domingo, agosto 23, 2015

DRUMMOND, LUIZ RUFFATO, VÁCLAV HAVEL, NICOLAS BERDYAEV, MARINA ABRAMOVIĆ & GILSON BRAGA




DITOS & DESDITOS A educação é a capacidade de perceber as conexões ocultas entre os fenômenos. Pensamento do escritor e dramaturgo tcheco Václav Havel (1936-2011).

O DESTINO DO HOMEM – [...] O homem é não só um ser sexual, mas igualmente um ser bissexual, que combina em si o princípio masculino e o feminino em proporções diferentes e, não raro, mediante um duro conflito. O homem em que o princípio feminino estivesse completamente ausente seria um ser abstrato, inteiramente separado do elemento cósmico. A mulher em que o elemento masculino estivesse completamente ausente não seria uma personalidade. Somente a união desses dois princípios é que constitui um ser humano completo. A união deles se realiza em todo homem e em toda mulher, dentro de sua natureza bissexual, andrógina, e isso ocorre também através da intercomunhão entre as duas naturezas, a masculina e a feminina. [...]. Trecho extraído da obra The Destiny of the Man (Harper Torchbooks, 1960), do filósofo russo Nicolas Berdyaev (1874-1948).

OS SOBREVIVENTES – [...] Hélia vigiava aflita a entrada da seção. Todos já tinham sido rendidos, E a Júlia que não chega! Que ódio! Que ódio!O avental de pano cru enrolado na mão direi-ta, várias vezes levara a unha do fura-bolo à boca para roer, mas lembrava-se do esmalte, do esmalte vermelho, não queria lascar, não queria... tinha que durar até sábado... O ronco rouco dos teares redemoinhava em suas orelhas. Onde foi parar aquela vaca? Vaca! Piranha! Ai, vou acabar perdendo o ônibus! [...] Trecho extraído da obra Os sobreviventes (Boitempo, 2000), do escritor Luiz Ruffato. Veja mais aqui e aqui.

QUATRO POEMAS –  O QUE SE PASSA NA CAMA – (O que se passa na cama / é segredo de quem ama.} / É segredo de quem ama / não conhecer pela rama / gozoque seja profundo, / elaborado na terra / e tãofora deste mundo / que o corpo, encontrando o corpo / e por ele navegando, / atinge a paz de outro horto / nirvana, sonodo pênis / ai, cam, cançãode cuna, / dorme,menina, nanana, / dorme a onça suçiarana, / dorme a cândida vagina, / dorme a última sirena / ou a penúltima... O pênis / dorme, puma americana / fera exausta. Dorme, fulva / grinalda de tua vulva. / E silenciem os que amam, / entre lençol e cortina / ainda úmidos de sêmen. / estes segredos de cama. EM TEU CRESPO JARDIM, ANÊMONAS CASTANHAS – Em teu crespo jardim, anênomas castanhas / detêm a mão ansiosa: devagar. / cada pétala ou sépala seja lentamente / acariciada, céu; e a vista pouse, / beijo abstrato, antes do beijo ritual, / na flora pubescente, amor; e tudo é sagrado. O CHÃOÉ CAMA – O chão é cama para o amor urgente, / amor que não espera ir pra cama. / Sobre tapete ou duro piso, a gente / compõe de corpoe corpo a úmida trama. / E para repousar do amor, vamos à cama. MIMOSA BOCA ERRANTE – Mimosa boc errante / à superfície até achar o ponto ;/ em que te apraz colher o fruto em fogo / que nãoserá comido mas fruído / até se lhe esgotar o sumo cálido / e ele deixar-te, ou o deixares, flácido, / mas rorejando a baba de delícias / que o fruto e boca sepermitem, dádiva. / Boca mimosa e sábia, / impaciente de sugar e clausurar / inteiro, em ti, o talo rígido / mas varado de gozo ao confinar-se / no limitado espaço que ofereces / a seu volume e jato apaixonados, / comopodes tornar-te, assim aberta, recurso céu infindoe sepultura? / Mimosa boca e santa, / que devagar vais desfolhando a líquida / espuma doprazer em rito mudo, / lenta-lambente-lambilusamente / ligada à forma ereta qual se fossem / a boca oproprio fruto, e o fruto a boca, / oh chega, chega, chega de beber-me, / de matar-me, e, na morte, de viver-me. / Já sei a eternidade: é puro orgasmo. Poemas extraídos da obra O amor natural (Record,1996), do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE MARINA ABRAMOVIC
A arte da artista performativa sérvia Marina Abramović. Veja mais aquiaqui e aqui.
  
A INTROMISSÃO DO VERBO DE GILSON BRAGA – Conheci o artista plástico e professor Gilson Luiz Santos Braga por meio do seu irmão, o filósofo, advogado e biriteiro Luiz de França Santos Braga, o Luiz Gulú, parceiro de muitas boas e loas de tempos de antanho. À época ele ilustrou o meu livro A intromissão do verbo (Pirata, 1983), do qual trago as suas ilustrações abaixo. Hoje ele comemora 40 anos de pintura e 20 anos de ensino realizando uma série de trabalhos no estilo Expressionista abstrato, alguns, inclusive, já divulgados aqui.



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