DITOS & DESDITOS – Prefiro estar do lado dos
perdedores, das pessoas incompreendidas ou solitárias, em vez de escrever sobre
os fortes e poderosos. Pensamento da escritora espanhola Núria Añó. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Você tem
que ser realista, a objetividade é a base de qualquer plano bom. Estranho pode
ser bastante normal. Pensamento da premiada escritora argentina Samanta Schweblin. Veja mais aqui.
MINIMA MORALIA – [...] Após a extinção do sujeito, a arte é o que
menos se deixa salvar pelo empalhamento do sujeito, e o único objeto que dela
seria digno atualmente, o puro inumano, furta-se ao mesmo tempo a ela por sua
enormidade e sua inumanidade. [...] Trecho
extraído de Minima moralia (Beco do
Azougue, 2008), do filósofo e musicólo alemão,Theodor W. Adorno (1903- 1969), que no
livro Prismas
– Crítica cultural e sociedade (Ática, 1998) ele diz: Escrever um poema após Auschwitz é um ato
bárbaro, e isso corroi até mesmo o conhecimento de por que hoje se tornou impossível
escrever poemas. Também no Dialética do esclarecimento (Zahar, 1985) expressa: O conceito é a ferramenta ideal que se encaixa nas coisas pelo lado por
onde se pode pegá-las. Por fim, no Palavras
e sinais: modelos críticos (Vozes, 1995): Paz é um estado de diferenciação sem dominação, no qual o diferente é
compartido. Veja mais aqui, aqui e aqui.
COCANHA, COCAGNE, COCAIGNE & CUCCAGNA – Cocagne é um país de localização desconhecida,
registrado na comedia Le Roi
de Cocagne (Paris, 1719), de um relato anônimo Le Dit de Cocagne,
do séc. XIII, registrado por Marc-Antoine Legrand, local famoso por sua comida requintada, que não é cozida, mas
cresce como flores. Doces e chocolates nascem na borda das florestas, pombos
assados voam pelo ar, vinho perfumado jorra das fontes e bolinhos chovem do
céu. O palácio real é feito inteiramente de açúcar de confeiteiro, as casas são
de maltose, as ruas são calçadas com pasteis e as lojas fornecem mercadorias de
graça. Diz-se que a casa de biscoito de gengibre existente em uma das florestas
alemãs, famosa graça às explorações de um par de irmãos, vem de Cocagne. Os habitantes
gozam de uma espécie de imortalidade porque desconhecem a guerra e, além disso,
quando atingem cinquenta anos, voltam aos dez anos de idade. Servem-nos uma
tropa de silfos, gnomos e ninfas aquáticas. Por outro lado, Cocaigne, recolhido
de Jurgen: A comedy of justice (N.Y.
1919), de James Branch Cabell, é uma ilha situada adiante de Sargyll, reino de
Anaitis, conhecida também como Dama do Lago, suposta filha do Sol e parente da
Lua. Sua missão é desviar, virar para o lado e derivar. Ela viaja muito,
demonstrando especial interesse em tirar ascetas da trilha espiritual que
conduz à canonização. Foi ela que deu a Artur de Camelot a espada de Excalibur
e que fez Guinevere, esposa dele, se apaixonar por Lancelot. As primeiras
pessoas a chegar em suas portas foram Adão e Eva, agora representados na
aldrava da porta. Há somente uma lei nesse reino insular: Faze o que parece bom para ti. Já Cuccagna é um pequeno país não
muito longe da Alemanha, registrado por anônimos nos relatos Capitolo di
Cuccagna (sec. XVI), Storia del Campriano contadino (sec. XVII) e Trionfo del
poltroni (sec. XVII). De acordo com alguns viajantes, entra-se por um rio. No meio
do pais ergue-se o monte Mecca, um vulcão cheio de sopa borbulhante. De suas
entranhas saem raviólis e outras massas que, rolando por suas encostas cobertas
de queijo, caem num vale de manteiga derretida. Lá os visitantes verão macacos
jogando xadrez, a família real dormindo três anos de cada vez numa cama de
linguiças, faisões assados correndo ao som de trompas e chuvas de capões caindo
do céu. O solo produz trufas do tamanho de casas, os rios estão cheios de leite
ou vinho. No inverno as montanhas ficam cobertas de requeijão, e durante o ano
inteiro doces deliciosos crescem ao longo das estradas. As casas são feitas de
vários tipos de comida italiana e as pontes são grandes salames. As carruagens
andam sozinhas, sem necessidade de cavalos, e as árvores dão todo tipo de
frutas. Uma fonte pequena está ao dispor de quem queira reduzir a idade lavando-se
em suas águas. As mulheres dão à luz cantando e os bebês falam assim que
nascem. Quem dorme mais, ganha mais; quem for encontrado trabaçhando é levado
imediatamente para a prisão. Veja mais aqui e aqui.
A MULHER DE PEDRA – [...] Como
vivemos nossas vidas não depende, infelizmente, apenas de nós. Circunstâncias,
boas ou ruins, intervêm constantemente. Uma pessoa próxima a nós morre. Uma
pessoa não tão próxima de nós continua vivendo. Todas essas coisas afetam a
forma como vivemos. [...]. Trecho extraído da obra Mulher de Pedra
(Record, 2002), do escritor,
roteirista e cineasta paquistanês Tariq
Ali, que expressa a atualidade assim: Afinal, vivemos em um mundo onde as ilusões são sagradas e a verdade,
profana. Veja mais aqui.
QUEM DEVE DIZER: Quem
deve dizer / que a Casa das Línguas não é aquele lugar / onde os ratos
enxameiam em torno de seus pés / sob sofás florescendo / não é aquele lugar /
de neve envenenada, canetas que secam / e segredos agora tarde demais para
saber / e, certamente, o murmúrio lá embaixo / era um mur-era um mur-era um /
murmurando quase para ser ouvido / um borbulhando como água / invisível, por
baixo / E olhe a sombra de uma asa / cai aqui como sangue / bebe profundamente
de si mesmo / e sussurra sim por não / Uma vez que aqueles rostos por trás do
vidro / podem ter retornado seu olhar / podem até ter se reunido / a seus
membros, a fim de ficar / Quem deve dizer / que certas palavras não se
espalharam / tanto quanto os olhos dos gatos podiam ver / do outro lado do rio
no escuro. Poema do poeta estadunidense Michael Palmer. Veja mais aqui.