), do professor e intelectual britânico Alfred
Richard Orage (1873- 1934).
RÁDIO
TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá as
comemorações do Dia Mundial do Rock com especiais dos The
Beatles,
Gênesis, Pink Floyd & Led
Zeppelin
& os seus maiores sucessos em shows ao vivo e em concertos. Para conferir é
só ligar o som e curtir.
A ARTE HUJBER GUNTER
A arte do pintor, poeta, músico, fotógrafo e
performer tcheco Hujber Gunter.
DEDICATÓRIA: MARQUINHOS CABRAL
A edição de hoje é dedicada ao
cantor Marquinhos Cabral, homenagem
pela passagem do Dia do Cantor.