quarta-feira, julho 12, 2017

CAMINHO DE MUMON, YAMANDU, PEDRO DEMO, LATIFA LAÂBISSI, ARTUR RAMOS, LAURINDO ALMEIDA, MARIA TERESA MADEIRA & CRISTINA ORTIZ

O QUIBUNGO E A CARANGUEJEIRA - O Quibungo é um bicho muito feio que é meio homem e meio animal, com uma cabeça grande e um buraco enorme no meio das costas pra comer crianças e filhotes. Não é lá muito inteligente, pois é medroso e covarde, apavorando-se aos gritos com tudo que perturbe seu poderio. Ele vivia de comer os filhotes da cachorra Tita, até o dia em que ela cansada de ver toda a sua cria devorada pelo desalmado, um dia pariu e tratou de esconder todos eles num buraco, sentando-se em cima toda embelezada com maquiagens granfinas, vestido de saia longa e um colar de brilhantes no pescoço. Quando o bicho chegou não reconheceu e ficou desconfiado. Vinha então um cágado e ele perguntou se tinha visto os filhotes da cachorra Tita e respondeu que não. Perguntou à raposa que passava, também não. Perguntou ao coelho que lhe disse: Ora, Quibungo, você não reconhece? Ele então olhou e a cachorra pegou seus filhotes e saiu correndo. Ficou sem saber se pegava a cachorra ou o coelho. Por conta da dúvida, perdeu o paradeiro de ambos e ficou de mãos abanando. Então, dirigiu-se para uma casa que sabia ter crianças. Aproximou-se da residência cantando: De que é esta casa, auê, como gére, como gérê, como érá? Aí a mãe responde: A casa é de meu marido, auê, como gére, como gérê, como érá. Ao perguntar pelos filhos e a mãe responder que é dela, ele diz: Então, quero comê-los auê, como gére, como gérê, como érá? A mãe responde. Pode comê-los, embora, auê, como gérê, como gérê, como érá. Depois que come os filhos, ele pergunta de quem é a mulher, ao que ela responde ser do marido. Ele parte para comê-la, surge o marido armado de uma espingarda e atira, ele sai às carreiras cantando: Arrenego desta casa, auê, que tem uma porta só, auê, como gérê, como gérê, como érá. Na fuga ele se depara com a caranguejeira na outra margem do rio, pedindo pro urubu atravessá-la para ir comer fruta do outro lado. O urubu cavalheiro, logo dispôs pra ela se amontar nas costas dele. Atravessaram e quando o urubu foi comer uma fruta, a caranguejeira disse que era dela. O urubu pediu desculpas e foi comer de outra fruteira, repetindo a caranguejeira que também era dela. E assim com todas as frutas da redondeza, aborrecendo-se o urubu e voando para bem longe dali. O Quibungo a tudo vigiava e já ia se aproximar dela, quando o jacaré chegou convidando a caranguejeira para pernoitar na sua casa, com a promessa de mandar seus filhos levá-la de volta na manhã seguinte. Assim acertado, ela foi pra casa do jacaré, chegando lá pediu pro jacaré mandar os filhotes passá-la no rio bem cedo. Tudo ajustado, o jacaré então fez a cama em cima do ninho dos seus ovos. A aranha agasalhou-se e, passado o tempo em que todos já dormiam, começou a comer os ovos. Ao quebrar o primeiro, os filhos do jacaré gritaram: - Ronco de hóspede, papai! Cala boca, meninos, deixa a comadre dormir. Dali a pouco ela quebrava outro ovo e os filhos tornavam a gritar: - Ronco de hóspede, papai! Se aquieta, meninos, deixa a comadre dormir. Nessa brincadeira a aranha papou todos os ovos do jacaré e acordou-se ao primeiro sinal da alvorada, toda apressada para ir embora: - Compadre, mande os meninos me levar. Ainda é muito cedo, comadre. Não, compadre, tenho muito a fazer em casa. Assim acertaram e os filhos do jacaré levaram-na. Quando saíram o jacaré foi conferir os ovos e enfureceu-se ao perceber que ela havia comido todos eles. Saiu às pressas, mas já era tarde, ela já estava descendo do outro lado da margem do rio. O Quibungo que esperava a volta para devorar os filhos do jacaré, assustou-se com a chegada repentina dele. É que o jacará estava furioso. O urubu que voava, viu a aflição do jacaré e pousou: - A comadre aranha é muito malagradecida. Destá. Saíram e o Quibungo resolveu pescar, atirando os peixes atrás das costas. Ao achar que havia pescado o bastante para suas refeições, virou-se para apanhá-los e estava o lugar mais limpo. Investigando ao redor deu de cara com a caranguejeira: - Foi você que comeu meus peixes, num foi? Eu não. Foi. Eu não. Foi. Não foi. Nessa hora passou voando um juriti e a aranha gritou: - Ei, juriti! Se eu não tivesse feito você ficar bonita desse jeito, não voaria de jeito nenhum! Aí o Quibungo perguntou: - Você sabe fazer eu ficar bonito? Ah, se sei. Então eu quero. Então, vamos. E foram, até que a aranha mandou pegar um toro especial, o mais pesado e fincasse na terra. Assim ele fez. Depois mandou catar muitos galhos e cipós para fazer a encomenda. Assim fez. Então ela amarrou, torceu, deu nó, reamarrou, deu trocentas voltas, bem amarrado e perguntou pra ele: - Quibungo, veja se pode se bulir aí! Ele fez força, inchou e viu que estava preso, dizendo: - Tô todo arrochado de num poder nem piar, ora. A aranha então riu maliciosamente, armou-se de uma quicé amolado e começou a cortar pedaços da carne dele para comer. Ele gritava, berrava, ela só se abastecendo, até encher e ir-se embora, deixando-o amarrado. Foi aí que passou uma tartaruga e ele pediu para soltar os cipós, e ela nem aí, seguiu caminhando. Passou um veado, depois um boi, depois um caneiro, a todos pedia e nenhum deles atendeu. Foi então que passou o cupim e aos prantos ele pediu para roer o cipó, ao que respondeu: - Eu não, quando você soltar, você vai comer os meus filhos. Vou não, cupim. Vai sim. Prometo que não. Não acredito. Pelo amor de seus filhos, me solte. Solto não. E ficaram nisso por horas, até que o Quibungo convenceu o cupim e este roeu os cipós, libertando-o. Ele agradeceu e prometeu não comer os filhos do cupim, indo à caça da aranha. Foi encontrá-la escondida na pele dum bode, tomando água numa fonte. – Ah-rá! Vou dar o troco agora, sua danada! E ao partir para atacá-la, eis que surge o pai aflito de tanto procurar pelos filhos, encontrando o Quibungo na hora do bote, e às escondidas, mirou e disparou um tiro certeiro matando-o. Com o estampido a aranha se assusta e cai na água morrendo afogada. O pai aproxima-se e abre à força o buraco nas costas do Quibungo e retira os filhos ainda vivos, levando-os para casa feliz por resgatá-los, providenciando uma festa com a vizinhança. Os festejos corriam soltos noite alta quase madrugada, quando entrou pela porta da frente, saiu pela ponta do canivete, quem quiser que contre outra ou invente uma maior que sete. (Recriada a partir de narrativa oral da minha avó Benita, e registrada na obra O folclore negro do Brasil: demopsicologia e psicanálise (Casa do Estudante do Brasil, 1935), de Artur Ramos). © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

PARA QUE A AULA SEJA BOA DE PEDRO DEMO
[...] Para que a aula seja boa: precisa estar comprometida com a aprendizagem em quem dá aula e com a aprendizagem em que escuta a aula; daí segue que a aula será sempre expediente supletivo, por mais útil que possa ser; é mero instrumento secundário, jamais o sentido da didática; precisa ser elaborada, reconstruída: significado que o professor carece de estudo continuado, evitando-se logo que dê qualquer aula sobre qualquer assunto; só se pode dar aula daquilo que produz, a rigor; precisa ser atraente ou pelo menos suportável, envolvendo os ouvintes para além da mera assistência forçada ou passiva; nem todo mundo expõe bem, mas é preciso pelo menos expor algo de interesse e pertinência; não pode abusar da atenção dos ouvintes, sendo inócua a aula longa; precisa ser envolvente, no sentido de estabelecer entre entre professor e aluno ambiente de emoção possível; não se trata de causar prazer imediato, porque não nos interessamos apenas por aquilo que dá prazer (se assim fosse, poucos estudariam matemática ou fariam mestrado/doutorado), mas de travar relacionamento que envolva as pessoas em questões que as movam a escutar com atenção e permanecer interessadas; precisa ser curta, porque, de todos os modos, pesquisar e elaborar sempre são mais importantes que escutar aula. Parece claro que o sentido da aula está no cuidado com a aprendizagem do aluno: a isto serve caracteristicamente e a isto jamais deveria impedir. Deve reforçar a formação da autonomia, não sua subalternidade sempre  reproduzida. [...] .
Trecho do capítulo O ensino na universidade, extraído da obra Universidade, aprendizagem e avaliação: horizontes reconstrutivos (Mediação, 2004), do sociólogo e professor Pedro Demo, discutindo sobre o papel da universidade, o papel do professor, do significado da aprendizagem e da avaliação no ensino superior, apontando caminhos, novos horizontes e fundamentando-se na vasta literatura referente. Veja mais aqui e aqui.

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A lenda do açúcar e do álcool, Educação não é privilégio de Anísio Teixeira, História da Filosofia de Wil Durant, a música de Yasushi Akutagawa, Não há estrelas no céu de João Clímaco Bezerra, Cumade Fulosinha & Menelau Júnior, a pintura de Madison Moore, João Pirahy & Pulsarte aqui.

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Sorria, Canto geral de Pablo Neruda, A desobediência civil de Henry David Thoreau, O feijão e o sonho de Orígenes Lessa, Revolução na América do Sul de Monteiro Lobato & Brincarte do Nitolino, a pintura de Amedeo Modigliani, a música de Sebastião Tapajós, Marcelo Soares aqui.
Psicologia social e educação, a poesia de Pablo Neruda, a pintura de Amedeo Modigliani, a música de Yasushi Akutagawa, a arte de Regina Espósito & Ju Mota aqui.
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Devagar e sempre, A monadologia de Leibniz, Estudo do poema de Antônio Cândido, Meu país de Dorothea Mackellar, A arte da comédia de Lope de Vega, o ativismo de Emma Goldman, a arte de Gilvan Samico, a música de Alceu Valença, a xilogravura de Amaro Francisco Borges, Brincarte do Nitolino & a pintura de Nina Kozoriz aqui.
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A conversa das plantas, Memória da guerra de Duarte Coelho, a poesia de Cruz e Sousa, Arquimedes de Siracusa, a música de Natalie Imbruglia, a arte de Hugo Pratt & Tom 14 aqui.
Leitoras de James leituras de Joyce, a fotografia de Humberto Finatti, a arte de Henri Matisse & Wayne Thiebaud aqui.
Incipit vita nuova, As raízes árabes da arte nordestina de Luís Soler, A divina comédia de Dante Alighieri, a música de Galina Ustvolskaya, a pintura de Jack Vetriano & Paul Sieffert, as gravuras de Gustave Doré & a arte de Luciah Lopez aqui.
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O CAMINHO DE MUMON
O grande caminho não tem portas, milhares de caminhos levam a ele. Quando atravessamos esse umbral sem portas, caminhamos livremente entre o céu e a terra.
Pensamento do calígrafo e sábio zen Mumon Yamada (1900-1988).

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de especial com a pianista Maria Teresa Madeira interpretando Ary Barroso & Recital, o violonista Yamandu Costa ao vivo & In Concert, a pianista Cristina Ortiz com Alma Brasileira & Ciclo Brasileiro Heitor Villa-Lobos, o violonista Laurindo Almeida com Musico f Brazilian Masters & Cajita de Musica. Para conferir é só ligar o som e curtir.

A ARTE DE LATIFA LAÂBISSI
A arte da dançarina e coreógrafa francesa Latifa Laâbissi.