Imagem: Fado, do artista plástico modernista português Júlio Pomar.
QUARTA-FEIRA
Luiz Alberto Machado
A festa acabou
E não houve nenhum barulho na madrugada
A rua está pesunhada pela honra de Pã
À glória de Baco
E eu Dioniso vou só
A festa do povo passou
Neste dia
Eu te ofereço minha carne em holocausto
Neste luar que azula a escuridão
As ruas do pretérito caboclinho do Rabeca
O reluzente estandarte da Virgem
Guadalupe
E a extinção de Tupác Amaru
Até sua descendência em quarto grau
Tudo apaixonadamente vivo
Tudo delirantemente sentido
Tudo escandalosamente passado a limpo
Contaminados se foram os cultores do
pecado original
Do hedonismo
E do rig-veda
Hoje o morto carrega o vivo
E ontem de noite correu bicho em Matriz
de Camaragibe
E anteontem o bufo inspirou Zé da Justa
pra afinar a orquestra
E a Fubana dos artistas, varrida de
sonhos,
Impetrava um calor nas reentrâncias das moças
e senhoras
E a folia fez-se noite
E a folia fez-se dia
Permita Deus
Este mês seja só carnaval
Dentro de mim passou a folia do planeta
Com seus trogloditas pós-modernos
E o assoalho é só excrementos da festa
Da casa vazia
O reino dos fantasmas
Saia do sereno,
Saia do sereno,
Saia do sereno que esta frieza faz mal
Então o silêncio
E o meu sacrifício de Odin:
Apenas água para beber
E braços solidários
Tudo cinzas
E não fiz abstinência da carne
Nem interdição dos sentidos
A minha impulsividade e o suntuoso e o
inexprimível
Um dia tão grande no desvario do frevo
Não quero penitência
Estou debilitado pelo incenso inebriante
de mulher
Que dorme oculta no deleite do meu
travesseiro
Tudo viverá enquanto meu verso existir
O bar, a noite, o cigarro e a solidão
O poeta morreu terça-feira
E eu sigo inquieto
O amor assim que deveria ser: a vida!
DITOS & DESDITOS – Uma: Vou de Jorge Luis Borges (sic, ou não?):
Todo povo tem o governo que merece. Tá. E mais: Um dia seremos autogovernáveis,
a ponto de prescindirmos de leis e governos. Acredito, de mesmo. Porém, há quem
diga que ele ou era um visionário da porra ou estava cheio dos quequéos e
outras maruagens. Ah, tá. (LAM)
ALGUÉM FALOU – O mais irritante
no amor é que se trata do tipo de crime que exige um cúmplice. Pensamento , do escritor, tradutor, crítico de arte e poeta francês,
Charles Baudelaire (1821 - 1867). Veja mais aqui.
VERDADEIRO TESOURO - [...] Meu
entendimento é o único tesouro que possuo, o maior de todos. Embora
infinitamente pequeno e frágil quando comparado com os poderes das trevas, é
ainda uma luz, minha única luz. [...]. Trecho extraído da obra Memória, sonhos, reflexões (Nova
Fronteira, 1986), do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung
(1875-1961). Veja mais aqui.
ANTIPSIQUIATRIA – [...] não foi
por mero acaso que, em maio de 68, a psiquiatria foi um dos meios mais
abalados pela contestação. É porque ela ocupa na sociedade uma situação nodal em
que se entrelaçam o campo individual e o campo social, em que a pressão política
se exerce com particular insistência... Basta, por exemplo, assimilar a
dissidência política e o desvio mental para julgar que os adversários do regime
político vigente são doentes mentais e interná-los em hospitais psiquiátricos
especiais, como se pratica atualmente na União Soviética. O psiquiatra cede
facilmente à tentação de arvorar-se em especialista da felicidade, tanto mais
que não lhe faltam solicitudes para levá-lo a legislar em domínios que
estão fora de sua competência. [...]. Trecho extraído da obra Antipsiquiatria: senso ou contra-senso?
(Zahar. 1976), do psiquiatra psicanalista francês Jean-Claude Arfouilloux (1936-2007)
DEPOIMENTO POÉTICO – [...] Exigiram
exames de sanidade mental acusando o rádio de hipnotismo & foram
deixados com sua loucura & suas mãos & um júri suspeito, que jogaram
salada de batata em conferencistas da Universidade de Nova York sobre Dadaísmo e
em seguida se apresentaram nos degraus de granito do manicômio com cabeças
raspadas e fala de arlequim sobre suicídio, exigindo lobotomia imediata, e que
em lugar disso receberam o vazio concreto da insulina metrasol choque elétrico
hidroterapia psicoterapia terapia ocupacional pingue-pongue & amnésia, que
num protesto sem humor viraram apenas uma mesa simbólica de pingue-pongue,
mergulhando logo a seguir na catatonia [...] voltando anos depois, realmente calvos exceto por uma peruca de sangue
e lágrimas e dedos para a visível condenação de louco nas celas das cidades –
manicômios do Leste, Pilgrim State, Rockland, Greystone, seus corredores
fétidos, brigando com os ecos da alma, agitando-se e rolando e balançando no
banco de solidão à meia-noite dos domínios de mausoléu druídico de amor, o
sonho da vida um pesadelo, corpos transformados empedras tão pesadas quanto a
lua [...]. Trechos extraídos da obra Uivo,
Kaddish e outros poemas (L&PM. 1984), do poeta estadunidense da geração
beat Allen Ginsberg (1926-1997). Veja mais aqui.
A ARTE DE WILLIAM SHIH-CHIEN HUNG
A arte do pintor chinês William Shih-Chieh Hung (1928-2011).
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do Trâmite da Solidão aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA;
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