VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? – A CULPA É DA DILMA - Lembro muito bem quando a atriz
Berta Loran entrava em cena e a qualquer pergunta feita, ela respondia: - A
culpa é do governo! E era mesmo. Pudera, a gente vivia uma ditadura braba, pega
pra capar do estopô calango, neguinho (não só afrodescendente, mas mulato,
cafuzo, branco, pardo, tudo) preso e desaparecido num piscar de olhos, e bastava
qualquer sujeito biltre discordar de qualquer autoridade de carteirada, não
dava outra: o Exército invadia de madrugada e pegava o cabra de pijama pelos
fundilhos e dava destino certo pra tirar as medidas com missa garantida sete
dias depois. Qualquer que fosse a petulância na reclamação de um direitozinho
mínimo que fosse, oxe, o cara era taxado de comunista, subversivo e a chaga do
cão sarnento! E não dava outra: ou desaparecia de nunca mais se ter notícia
pela audácia da pilombeta, ou restava encardido por anos condenado no porão
duma cadeia infecta e tão esquecido do quadro cair da parede pro resto da vida!
E hoje? Tem quem ache que tá pior que isso, avalie. Na verdade, desde a
promulgação da Constituição Federal de 1988 – que o grande mestre Roberto DaMatta
diz que foi feita pros franceses - e foi mesmo, afinal, ainda hoje tem uma tuia
de gente que num sabe dum direito sequer -, que como sempre foi, só se aprende
de goela adentro ou no reino da bofetada. Hoje a gente pode dizer que tudo é
culpa da Dilma mesmo! Afinal foi ela que inaugurou o Fecamepa engalobando
Cabral numa mutreta das grandes de chavecar os portugas pra invadir o Brasil em
1500 e ela ganhar uma comissão preta pra guardar nos bolsos; foi ela que
recepcionou esses mesmo perós e ensinou a eles a afanar a Coroa lusitana,
traficando 90% do que se explorava aqui e só mandando um restinho de quase 10%
pra Corte; foi ela que roubou o ouro das Minas e de Serra Pelada pra usufruir
quando sair dos 8 anos de governo; foi ela que numa tramoia cabeluda, reuniu
igreja e maçonaria para induzir Pedro I para independência, ganhando propina
das grandes no pagamento escuso pra Inglaterra; foi ela que deu uma lavagem
cerebral nos positivistas e no Marechal Deodoro pra pisar a República de
qualquer jeito; foi ela que trouxe a Carta del Lavoro pra ensinar Getúlio
Vargas a ser o pai dos pobres; foi ela que num papel duplo se passando de
esquerdista, manobrou um pool que fez com que a bronca da Petrobrás virasse
golpe em 1964 – não bastando ela ficar virando a casaca, dedando todo mundo
pros milicos e se passando de heroína pra botar os terroristas das esquerdas
pra se escafeder; foi ela que fez o arrumadinho pra derrubar as Diretas Já e
eleger Tancredo que não assumiria e, num golpe de mestre e de grandiosíssima
eminência parda ensinar Sarney a como perder a caneta na assinatura dos
decretos; foi ambiguamente contra o Real e ensinou FHC a privatizar,
flexibilizar e terceirizar tudo; foi com um manto angelical pra se esconder da
sua bruxaria que se tornou testa de ferro no governo Lula, pra findar
Presidente! Enfim, digo mais: é dela a culpa da seca no Nordeste; do tornado no
Sul, da chuva que cai alagando e inviabilizando São Paulo e todo país; de
mandar na CBF, de ficar feliz com o fim do mundo que foi a lapada de 7 dos
alemães, escalar Dunga e se lascar na Copa América; tudo isso e muito mais é
culpa dela. Por isso, aí está legitimidade de se propor o seu impeachment!
Agora ou nunca! Enquanto todo mundo cai de pau nisso tudo, parafraseando Xico
Sá, eu digo que a coisa tá ruim mesmo e desde que nasci que ouço que a coisa tá
ruim, cresci ouvindo de crise disso e daquilo e que tudo tava ruim pra burro,
pra cachorro, pro diabo a quatro, e hoje não tá diferente. Descobri que a culpa
é da Dilma: foi ela que estava aqui antes de eu nascer. A culpa é dela mesmo!
Então vamos aprumar a conversa & tataritaritatá! Veja mais aqui, aqui e
aqui.
Imagem: O
Julgamento de Páris (1630), do pintor do Barroco flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640). Veja
mais aqui e aqui.
Curtindo Floresta do Amazonas
(1958 - Actus
Classics Works, 1993), do compositor e maestro brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), com a soprano:
María Luisa Tamez e direção do maestro, violinista e compositor mexicano Enrique
Arturo Diemecke & Orquesta Sinfónica Nacional de México. Veja mais aqui, aqui e aqui.
O PROJETO ATMAN – O livro O
projeto Atman: uma visão transpessoal do desenvolvimento humano (Kairós, 1988), do filósofo e pensador
norte-americano Ken Wilber, o
criador da Psicologia Integral e do Movimento Integral, que concentra as ideias
básicas da integração de todas as áreas do conhecimento, trata acerca do desenvolvimento da evolução como
transcendência com o objetivo de alcançar Atman, que é a Consciência de Unidade
Essencial é só Deus. O autor considera que todos os impulsos servem a este
Impulso, todos os desejos dependem deste Desejo e todas as forças subordinadas
a esta Força. E é a este movimento, em seu conjunto, que o autor denomina de
projeto Atman, o impulso de Deus para Deus, de Buda para Buda, de Brahman para
Brahman, impulso esse originado no psiquismo humano e cujos resultados vão do
enlevado até o catastrófico. Da obra destaco o trecho: Olhemos para onde olhemos - disse o filósofo
Jan Smuts - só veremos totalidades.
E não só simples totalidades, mas também totalidades hierárquicas; cada
totalidade forma parte de uma totalidade maior que, por sua vez, está contida
dentro de outra totalidade ainda mais inclusiva. Campos dentro de campos que se
acham dentro de outros campos, campos que se estendem ao longo de todo o cosmos
inter-relacionando assim todas e cada uma das coisas. Mas além disso -
prosseguia Smuts - o universo não é um conjunto estático e inerte –o cosmos não
é preguiçoso – e sim ativamente dinâmico e inclusive, diríamos, criativo. O cosmos
tende teleonomicamente (hoje em dia não diríamos teleologicamente) para níveis
de totalidade cada vez mais elevados, totalidades cada vez mais inclusivas e
organizadas. O desenvolvimento deste processo cósmico global no tempo não é
outro que a evolução e ao
impulso que conduz a unidades cada vez mais elevadas Smuts o denominou holismo. Seguindo com esta linha de
pensamento poderíamos supor que, dado que a mente ou o psiquismo humano é um
aspecto do cosmos, é possível descobrir nela a mesma disposição hierárquica de
totalidades dentro de totalidades, de conjuntos dentro de conjuntos, abrangendo
uma ampla fila que vai dos mais simples e rudimentares até os mais complexos e
inclusivos. E isto é, precisamente, o que descobriu, em geral, a psicologia
moderna. Nas palavras de Werner, “qualquer desenvolvimento tem lugar desde um
estado de relativa globalidade e indiferenciação a outro de diferenciação,
articulação e integração hierarquicamente superior”. Jakobson, por sua vez,
fala “desses fenômenos estratificados que a moderna psicologia descobre no
reino da mente”, nos quais cada novo estrato está mais integrado e é mais
inclusivo que o anterior. Bateson chega inclusive a apontar que até a mesma
aprendizagem é hierárquica e que discorre através de uma série de níveis
principais, cada um dos quais é «meta» com respeito a seu predecessor.
Poderíamos concluir, pois, como aproximação geral, que o psiquismo – igual ao
cosmos - está multiestratificado (é «pluridimensional») e está composto de
totalidades, unidades e integrações sucessivamente supraordenadas. No psiquismo
humano, a evolução holística da natureza -que produz em qualquer parte totalidades
cada vez mais inclusivas- manifesta-se como desenvolvimento ou crescimento. Deste modo, o mesmo impulso que
deu lugar aos seres humanos a partir das amebas é o que termina convertendo o
menino em adulto. Quer dizer, o crescimento ou o desenvolvimento psicológico de
uma pessoa da infância até a maturidade é simplesmente uma versão em miniatura
da evolução cósmica ou, dito de outro modo, um reflexo microscópico do desenvolvimento
global do universo e que aponta para seu mesmo objetivo, o desdobramento de
unidades e integrações de ordem superior. E esta é uma das razões principais
pelas quais o psiquismo está, em realidade, estratificado. Do mesmo modo que
ocorre com as formações geológicas, o desenvolvimento psicológico avança
estrato a estrato, nível a nível, estágio a estágio, e o novo nível se sobrepõe
sobre o anterior até chegar a incluí-lo (ou, como diria Werner, “envolvê-lo”) e
transcendê-lo. [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.
SERMÃO DO BOM LADRÃO – O
livro O sermão do bom ladrão (1655)
do escritor, religioso, filósofo e orador português da Companhia de Jesus, Padre Antônio Vieira (1608-1697), foi
proferido na Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha), perante a
corte de D. João VI, atacando e criticando aqueles que se valiam da máquina
pública para enriquecimento ilícito e denunciando escândalos no governo,
riquezas e venalidades de gestão fraudulentas. Indignado com a
desproporcionalidade das punições, ele adverte quanto ao pecado da corrupção
passiva e ativa, além da cumplicidade do silêncio permissivo, numa crítica ao
comportamento imoral da nobreza. Da obra destaco o trecho: [...] Levarem os reis consigo ao
Paraíso ladrões não só não é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e
verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do
seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei. Mas o que vemos
praticar em todos os reinos do mundo é tanto pelo contrário que, em vez de os
reis levarem consigo os ladrões ao Paraíso, os ladrões são os que levam consigo
os reis ao inferno. E se isto é assim, como logo mostrarei com evidência,
ninguém me pode estranhar a clareza ou publicidade com que falo e falarei, em
matéria que envolve tão soberanos respeitos, antes admirar o silêncio, e
condenar a desatenção com que os pregadores dissimulam uma tão necessária
doutrina, sendo a que devera ser mais ouvida e declamada nos púlpitos. Seja,
pois, novo hoje o assunto, que devera ser muito antigo e mui frequente, o qual
eu prosseguirei tanto com maior esperança de produzir algum fruto, quanto vejo
enobrecido o auditório presente com a autoridade de tantos ministros de todos
os maiores tribunais, sobre cujo conselho e consciência se costumam descarregar
as dos reis. [...] Suponho
finalmente que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a
pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma
sua miséria, ou escusa, ou alivia o seu pecado, como diz Salomão: Non grandis
est culpa, cum quis furatus fuerit: furatur enim ut esurientem impleat animam.
O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão,
mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta
esfera, os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento, distingue muito
bem S. Basílio Magno: Non est intelligendum fures esse solum bursarum
incisores, vel latrocinantes in balneis; sed et qui duces legionum statuti, vel
qui commisso sibi regimine civitatum, aut gentium, hoc quidem furtim tollunt,
hoc vero vi et publice exigunt: Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam
bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa: os ladrões
que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis
encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a
administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e
despojam os povos. — Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e
reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os
outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo
via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de
varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a
bradar: — Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. — Ditosa Grécia,
que tinha tal pregador! E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecera
a justiça as mesmas afrontas! Quantas vezes se viu Roma ir a enforcar um
ladrão, por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um
cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam
enforcado estes mesmos ladrões triunfantes? De um, chamado Seronato, disse com
discreta contraposição Sidônio Apolinar: Nou cessat simul furta, vel punire,
vel facere: Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furtos, e
em os fazer. — Isto não era zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os
ladrões do mundo, para roubar ele só. [...] Veja mais aqui e aqui.
LÁBIOS QUE NÃO SE ABREM & AMARGURA DE
MULHER – No livro Poesia Geral (1985), da poeta brasileira Henriqueta Lisboa (1901-1985), destaco,
inicialmente o seu poema Amargura: Eu chegarei depois de tudo, / mortas as
horas derradeiras, / quando alvejar na treva o mudo / riso de escárnio das
caveiras. / Eu chegarei a passo lento, / exausta da estranha jornada, / neste
invicto pressentimento / de que tudo equivale a nada. / Um dia, um dia, chegam
todos, / de olhos profundos e expectantes. / E sob a chuva dos apodos / há mais
infelizes do que antes. / As luzes todas se apagaram, / voam negras aves em
bando. / Tenho pena dos que chegaram / e a estas horas estão chorando... / Eu
chegarei por certo um dia... / assim, tão desesperançada, / que mais acertado
seria / ficar em meio à caminhada.
Também merece destaque o seu poema Modelagem/Mulher: Assim foi modelado o objeto: / para subserviência. / Tem olhos de ver e
apenas / entrevê. Não vai longe / seu pensamento cortado / ao meio pela
ferrugem / das tesouras. É um mito / sem asas, condicionado / às fainas da
lareira / Seria uma cântaro de barro afeito / a movimentos incipientes / sob
tutela. / Ergue a cabeça por instantes / e logo esmorece por força / de séculos
pendentes. / Ao remover entulhos / leva espinhos na carne. / Será talvez
escasso um milênio / para que de justiça / tenha vida integral. / Pois o modelo
deve ser / indefectível segundo / as leis da própria modelagem. Por fim o
seu lírico poema Lábios que não se abrem, lábios: Lábios que não se abrem, lábios / com seu segredo / calado / Segredo no
ermo da noite / resiste à rosa dos ventos / alado. / Flauta sem a vibração / do
sopro. / Luar e espelho, frente a frente, / em calada / vigília. / Fria espada
unida / ao corpo. / Resto de lágrimas sobre / lábios / calados. / Borboleta da
morte / em sorvo / pousada à flor dos lábios / calados / calados. Veja mais
aqui.
PROMETEU ACORRENTADO – A
tragédia grega Prometeu Acorrentado
(452aC), faz parte da trilogia do dramaturgo e poeta trágico Ésquilo (525-466aC), trata da condição
humana e da criação da cultura por meio do mito antigo em que Zeus, o maior dos deuses, decide acorrentar um
ex-aliado: Prometeu, acusado de muitos crimes, um deles fora roubar dos deuses
e dar ao homem o fogo. Porém, Prometeu guarda um grande segredo que bravata o
poder de Zeus. Como insiste em não revelar, é condenado a um castigo muito mais
bárbaro. Na mitologia, Prometeu era filho de Jápeto e de Ásia, irmão de Atlas,
Epimeteu e Menoécio, e se tornou o progenitor de Deucalião. Muito amigo de Zeus,
o ardiloso Prometeu ajudou o deus supremo a driblar a fúria de seu pai Cronos,
o qual foi destronado pelo filho. O dom da imortalidade não o impediu de se
aproximar demais do Homem, concedendo a este o poder de pensar e raciocinar,
bem como lhes transmitiu os mais variados ofícios e aptidões. Mas esta
preferência de Prometeu pela companhia dos homens deixou o enciumado Zeus
colérico. A raiva desta divindade cresceu cada vez mais quando ele descobriu
que seu pretenso amigo o estava traindo. Ao se dar conta de que estava sendo ludibriado,
Zeus se enfurece e subtrai da raça humana o domínio do fogo. É quando Prometeu,
mais uma vez desejando favorecer a Humanidade, rouba o fogo do Olimpo, pregando
uma peça nos poderosos deuses. Zeus decidiu punir Prometeu, decretando ao
ferreiro Hefesto que o prendesse em correntes junto ao alto do monte Cáucaso,
durante 30 mil anos, durante os quais ele seria diariamente bicado por uma
águia, a qual lhe destruiria o fígado. Como Prometeu era imortal, seu órgão se
regenerava constantemente, e o ciclo destrutivo se reiniciava a cada dia. Isto
durou até que o herói Hércules o libertou, substituindo-o no cativeiro pelo centauro
Quíron, igualmente imortal. Zeus havia determinado que só a troca de Prometeu
por outro ser eterno poderia lhe restituir a liberdade. Como Quíron havia sido
atingido por uma flecha, e seu ferimento não tinha cura, ele estava condenado a
sofrer eternamente dores lancinantes. Assim, substituindo Prometeu, Zeus lhe
permitiu se tornar mortal e perecer serenamente. Da obra destaco o trecho: [...]
PROMETEU - Dia virá em que Zeus se há de
humilhar, a despeito de toda a arrogância de seu coração, por efeito das bodas
que se apresta para celebrar. Essa união o derrubará, aniquilado, do poder e do
trono. Então estará cumprida plenamente a praga rogada por Crono, seu pai, ao
cair do trono secular. Nenhum deus senão eu poderia ensinar-lhe de modo claro
como arredar de si tamanha desdita. Eu sei qual é e como conjurá-la. Assim,
pois, pode ele entronar-se seguro de si, fiado nos estrondos que troam nas
alturas quando brande nas mãos o dardo chamejante. Eles não lhe valerão nada
para evitar a vergonha duma queda insuportável, tão potente é o adversário que
ele agora para si mesmo apresta, um portento invencível, que inventará fogo
mais forte que o raio e estrondo formidável maior que o trovão, e despedaçará o
tridente, a lança de Posidão, flagelo marinho que abala a terra. Quando ele der
de encontro com essa desgraça, conhecerá quanto vai de reinar e servir. CORO -
Vamos lá! Tuas ameaças a Zeus não são mais do que desejos teus. PROMETEU -
Predigo o que será e é também o meu desejo. CORO - Devemos esperar que alguém
dê ordens a Zeus? PROMETEU - Sim, e que sofra penas mais pesadas que estas.
CORO - Como ousas proferir semelhantes palavras? PROMETEU - Nada tenho que
temer; não estou fadado à morte. CORO - Mas ele pode infligir-te suplício ainda
mais doloroso que este. PROMETEU - Pois que o faça; nada me pode surpreender.
CORO - Sábio quem se prosterna diante da Adrastéia. PROMETEU - Venera, implora,
bajula tu o poderoso do dia. A mim me importa Zeus menos que nada. Que se avie,
que exerça como quiser o seu poder de curta duração, pois não reinará sobre os
deuses longo tempo. Eis à vista, porém, o correio de Zeus, o serviçal do novo
tirano; por certo, vem comunicar-nos alguma novidade. HERMES - (entrando) Tu
aí, velhaco, o mais intratável dos intratáveis, que lograste os deuses pondo os
seus privilégios ao alcance dos seres efêmeros – estou me referindo ao ladrão
do fogo – meu pai ordena que reveles qual casamento, segundo alardeias, o
derrubará do poder. E nada de enigmas; fala ponto por ponto pelos termos
próprios. Não me vás obrigar a uma segunda viagem, Prometeu; não é com rodeios,
bem vês, que hás de aplacar Zeus. PROMETEU - Essa fala impertinente, cheia de
soberba, é bem a linguagem dum lacaio dos deuses. Vós sois moços; recente, o
poder que exerceis; imaginais, por isso, viver numa torre acima dos sofrimentos;
já não vi eu dois reis expulsos dela? O terceiro, o atual reinante, eu o verei
também cair de maneira ignominiosa e rápida. Pensas que temos os novos deuses e
me encolho diante deles? Para isso falta muito; melhor, falta tudo. Desanda
ligeiro o caminho por onde vieste, que de mim nada saberás do que indagas.
HERMES - Semelhantes insolências já te trouxeram a ancorar neste suplício.
PROMETEU - Pois saibas sem sombra de dúvida que eu não trocaria minhas misérias
pela tua servidão; acho preferível estar escravizado a este penhasco a ser o
mensageiro fiel de Zeus teu pai. A injúrias responde-se assim, com injúrias.
HERMES - Pareces orgulhoso da tua situação. PROMETEU - Orgulhoso? Orgulhosos
assim tomara visse eu os meus inimigos – e incluo-te nesta conta. HERMES -
Culpas a mim também de teus desastres? PROMETEU - Francamente, odeio todos os
deuses; devem-me favores e pagam-me com iniquidade. HERMES - Ouço palavras de
louco, e a moléstia é grave. PROMETEU - Moléstia será, se odiar os inimigos for
insânia. HERMES - Serias insuportável, se houvesses triunfado. PROMETEU - Ai de
mim! [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.
COPIE CONFORME – O
filme Copie conforme (Cópia fiel,
2010), do premiadíssimo cineasta, poeta, roteirista, produtor e fotógrafo
iraniano Abbas Kiarostami, conta a
história do encontro entre um autor britânico que acabou de fazer o lançamento
do seu livro, e uma mulher francesa que é dona de uma galeria de arte numa
pequena aldeia da Toscana. Destaque para a lindíssima atriz francesa Juliette Binoche que arrebatou com este
filme o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes de 2010. Durante a
premiação ela protestou chorando contra a prisão do diretor Jafar Panahi pelo
governo do Irã, em 2010, influenciando o governo a soltá-lo dois meses depois. Veja
mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Imagem: a arte do cartunista, ilustrador
e desenhista de animação estadunidense Alex
Toth (1928-2006)
Veja mais sobre:
Além da entrega mais que tardia, Papoulas de julho de Sylvia Plath, Literatura de vanguarda
de Guillermo de Torre, a pintura de Artemísia Gentileschi
& Tom Wesselmann, a música de Sky
Ferreira, a arte de Jean Cocteau & Luciah Lopez aqui.
E mais:
Caraminholas do miolo de pote, Escritos de Guillaume Apollinaire, O
homem pós-orgânico de Paula Sibilia, a literatura de Antoine
de Saint-Exupéry, a música de Diamanda Galás, a pintura de Marie
Fox, a fotografia de Jim Duvall & a arte de Luciah Lopez aqui.
Fecamepa, Gestalt-Terapia de Friederich Perls, Novelas de La Fontaine,
As rosas do cume de Laurindo Rabelo, Auto da alma de Gil Vicente, Crônica da
cidade amada & Procópio Ferreira, a música de Diversões Lúdicas, a pintura
de Ignaz Epper, Brincarte do Nitolino & Cia Ópera na Mala aqui.
O trâmite da solidão, O espectro da fome de Josué de Castro,
a pintura de Frida Kahlo, a música de Mercedes
Sosa, A Ilíada de Homero, Ana Botafogo In Concert, Conversação noturna &
Martha Angerich, a pintura de Tamara de Lempicka, a arte de Eliezer Augusto
& a poesia de Genesio Cavalcanti aqui.
Doro & a copa do mundo, Fritz Perls, Procópio Ferreira, a
música de Moraes Moreira & Programa Tataritaritatá aqui.
Blitz-krieg do Mineirão, Manuel Bandeira, a arte de Ana Botafogo
& a música de Mercedes Sosa aqui.
A Filosofia & História das
calamidades de Abelardo, Nara Salles, Projeto Carmin & Cruor Arte
Contemporânea aqui.
A provocação aguda da paixão aqui.
A mulher, Lei Maria da Penha, Ginocracia
& Daby Palmeira aqui.
A donzela arrevesada de Hermilo Borba
Filho, a poesia matuta de Rubão, Dr. Zé Gulu & papos do Doro aqui.
O romance do pavão misterioso de João
Melchiades da Silva aqui.
A arte fotográfica de Andréia Kris aqui.
Pechisbeque, 1984 de George Orwell, Legado &
grito de Renata Pallottini, As casadas solteiras de Martins Pena, A realidade
das coisas de Tales de Mileto, a música de Bach & João Carlos Martins, País
de Cucanha, o cinema de Sidney Lumet & Sophia Loren, a arte de Antoni
Gaudí, a pintura de Theo Tobiasse & Jean-Jacques Henner aqui.
Quando não é na entrada é na saída, O autor como produtor de Walter
Benjamin, Fronteiriços de Anna Bella Geiger, Linquistica
& Estilo, Carna, a música de Andrea dos Guimarães, Antologia
pornográfica de Gregório de Matos & Alexei
Bueno, Wunderblogs, a arte de Gilvan Samico & Matéria Incógnita aqui.
Crônica de amor por ela, a pintura de Pablo Picasso, a música de
Roberto Carnevale, a fotografia de Claudia Andujar,
Teoria da Literatura de Rogel Samuel, Os 120 dias de Sodoma de Marquês de Sade,
a poesia de Ana Cristina César, o cinema de Chris Wilkinson & Linda Marlowe & a arte de Lygia Pape aqui.
Betúlia, a belezura e os restos nos
confins do mundo,
Evolução e sentido do teatro de Francis Fergusson, Porto Calendário de Osório Alves de Castro, Kadish de Allen Ginsberg, a
fotografia de Claudia Andujar, a pintura de Federico Beltrán Massés &
Fayga Ostrower, a música de Consuelo de Paula & Iemanjá,
Mãe D’Água de Petrolina - PE aqui
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
(Imagem Nude reclining, da artista plástica russa Ekaterina Mortensen).
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
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Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.