domingo, junho 28, 2015

ROUSSEAU, PIRANDELLO, ALDEMAR PAIVA, MARLY, MEL BROOKS, GUILHERMINA, RADICETTI, PERSSON & SANTANNA O CANTADOR


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? JAPONÊS IMITA GONZAGÃO! (Fotos de lançamento do livro Paixão Legendária – Edições Bagaço, 1991)– Não era ele ainda o Santanna O Cantador de hoje, mas um graduado bancário que nas horas vagas já esbanjava seu talento cantando sucessos do Rei do Baião – na verdade, não só cantava como rendia homenagem praquele que o tivera por filho postiço. Eu fazia vez de jornalista numa emissora de rádio, quando batemos o centro na nossa primeira parceria: Nunca chore por mim – que na festa do lançamento de um livro meu – vide as fotos -, tornamos pública. E estávamos motivados pra mais uma dezena de parcerias, quando fomos entrevistar o renomado cantor e compositor cearense Belchior no Recife. Conversa boa regada a revelações e depoimentos que se prolongou por umas duas horas registradas no meu gravador, mas não podíamos esticar muito no papo porque, no outro dia, o meu amigo tinha que se aprontar pra mais um espetáculo pro povinho bom da minha terra. Assim foi e na hora da apresentação dele, como de costume, gente pendurada de todo jeito de cair pelo ladrão. E o cabra lá fazendo bem feito o que sabia melhor fazer metendo xote, baião, forró, rastapé e tudo que foi sucesso de boca em boca do grande cantor da alma nordestina. Lá pras tantas, eis que um biltre dum pinguço que já estava meio lá, meio cá, trocando as pernas e a vida dele e de todo mundo, chegou pra mim aos tombos e na maior da ingresia berrou na língua enrolada: - Já vi neguinho de todo jeito imitando o véi Lua, mas japonês é a premera veizi! E cuspiu no chão, passou insistentemente as mãos às vistas pra enxergar direito o que via e não acreditava, quando abusado reclamou: - Ou eu tô bêbo dimai, ou é o véi Lua qui ressuscitou num japa? Veja mais aqui, aqui e aqui.

 Imagem: Olhos observantes e pássaro curioso, da artista plástica Maria Luisa Persson. Veja mais aqui e aqui.

Curtindo as músicas do cd América, o décimo terceiro autoral do músico, compositor e arranjador Felipe Radicetti dedicado ao escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) e contando com parcerias com Sérgio Ricardo, Felipe Cerquize, Marcelo Biar, Luhli, Socorro Lira, Etel Frota, entre outros. Confira o projeto aqui, aqui e aqui.

PROGRAMA BRINCARTE DO NITOLINO – Todo domingo, a partir das 10hs, realiza-se o programa Brincarte do Nitolino, desta feita Especial de São Pedro, no blog do Projeto MCLAM - programa Domingo Romântico. Na programação festiva de hoje comandada pela Ísis Corrêa Naves muitas atrações: Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Quintal da Cultura, Mario Zan & banda & coro, Festa Junina, Nita, Sandra Fayad, Tia Conça, Meimei Corrêa, Marquinhos & Marcelo, As Viagens de Oliva, Arraíá da Xuxa, Mastruz com Leite, Falamansa & muita música, muita poesia, histórias e brincadeiras pra garotada. E mais no blog sobre Psicologia Infantil, Educação Infantil, Direito das Crianças e Adolescentes, Teatro Infantil, Música Infantil & Literatura Infantil. Para conferir ao vivo e online clique aqui ou aqui.


AS CIÊNCIAS E AS ARTES – A obra Discurso sobre as ciências e as artes (1750), do escritor, teórico político, um dos principais filósofos do Iluminismo e precursor do Romantismo francês, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), conquistou o prêmio da Academia de Dijon ao questionar se o restabelecimento das ciências e das artes contribuiu para purificar os costumes. Do livro destaco os trechos seguintes: [...] Antes da arte modelar as nossas maneiras e ensinar as nossas paixões a falar uma linguagem apurada, nossos costumes eram rústicos, porém naturais; e a diferença dos procedimentos anunciava, ao primeiro golpe de vista, a dos caracteres. A natureza humana, no fundo, não era melhor; mas, os homens encontravam sua segurança na facilidade de se penetrarem reciprocamente; e essa vantagem, cujo valor não sentimos, lhes evitava muitos vícios. Hoje, que pesquisas mais sutis e um gosto mais fino reduziram a arte de agraciar a princípios, reina nos costumes uma vil e enganadora uniformidade, parecendo que todos os espíritos foram atirados num mesmo molde: a polidez sempre exige, o decoro ordena ; sem cessar, todos seguem os usos, jamais o seu próprio gênio. Ninguém mais ousa parecer aquilo que é; e, nesse constrangimento perpétuo, os homens que formam esse rebanho chamado sociedade colocados nas mesmas circunstâncias farão todos as mesmas coisas, se motivos mais poderosos não os desviarem. Jamais saberemos bem a quem nos dirigirmos: precisamos pois, para conhecer um amigo, esperar as grandes ocasiões, isto é esperar que não haja mais tempo, pois que é precisamente nesse tempo que seria essencial conhecê-lo. Que cortejo de vícios não acompanhará essa incerteza! Não há mais amizades sinceras não há mais estima real; não há mais confiança fundada. As suspeitas, as desconfianças, os temores, a frieza, a reserva, o ódio, a traição, hão de ocultar-se sempre sob o véu uniforme e pérfido da polidez sob essa urbanidade tão louvada, que devemos às luzes do nosso século. Não será mais profanado com juramentos o nome do senhor do universo; mas, será insultado com blasfêmias, sem que os nossos ouvidos escrupulosos se ofendam. Ninguém mais se gabará do próprio mérito, mas rebaixará o dos outros. Ninguém ultrajará grosseiramente seu inimigo, mas o caluniará com habilidade. Os ódios nacionais se extinguirão, mas será com o amor da pátria. A ignorância desprezada será substituída por um perigoso pironismo. Haverá excessos proscritos, vícios desonrados: mas, outros serão decorados com o nome de virtudes; será preciso tê-los ou os afetar. Gabar-se-á quem tiver a sobriedade dos sábios do tempo; quanto a mim, não vejo nisso senão um requinte de intemperança tão indigno de meu elogio quanto a sua artificiosa simplicidade. Tal é a pureza adquirida pelos nossos costumes: é assim que nos tornamos gente de bem. Cabe às letras, às ciências e às artes reivindicar o que lhes pertence em obra tão salutar. Acrescentarei apenas uma reflexão: o habitante de alguma região afastada que procurasse formar uma idéia dos costumes europeus sobre o estado das ciências entre nós, sobre a perfeição das nossas artes, sobre a afabilidade dos nossos discursos, sobre as nossas perpétuas demonstrações de benevolência, e sobre essa multidão tumultuosa de homens de toda idade e de todo estado que parecem ter pressa, desde o amanhecer até ao pôr-do-sol, de se obsequiarem reciprocamente; esse estrangeiro repito, adivinharia exatamente nos nossos costumes o contrário do que eles são. [...] Todo artista quer ser aplaudido. Os elogios dos seus contemporâneos constituem a parte mais preciosa de suas recompensas. Que fará, pois, para os obter, se tem a desgraça de ter nascido no seio de um povo e nos tempos em que os sábios em moda puseram uma juventude frívola em estado de dar o tom; em que os homens sacrificaram seu gosto aos tiranos de sua liberdade; em que, não ousando um dos sexos aprovar senão o que é proporcional à pusilanimidade do outro, se deixa que se percam obras-primas de poesia dramática e se joguem fora prodígios de harmonia? Que fará ele, senhores? Rebaixará seu gênio ao nível do seu século e preferirá compor obras comuns, que se admirem durante a sua vida, a maravilhas que seriam admiradas muito tempo depois de sua morte. Dizei-nos, célebre Arouet o que não sacrificastes de belezas másculas e fortes à nossa falsa delicadeza! E como o espírito da galanteria, tão fértil em pequeninas coisas, vos custou grandes! [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

UM AR CONDICIONADO DIFERENTE – Esse foi um dos presentes que tive a honra de ser contemplado pela médica, crítica literária e fotógraga, amiga Cidinha Madeiro. Trata-se da obra Saga do 44º Espada D’Água e outros causos e mais causos (EBGE, 2005), do saudoso poeta, cordelista, radialista, compositor, produtor e publicitário Aldemar Paiva (1925-2014), fundador da Rádio Difusora de Alagoas e que atuou na Rádio Clibe de Pernambuco, substituindo Chico Anísio como produtor, apresentador e diretor artístico. Tive a honra de conhecê-lo na segunda metade da década de 1980, quando fui diretor do Sindicato dos Radialistas de Pernambuco. Ler o livro foi como ouvi-lo contar das suas. E entre tantas e ótimas narrativas, destaco Ar condicionado: O cinema de Moacir possuía excelente aparelhagem, poltronas confortáveis, tela panorâmica, som maravilhoso e boa localização. Faltava apenas um sistema de refrigeração para o público. Um dia, causou estranheza aquela tabuleta enorme na fachada do Lux, anunciando Elizabeth Taylor em Cleópatra e com ar condicionado. Efetivamente eu não pisei lá, porém dias depois, ao encontrar Moacir na Praça Pirulito, decidi cumprimentá-lo: - Parabéns pela inauguração do ar! – Que inauguração que nada! Aquilo é um sistema proprip bolado por mim desde o ano passado. Veja como funciona: cadastrei vinte e cinco asmáticos da Ponta Grossa, com endereço e tudo. Quando faço lançamento de uma superprodução mando buscá-los. Eles chegam a partir das cinco horas da tarde. Aí eu distribuo pastilhas e clicetes de hortelã pimenta, e vou colocando todos eles em pontos estratégicos da plateia. Ao final eles começam mascando e botando aquele ar bem friinho pela boca. Em menos de uma hora o salão está praticamente refrigerado. Solto o filme e os funcionários vão cuidando de reabastecê-los durante a projeção. Como são asmáticos crônicos não existe perigo de esquentar o ambiente. O público adora e não reclama pelo ingresso um bocadinho mais caro. Entendeu? Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

ELEGIA QUANDO ESTIVER MORTA & SONETO – Na Antologia poética (Nova Fronteira, 1998), da poeta e professora Marly de Oliveira (1935-2007), destaco o seu Elegia: Teu rosto é o íntimo da hora / mais solitária e perdida, / que surge como o afastar-se / de ramos, brando, na noite. / Não choro tua partida. / Não choro tua viagem / imprevista e sem aviso. / Mas o ter chegado tarde / para o fechar-se da flor / noturna do teu sorriso. / O não saber que paisagens / enchem teus olhos de agora, / e este intervalo na vida, / esta tua larga, triste, / definitiva demora. O belíssimo Quando um dia estiver morta: Quando um dia estiver morta / e sobre mim caírem os adjetivos mais ternos, / não vou mover um dedo / de dentro do meu silêncio: / vou desdenhar do eterno / o que sempre chegou tarde, / demais, quando já nem era preciso. Por fim o seu Soneto: Ficou do amor, das tardes luminosas / à beira de mim mesmo transparente / e imóvel como os remos de alabastro / que o sonho vai movendo em minha mente, / entre algas finas e entre esquivos peixes / à margem de violetas assombradas, / do jogo eterno e cada vez mais sábio / das aves silenciosas e prateadas, / das águas sem memória e dos adeuses / que aprendi contemplando os horizontes, / este espinho que faz brotar da sombra / um apelo de campos e de montes, / e arranca à pedra em que me fui tornando / o delírio ou o grito de uma fonte. Veja mais aqui, aqui,  aqui, aqui e  aqui.

A PATENTE – A comédia em um ato A patente (1917), do dramaturgo, poeta e romancista siciliano Luigi Pirandello (1867 – 1936), retoma o tema do romance homônimo de 1911, revelando questões acerca das relações de entrelaçamento entre os homens corrompidos e poluídos por preconceitos e aparências para superficial julgamentos e conveniências, pendurados nas máscaras para sobrevivência. Da obra destaco o trecho inicial: (Gabinete do Juiz D’Andrea. Estante grande ocupa quase toda a parede ao fundo, cheia de caixas com arquivos, abarrotados de documentos. Escrivaninha sobrecarregada de papéis, à direita, ao fundo. Ao lado, à parede da direita, uma outra prateleira. A cadeira de braços de couro do juiz, junto à escrivaninha. Outra cadeira antiga. O ambiente é antiquado. Na parede direita, a porta. À esquerda, uma janela ampla, alta, com vitral antigo. Perto da janela, uma coluna sobre a qual vê-se uma grande gaiola. Num canto, uma portinhola oculta. D’Andrea entra pela porta com chapéu à cabeça e sobretudo. Carrega na mão uma gaiolinha um pouco maior que um palmo. Vai até a gaiola maior, abre a portinhola, depois a portinhola da gaiolinha donde retira um pintassilgo, transferindo-o para a gaiola maior) D’ANDREA - Aí, dentro! Entre, seu preguiçoso! Oh, pronto... Quietinho agora e basta. Me deixe conduzir a Justiça entre essa raivosa e mesquinha humanidade! (Retira o, sobretudo e o chapéu e colocando-os no cabide. Senta-se à escrivaninha; pega os autos do processo que deve instruir, os sacode ao ar impaciente, e resmunga) D’ANDREA - Ah, meu caro... Fica absorto, pensando, após um tempo toca a campainha. Entra o oficial de justiça Marranca. MARRANCA - Às ordens, senhor juiz! D’ANDREA - Tome, Marranca: vá ao Beco do Forno, aqui perto, à casa do Chiàrchiaro. MARRANCA - (num salto para trás, fazendo um sinal de esconjuro com as mãos) Pelo amor de Deus! Não diga este nome, senhor juiz! D’ANDREA - (irritadíssimo, batendo na escrivaninha com o punho) Basta, por Deus! Proíbo-lhe de proferir assim, na minha frente, tanta asneira, prejudicando um pobre homem. E que fique bem claro! MARRANCA - Desculpe, senhor juiz! Mas eu disse também pelo seu bem... D’ANDREA - Ah, e ainda insiste? MARRANCA - Não falo mais! Não falo mais! O que deseja que eu vá fazer na casa deste... Deste... Cavalheiro? D’ANDREA - Diga que preciso falar-lhe, e que se apresente imediatamente. MARRANCA - Imediatamente, senhor Juiz. Como deseja. Mais alguma ordem? D’ANDREA - Nenhuma. Vá! (Marranca sai, segurando a porta para dar passagem a outros três juízes, que entram vestindo toga e touca. Trocam saudações com D’Andrea, e vão os três olhar o pintassilgo na gaiola) [...] Veja mais aqui, aqui e aqui.

HISTÓRIA DO MUNDO – A comédia antológica História do Mundo – Parte I (1981), escrito e dirigido pelo impagável cineasta e ator estadunidense Mel Brooks, é uma paródia histórica e bricadeira do autor da obra de Sir Walter Raleigh, que não segue cronologia alguma e traz ambientes ocorridos durante a Idade da Pedra com a invenção do fogo e os primeiros casamentos Homo sapiens entre homossexuais, o Antigo Testamento proclamando quinze mandamentos que devido a um acidente restam apenas dez, Império Romano e a paixão de Comicus pela vestal Miriam até o confronto bélico que é amainado pelas tapas na maconha, a Inquisição espanhola com Torquemada e as suas torturas, e a Revolução Francesa com o Conde Monet, seu sócio Béarnaise e a belíssima Mademoiselle Rimbaud, além de esquetes intermediários que incluem encenações dos Dez Mandamentos e da Última Ceia. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Imagem da violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia (1885-1950), by Anita Mercier.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
(Imagem: Os violeiros, xilogravura de Nena Borges).
Aprume aqui.


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Migrante entre equívocos, Santuário de William Faulkner, Tragédia da cultura de Georg Simmel, Cibercultura de André Lemos, a música de Ivan Lins & Sá & Guarabira, o cinema de e Tony Richardson & Lee Ann Remick, a pintura de James McNeill Whistler, a arte de Yosuke Onishi & Lanoo, A Lei & a Pizza aqui.

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