sábado, julho 15, 2017

DERRIDA, PAULO MOURA, UZYNA UZONA, PAT METHENY, EUGÉNIA MELO E CASTRO, TOMOKO MUKAIYAMA, HAMID ZAVAREEI, GUIDO BILHARINHO & SÁBADO NO UNA

PORQUE ERA SÁBADO NO UNA - De manhã, o Sol na feira: sabores do campo, odores de sovaco e lamaçal. Burburinho sem horrores, passos e pressas, motores roncando nas idas e vindas pro mercado, toldas dos cordéis, fruteiras e precisões, bagaços e rumores de fôlegos avexados, da La Ursa ao Mané Gostoso, tudo vendável aos gritos das ofertas: é só hoje, amanhã não tem mais. Das flores as cores e curaus, olores matinais de moça que acordou, gente a dar com pau. Sacolas de milho, cheirinho bom de munguzá. Quem vai querer? Raízes saborosas, frutos tirados do pé. Lapadas, meiotas e cuspidas, tinindo! Como vai? Até já. Escolhas na urupema, enche a bisaca. Quanto é? Um tantinho de nada, feito caldo de cana. Opa! Ali está mais em conta. Ah, pode levar, aqui manda o freguês, cortesia cristã, usura aos trocados. Até o homem da cobra juntava curiosos, receitas de cura, bregueços de tudo. A vida passava e nem nem, o troco das graças, troços de festas, fuxicos e pesos pesados nas medidas dos bolsos. É andar que só a má notícia. Carrega de monte, a tuia desfeita num quarto de hora, do jeito que vai não chega meio dia. Nada, pelas dez o saudoso Tininho invocando o risível em voz alta trechos do Aleph de Borges, enquanto Karajan soava baixinho o último movimento da Nona de Beethoven na vitrola lá de dentro. Pilhérias do Velho Faceta com as cenas do Porteiro de Cavani, Tininho misturava as Carmina Burana ao Agá de Hermilo, nem se sabia o que era sério ou lorota. Antes das onze chegava Afonso Paulo risonho ajeitando os óculos no pau da venta com leituras ilustradas de Joyce e dos Sertões de Rosa, já a hora de ir pro Boteco do Dudé, lá fora a trocar ideias das Filosofias, Literaturas e músicas de todos os tempos nas conversas fiadas. Muito depois do meio dia, papo ainda por atualizar de todo, hora do almoço com a saiadeira. À sesta, o mormaço da tarde e Luciano nos rastros de Décio, Tomé e do saudoso Jaorish pras claves pianísticas das horas até o crepúsculo com improvisos de jazz ou rock progressivo, tons da Orquestra Armorial ou dos solfejos de Saint-Preux. À boquinha da noite tudo como a poesia da Criação de Vinicius, coisas de se rir com a Fubana de Berto no teatro pros riscados de Rollandry ou com as gaitadas de Juhareyz com as matutices poéticas de Ascenso. Já de noite e o bar no mote de Zé Ripe, aos acordes de Ozi e a Leonor de Célio e Gulu: a gente mangava de tudo de nem se tocar que a vida é tão breve. Fernandinho Bigode dava o tom pra Marquinhos como se não houvesse amanhã, enquanto Âneglo desenhava uma caricatura da trupe perpetuando a besteira da gente viver assim de nada, feito magotes levados pelo empolgado desentôo de Mauricinho que sacava do Cascudo as coisas de Jorge Amado e o Profeta recita uma do Jogo Duro preu ensaiar acordes perdidos. De passagem o insone Mazinho acenava uma canção madrugeira e a gente toda, aos copos e risos, perdíamos o tempo nas lembranças aos ventos da quase manhã de Domingo na beira do Una. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

OS ARQUIVOS DE DERRIDA
[...] Depositados sob a guarda desses arcontes, estes documentos diziam, de fato, a lei: eles evocavam a lei e convocavam à lei. Para serem assim guardados, na jurisdição desse dizer a lei eram necessários ao mesmo tempo um guardião e uma localização. Mesmo em sua guarda ou em sua tradição hermenêutica, os arquivos não podiam prescindir de suporte nem de residência. [...] Para se abrigar e também para se dissimular. Esta função arcôntica não é somente topo-nomológica. Não requer somente que o arquivo seja depositado em algum lugar sobre um suporte estável e à disposição de uma autoridade hermenêutica legítima. É preciso que o poder arcôntico, que concentra também as funções de unificação, identificação, classificação caminhe junto com o que chamaremos o poder de consignação. Por consignação não entendemos apenas, no sentido corrente desta palavra, o fato de designar uma residência ou confiar, pondo em reserva, em um lugar e sobre um suporte, mas o ato de consignar reunindo os signos. Não é apenas a consignatio tradicional, a saber, a prova escrita, mas aquilo que toda e qualquer consignatio supõe de entrada. A consignação tende a coordenar um único corpus em um sistema ou uma sincronia na qual todos os elementos articulam a unidade de uma configuração ideal. Num arquivo, não deve haver dissociação absoluta, heterogeneidade ou segredo que viesse a separar (secernere), compartimentar de modo absoluto. O princípio arcôntico do arquivo é também um princípio de consignação, isto é, de reunião. [...] Fazer justiça a essa necessidade significa reconhecer que, em uma oposição filosófica clássica, nós não estamos lidando com uma coexistência pacífica de um face a face, mas com uma hierarquia violenta. Um dos dois termos comanda (axiologicamente, logicamente etc.), ocupa o lugar mais alto. Desconstruir a oposição significa, primeiramente, em um momento dado, inverter a hierarquia [...].marcar o afastamento entre, de um lado, a inversão que coloca na posição inferior aquilo que estava na posição superior, que desconstrói a genealogia sublimante e idealizante da oposição em questão e, de outro, a emergência repentina de um novo ‘conceito’, um conceito que não se deixa mais - que nunca se deixou - compreender no regime anterior [...]. A perturbação do arquivo deriva de um mal de arquivo. Estamos com um mal de arquivo (en mal d'archive). Escutando o idioma francês e nele, o atributo de "en mal de", estar com mal de arquivo, pode significar outra coisa que não sofrer de um mal, de uma perturbação ou disso que o nome ‘mal’ poderia nomear. É arder de paixão. É não ter sossego, é incessantemente, interminavelmente procurar o arquivo onde ele se esconde. É correr atrás dele ali onde, mesmo se há bastante, alguma coisa nele se anarquiza. É dirigir-se a ele com um desejocompulsivo, repetitivo e nostálgico, um desejo irreprimível de retorno à origem, uma dor da pátria, uma saudade de casa, uma nostalgia do retorno ao lugar mais arcaico do começo absoluto [...].
Trechos da obra Mal de Arquivo: uma impressão freudiana (Relume Dumará, 2001), do filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004), ensaio que trata acerca do lócus da memória, dos registros do passo e da história, num conceito de arquivo sob a perspectiva tecnica, política, ética e jurídica, suas correspondências com o momento, o índice, a prova e o testemunho evocando um sintoma, um forimento e uma paixão como o arquivo do mal, definindo a interpretação no discurso da história. Veja mais aqui e aqui.

Veja mais sobre:
O feitiço da naja: tocaia & o bote, Sistemas de comunicação de Joseph Luyten, Palmares & o coração de Hermilo Borba Filho, Porta giratória de Mário Quintana, Or de Liz Duffy Adams, a música de Vanessa Lann, a pintura de Joerg Warda & a arte de Luciah Lopez aqui.

E mais:
Aniversário de Aninha, A escritura & a diferença de Jacques Derrida, O narrador de Walter Benjamin, Bodas de sangue de Federico García Lorca, a música de Paulo Moura, a pintura de Cícero Dias & Rembrandt Harmenszoon van Rijn, a coreografia de Lia Robato, Brincarte do Nitolino & a poesia de Greta Benitez aqui.
A obra de arte & a reprodução de Walter Benjamim, a poesia de Guillaume Apollinaire, a pintura de Rembrandt Harmenszoon van Rijn, Efigênia Coutinho & Programa Tataritaritatá aqui.
A campanha do Doro presidente aqui.
A ponte entre o amor e a paixão aqui.
Literatura de cordel: Que língua a nossa, de Carlos Silva aqui.
As trelas do Doro: doidices na sucessão & a arte de Yayoi Kusama aqui.
Cantarau Tataritaritatá, a pintura de Candido Portinari & Vicente do Rego Monteiro, a música de Bach & Wanda Landowska, O vir-a-ser contínuo de Heráclito de Êfeso, A estrada morta de Mia Couto, As casas & os homens de Adolfo Casais Monteiro, Maria Peregrina de Luis Alberto Abreu, Quebra de xangô de Siloé Soares de Amorim, a arte de Luciano Tasso, Brincarte do Nitolino & Jobs no baço e encarar nocautes de Vlado Lima aqui.
Primeira reunião, Ética pro novo milênio do Dalai Lama, Morte ao invasor de Gilvan Lemos, O despertar da primavera de Frank Wedekind, O testamento de Orfeu de Jean Cocteau, a pintura de Marc Chagall & Edgar Degas, a música de Toquinho, a arte de María Casares, a coreografia de Alonso Barros & a poesia de Valéria Tarelho aqui.
Lagoa Manguaba, Teoria do vínculo de Pichon Rivière, História do Brasil de Laurentino Gomes, as sinfonias de Gustav Mahler, a pintura de Lasar Segall & Ekaterina Mortensen, Amor por anexins de Artur Azevedo, o cinema de Vittorio De Sica & Sophia Loren, Kiki, Rainha de Montparnasse, Pavios curtos de José Aloise Bahia & Programa Tataritaritatá aqui.
A rodagem de Badalejo, a bodega de Água Preta, O analista de Bagé de Luis Fernando Veríssimo, Narração & narrativas de Samira Nahid Mesquita, Iniciação ao teatro de Sábato Magaldi, o cinema de Hector Babenco, a música de Meredith Monk, a arte de Vanice Zimmerman, a pintura de Robert Luciano & Vlaho Bukovac aqui.
Cantando às margens do Una, Psicologia geral de Alexander Luria, Clonagem & células-tronco de Mayana Zatz, Aquela criança de sempre de Reinaldo Arenas, a música de Heitor Villa-Lobos & Arthur Moreira Lima, o cinema de Luchino Visconti & Alida Valli & Marcella Mariani, Ginger Rogers, a pintura de Joshua Reynolds & Carl Larsson, a arte de Ana Paula Arósio & a poesia de Líria Porto aqui.
A família de Jacques Lacan, Pensamento & linguagem de Alexander Luria, a música de Elizeth Cardoso, Aníbal Bragança & Clevane Pessoa de Araújo Lopes aqui.
A mulher na história aqui.
Proezas do Biritoaldo aqui.
Satyrricon de Petrônio aqui.
Musa Tataritaritatá: a estudante Estéfane Cruz aqui.
A arte de Claudia Cozzella aqui.
Educação, professor-aluno, gestão escolar & neuroeducação, O livro dos sonhos de Jorge Luis Borges, a música de Ayako Yonetani, Ciência psicológica, a fotografia de Anton Giulio Bragaglia, a pintura de Jean Metzinger & Anthony Gadd aqui.
Cantarau Tataritaritatá, 1919 de John dos Passos, o teatro pobre de Jerzy Grotowski, Estética teatral de José Oliveira Barata, a coreografia de Xavier Le Roy, a pintura de Vesselin Vassilev, a arte de Alex Mortensen & a música de Carlos Careqa aqui.
Manchetes do dia: ataca o noticiário matinal, Folclore pernambucano de Pereira da Costa, Filosofia da Linguagem, Vinte vezes de Cassiano Nunes, a música de Fabian Almazan, a coreografia de Doris Uhlich, a pintura de Nicolai Fechin & a arte de Roberto Prusso aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

O CINEMA DE GUIDO BILHARINHO
Acaba de ser lançado o livro O Cinema de Hitchcock e Woody Allen (Revista Dimensão, 2017), do advogado e escritor Guido Bilharinho, editor da revista internacional de poesia e autor de livros de Literatura, Cinema e História do Brasil e Regional, traçando uma trajetória dos anos 1930 até 2000. O autor colaborou publicando artigos sobre cinema no nosso tablóide Nascente – Publicação Lítero-Cultural, que circulou entre os anos 1995/1999. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje é dia de especiais do saudoso maestro, compositor, arranjador, saxofonista e clarinetista Paulo Moura (1932-2010) interpretando Radamés Gnatalli & Confusão urbana, suburbana e rural; a cantora e compositora portuguesa Eugénia Melo e Castro cantando Vinicius de Moraes e outros dos seus sucessos; o guitarrista de jazz estadunidense Pat Metheny desfilando Speaking of Now Live & The Way Up; e a pianista, compositora, artista e diretora japonesa Tomoko Mukaiyama executando At the illeseum (parts 1, 2 e 3) e músicas de obras de John Zorn, William Bolcon & Frank Zappa. Para conferir é só ligar o som e curtir.

O TEAT(R)O OFICINA UZYNA UZONA
A arte do Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, companhia teatral fundada e dirigida pelo ator e diretor de teatro José Celso Martinez Correa. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A ARTE HAMID ZAVAREEI
Art by Hamid Zavareei