sexta-feira, julho 14, 2017

AL-GHAZZALI, MARLOS NOBRE, DALTON TREVISAN, GALINA USTVOLSKAYA, GILBERTO MENDES, KAZIMIERZ MIKULSKI, MIRIAM RAMOS & LUCIAH LOPEZ

É ELA TODAS AS MUSAS – Imagem: arte da poeta, artista visual & blogueira Luciah Lopez. - Ainda que não seja possível a poesia nesse tempo desfigurado de desumanos trajetos de pedras perdidas e que o coração desfaleça sedento à beira do charco que a solidão sitiou das lágrimas empoçadas, mesmo assim, isso eu sei, haverá o amor que emerge em flor no meio dos vendavais, atravessando imensos óbices e temporais pelas enxurradas de desejos indomáveis inflamando noites incendiadas de esperas na demorada ligação das pontas convergentes dos anseios mútuos e paralelos, quase desesperançados. Isso porque se sou a desolação que quedou diante das expectativas e dos sonhos inconclusos, ela se faz poeta qual Melpômene depondo sua grinalda a me entregar a clava do poder, entoando a voz Calíope que sai ao buril da tabuleta a se mostrar incorporada à lírica de amável Erato que me dá a lira pra que o canto seja renovado e todas as canções e poemas sejam meus. E mesmo que eu me veja abandonado ao ermo das posses e sem bússula para seguir em frente, ela chega a se revelar proclamadora Clio, a me expor com seu pergaminho todo passado indisfarlável, todo o presente de promessa e todo futuro de quimera na realização carnal que desde a véspera fez-se crástico pra me presentear agora. E mesmo que eu emudeça diante da esterilidade do silêncio com todas as mordaças e rouquidões, ela avança Euterpe a me embalar com a música de sua flauta ensolarada para que eu tenha o ânimo de recomeçar do zero e a mão no amanhã. E mesmo que eu esteja ao calor das paredes cruas e a vida afora, ela festeja Poliminia em mim todos os seus hinos sacros e profanos para que eu me faça festa na abundância de seus poderes e posses, como se tudo seu passase a ser meu. E mesmo que me precipite solitário entre recaídas sucessivas por sucumbências imprevisíveis, ela é mais que envolvente Terpsícore a rodopiar na dança embalada pelo plectro na lira, a me ensinar novos versos e cantares, até que eu exorcize minha loucura e possa entoar cordas harmônicas. E mesmo que eu tenha perdido a graça de tudo no transbordamento de aguados choros entre fracassos e fraquezas, ela me chega com o perfume das flores no seu sorriso Tália de ser para alegrar meus dias com sua coroa de Hera e bastão entre histrionices e chistes a me fartar de rir como se não mais houvesse ontens nem amanhãs pra mandar ver com despudor. E mesmo que eu tenha errâncias infindas por saldo na perda de toda e qualquer fronteira da lucidez e prumo, ela se revela Urânia a me entregar o céu e as estrelas, a vida no compasso e a posse da Terra, mesmo que sequer saiba o que fazer depois noites mal dormidas e dias nublados. E depois tudo, salvo de todas as quedas e precipícios nas saradas feridas dos talhos abertos, ela se despe de todas elas e das vestes para ser apenas ela a panacéia e o meu amor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

O OCASIONALISMO DE AL-GHAZZALI
[...] Lembrem-se de seus contemporâneos que faleceram e tinham a mesma idade que você. Lembrem-se das honras e famas que eles obtiveram, dos altos postos que ocupavam e dos belos corpos que possuíam, e de que hoje todos eles se transformaram em cinzas. Como eles deixaram órãos e viúvas atrás de si, como sua riqueza está sendo desperdiçada depois deles e suas casas transformando-se em ruínas. Nem sinal deles existe hoje e eles estão deitados em buracos escuros debaixo da terra. Reconswtruam suas faces mentalmente e ponderem. Não depoistem esperanças em suas riquezas e não desprezem a vida. Lembrem-se de como eles andavam e de como agora todas as suas junta separaram-se, de que a língua com a qual falavam agilmente foi devorada pelos vermes e de como seus dentes estão corroídos. Eles estavam tolamente se provendo para mais vinte anos, quando nem mesmo um dia de suas vidas lhes restava. Eles nunca esperaram que a morte viesse para eles numa hora tão inesperada... Quando algo no mundo lhe agrada e nasce em você uma vinculação com isto, lembra-se da morte.
Trecho extraído da obra The revival of religions sciences (Sufi Publishing, 1972), do filósofo, teólogo, psicólogo e místico islâmico Al-Ghazzali (1058-1111), propondo a teoria do ocasionalismo

Veja mais sobre:
O passado escreveu o presente; o futuro, agora, Sociolinguística de Dino Preti, o teatro de Bertolt Brecht, Nunca houve guerrilha em Palmares de Luiz Berto, a música de Adriana Hölszky, a escultura de Antonio Frilli, a arte de Thomas Rowlandson, a pintura de Dimitra Milan & Vera Donskaya-Khilko aqui.

E mais:
A liberdade de expressão, A filha de Agamenon de Ismail Kadaré, A natureza de Parmênides de Eléia, Poema sujo de Ferreira Gullar, O teatro essencial de Denise Stoklos, a música de Badi Assad, o cinema de Ingmar Bergman & Liv Ullmann, a escultura de Emilio Fiaschi, Programa Tataritaritatá, a pintura de Gustav Klint & Vera Donskaya-Khilko aqui.
O discurso do método de René Descartes, a música de João Bosco, o teatro de Denise Stoklos, o cinema de Ingmar Bergman, a pintura de Gustav Klimt, Sandra Regina, Bernadethe Ribeiro & Danny Calixto aqui.
Literatura de cordel: História do capitão do navio, de Silviano Pirauá de Lima aqui.
Preconceito, ó! Xô pra lá, Diários de viagem de Franz Kafka, A revolta de Atlas de Ayn Rand, A lua e o infinito de Giacomo Leopardi, a música de Leoš Janáček & Cheryl Barker, o cinema de Alessandro Blasetti & Sophia Loren, Maguerite Anzieu & Jacques Lacan: caso Aimée, a arte de Liliana Castro, a pintura de Helmut Breuninger & Hermann Fenner-Behmer aqui.
Os vexames dum curau no sul, O absurdo de Thomas Nagel, Voragem de Junichiro Tanizaki, Pretidão de amor de Emílio de Meneses, Mão na luva de Oduvaldo Vianna Filho, o cinema de Olivier Assayas & Maggie Cheung, a música de Rosalia de Souza, a pintura de Pierre-Auguste Renoir & Suzanne Frie aqui.
Quadrilha das paixões mais intensas, Vaqueiros & cantadores de Luís da Câmara Cascudo, Terra de Caruaru de José Condé, a música da Orquestra Armorial & Cussy de Almeida, A Setilha de Serrador, O casamento de Maria Feia de Rutinaldo Miranda Batista, a arte de Roberto Burle Marx. a xilogravura de Severino Borges, J. Miguel & Vermelho aqui.
Entre nós, vivo você, as gravuras de Lasar Segall, a música de Sivuca, Cartilha do cantador de Aleixo Leite Filho, Cancão de fogo de Jairo Lima, a poesia de Belarmino França, a arte de Luciah Lopez, a xilogravura de J. Borges & José Costa Leite aqui.
Dos bichos de todas as feras e mansas, Cantadores de Leonardo Mota, O Romance da Besta Fubana de Luiz Berto, O martelo alagoano de Manoel Chelé, a música do Duo Backer, a escultura de Antoni Gaudí, a militância de Brigitte Mohnhaupt, a arte de Natalia Fabia & a xilogravura de J. Borges aqui.
Quem desiste jamais saberá o gosto de qualquer vitória, A linguagem & as ciências de Roman Jakobson, Nos caminhos de Swan de Marcel Proust, a arte de Regina José Galindo, a fotografia de Thomas Karsten, a pintura de Henry Asencio, a música de Secos & Molhados & Luiza Possi aqui.
Tudo em mim, mestiço sou, O povo brasileiro de Darcy Ribeiro, A história da minha vida de Helen Keller, Anarquismo & ensaios de Emma Goldman, a escultura de Luiz Morrone, a fotografia de Pisco Del Gaiso, Os Fofos Encenam & Viviane Madu, a música de Guilhermina Suggia & a pintura de Martin Eder aqui.
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AH, É? DE DALTON TREVISAN
Ao tirar a calcinha, ele rasga. Puxa com força e rasga. Vai por cima. Ó mãezinha, e agora? Com falta de ar, afogueada, lavada de suor. Reza que fique por isso mesmo. Chorando, suando, tremendo, o coração tosse no joelho. Ele a beija da cabeça ao pé — mil asas de borboleta à flor da pele. O medo já não é tanto. Ainda bem só aquilo. Perdido nas voltas de sua coxa, beija o umbiguinho. Deita-se sobre ela — e entra nela. Que dá um berro de agonia: o cigarro aceso na palma da mão. Mas você pára? Nem ele.
Ministória extraída do livro Ah, é? (Record, 1994), do escritor Dalton Trevisan. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de especial do pianista, maestro e compositor Marlos Nobre: Yanomami for choir & guitar com o Coro Cervantes, Passaglia for Orchestra & Três Cantos de Yemanjá for cello & piano; da compositora russa Galina Ustvolskaya (1919-2006): Symphony nº 2 & Poem nº 1; do compositor, regente, professor e jornalista Gilberto Mendes (1922-2016): Alegres trópicos, um baile na Mata Atlântica, Piano solo & Saudades do Parque Balneário Hotel com a OSESP; e da pianista Miriam Ramos interpretando o compositor, regente e flautista Octavio Maul & o maestro e compositor Ricardo Tacuchian. Para conferir é só ligar o som e curtir.

SÉTIMO DIA DE LUCIAH LOPEZ
Havia muitos anos desde que a Sentinela do Tempo - resignada - depositou na palma da minha mão, a Chave que Desdobra a Eternidade e todos as trombetas soaram e a chegada do dia estendeu-se em campo aberto unindo todos os planos celestiais. Uma lágrima escapando dos meus olhos transforma-se em diamante ganhando a credibilidade do Arauto de Todas as Verdades. Ambos, Sentinela e Arauto -, ajoelhados diante do Sol, quando em seu esplendor, corre o céu eclodindo a vida para dentro dos meus olhos -, outrora cegos, entoam cânticos reverenciando a Hora do Choro Que Não é Triste. Um raio do espectro solar faz dissipar um resto de nuvens que já cumpriram sua missão e o Leão de Pedra reluz...
Sétimo dia, poema/imagem da poeta, artista visual & blogueira Luciah Lopez.

A ARTE DE KAZIMIERZ MIKULSKI
A arte do pintor, designer e desenhista polonês Kazimierz Mikulski (1918-1998).