domingo, maio 17, 2015

WHITMAN, LISPECTOR, BENJAMIN, ENYA, IONESCO, SIRON & PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO.



VAMOS APRUMAR A CONVERSA? – A Psicologia contribui de forma indubitável para que a Educação e a Escola cumpram seu papel e, por consequência, possam se encaminhar para um atendimento com qualidade das suas demandas. É reconhecida a importância da Psicologia no contexto escolar, entretanto, na realidade isso é desconhecido ou propositalmente ignorado, principalmente na Escola Pública alagoana, que prescinde da participação de psicólogos no seu quadro multiprofissional de servidores. Em uma pesquisa recentemente realizada foi constatada a existência de apenas dois profissionais psicólogos na escola pública federal maceioense – que é um número precário considerando-se o número de professores, alunos e servidores da instituição em referência -, inexistindo por completo sua participação no quadro funcional das escolas públicas estaduais e municipais de Maceió. Quer dizer, em Alagoas, como de resto todo Brasil, o Estado não faz a sua parte. E o pior: descumprindo mandamento constitucional de que a Educação é dever do Estado e da família. Se os municípios e o estado alagoano não fazem a sua parte, o prejuízo é da população e, com isso, tem-se a constatação da tragédia que é a escola pública brasileira. Ora, ora, vamos aprumar a conversa! E aprume aqui. LEMBRETE: Ah, quse ia me esquecendo: hoje é dia de programa Brincarte do Nitolino para as crianças de todas as idades, a partir das 10hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação simpática de Isis Corrêa Naves. Para conferir ao vivo e online clique aqui ou aqui.

Imagem: Pecado original, do artista plástico do Modernismo brasileiro Siron Franco.

Curtindo Only Time Collection (2002), da cantora, instrumentista e compositora irlandesa Enya.


ENSAIOS DAS OBRAS ESCOLHIDAS – A coleção Obras escolhidas (Brasiliense), traz o primeiro volume Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura (1985), com textos sobre história, surrealismo, Marcel Proust e Franz Kafka; o segundo volume A rua de mão única (1987), com as figuras do pensamento e a infância em Berlim; e o terceiro volume Os paradigmas revolucionários (2004), reunindo o pensamento do filósofo, sociólogo, ensaísta, critico literário e tradutor alemão Walter Benjamin (1892-1940), contendo ensaios como A obra de arte na era de sua reprodutividade técnica, O narrador, Sobre o conceito da história, Pequena história da Fotografia, Charles Baudelaire – um lírico no auge do capitalismo, entre outros. Entre as obras destaco o trecho: [...] Confiante no infinito do tempo, certa concepção da história discerne apenas o ritmo mais ou menos rápido, segundo o qual homens e épocas avançam no caminho do progresso. Donde o caráter incoerente, impreciso, sem rigor, da exigência dirigida ao presente. Aqui, ao contrário, como sempre têm feito os pensadores, apresentando imagens utópicas, vamos considerar a história à luz de uma situação determinada que a resume em um ponto focal. Os elementos da situação final não se apresentam como tendência progressista informe, mas, a título de criações e idéias em enorme perigo, altamente desacreditadas e ridicularizadas, incorporam-se de maneira profunda a qualquer presente [...] Essa situação [...] só é apreensível na sua estrutura metafísica, como o reino messiânico ou a ideia revolucionária, no sentido de 89 [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.


FELICIDADE CLANDESTINA – O livro Felicidade clandestina e outros contos (Rocco, 1998), da premiada escritora e jornalista Clarice Lispector (1920-1977), reúne vinte e cinco contos, crônicas e outros textos que versam sobre infância, adolescência, amor, família e questões da alma e que foram escritos nas mais diversas fases da vida da autora, alguns deles publicados no Jornal do Brasil no período de 1967-1972. Na obra destaco o trecho da narrativa homônima: Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”. Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! Veja mais aqui e aqui.


FOLHAS DE RELVA – O livro Folhas de Relva (Harbra, 2011), do poeta, ensaísta e jornalista estadunidense Walt Whitman (1819-1892), publicado primeiramente em 1855, reunindo apenas dose poemas, tendo sucessivas reedições até a sua edição de leito de morte em 1891-1892, com mais de quatrocentos poemas, sendo, pois, considerado pelo autor que cada edição era um livro próprio e distinto com alteração do conteúdo e da forma. Da obra destaco Saudação de Natal (aos brasileiros): Bem-vindo irmão brasileiro! – teu vasto destino está dado. A ti, a nossa mão amiga — um sorriso vindo do Norte —, uma saudação cheia de sol! (Que venha o futuro, com suas dificuldades e seu próprio fardo. É nossa, é nossa a dor do nascimento, a busca da democracia, a aprovação, a fé). A ti estendemos hoje nosso braço, voltamos nosso pensamento — a ti, nosso esperançoso olhar. Tu te juntaste aos livres! Tu passaste a ter brilho próprio! Tu aprendeste direito a verdadeira lição de uma nação que brilha no céu. (Mais brilhante do que a Cruz, mais brilhante do que a Coroa). O apogeu da suprema humanidade. Veja mais aqui e aqui.

A CANTORA CARECA – A comédia em um único ato A cantora careca (1950), do patafísico e dramaturgo romeno, Eugène Ionesco (1909-1994), é o primeiro texto teatral do autor e a primeira das obras da corrente estética denominada Teatro do Absurdo, que surgiu após a II Guerre Mundial, com a condição irônica de uma anticomédia que se caracteriza pelo estilo surrealista verbal, marcado por clichês e futilidades. Da obra destaco a cena IX: [...] CENA IX [Mary entra.] MARY: Senhora... Senhor... SRA. SMITH: O que você quer? SR. SMITH: O que a traz aqui até nós? MARY: Espero que a senhora e senhor me desculpem...  E também as senhoras e os senhores... Eu gostaria... Eu gostaria... De contar-lhes uma anedota. SRA. MARTIN: O que ela está dizendo? SR. MARTIN: Eu acredito que a empregada, nossa amiga, está ficando louca... Ela também quer nos contar uma anedota. CAPITÃO: Quem ela pensa que é? [Ele olha pra ela.] Oh! SRA. SMITH: Por que você está se intrometendo? SR. SMITH: Isto é realmente desnecessário, Mary... CAPITÃO: Ah! Mas é ela! Não é possível! SR. SMITH: E você? MARY: Não é possível! Aqui? SRA. SMITH: O que significa tudo isso? SR. SMITH: Você conhece se conhecem? CAPITÃO: E como! [Mary joga-se sobre o colo Capitão.] MARY: Estou tão contente de vê-lo novamente... Finalmente! SR. E SRA. SMITH: Ah! SR. SMITH: Isso é demais, aqui, em nossa casa, no subúrbio de Londres. SRA. SMITH: Não é apropriado!... CAPITÃO: Foi ela quem apagou meus primeiros focos. MARY: Sou seu pequeno jato d’água. SR. MARTIN: Se esse é o caso... Caros amigos... São sentimentos compreensíveis, humanos, honrados... SRA. MARTIN: Todo humano é honrado. SRA. SMITH: Mesmo assim, não gosto de vê-la... aqui entre nós... SR. SMITH: Ela não foi educada apropriadamente... CAPITÃO: Ah, vocês têm muitos preconceitos. SRA. MARTIN: Eu acho que é uma empregada, afinal, embora não seja da minha conta, não é nada mais que uma empregada... SR. MARTIN: Se mesmo ela pode às vezes ser um bom detetive. CAPITÃO: Solte-me. MARY: Não se preocupe!... Eles não são tão perversos como parece. SR. SMITH: Hm... Hm... Vocês são muito comoventes, mas ao mesmo tempo, um pouco... Um pouco... SR. MARTIN: Sim, esta é exatamente a palavra. SR. SMITH:... Um pouco exibidos também... SR. MARTIN: É uma modéstia peculiar britânica, perdoe-me, mais uma vez, por tentar explicar meus pensamentos, não compreendido por estrangeiros, mesmo por especialistas, graças a qual, posso me expressar assim... Enfim, eu não estava dizendo isso a vocês... MARY: Eu estava contando... SR. SMITH: Você não vai contar nada... MARY: Vou sim! SRA. SMITH: Vai, minha pequena Mary, vá quieta para a cozinha e leia seus poemas em frente do espelho... SR. MARTIN: Ei, eu não sou uma empregada, e também leio poemas em frente ao espelho. SRA. MARTIN: Esta manhã, quando você olhou para você mesmo no espelho, não viu você mesmo. SR. MARTIN: Isso porque eu ainda não estava lá... MARY: Ainda sim, eu poderia recitar-lhes um pequeno poema. SRA. SMITH: Querida Mary você é terrivelmente teimosa. MARY: Então, vou recitar-lhes um poema, está bem? Intitula-se "O Fogo" em homenagem ao capitão. O Fogo Os vaga-lumes brilham na floresta. Uma pedra pegou fogo. O castelo pegou fogo. A floresta pegou fogo. Os homens pegaram fogo. As mulheres pegaram fogo. Os passarinhos pegaram fogo. Os peixinhos pegaram fogo. A água pegou fogo. O céu pegou fogo. As cinzas pegaram fogo. A fumaça pegou fogo. O fogo pegou fogo. Tudo pegou fogo. Pegou fogo, pegou fogo. [Ela continua recitando as palavras finais enquanto os Smith a retiram do palco.] [...] Veja mais aqui e aqui.


THE SCARLET LETTER – O filme estadunidense The Scarlet Letter (A Letra Escarlate, 1995), do diretor Joan Plowright, é uma adaptação livre da obra homônima do escritor Nathaniel Hawthorne (1804-1864) publicada em 1850, contando uma história ocorrida no séc. XVII, sobre uma paixão recíproca que envolve uma mulher casada e um reverendo comprometido com seus valores religiosos e que reprimem suas emoções. Com a suposta morte do marido, ela engravida do reverendo, negando a paternidade do filho e adotando a inscrição de um “A” de adúltera em suas vestes, como símbolo de sua vergonha perante a sociedade local. Destaque na película para performance da bela atriz Demi Moore. Veja mais aqui e aqui.














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