quinta-feira, agosto 14, 2008

JORGE DE LIMA, GAARDER, ENI ORLANDI, GABRIELE VIERTEL, CLAUKY SABA, LINGUÍSTICA & LITERÓTICA


A arte da fotógrafa alemã Gabriele Viertel.

LITERÓTICA: PROVOCAÇÃO - Naquela manhã meus olhos flagraram o frêmito dos seios dela tremulando dentro da sua blusa decotada e ela sequer desconfiava o quanto a amava por inteiro, a desejava além da vida e da morte, a venerava além do querer e poder e persigo e persevero e a quero comigo para sempre e a todo momento. Ela a minha anfitriã que amo e ela pensa que não, insegura e dando o melhor de si só por dar e por amar num pirão que o meu mar engrossa e eu raspo a panela de todas as suas deliciosas emanações. O seu jeito lindo de ser era mais que sensacional com um encanto pronunciado na exibição daquelas duas frutas saborosas mexendo-se a cada movimentada de seu corpo nos afazeres domésticos. Ela inteiramente dedicada à labuta enquanto eu fazia juras silenciosas de amor e paixão por ela. Ela remexendo inocente e eu fazendo estréia da cobiça buscando os agasalhos do seu corpo. Havia poucas horas da nossa chegada, mas ela logo se dedicara às arrumações colocando suas vestes sumárias, provocando instantaneamente em mim o vuque-vique de seus caprichos corporais: era o tempo do cozimento e eu fervendo imaginando a nossa gangorra. E eu me deliciando qual voyer descarado imaginando suas curvas, remexidos, sensualidade, tudo dela ao meu dispor. Ali eu me continha fazendo um esforço danado para agarrá-la atrapalhando sua diligência. Mas, a cada olhadela, eu suava frio e tudo desembocava ventre abaixo se avolumando nas minhas partes baixas só para fazer-lhe um parque de diversão além do que eu podia dar. Era a explosão do amor na paixão mais medonha que eu já tivera oportunidade de viver. Era a paixão mais devastadora de todas. E ao lado de uma tesão que surgia inopinadamente para consagrá-la integralmente dona do meu coração. Com isso eu me insinuava aproximando-me o máximo que podia de sua dedicada atuação na limpeza da cozinha. Cada sacudidela dela no arremate das funções, mais eu me achegava lambendo os beiços e atacando sutilmente suas intimidades, roçando-lhe a nuca, as reentrâncias, o osso do mucumbu, enfeitiçando-a para arrancar os seus suspiros mais vibrantes e a deixá-la minando de emoção. Ela ainda sequer tinha a mínima idéia da minha mais absoluta paixão. Quanto mais amava, mais queria e queria. Era ela, sim, ela, tudo o que sempre quis e passaria a querer dali por diante.Com os meus ardis em pauta mais procurava domá-la nas intenções mais safadas a ponto de apoderar-me por inteiro de todo seu desejo, seu corpo e alma. Dominada, ela se entregava como quem dar-se ao carrasco. E eu deliciosamente sorvia cada bocado de sua mais extremada emanação corpórea e anímica. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


A arte da fotógrafa alemã Gabriele Viertel.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Para nosso contexto histórico-social, um homem em silêncio é um homem sem sentido. Então, o homem abre mão do risco da significação, da sua ameaça e se preenche: fala. Atulha o espaço de sons e cria a ideia de silêncio como vazio, como falta. Ao negar sua relação fundamental com o silêncio, ele apaga uma das mediações que lhe são básicas. [...]. Trecho extraído da obra As formas do silêncio (EdUnicamp, 2002), da professora e pesquisadora Eni Orlandi. Veja mais aqui.

TEORIA DO DISCURSO – [...] Compreendemos que os conhecimentos (científicos) e os saberes (não-científicos), independentemente de sua vinculação a verdades ou ilusões, constituem de elementos de ordem ideológica, que intervêm na produção desses conhecimentos e saberes, e produzindo, através deles, efeitos de verdade. Segundo essa visão, conhecimentos e saberes são determinados por vínculos ideológicos que lhes subjazem, colocando-os em outro tipo de relação, não mais de mútua exclusão, nem de igualdade de status, mas de determinação por condições históricas exteriores ao campo estrito da produção científica do conhecimento. [...] Trecho extraído da tese de doutoramento O althusserianismo em linguística: a teoria do discurso de Michel Pêncheu (UFU, 2012), de Luis Fernando Bulhões Figueira. Veja mais aqui e aqui.

EI! TEM ALGUÉM AÍ? – [...] Ele se inclinou bem para frente, fazendo uma reverência. […] Perguntei: “Por que você está se inclinando?” “Lá de onde eu venho”, explicou ele, “nós sempre fazemos alguma reverência, quando alguém faz uma pergunta fascinante. E quanto mais profunda for a pergunta, mais profundamente a gente se inclina.” […] a resposta me impressionou tanto que fiz uma profunda reverência, me inclinando ao máximo. “Por que você me fez uma reverência?”, perguntou ele, num tom quase ofendido. “Porque você deu uma resposta superinteligente para minha pergunta”, respondi. Daí, numa voz bem alta e clara, ele disse algo que eu haveria de lembrar para o resto da vida: “Uma resposta nunca merece uma reverência. Mesmo que for inteligente e correta, nem assim você deve se curvar para ela. […] Quando você se inclina, dá passagem. […] E a gente nunca deve dar passagem para uma resposta. […] A resposta é sempre um trecho do caminho que está atrás de você. Só a pergunta pode apontar o caminho para frente”. Achei que havia tanta sabedoria nas suas palavras, que precisei segurar bem firme meu queixo para não fazer outra reverência. [...]. Trecho extraído da obra Ei! Tem alguém aí? (Companhia das Letrinhas, 1997), do escritor e professor norueguês Jostein Gaarder. Veja mais aqui.

CAMINHOS DE MINHA TERRA - Caminhos inventados / por quem não tem pressa de ir embora./ Pelos que vão à escola. / Pelos que vão à vila trabalhar. / Pelos que vão ao eito. / Pelos que levam quem se despede da vida, que é tão bela… / À minha terra ninguém chega: ela é tão pobre… / Dizem que tem bons ares para os tísicos - / Mas os tísicos não vão lá: é tão difícil de ir-se lá… / Caminhos de minha terra onde perdi / os olhos e o passo de meditação… / Caminhos em que ceguinhos e aleijados podem / ir sem olhos e sem pernas: eles não atropelam os pobrezinhos. / Alguém quer partir e eles dizem: / – “Não vás: toma lá uma goiaba madura, / uma pitanga, um ingá e dão como / as mãos dos missionários que dão tudo, / cajus, pitombas, araçás a todos os meninos do lugar”. Poema extraído da obra Os melhores poemas (Global, 1994), do médico, escritor, tradutor e pintor Jorge de Lima (1893-1953). Veja mais aqui e aqui.


A arte da fotógrafa alemã Gabriele Viertel.


MUSA DA SEMANA: CLAUKY SABA


CLAUKY SABA - Ela nasceu Claudia Ferreira em Londres, sob o signo de Leão, num dia de 1971.Ela depois virou Clauky Saba:É poeta, multiartista: atriz, cantora, produtora cultural e publicitária. Atua no universo alternativo da poesia, da música e do teatro com o grupo SaubaSauers e no Movimento inVerso. Ela é a esfinge em movimento inverso.


DECIFRA-ME OU DEVORO-TE

Poeta que sou
acostumada estou
a escrever descrever
pessoas e seus momentos,
coisas e seus movimentos.

Porém nunca dantes
em meus versos mutantes
havia sido escrita descrita
em palavras de outrem

Pois que me levem além
do arco-íris-sur-ton
da alegria no tom
da poesia com som

Livre imagética vocabular,
luz inspiração lunar,
desanuvia minha mente,
expresse como sente,
dicionário a me decifrar...

“Decifra-me ou devoro-te”


O NOVO EM CIO

Solto um grito pra dentro.
O oco do eco acusa o vazio
latente em meu peito.

Qual um imóvel que se aluga...
Há lugar para tudo e nada
numa sala sem memória.

O cheiro do novo me comove...
É como um buquê de possibilidades
que perfuma e decora o ambiente.

Nada mais presente
do que o momento-agora
em movimento constante.

Rumo ao desconhecido
mundo fora do casulo
liberto minhas asas...

e

pulo.


ANDO VARIANDO

andam dizendo por aí que eu ando variando.
só porque eu sou eu e sou muitas eus,
em meu estilo básico louco romântico
inconstante depressivo maníaco
neurótico e bacana?

ando variando,
ora pé, ora cabeça
mudam de idéia,
mudam senso e direção.

ando variando,
ora amanheço, ora tardo,
mas, não falho,
só vario.

vario porque sou várias eus,
esfinges e coliseus,
indecifráveis, mas, fascinantes!

amo todas as minhas faces
como se nunca as tivesse visto antes.

sem recalques nem percalços,
ando com meus pés descalços.

Ela edita o blog Arte em toda parte.
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