DITOS & DESDITOS - Um homem
não deveria nunca parar de aprender, nem no seu último dia. Todos os grandes
males que os homens causam uns aos outros por causa de certas intenções,
desejos, opiniões ou princípios religiosos, são igualmente devidos à
inexistência, porque se originam na ignorância, que é a ausência de sabedoria. Pensamento
do filósofo e médico judeu Maimônides (Mosheh bem Maymon, 1135-1204), contemplado com uma estátua
na praça do bairro da antiga Juderia de Córdova. Intelectual do pós judaísmo medieval,
por ter sofrido perseguição religiosa dos Almôadas, foi obrigado a fingir a fé
muçulmana, depois a fugir para a África. Fixado no Egito, ele legou três
célebres tratados de medicina: Aforismos de Medicina, Registas de Saúde, Regras
dos Mortos e um não menos célebre tratado filosófico: O guia dos indecisos. É conhecido
como A Grande Águia (ha-nesher ha-gadol).
ALGUÉM FALOU: Você
pode ir daqui para lá, mas enquanto você não estiver bem, nada ao seu redor
estará. Uma vida inocente, sem
medo, sem dor, sem culpa, o metro quadrado ao redor é completamente seguro, mas
... tantas abelhas entraram e começaram a fazer mel, que já tem quase um metro
e chega a mais da metade do corpo . Não sei o que fazer, se continuarem estarei sepultada no mel ... Adorável
forma de morrer. É difícil para mim entender o quão importante o
reconhecimento do seu talento parece ter para você. Achava que para um criador o importante é criar e que o
futuro da sua obra era um assunto secundário e que a fama, a admiração, a
curiosidade das pessoas, etc., eram mais inevitáveis do que coisas desejadas. Pensamento da artista espanhola surrealista
e anarquista, Remedios Varo (María de los Remedios Alicia Rodriga Varo y Uranga,
1908-1963).
OUTRA QUE ALGUÉM FALOU: O duplo
significado foi dado para se adequar à inteligência diversa das pessoas. As
aparentes contradições têm o objetivo de estimular o aprendido a um estudo mais
profundo. Pensamento do polímata cordovês Averróis (Abu
Alualide Maomé ibne Amade ibne Maomé ibne Ruxide, 1126-1198), que foi contemporâneio de Maimônides e
tornou-se um dos mais ilustres filósofos da Idade Média que estudou a obra de
Aristóteles.
A ARTE MUDÉJAR E AS CIDADES DO LUXO & PRAZER - A palavra mudéjar prende-se à raiz árabe dajana que tem dois
sentidos: Fixar-se em um lugar e domesticar-se. Uma arte pura com
características particulares. Conta-se que Ibn Khaldun mencionara: Não seria digno de um homem honrado construir sua
prosperidade sobre a infelicidade de outrem. Foi lá que, segundo Roger Peyre, em sua Histoire des Beaux-Arts, tornou-se o lar comum de judeus, mouros e cristãos. Foi lá
que foi construída a civilização da qual a arte mudéjar constitui o último
efeito. Esta arte exprime não só o gosto dos vencedores pela civilização dos
vencidos, mas também e sobretudo a extraordinária simbiose que permitiu
misturar, durante séculos, a civilização cristã e muçulmana, a fusão da arte
árabe, visigótica e bizantina até o desabrochar da arte mudéjar. O CASO DE MDINAT AL-ZAHBRA, A CIDADE DE
LUXO E PRAZER – Em 936, Abd al-Rahman III ordena a construção de uma
fantástica cidade de luxo e de prazer, em homenagem a sua favorita. O harém possui
uma enorme multidão de mulheres, jovens e velhas, de servidores esclavões e de
eunucos. Registrou Abou I’Mahâsin que se trabalhou nesta obra por 16 anos e que
absorviam um terço da renda da Espanha, com mais 1 mil operários nos canteiros,
assistidos um por 12 operários não-especializados que colocavam por dia 6 mil
blocos de pedras, mais 4 mil colunas, cujo arquiteto deste complexo é Maslama
bem Abd-Alá e o príncipe herdeiro, o futuro Al-Hakan II. Esta fabulosa cidade
situada sobre o vertente da sierra, a noroeste de Córdova, ocupava um terreno
retangular de 1 mil e r00 metros por 750 metros. Córdova era a capital das
ciências, com o historiador Ibn Haiyan, o moralista e poeta Ibn Hazm, o
geógrafo El-Bekri, o médico Abaul-Kasim cujo Tratado de ciência médica e de
cirurgia, foi um dos primeiro incunábulos. Eles são mais poetas que guerreiros.
O Rei-poeta preferiu ser cameleiro na África do que guardador de porcos em
Castela, quando ali caiu nas mãos dos cristãos e o rei-poeta preferia estar
entre grosseiros Berberes, desprezados e temidos, que se haviam lançado em
brutais expedições sobre a Espanha. O REI-POETA – O maior poeta de Sevilha,
El-Mo’tamid (Maomé ibne
Abade Almutâmide, 1040-1095), preferiu ser cameleiro na África do que
guardador de porcos em Castela. ALHAMBRA – Teve início em 1231, acabou em 1338. Era uma grande cidade que reunia
todos os pródigos da arquitetura muçulmana, a cidade dos sonhos, de luz e de
mistério, onde reinava a tradicional inscrição “Só Alá é poderoso”. Sobre ela, Teófilo Gautier compôs o poema: Alhambra! Alhambra! Palácio que os gênios /
edificaram como um sonho e encheram de harmonia. / Cidadela de ameias
festonadas ou desabadas / onde, à noite, ouvem-se mágicas sílabas / quando a
lua, através dos mil arcos árabes /semeia os muros de trevos brancos. Veja mais aqui e aqui.
KYS – [...] Ela se
senta em galhos escuros e grita tão selvagem e lamentavelmente: ky-ys! ky-ys! -
e ninguém pode vê-la. Um homem vai para a floresta, e ela fica na nuca dele:
pule! e os dentes na espinha dorsal: crunch! - e com uma garra ele sentirá a
veia principal e a quebrará, e toda a mente sairá da pessoa. [...] Como se o mar azul estivesse no sul, e no
mar houvesse uma ilha, e na ilha houvesse uma torre e nela houvesse um leito
dourado. No sofá está uma menina, um cabelo é dourado, o outro é prateado, um é
dourado, o outro é prateado. Aqui ela desenrola sua trança, desenrola tudo, mas
quando ela desenrola, então o mundo acabou. [...] E os olhos daquele Pássaro Pauline são meia face, e a boca é humana,
vermelha. E ela é tão bela, Princesa Pássaro, algo que ela não tem de si mesma:
o corpo é coberto por uma pena branca entalhada, e a cauda está a sete metros
de distância, como uma rede de vime, pendurada como renda de renda. Bird Paulin
vira a cabeça, se examina e se beija tudo, amada. E nenhuma das pessoas daquele
pássaro branco nunca sofreu nenhum dano, não, e nunca terá. Um homem. [...]
Trechos extraídos da obra Kys (Eksmo, 2000), da
escritora russa Tatyana Tolstaya,
que aborda questões políticas, ideológicas, filosóficas, sociais, ideológicas e
outras questões de larga escala. Dela também a obra O Alpendre Dourado e outras
histórias (Difel, 1992), reunindo contos, entre eles os trechos: [...] A depressão atormentava Ignatiev todas as
noites. Pesada, desconcertante, de cabeça baixa, sentava-se na beira da cama e
pegava-lhe na mão - uma enfermeira triste para um doente incurável. E passavam
horas em silêncio, de mão dada. [...] A
Árvore da Vida é o esquema da construção do Mundo e que, à sua imagem, o corpo
humano é o esquema da construção de nosso devir. O corpo é, ao mesmo tempo
instrumento, nosso laboratório e nossa obra para atingir nossa verdadeira
estatura, que é divina [...].
OVELHA - Erupção vulcânica ao pell, / nem o raó l’anul·la nem l’arronsa modéstia nem o excitou nem a vontade l’ofega. / O velho meva é tão voraço / Quanto você usa para comparar? / para l’alegria radiante, inaturável, alegria desenfreada saber que aí estou algum outro chá. Poema da poeta espanhola Cèlia Sànchez-Mústich, também autora do poema Dedicação: Para você, a linguagem que desejo minhas
primeiras dúvidas: zetas brincalhonas ao corte do dente, jotas entregues e
garganta firme por dentro, cascalho de vogais ásperas, redondo como o amor de
uma mãe. E a debulha de seus verbos esculpir o silêncio. Para você, mesmo que
eu não convide você para entrar em meus poemas.
A arte daa artista indiana Amrita Sher-Gil (1913-1941).