sábado, agosto 22, 2015

DEBUSSY, DOROTHY PARKER, RUSSEL, MAGREB, REBOLO, KUARUP, CARRACCI, PSICODRAMA, DANÇATERAPIA & NASCENTE.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? NASCENTE – A edição nº 11 do tabloide Nascente, de mar/abr-1998, traz como editorial o poema Crônica de amor por ela. Na seção Bate Papo, uma entrevista com Marina Lima. Na seção Tabuletas, o quarto episódio das Proezas do Biritoaldo: Quando o bicho é sonso tira fino até na beira do abismo. Traz uma entrevista com a escritora alagoana Arriete Vilela, uma charge do Zinei e uma matéria sobre o Velho Chico: beleza caudalosa. Na seção Intercâmbio todo material recebido da seção Registro: o Slan Quinze, editado pelo Rovel; o Dicionário Bibliográfico de Escritores Brasileiro, do Adrião Neto (PI); o Postal Clube, de Araci Barreto Costa (RJ); o informativo Rio Una da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho (PE), o Tom Zine (MG), os livros com as peças teatrais Complexos, Vendaval no Paraíso e Lua de Sangue sobre o vale, do poeta e teatrólogo Pedro Onofre; e na seção Nascente Poético poemas de Arriete Vilela (AL), Lau Siqueira (PB), Marina Fátima Dias (MS), Nilza Menezes (RO), Eva Reis (MG), Claudio Cernov (SP), Maria Cardoso Zurto (RS), Sumara Cadoso (PA), Zenilda N. Lins (SC), Laís Costa Velho (RJ), Denise Teixeira Viana (RJ), Arita Damasceno Pettená (SP), Jocedyr Tavares (RJ), Josenilda Pereira (PW), Eliane di Santi (SP) e o destaque para o poema Painel das Fêmeas, com uma homenagem pela passagem do aniversário de Tereza Collor. Veja mais aqui e aqui.


Imagem: Nu, do pintor e gravador Francisco Rebolo (1902-1980).


Curtindo a Suite bergamasque, Children’s Corner, Deux Arabescos & Pour le piano, do compositor francês Claude Debussy (1862-1918), com a pinista candense Angela Hewitt. Veja mais aqui e aqui.

A FILOSOFIA ENTRE A RELIGIÃO E A CIÊNCIA – No livro História da filosofia ocidental (Cia. Editora Nacional, 1977), do filósofo, matemático e pensador inglês Bertrand Russel (1872-1970), encontro o texto denominado A Filosofia entre a Religião e a Ciência, em que aborda as questões existentes entre a relação dos conceitos filosóficos de mundo e de vida, constituindo-se dos fatores religiosos herdados e da investigação científica. A sua abordagem religiosa trata do Cristianismo e da Igreja Católica que teve procedência da histórica judaica, na teologia grega e no governo romano. Essa religião foi confrontada com a Reforma Protestante que se inseriu na atenuação dos elementos gregos, com rejeição aos elementos romanos e fortalecimento da doutrina judaica. Assim, de forma mais aprofundada, as conduções dadas pelo autor para os aspectos religiosos estão consignados entre as opções de crença e de submissão adotada pelo ser humano. A liberdade humana é condicionada à dogmática religiosa e esses aspectos estão no âmbito da verdade, do definitivo e daquilo que cada um se identifica segundo sua própria crença. A teologia, por isso, atende aos anseios e desejos daqueles que professam ou comungam uma crença dogmática, com a exigência da obediência a uma entidade superior e que deve ser cumprida por todo ser humano. Trata-se, portanto, para o autor, de que o pensamento religioso se desenvolve a partir de especulações que se firmam no campo da admissão sobrenatural e na condução dada pelos defensores do Criacionismo. A religião, pelo visto, se funda na obediência ao ditame professado e comungado que sujeita a condição humana entre os fiéis que a cultivam e os infiéis que se encontram fora da seara, considerando que a melhoria de vida só será alcançada dentro das fileiras da fé e da resignação. A ciência, por sua vez, atua na busca do conhecimento de forma empírica e demonstrável adotando a racionalidade e a experimentação como busca para sua concreção. No âmbito da ciência a prática da investigação e do pragmatismo torna imprescindível o confronto, o debate, a aferição, a revisão e a discussão, utilizando-se de tecnologias e laboratórios para a constatação da realidade encontrada e confirmação do fenômeno obtido. Os resultados dessas experiências científicas passam a formar os paradigmas que deverão ser seguidos, bem como pela disciplina metodológica e pela constante necessidade de constatação, coibindo a contemplação e exigindo profundidade disciplinar por meio de métodos reconhecidos, para que se torne uma verdade. Em vista disso, só será considerado cientifico aquilo que passar pelos padrões e normas dos métodos para que seja admitido como uma verdade encontrada, até que outro método e outra abordagem superem as teses anteriores e obtenha supremacia até que seja confrontada por mais outra futura. Assim, se a religião se apóia na fé e a ciência na experimentação constante, fica demonstrado o campo de conflito entre ambas e que, por isso, se distinguem por possuírem objetos e campos distintos. Já a filosofia que teve uma trajetória que se distingue da religião e da ciência, tendo seu nascimento na Grécia e atravessando períodos que esteve ora aliada à religião e, posteriormente, associando-se à ciência, tem, na abordagem do autor que essa trajetória entre a filosofia e a subjetividade religiosa, ora retornando às questões sociais e adotando estudos e interpretações científicas para entendimento da realidade humana, tem formado uma condução independente e evolutiva da filosofia sobre a ciência e a religião. A filosofia, antecedente tanto da religião como da ciência, se desenvolve pela contemplação, pelo debate, pelo raciocínio e pela constatação apreendida dos fenômenos naturais e sociais, desenvolvendo-se no aprofundamento das questões que envolvem a vida e tudo inerente ao ser humano. Como a filosofia se manifesta na contemplação e na liberdade, por isso mesmo, segundo Russel, é que se destaca o valor da filosofia por não ser atingida pela ciência com seu rigor de desenvolvimento, nem tem sua liberdade suprimida como na religião, porque permite sua prática sem exigência disciplinar e sem ter que seguir um dogma. Esse é o principal atributo da filosofia destacado por Bertrand Russel que deixa como conclusão que a filosofia transita livre e independente entre a teologia e a ciência. Veja mais aqui e aqui.

HISTÓRIA DAS CEM CABEÇAS CORTADAS E DA FILHA DO SULTÃO - Na coletânea Contos árabes (Cultrix, 1962), organizada por Jamil Almansur Haddad, encontrei entre os contos de Magreb – histórias populares contadas nas praças da região compreendida entre Marrocos, Argélia e Tunísia -, a História das cem cabeças cortadas e da filha do sultão, da qual destaco os trechos a seguir: Era uma vez um sultão que tinha só uma filha que ele amava mais do que tudo no mundo e satisfazia-lhe todos os caprichos. Um dia a jovem procurou seu pai e lhe disse: “Eu me aborreço em teu palácio, em meio a tuas mulheres e teus escravos. Irei passear a cavalo em teu reino, e, como não amo andar só, peço-te quarenta companheiras, todas virgens como eu e que saibam montar a cavalo”. E o sultão, que javam achava ridículos os pedidos da filha, fez anunciar entre todas as tribos que cada uma teria que fornecer uma virgem montada num cavalo soberbamente ajaezado. E em pouco tempo, as quarenta jovens foram levadas ao Dar el-Makhzen pelos velhos de cada cabila. Estes mal ousaram perguntar ao sultão para que pretendia essas quarenta virgens, tanto estavam habituados a obedecer os seus menores desejos. O sultão fez então chamar sua filha e lhe disse: “Eis ai tuas quarenta companheiras”. E a jovem, saltando sobre o cavalo, partiu a galope à frente das quarenta jovens que, também montadas, a seguiram. E durante dias e dias as jovens galoparam pelas grandes planícies, atravessaram ribeiros, as florestas e, quando a filha do sultão folgouo suficiente, voltaram todas ao palácio. [...] Então chamou sua filha e lhe disse: “Eis o que acaba de acontecer. Devolvi as quarentas virgens e vou fazer-te casar”. Mas a jovem, que ainda não queria se casar, disse ao pai: “Só me casarei com aquele que me vencer na luta”. O pai, como fazia sempre, cedeu às suas exigências e fez publicar em todos os seus domínios que daria sua filha em casamento ao hovem que a venecesse na luta, e que seria feito seu herdeiro no trono. Em todas as tribos, os jovens corajosos, ouvindo o que gritava o pregoeiro público, pensaram: “Serei o marido da filha do sultão e herdarei seu trono”. [...] a jovem filha do sultão era muito valente e derrotou o cavaleiro e com seu sabre cortou-lhe a cabeça, que foi suspensa à porta do palácio [...] a vitória sorria sempre à corajosa moça e logo teve ela cem cabeça cortadas, suspensas à porta do palácio, que diziam bem do valor da jovem virgem. Na tarde do centésimo combate, um pastor tinhoso e disforme voltou para o douar todo triste e a face transtornada [...] Nesse momento, a bela e orgulhosa virgem chegava, o sabre à mão, galopava seu cavalo toda feliz de ter de combater com um novo jovem. Mas seus olhos se cruzaram e ela foi vencida por esse olhar. Ela se atirou ao chão, diante do seu senhor e lhe disse: “Eu me rendo, tu és o meu senhor e meu esposo”. E todos os dois proclamaram seu amor. A jovem voltou para o pai e disse: “Fui vencida por este belo adolescente, mais belo que os cento e um e mais bravo do que eles todos. Desejo-o por marido”. Como o jovem vinha buscar o preço da sua vitória, o sultão não o recebeu e adiou a audiência para o dia seguinte. Ele não queria casar sua filha apesar da sua promessa, e como havia justamente uma escrava que estaria para morrer, ele esperou que ela morresse, e no dia seguinte informou que sua filja estava morta. O belo adolescente não caiu na armadilha. Chegada a tarde foi escavar a tumba e descobriu o subterfúgio. Ele não se deu por vencido e apresentou-se à audiência publica e pediu a filha em casamento. E como o sultão lhe dissesse que a filha estava morte e enterrada e que toda a sua casa estava de luto, provou que sua filha vivia e que uma escrava é que tinha morrido. O sultão foi obrigado a consentir no casamento desses dois valentes e as festas foram as mais belas e mais suntuosas que jamais houve. E a jovem virgem, de coração valente, teve assim o marido que a vencera. Veja mais aqui e aqui.

SER MULHER, CANÇÃO MUITO CURTA & NOTA SOCIAL – Na obra da escritora, dramaturga e crítica estadunidense Dorothy Parker (1893-1967), destaco inicialmente o seu poema Ser Mulher, na tradução de Angela Carneiro: Por que será que quando estou em Roma daria tudo para estar em casa na redoma mas se estou na minha terra americana minha alma deseja a cidade italiana? E quando com você, meu amor, meu remédio, fico espetacularmente cheia de tédio Mas se você se levantar e me deixar Grito para você voltar? Também o seu poema Canção Muito Curta: Certa vez, na juventude, / Feriram meu coração — / Feriram de forma rude / E o jogaram ao chão. / Amor é lenda sem sorte, / Amor é maldição. / Pior que isso só o porte / De meu coração. Por fim, o poema Nota Social: Moça, moça, se encontrar / Um que não dá o que falar, / Um que diz que sua esposa / É o amor da vida toda, / Um que vive te jurando / Que foi fiel, foi um santo / E só tem olhos pra você... / Moça, moça, é bom correr! Veja mais aqui.

DANÇATERAPIA – O livro Dançaterapia (Summus, 1988), de María Fuz, aborda temas como o que é o silêncio, dançaterapia para o deficiente auditivo, a importância da linha e da cor para o deficiente auditivo, experiência numa escola para deficientes auditivos, a música como elemento movilizador para a expressão do corpo, o que é o ritmo interno, as palvras mães, a cor na mobilização sensível do corpo, experiência no Hospital Ferrer com doentes de poliomielite, uma menina queimada, experiência com cegos, experiência frustrante com uma menina autista surda, o silêncio da dança, grupo de mães e filhas, caminhos para o encontro com a dançaterapia, entre outros assuntos. Do livro destaco o trecho: [...] O que é necessário para ser um dançaterapeuta? Vive compreendendo que devemos conhecer nossos limites para ir deslocando-os, para que se organizem e com nossos não posso ir ao encontro dos sim, posso que surgem em nós quando nos enfrentamos com alguém que necessita de nossa experiência no movimento. Há mais de trinta anos trato de conhecer-me e, através de mim, conhecer o outro, e se diariamente, conhecendo meus limites, vou-me transformando, o outro também o fará, não apenas psiquicamente, mas também corporalmente. Vendo como crescem esses seres que chegaram até mim, como necessitam de mim e eu, deles, como recebem e reconhecem a música e as palavras, convenço-me de que ao nosso redor existe um fluxo de vida que espe4ra que a compreendamos para poder compreender. Devemos ouvi-los com o ouvido esparramado por todo o nosso corpo, com todos os nossos ritmos, para que possamos nos aproximar da comunicação com o outro. Não há fórmulas que possam criar um dançaterapeita. Este não é um livro de texto, é um livro de experiências. Sem amor, entrega, fé, não há encontro. Veja mais aqui.

TEATRO ESPONTÂNEO E PSICODRAMA – O livro Teatro espontâneo e psicodrama (Ágora, 1998), de Moysés Aguiar, aborda temas como o campo do teatro espontâneo, o papel do diretor, os atores e o protagonista, os auxiliares e a plateia, aquecimento e o caminho da criação, dramaturgia e a produção do texto, encenação e comunicação cênica, a construção da teoria, círculos de giz, o marco teórico, o conceito de co-transferencia, o processamento em psicodrama, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho O teatro espontâneo é uma modalidade de teatro: A afirmação-título pode parecer obvia, mas ela é de fundamenta importância, na medida em que serve de ponto de referência para dirimir muitas dúvidas, tanto na pratica quanto na própria reflexão teórica. Pode-se dizer que a grande pretensão do teatro espontâneo é exatamente sintetizar todas as funções do teatro legítimo, simultaneamente, no momento do espetáculo. Com toda a certeza, um desiderato que representa um gigantesco desafio. [...] No evento teatral, dois elementos são fundamentais, por definição: o palco e a plateia; no palco, atores contam cenicamente histórias que são ouvidas e contempladas pelos espectadores. Há inúmeras formas de articular esses dois elementos, mas nenhuma chega ao ponto de excluir nenhum deles, pois se isso ocorresse o teatro deixaria de ser teatro e passaria a ser alguma outra coisa. Sendo o teatro o lugar onde se vê, é indispensável que existam quem veja e o que seja visto. [...] Para que o teatro espontâneo possa realmente inserir-se no campo do teatro, essas características precisam ser observadas. [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

KUARUP – O drama Kuarup (1989), do cineasta brasileiro nascido em Moçambique Ruy Guerra, é baseado na obra Quarup (1967), do jornalista e escritor Antonio Callado (1917-1997), com música de Egberto Gismonti e roteiro do próprio diretor e Rudy Langemann, sobre o sonho de um padre que deseja reconstituir o Xingu e que toma contato com a sociedade permissiva do sexo livre e das drogas no Rio de Janeiro, bem como com a corrupção política e manipuladora dos dirigentes do SPI, razões pelas quais, mais tarde, após uma série de incursões fracassadas na defesa dos seus interesses, se transforma no apóstolo do amor. O destaque do filme vai para todo elenco maravilhos, especialmente para a atuação da atriz Claudia Raia. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Gravuras do pintor e gravador italiano Agostino Carracci (1557-1602). Veja mais aqui.

Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Noite Romântica, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.

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