quinta-feira, março 07, 2013

ELENA FERRANTE, ALDA LARA, SAKI, GRACQ, CARNELUTTI & LITERÓTICA

 

 

LITERÓTICA: ELA NUA NA MANHÃ – Quando me procuras alucinada com teus desejos incontroláveis e teu semblante de deusa manhosa no cio, eu já te espero insone desde sempre para redimir meu suplício de querer-te robusta tenda do meu viver. Vem, meu amor, que eu te persigo enlouquecida e nua para te fazer protagonista do meu triunfo perante a nobreza do teu corpo febril e desarvorado. Vem, meu amor, vem me fartar com tua ardência rara e latejante da tua carne trêmula para me refugiar em tuas sinuosidades na acolhida dos teus braços aconchegantes apertado ao teu seio de mamilos cheios a me recolher no teu jeito singelo de me agasalhar no teu útero entusiasmado. Vem, meu amor, que quero me sentir alentado pelo roçar de tua superfície sedosa sobre meu membro teso, me deleitando com a seiva do teu monte de Vênus que se contrai e se expande às minhas investidas acrobatas como troco de nossa entrega. Vem, meu amor, que me esfregarei no teu fogo enquanto te contorce a clamar pelo meu nome com sabor de calda de morango na tua boca estuosa que faz da manhã de setembro o mar das nossas reinações. Vem, meu amor, que o dia faiscando na luz dos teus olhos revelam meu gozo prenhe de paixão. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Os jovens têm aspirações que nunca acontecem, os velhos têm reminiscências do que nunca aconteceu... As mulheres e os elefantes nunca esquecem uma ofensa... Toda profissão tem seus segredos. Se ele não os tivesse, não seria uma profissão... Pense em quantas vidas inocentes são iluminadas pelas indiscrições inflamadas de outras pessoas... Ele simplesmente desenvolveu muito o instinto de ser infeliz... Uma pequena imprecisão algumas vezes economiza toneladas de explicações... Pensamento do escritor britânico Saki (Hector Hugh Munro – 1870-1916).

 

ALGUÉM FALOU: Uma história da literatura, ao contrário da história como tal, deveria listar apenas vitórias, pois suas derrotas não são vitórias para ninguém... Tudo o que é introduzido em um romance torna-se signo... Pensamento do escritor francês Julien Gracq (1910-2007).

 

A AMIGA GENIAL – [...] Não só não quis derrotá-lo, mas também calibrou silêncios e respostas de modo a não ser derrotada. [...] Então eu era a segunda em tudo. E torci para que ninguém jamais percebesse. [...] Como somos malformados, pensara, como somos insuficientes. [...] Tinha a impressão de que mesmo absorvendo muito daquele espetáculo, uma enormidade de coisas, inumeráveis, se dissiparia ao redor sem se deixar apreender. [...] não há gestos, palavras, suspiros que não contenham a soma de todos os crimes que os seres humanos cometeram e cometem. [...] [...] ela deixaria sua marca nesse livros, e o professor a teria notado no momento da devolução, ao passo que eu não deixava vestígios, encarnava apenas a perseverança de quem soma desordenadamente volume a volume. [...] Ela era assim, rompia equilíbrios somente para ver de que outro modo poderia recompô-los. [...]. Trechos extraídos da obra  A amiga genial: Infância, adolescência (Biblioteca Azul, 2011), da escritora italiana Elena Ferrante.

 

DOIS POEMASTESTAMENTO: À prostituta mais nova \ Do bairro mais velho e escuro, \ Deixo os meus brincos, lavrados \ Em cristal, límpido e puro... \ E àquela virgem esquecida \ Rapariga sem ternura, \ Sonhando algures uma lenda, \ Deixo o meu vestido branco, \ O meu vestido de noiva, \ Todo tecido de renda... \ Este meu rosário antigo \ Ofereço-o àquele amigo \ Que não acredita em Deus... \ E os livros, rosários meus \ Das contas de outro sofrer, \ São para os homens humildes, \ Que nunca souberam ler. \ Quanto aos meus poemas loucos, \ Esses, que são de dor \ Sincera e desordenada... \ Esses, que são de esperança, \ Desesperada mas firme, \ Deixo-os a ti, meu amor... \ Para que, na paz da hora, \ Em que a minha alma venha \ Beijar de longe os teus olhos, \ Vás por essa noite fora... \ Com passos feitos de lua, \ Oferecê-los às crianças \ Que encontrares em cada rua... QUADRAS DA MINHA SOLIDÃO: Fica longe o sol que vi, \ aquecer meu corpo outrora... \ Como é breve o sol daqui! \ E como é longa esta hora... \ Donde estou vejo partir \ quem parte certo e feliz. \ Só eu fico. E sonho ir, \ rumo ao sol do meu país... \ Por isso as asas dormentes, \ suspiram por outro céu. \ Mas ai delas! tão doentes, \ não podem voar mais eu... \ que comigo, preso a mim, \ tudo quanto sei de cor... \ Chamem-lhe nomes sem fim, \ por todos responde a dor. \ Mas dor de quê? dor de quem, \ se nada tenho a sofrer?... \ Saudade?...Amor?... Sei lá bem! \ É qualquer coisa a morrer... \ E assim, no pulso dos dias, \ sinto chegar outro Outono... \ passam as horas esguias, \ levando o meu abandono... Poemas da escritora angolana Alda Lara (1930-1962).

 



AS MISÉRIAS DO PROCESSO PENAL - Após efetuar uma leitura do livro “As misérias do processo penal” vê-se que o autor, o grande processualista italiano Francesco Carnelutti, aborda, dentre outras coisas, do drama da justiça penal, do juiz, do Ministério Público, do advogado e do acusado.
Da leitura foi possível apreender que quando uma pessoa entra pela primeira vez em um tribunal, a primeira coisa que lhe chama a atenção são as vestes do advogado e do juiz, que usam a toga. Usam esta para se distinguir dos demais ali encontrados, como também usam os militares para não serem identificados como civis.
A toga, conforme entendimento de Carnelutti, assim como os trajes dos militares, desune e une, ela separa os magistrados e advogados para uni-los entre si.
Para Carnelutti, no tribunal percebe-se a contrariedade entre os advogados e juristas do preso, onde os primeiros parecem estar acima do nível humano, já o réu algemado e tratado como um animal. Ainda assim há quem identifique o pobre com o ser humano faminto; há quem o identifique com o vagabundo, ou com o enfermo.
Para ele, no processo penal há uma guerra entre os advogados que é mediada pelo juiz que se propõe o equilíbrio para o resultado final. E que o advogado é aquele que se senta no último degrau da escada social, ao lado do acusado.
Já o promotor para Carnelutti  deve exercer um estranho papel de parte imparcial e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, pois representa uma instituição permanente, essencial à função juridisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático.
No julgamento, o que se apreende de Carnelutti é que quando o acusado entra, todos os recebe como um animal selvagem, pois este está sendo julgado por algo que fez, nem sempre, às vezes está sendo julgado por engano, e tem a sua moral denegrida perante a sociedade. Este, portanto, é o encarcerado que se encontra à mercê do advogado de defesa e daquele que o acusa para ser julgado por um juiz. E mais: o encarcerado, saído do cárcere, crê não ser mais encarcerado; mas as pessoas não. Para as pessoas ele é sempre encarcerado; quando muito se diz ex-encarcerado; nesta fórmula está a crueldade do engano. A crueldade está no pensar que, se foi, deve continuar a ser.
Acima de todos os degraus está o juiz, que irá determinar a sentença, se o réu vai se tornar um recluso condenado ou se vai ganhar a liberdade.
A guerra entre a defesa e a acusação faz parte do contraditório que se desenvolve aos olhos do juiz, no sentido de dirimir todas as dívidas e para que, no final, possa se desvendar se o réu ali apresentado é culpado ou inocente. Isto quer dizer que para tomar sua decisão em relação ao réu, o juiz dispõe do auxílio do advogado de defesa e o de acusação, mesmo estes tendo o raciocínio diferente do juiz, mas mesmo assim ao final da audiência o juiz obrigado a sentenciar a favor de um dos dois.
O juiz para sentenciar o caso, precisa conhecer além dos fatos, o passado do réu, e também não se esquecer do ser humano, deixando este de viver em um mundo abstrato devido ao seu cargo e viva no mundo real.
Para Carnelutti as provas servem, exatamente, para voltar atrás, ou seja, para fazer, ou melhor, para reconstruir a história. Como faz quem, tendo caminhado através dos campos, tem que percorrer em retrocesso o mesmo caminho? Segue os rastros de sua passagem e o risco é errar o caminho, é tanto mais notório quando o passado se reconstrói para se decidir o destino de um homem.
Quando as provas apresentadas, mas não se dão como suficientes, o acusado é absolvido por falta de provas, e o juiz declara que nada pode declarar e o inocenta da acusação.
Já quando o réu é absolvido por ser provado que ele não cometeu o ato ilícito, é cancelada a acusação, e além da declaração de inocência, há a confissão de erro daqueles que arrastaram o processo. No entanto, se ocorre a condenação do réu, o processo não termina, pois segue os trâmites legais do cumprimento da pena que sai do tribunal para a penitenciária. E, com isso, o castigo não começa com a condenação, mas, muito antes, com o debate, a instrução, com os atos preliminares.  Não se pode castigar sem julgar, nem julgar sem castigar.
Enfatiza o jurista que o processo penal é uma pobre coisa à qual foi confiada uma missão por demais elevada para poder ser cumprida. Dizia ele que não se pode esconder que o direito e o processo são uma pobre coisa e é isso, verdadeiramente, que é necessário para fazer avançar a civilização. Essa é uma condição para a civilização, que exige que se trate com respeito não apenas o juiz, mas também o réu e até o condenado.
Assim sendo, as misérias do processo penal é um livro a respeito da civilização com o objetivo de "desenganar o homem comum a respeito de crença de que basta ter boas leis e bons juizes para se alcançar à civilização". Enfim, O livro trata do preso, mas cita em algumas circunstâncias os pobres, considerando a falta de respeito, os maus tratos e a desigualdade social. E, como o próprio Carnelutti diz muitas leis não são obedecidas. Os precoces, e certamente, os inovadores pensamentos deste jurista mostram uma demasiada preocupação com os personagens do processo, bem como os objetivos do mesmo e ainda, a razão do mesmo existir.
No julgar por julgar e no prender por prender, Carnelutti fez veemente combate, repudiando os objetivos da detenção como forma de sanção penal, bem como o despropósito da aplicação penal, visto o vazio finalístico da mesma.
Ademais, Francesco Carnelutti destacou-se ainda pela proposta de descoisificação do Processo Penal, relevando as árduas e difíceis tarefas dos advogados, juizes e réus no transcorrer do processo, enfatizando a participação individual de cada um destes componentes e ressaltando a imprescindibilidade e importância dos mesmos. Destarte, foi esse seu modo de ver o processo penal, encontrando uma forma mais humana de interpreta-lo tanto no que se referia ao destinatário do processo como nas pessoas que o fazem seguir. São as misérias do processo penal, refletidas nas palavras de Carnelutti: infelizmente a justiça humana é feita assim, que nem tanto faz sofrer os homens porque são culpados quanto para saber se são culpados ou inocentes. Assim sendo, a seu ver, desgraçadamente, a justiça humana está feita de tal maneira que faz o homem sofrer não somente quando ele é culpado, mas também para saber se ele é inocente, isto porque, o processo em si mesmo é uma tortura. Veja mais aqui, aquiaqui, aqui, aqui e aqui.

FONTE BIBLIOGRÁFIA:
CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. Brasil: Conan, 1995


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