segunda-feira, junho 19, 2017

APRENDER A VIVER DE LUC FERRY, SALMAN RUSHDIE, RENATA BRZOZOWSKA, ALLISON DEBONA, LÉA MARINHO & AD CAPTANDUM VULGUS

AD CAPTANDUM VULGUS - A patota reunida na maior molecagem com os últimos acontecimentos na Patriamada, quando Zé Corninho saiu com uma das suas: - Não acredito mais em nada, fui enganado a vida toda! Robimagaiver, então, retrucou: - Também, pudera! Um corno cheio de gaia feito tu, queria o quê? Foi feito só pra levar desacerto na vida mesmo, ora! Aí Afredo se meteu na conversa: - Eu mesmo só voto em quem me der dinheiro! Pra me enganar tem que pagar! Mamão aquiescente, opinou: - Eu tomém! Insatisfeito, Robimagaiver reclamou: - Vendidos! Por isso estão eleitas todas as trepeças e porqueiras pra governar no Brasil! Biritoaldo sarcástico complementou: - Eu acho é bem empregado, otários! Se eu tivesse lá ou em qualquer governo, faria o mesmo, ia era me arrumar que não sou besta! Furiosamente Penisvaldo retorquiu: - Esse fala como se não fosse o mais bocó dos alesados, não é brasileiro não, fidapeste? Tocando fogo, Rolivânio revidou: - Ô Birito, de que lado você está, hem? Procurando organizar a conversa, Doro entrou todo cheio de razão: - Desde menino que meu pai sempre dizia que seguisse o governo, só é quem faz por nós, tanto que ele tinha os dois colhões do lado direito da cueca pra se prevenir do comunismo. Aí, cresci e quando saí da escola que quase entrei na faculdade, aprendi e virei pras esquerdas. Taí, hoje tudo entronchado, o que votei deu na mesma desgraça, não tenho mais em quem acreditar! Nisso ele foi interrompido pelo calor dos desaforos de uns pros outros: - Ah, viado, vai tomar no centro do teu cu! Vai você, seu fidaputa! Vai se lascar, fresco! Eis que nessa hora chega dona Marcialita com a fineza de sempre: - Vocês são uns comboios de desocupados, só sabem reclamar e não fazem nada! Vão arrumar o que fazer, seus encrenqueiros! E saiu do mesmo jeito que chegou, de sopetão. Foi, então, que o Doro tentou apaziguar os ânimos, propondo ter com o doutor Zé Gulu pra passar o papo a limpo. Lá se foi a cambada tresloucada entre empurrões, dedadas e tapas, encher o saco do notável intelectual: - Doutor, diga pra gente uma coisa: como é que é, hem? Como de costume, o erudito ajeitou os óculos no pau da venta, respirou fundo e castigou no verbo: - Ah! Aqui só se reclama em causa própria! Cada qual sua razão e os outros que se fodam! Por isso, dissensos pros consensos, nenhuma solução. Alguém tem que perder, ou todos saem perdendo. Ninguém reclama por todos, só por si próprio, seus interesses ou infortúnios. Quem quer pensar no outro, sentir o que sentem juntos, o que sofrem todos de uma rua, bairro, cidade, estado ou na Nação? Quem? Ninguém. Cada um que puxe pra sua banda a corda de guaiamum, uma zona! Na horagá: perdem tudo porque é só bloco do eu sozinho. Aí os caras do poder, sabidos, políticos, capitalistas, autoridades, manietam imprensa e tudo, jogam duro, prometem e não cumprem, decidem conforme o jogo deles e só eles que saem ganhando no fim das contas. Ora, ora, lote de truculentos beócios, é como diz o ditado: Ad captandum vulgus! Tenho dito. E saiu invocado pra deixar os recalcitrantes com o rabinho murcho entre as pernas a se entreterem noutro assunto pra novas arengas. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

APRENDER A VIVER DE LUC FERRY
[...] Aprender a viver, aprender a não mais temer em vão as diferentes faces da morte, ou, simplesmente, a superar a banalidade da vida cotidiana, o tédio, o tempo que passa, já era o principal objetivo das escolas da Antiguidade grega. A mensagem delas merece ser ouvida, pois, diferentemente do que acontece na história das ciências, as escolas do passado ainda nos falam. Eis um ponto importante que por si só merece reflexão. [...] Então, o que fazer senão esperar pela catástrofe, pensando nela o menos possível? Talvez nada, de fato, mas talvez também, apesar de tudo, desenvolver sem ilusão, em silêncio, só para si mesmo, uma espécie de “sabedoria do amor”. Todos sabem muito bem que precisamos nos reconciliar com nossos pais — quase que inevitavelmente, pois a vida cria tensões — antes que eles desapareçam. Porque depois, o que quer que diga o cristianismo, é tarde demais. Se pensamos que o diálogo dos seres que nos são caros não acabou, é preciso chegar a uma conclusão. Eu lhe aponto uma, rapidamente, para lhe dar uma ideia do que entendo aqui por sabedoria do amor. Penso que os pais nunca devem mentir a seus filhos sobre coisas importantes. Conheço várias pessoas que descobriram, depois da morte do pai, que ele não era seu pai biológico — quer porque a mãe tenha tido um amante, quer porque tenha havido adoção secreta. Em todos os casos, esse tipo de mentira faz estragos consideráveis. Não só porque num momento qualquer a descoberta da verdade vira sempre um desastre, mas sobretudo porque depois da morte do pai, que não o era efetivamente, é impossível para a criança que se tornou adulto explicar-se com ele, compreender um silêncio, uma observação, uma atitude que os marcaram e aos quais ele gostaria de poder dar um sentido — o que se torna para sempre impossível. Não insisto — já lhe disse que essa sabedoria do amor deve ser elaborada por cada um de nós e, sobretudo, em silêncio. Mas acredito que devemos, à margem do budismo e do cristianismo, aprender, enfim, a viver e a amar como adultos, pensando, se necessário, todos os dias na morte. Não por fascinação mórbida. Ao contrário, para procurar o que convém fazer aqui e agora, na alegria, com aqueles que amamos e que vamos perder, a menos que eles nos percam antes. Estou certo de que, embora eu esteja infinitamente longe de possuí-la, essa sabedoria existe e constitui o coroamento de um humanismo, enfim, desembaraçado das ilusões da metafísica e da religião. [...] O respeito pelo outro não exclui a escolha pessoal. Ao contrário, a meu ver, ele é sua condição primeira.
Trechos extraídos da obra Aprender a Viver: Filosofia para os novos tempos (Objetiva, 2012), do filósofo francês Luc Ferry, tratando sobre o que é e para que serve a filosofia nos tempos atuais.

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É domingo nas mãos, A obra de arte & reprodução de Walter Benjamim, a poesia de Ascenso Ferreira, a música de Chico Buarque, Enciclopédia do Cinema Brasileiro, a arte de Nora Dorian, a pintura de Giuseppe Cacciapuoti & Umberto Brunelleschi aqui.

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A arte de Chico Buarque aqui e aqui.
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Big Shit Bôbras: o big bode do Brasil, Os versos satânicos de Salman Rushdie, A miséria do homem de Blaise Pascal, A coroa submersa de Ludwig Uhland, o cinema de Ridley Scott & Sean Young, a escultura de Antonio Canova & Paulina Bonaparte, a música de Paul McCartney, Teatro cordel de Cesar Obeid & a pintura de Andre Derain aqui.
Cherie, ma chérie & LAM no programa Vida de Artista de Gal Monteiro na TV Educativa aqui.
Vamos aprumar a conversa, Herzog de Saul Bellow, Ich -Traumnovelle de Arthur Schnitzler, a poesia de Ventura de la Vega, o cinema de Rainer Werner Fassbinder & Barbara Sukowa, a pintura de Jasper Johns, a música de Quaternaglia & Dorothea Röschmann aqui.
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O ÚLTIMO SUSPIRO DO MOURO DE SALMAN RUSHDIE
[...] Fugi da morte na escuridão da noite, deixando uma mensagem pregada na porta. e desde então, ao longo do meu caminho, junto com a fome e o calor, não têm faltado maços e folhas rabiscadas, e marteladas, e interjeições secas de pregos de duas polegadas. [...] e eu num país longínquo, com a morte em meu encalço e a história delas na mão, uma história que vivo a crucificar nos portões, nas cercas, nas oliveiras, espalhando-a por esta paisagem de minha última viagem, a história que aponta para mim. [...] sem a ajuda nem necessidade de nenhum Virgilio, no que deveria ser o meio do caminho da minha vida, mas que acabou sendo, por motivos complicados, o fim da linha, exausto, totalmente pregado. [...] Porém, após uma vida não muito longa (se bem que muito animada), constato de repente que não tenho mais teses. De crucificação, já basta a vida. Quando a gente está perdendo o fôlego, quando aquele sopro que nos impele para a frente já quase se extinguiu, é hora de fazer confissões. Chame-se isso de testamento, ou lá o que seja; o último suspiro da vida. Daí este “eis-me aqui”, tendo pregado as sentenças da vida à paisagem, tendo as chaves de uma fortaleza vermelha no bolso, nestes momentos de espera antes da rendição final. É hora, pois, de cantar os fins – do que era e do que talvez não seja mais; do que havia de certo e também de errado. Um último suspiro para um mundo perdido, uma láguima final diante desta extinção. Mas um grito derradeiro de desafio, o desfiar do último novelo de novelas escandalosamente estapafúrdias (palavras hão de bastar, à falta de equipamento de vídeo) e muita cantoria barulhenta durante o velório. [...].
Trechos do romance O último suspiro do mouro (Companhia das Letras, 1995), do escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie, contando a história de um heroi picaresco em cujas veias corre sangue português, judeu, árabe e indiano, afirmação viva daquele que escapa às classificações estreitas de todos os sectarismos nacionalistas, étnicos e religiosos, escrito quando da condenação à morte do autor pelo fundamentalismo islâmico do aiatolá Khomeini, em 1988. Veja mais aqui.

DOIS POEMAS DE LÉA MARINHO
Fêmea até demais: Sou sua fêmea, preferida, / A mulher da sua vida, / Aquela que te excita, / Da maneira mais explícita! / O meu prazer é visível, / Assim que eu te vejo, / Sou uma mulher sensível, / e cheia de desejo, / Uma Meretriz, na cama, / no dia a dia, uma Dama, / Até que sou comportada,/ e adoro ser amada!
Nua: Nua estou, / nu, você ficou, / nu estava, / e nua eu ficava, / e se te amava, / nua, eu delirava, / nu gozava, / e nua eu brincava... / com seu sexo, nu, beijava, / e nua , em sexo, me realizava! / nua na cama, eu também rolava, / porque nu, comigo, você transava! / e nú na hora da gente ir, / nua reclamava, mas me vesti, / e você, nu, se preparava, / vestia o terno e me levava...
Poemas da escritora Léa Marinho que reúne sua produção literária no Recanto das Letras.

A ARTE DE ALISSON DEBONA
A arte da bailarina e diretora estadunidense Allison DeBona, solista do Ballet West de Salt Lake City, Utah-USA.

A EXPRESSÃO FEMININA DE RENATA BRZOZOWSKA
A arte da pintora polonesa Renata Brzozowska