Ao som do álbum (cd\dvd) De ponta cabeça (Independente, 2013), de Renato Bandeira & Som de Madeira – um quarteto instrumental formado por Renato Bandeira (viola, violão e guitarra), Augusto Silva (bateria), Hélio Silva (baixo) e Júlio César (acordeom).
TRÍPTICO
DQP: - A rosa e o caos... - Ainda é cedo.
Não há mais tempo a perder e de hoje não passa. As ventas abertas, peito só de
coragem, como quem arrepiou carreira e se fez pra nada: caí na vida e me danei pela
fedentina do mundo, milênios de estragos. Deu para ouvir Elizabeth Kolbert no meio
do caminho porque sou a catástrofe: Tudo
isso para dizer que a extinção nos parece uma ideia óbvia. Não é... Cá
comigo: não foi para isso que fui tão longe viajando
distâncias desnorteado e à revelia, quando me valia da mansuetude de coração. Era
muito pouco e enxergava: não era nenhum filme de ficção, era eu e em derredor ninguém
via porque parecia folia de carnaval o tempo todo, passava não. Entendia e o
que fiz: gosto inútil na boca. Do outro lado eu sabia a crueza de Paul Crutzen: Nos caracterizar como bárbaros que
saqueariam sua própria casa... Engolia
seco as desculpas pelo atraso, ah não, só aprendia a ser apenas por mim mesmo e
entre restolhos por conta dos mais reiterados fracassos. Nunca fui ouvido nem
cheirado, preço de quem se mete a sonhar alto, desgarrado na capacidade de
infeliz e todo fazimento de incompletude: um tolo coitado pensava remediado
pela sorte e sem esteio, todo passado desabonador. Só sei que ainda é cedo e de
hoje não passa, não há mais tempo a perder e tudo correndo fora dos eixos...
Anatomia
do silêncio... - Imagem: arte do
artista plástico Rubens Mattos Cunha Lima,
integrante do Grupo Ateliê Virtual 2022.
- Foi mal. De tanta inutilidade expressada fiquei
mudo e nem sei qual o próximo passo: abismos para todos os lados. Fechei os
olhos, só tinha a mim mesmo a quem recorrer e socorrer. Havia um sinal corrente
de nenhum futuro, nada encorajador: a ameaça constante dos poderosos da Nação à
beira do rio. E Raj
Patel emergia do alvo: A
eterna busca por crescimento econômico transformou a humanidade num agente de
extinção, por meio da contínua desvalorização dos serviços ecossistêmicos que
mantêm nossa Terra viva... Por onde
passo quantos achaques, judiação... E na neblina de fumaça todos como se
estivessem de cócoras nas esquinas só para ver a banda, o tempo, os sonhos,
tudo passava apenas e ouvia rumores: bons rogadores de pragas, só gostavam de
botar veneno na comida alheia, verem o circo pegar fogo. Coisa mais estúrdia,
prazer deles só de ver esmagados - coisas dos que se odeiam uns aos outros. Não
podia me esconder de Richard
Leakey insistente: O homo sapiens pode ser não apenas o agente da Sexta
Extinção, mas corre o risco de ser uma de suas vítimas... A toada escura, um estribilho difícil de entoar porque fiquei para trás, jamais ouvido
como se nadasse contra corrente roubando oxigênio, às próprias custas desarnando
pelo insuspeito rito de passagem: o chão ensanguentado, as nuvens umbrosas pelo
céu amarelado, a vida quase perdida...
Nunca deixe de lembrar... – Imagem: arte do pintor alemão Gerhard
Richter, que inspirou o filme Werk ohne Autor (2018), do cineasta alemão Florian Henckel von Donnersmarck. – Ainda é cedo e não
esqueci: a cena não muda, promessas no ar. Não podia desviar o
olhar, nem devia, lembrava. Mutismo no desapontamento geral: a inesquecível tia
linda e nua cheia de vida findou no sanatório, a desumanidade neonazista
reflorescente, a opressão russa recorrente, o suicídio por enforcamento que não
sai da cabeça, a lavagem dos degraus a desdizer que tudo real é lindo, a arte
degenerada e a obra apagada pelo exílio, a pele eriçada de Ellie para reviver a
infância e tornar-se pai sem se saber o que dizer, a tecla lá do piano e a
buzinada dos ônibus, lembranças remotas esborratadas e o espelho da morte por
baixo da pele. Não é bom dizer o meu nome, se o mestre tirou o chapéu
era o tempo perdido e a ironia. Da solidão Muitas vezes, as pessoas preferem negar o que está diante
de seus olhos, especialmente se puderem continuar apegadas ao que está em seus
corações...
Sim, reiterado desapontamento
e a inescusável reinvenção da memória: o fastio e a frivolidade, um olhar sobre a face árida na solidão das vozes. Tenho que seguir em
frente, não sei por onde, sei que voo, a vida pode não ser só decadência: os
clarões do Sol aos olhos amanhecidos, outra vez. Até mais ver.
Vem aí o PGM TTTTT. Veja
mais aqui.