segunda-feira, fevereiro 13, 2023

ELIZABETH KOLBERT, PAUL CRUTZEN, AYELET GUNDAR-GOSHEN, RAJ PATEL & RICHARD LEAKEY

 

Ao som do álbum (cd\dvd) De ponta cabeça (Independente, 2013), de Renato Bandeira & Som de Madeira – um quarteto instrumental formado por Renato Bandeira (viola, violão e guitarra), Augusto Silva (bateria), Hélio Silva (baixo) e Júlio César (acordeom).

 

TRÍPTICO DQP: - A rosa e o caos... - Ainda é cedo. Não há mais tempo a perder e de hoje não passa. As ventas abertas, peito só de coragem, como quem arrepiou carreira e se fez pra nada: caí na vida e me danei pela fedentina do mundo, milênios de estragos. Deu para ouvir Elizabeth Kolbert no meio do caminho porque sou a catástrofe: Tudo isso para dizer que a extinção nos parece uma ideia óbvia. Não é... Cá comigo: não foi para isso que fui tão longe viajando distâncias desnorteado e à revelia, quando me valia da mansuetude de coração. Era muito pouco e enxergava: não era nenhum filme de ficção, era eu e em derredor ninguém via porque parecia folia de carnaval o tempo todo, passava não. Entendia e o que fiz: gosto inútil na boca. Do outro lado eu sabia a crueza de Paul Crutzen: Nos caracterizar como bárbaros que saqueariam sua própria casa... Engolia seco as desculpas pelo atraso, ah não, só aprendia a ser apenas por mim mesmo e entre restolhos por conta dos mais reiterados fracassos. Nunca fui ouvido nem cheirado, preço de quem se mete a sonhar alto, desgarrado na capacidade de infeliz e todo fazimento de incompletude: um tolo coitado pensava remediado pela sorte e sem esteio, todo passado desabonador. Só sei que ainda é cedo e de hoje não passa, não há mais tempo a perder e tudo correndo fora dos eixos...


 

Anatomia do silêncio... - Imagem: arte do artista plástico Rubens Mattos Cunha Lima, integrante do Grupo Ateliê Virtual 2022. - Foi mal. De tanta inutilidade expressada fiquei mudo e nem sei qual o próximo passo: abismos para todos os lados. Fechei os olhos, só tinha a mim mesmo a quem recorrer e socorrer. Havia um sinal corrente de nenhum futuro, nada encorajador: a ameaça constante dos poderosos da Nação à beira do rio. E Raj Patel emergia do alvo: A eterna busca por crescimento econômico transformou a humanidade num agente de extinção, por meio da contínua desvalorização dos serviços ecossistêmicos que mantêm nossa Terra viva... Por onde passo quantos achaques, judiação... E na neblina de fumaça todos como se estivessem de cócoras nas esquinas só para ver a banda, o tempo, os sonhos, tudo passava apenas e ouvia rumores: bons rogadores de pragas, só gostavam de botar veneno na comida alheia, verem o circo pegar fogo. Coisa mais estúrdia, prazer deles só de ver esmagados - coisas dos que se odeiam uns aos outros. Não podia me esconder de Richard Leakey insistente: O homo sapiens pode ser não apenas o agente da Sexta Extinção, mas corre o risco de ser uma de suas vítimas... A toada escura, um estribilho difícil de entoar porque fiquei para trás, jamais ouvido como se nadasse contra corrente roubando oxigênio, às próprias custas desarnando pelo insuspeito rito de passagem: o chão ensanguentado, as nuvens umbrosas pelo céu amarelado, a vida quase perdida...

 


Nunca deixe de lembrar... – Imagem: arte do pintor alemão Gerhard Richter, que inspirou o filme Werk ohne Autor (2018), do cineasta alemão Florian Henckel von Donnersmarck. – Ainda é cedo e não esqueci: a cena não muda, promessas no ar. Não podia desviar o olhar, nem devia, lembrava. Mutismo no desapontamento geral: a inesquecível tia linda e nua cheia de vida findou no sanatório, a desumanidade neonazista reflorescente, a opressão russa recorrente, o suicídio por enforcamento que não sai da cabeça, a lavagem dos degraus a desdizer que tudo real é lindo, a arte degenerada e a obra apagada pelo exílio, a pele eriçada de Ellie para reviver a infância e tornar-se pai sem se saber o que dizer, a tecla lá do piano e a buzinada dos ônibus, lembranças remotas esborratadas e o espelho da morte por baixo da pele. Não é bom dizer o meu nome, se o mestre tirou o chapéu era o tempo perdido e a ironia. Da solidão Ayelet Gundar-Goshen do nada: Muitas vezes, as pessoas preferem negar o que está diante de seus olhos, especialmente se puderem continuar apegadas ao que está em seus corações... Sim, reiterado desapontamento e a inescusável reinvenção da memória: o fastio e a frivolidade, um olhar sobre a face árida na solidão das vozes. Tenho que seguir em frente, não sei por onde, sei que voo, a vida pode não ser só decadência: os clarões do Sol aos olhos amanhecidos, outra vez. Até mais ver.


Vem aí o PGM TTTTT. Veja mais aqui.