sexta-feira, agosto 01, 2014

ELLIOT ARONSON, MALIKA OUFKIR, CAROLEE DEAN, MUYESSER ABDUL'EHED & ANNIE VIVANTI

 


ETERNAMENTE, ANNIE – Ela apareceu com o redemoinho de sua inquietude e excentricidade, desafios escandalosos: Eu sou mulher, quero te ver... E era aquela a inglesa que devorou os corações dos salões literários. Era aquela cosmopolita e inescrupulosa italiana vestida de cantora das virtudes errantes e ambições líricas. Era aquela sedutora exótica alemã, cultuadora de assuntos impróprios da nobreza mundana, transitando entre as notícias literárias e as críticas maldosas dos tablóides. Aquela divorciada estadunidense com o espelho da alma na escrita errante: Nasci com paixão pelas distâncias... E invocava Deus uma única graça: por mais longe que fosse, sempre houvesse quem a aguardasse... E se sentia em casa em qualquer ou nenhum lugar. Invadia com seus malabarismos salas, cafés-concertos e águas do Tâmisa, festas em jardins e fazendas texanas, almoços literários e recepções de gala: Sou mulher e venho de longe para te ver. Não sou italiana, mas sou uma profunda admiradora da sua língua e de você, o mais forte dos seus poetas. O infortúnio quer que eu escreva versos... Ah, uma mulher vestida apenas com um conjunto de diamantes, encantadora com seu ombro nu, seus olhos ameaçavam possuir-me era seu puro capricho, como se Anita, George, ou tantos cognomes, a sua reinvenção a me sequestrar como se eu fosse uma casa abandonada na floresta. E voava me pegando pela mão com a neblina amarrada à cintura, esse era o seu belo gesto, como quem amava batalhas perdidas e as recriava na sua autoinvenção camaleônica. E se fez Lirica com a tenacidade vaidosa na espinha dorsal, como se fosse a operística Marion artista di caffè-concerto, cantando versos da The Hunt for Happiness, a Perfect, En passant, Houp-là!, A Fad e The ruby ring, Winning him back e The True Story of a Wunderkind told by its mother. E era a Nancy do The Devourers, integrando a saga familiar do I divoratori (1911), ou mesmo a condessa russa Maria Tarnowska, com sua alter-ego Circe, que contava os trágicos estupros das meninas belgas do L'Invasore, e das guerras do Vae Victis e Zingaresca, do drama de Le bocche inutili, e do The Outrage, e da corrupta sociedade perversa de Naja tripudians. E me contava de Gioia, da Sorella di Messalina, de Sua altezza e da defesa apaixonada pela Terra di Cleopatra. Mais encenava na Perdonate Eglantina ou acusava a colonização egípcia no Mea culpa, e da Fosca, sorella di Messalina, e do Salvate le nostre anime, e do Il viaggio incantato. E seus olhos de Nereida, ora se assombravam com seus fantasmas diurnos, mais pronunciava o seu temperamento lírico para me contar que seu pai era um revolucionário de Mântua, de ascendência judaica e comerciante de seda; sua mãe era uma escritora alemã que conheceu Marx e outros intelectuais e que morreu de tuberculose quando ela tinha quatorze anos; e que teve uma educação pouco convencional em uma casa igualmente pouco convencional e foi o que lhe concedeu a força e independência para se recusar à intimidação da misoginia, tornando-se no mesmo instante Safo, Marcelline Desbordes-Valmore e Elizabeth Browning. Ora tão destemida como quem conhecesse a vaidade de tudo e não precisava encobrir notas de fantasia desinibidas com suposta profundidade ou moralidade intrínseca, mostrando-se tão irredentista quanto o ex-marido - um pecador ativista pela independência irlandesa, tão corajosa quanto aquela que defendia sua filha Vivien, uma violinista prodigiosa, que aos doze anos tocava violino no Albert Hall em Londres, e aos quarenta e oito suicidou-se. Dane-se a opinião dos outros... A sua autoconfiança a fazia uma fera tomada por seu temperamento apátrida e multifacetado no seu sentimentalismo latino. A obstinada fêmea expunha suas ideias autobiográficas amalgamadas de grande viajeira congênita do próprio chão e o seu itinerário existencial com o presente desenraizado como moto perpétuo, o frescor da espontaneidade, sua latejante e desordenada condição de viver sua fascinante jornada heterogênea e sua última temporada polifônica. Essa era a sua excepcional experiência de vida: A poesia será divina no dia em que as palavras se tornarem plásticas... Uma homenagem à escritora Annie Vivanti (1866-1942), perpétua em minha memória. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Os seres humanos não são animais racionais; estamos racionalizando animais que querem parecer razoáveis para nós mesmos. É possível dominar um problema ou habilidade sem ferir outra pessoa ou mesmo sem tentar conquistá-lo. Precisamos desafiar o nosso próprio pensamento. Pensamento do psicólogo estadunidense Elliot Aronson, inventor da Jigsaw Classroon, uma técnica de ensino cooperativo que facilita a aprendizagem ao mesmo tempo que reduz a hostilidade e o preconceito interétnicos.

 

ALGUÉM FALOU: Não importa o quanto aprendamos, sempre há mais conhecimento a ser adquirido. A este respeito, lembro-me de um pequeno poema que esteve em minha mente ao longo dos anos. Diz o seguinte: “Eu costumava pensar que sabia que sabia. Mas agora devo confessar. Quanto mais eu sei, eu sei, eu sei, eu sei, menos”... Pensamento da escritora marroquina Malika Oufkir. Veja mais aqui.

 

LEVE-ME LÁ – […] Palavras são como pessoas, eu acho. Coloque muitos deles muito próximos e eles causarão problemas [...] Enquanto você respirar, ainda há esperança. [...] Não tente enganar um mentiroso. [...] Até onde você pode seguir pelo caminho errado antes de não conseguir voltar ao caminho certo? [...] Eu carrego uma mensagem que não consigo ler. As palavras podem ser assustadoras ou macio ou doce. Pensei no que diz Não sei, Eu ainda carrego isso comigo, onde quer que eu vá [...] O tempo dá voltas e mais voltas o relógio girando, até o dia fatídico tempo dobra as mãos cansadas e para. [...] A mente só consegue lembrar o que está disposta a lembrar – porque se você é culpado, então a verdade não é o que o liberta. É o que deixa você trancado. [...]. Trechos extraídos da obra Take Me There (Simon & Schuster, 2010), da escritora estadunidense Carolee Dean.

 

UMA CARTA PARA A PRISÃO - Nos passos ocupados da noite ou do dia eles te levaram \ talvez eu tenha corrido para o canto da sua sala de aula \ ouvir em silêncio por algumas horas \ e quando meus pensamentos brilharam por um momento\ Eu vi suas profundezas. Poema da escritora, professora e ativista chinesa Muyesser Abdul'ehed, que denunciou publicamente os campos de trabalhos forçados de civis de etnia uiguire pelas autoridades chinesas, razão pela qual passou a morar na Turquia, a partir de 2013. Ela é autora da obra Missing you is painful (2012).

 


RICARDO MACHADO – Conheci a voz e o talento do dentista, cantor e compositor Ricardo Machado através da querida Meimei Corrêa e da incansável divulgadora Andréa Borges. 


Com formação erudita de cantor lírico, o tenor já lançou dois álbuns: A sombra confia ao vento (2011) e Ricardo Machado canta Stevie Wonder (2013), gravando Heitor Villa Lobos, Chiquinha Gonzaga, Luis Gonzaga, Pixinguinha, entre outros grandes nomes da música brasileira. Ele também desenvolve um excelente trabalho autoral, é parceiro do poeta e compositor Sérgio Natureza e edita o blog A sombra confia ao vento. Está preparando, inclusive a sua terceira incursão musical pelo cd, já com agendamento de estúdio para tal.


Hoje é o aniversário dele e a nossa homenagem começa aqui e culminará com sua participação especial no programa Brincarte do Nitolino, neste domingo, dia 03 de agosto, a partir das 10hs, comandado por Ísis Corrêa Naves. Parabéns, Ricardo, feliz aniversário! Aplausos de pé, muito sucesso procê, amigo. Confira o talento deste grande artista no YouTube

A MORALIDADE DE THEÓPHILE GAUTIER

Menina, sê ardente,
Mas prudente,
Se sentires calores
Sedutores
Embaixo do teu ventre,
Que não entre
Tua flor de donzela
Uma vela,
Pois logo o castiçal
– Por teu mal –
Lhe iria atrás, matreiro,
Quase inteiro.
Em templo tão estreito,
Vá com jeito
Teu dedo em sua gana,
E a membrana
Só rompa, do hímen teu,
O himeneu.
(Tradução José Paulo Paes)

THEÓPHILE GAUTIER - Pierre Jules Théophile Gautier (1811-1872) foi jornalista, escritor, poeta, dramaturgo e critico literário francês. Sua vida esteve envolvida com a maior parte dos acontecimentos políticos e sociais na França do século 19, o que acabou por lhe render grandes obras de diversidade artística. Apesar de ser um defensor do romantismo, a obra de Gautier é complexa para ser classificada, pois flertou com diversas tradições literárias e estilos, como o parnasiano, o simbolismo e o modernismo. Mas Gautier, ao longo de sua carreira literária, ficou mais famoso por escrever um gênero bastante apreciado no século 19: o fantástico. Gautier era admirado por vários e escritores como Baudelaire, Flaubert e Oscar Wilde.

NEURODESENVOLVIMENTO E TRANDISCIPLINARIDADE – O livro Neurodesenvolvimento e transdisciplinaridade: temas em neuropsiquiatria infantil, organizados por Mauro Muszkat, Claudia Berlim de Mello e Sueli Rizzutti, trata de temas como transtorno de ansiedade, transtorno bipolar, transtorno de conduta, deficiência intelectual, trantorno obsessivo-compulsivo e depressão. REFERÊNCIA: MUSZKAT, Mauro; MELLO, Caludia; RIZZUTTI, Sueli. Neurodesenvolvimento e transdisciplinaridade: temas em neuropsiquiatria infantil. São Paulo: Memnon, 2010. ROBERTS, Monty; O homem que ouve cavalos/violência não é resposta. Rio de Janeiro: BestBolso, 2011. Veja mais aqui.

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